Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 21
Avante, Legião! (Parte 3)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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"Que coisa estranha... nem sei por onde começar. Realmente não sei o que passou pela minha cabeça quando decidi aceitar aquela oferta tentadora. Fui tentado pelo diabo. Sendo mais claro, aquele filho de uma meretriz chamado Michael me ofereceu uma boa quantia em dinheiro... em troca de um favorzinho nada confortável para mim. Fui forçado a ceder... Antes mesmo que eu percebesse eu já me encontrava na palma da mão dele. Passar informações que vocês coletavam diretamente à eles era como uma facada no coração, uma atrás da outra. É, meus amigos, acho que já podem entender... Eu me rendi ao mal dos Red Wolfs. Estes malditos merecem morrer e o inferno deve ser um hotel cinco estrelas para eles, logo merecem o triplo do castigo eterno. Ah, só estou dizendo por pura raiva... Afinal, quem sou eu para julgar a condenação de alguém? Bem, mas se for para pedir perdão, mesmo que seja em vão, eu digo que fiz pela sobrevivência da minha família. Eles foram ameaçados. E cometi um erro, então devo pagar por ele. Minha vida talvez não possa valer nada neste mundo horroroso e repleto de injustiça em que vivemos, mas ainda assim... Como ser humano fiz o meu papel: Fui egoísta e ganancioso. Pois é... se é difícil para mim encarar isto como minhas últimas palavras, imagine como será para vocês. Eu tento não pensar. Não sofram com a perda. Apenas quero que vão à luta. Durante o tempo que passamos juntos, nós rimos, nos preocupamos, comemoramos... e agora nos despedimos. Quero que me prometam duas coisas: Erradiquem o verdadeiro mal deste mundo e protejam Alexia. Ela foi como uma filha mais velha que já tive, assim como vocês, durante este tempo, foram como meus filhos. Não espero que minha morte signifique algo ou motive vocês a irem com tudo para a batalha. Mas se for assim, eu desejo que sobrevivam. Não esmoreçam. São as pessoas mais guerreiras que já conheci. Bem, ouço algumas batidas na porta, acho meu tempo se esgotou. É hora de partir. Sinto muito ter escondido isso de vocês por tanto tempo. 

Adeus!

Rufus."

Êmina lera aquela carta aos prantos, sentada na cama do quarto de Alexia. Os cobertores haviam sido retirados e jogados ao chão quando foi descoberto que não era Rufus quem estava dormindo naquela cama. Na realidade, fora Lester quem fizera a surpreendente descoberta: Havia saído do banheiro aliviadamente e estranhado o silêncio pesado da casa. Se dirigiu ao quarto de Alexia para se estavam lá. Quando abriu a porta, se deparou com alguém dormindo na cama completamente coberto pelos lençóis. Estranho de imediato. Foi retirando o cobertor lentamente para ver quem era. Obviamente, pensava ser Rufus, mas também achou estranho um homem como aquele dormir tão cedo à noite. Não ouvira respiração alguma, o que elevou a desconfiança. Foi tirando os lençóis de forma apressada, eram vários. Tocou em alguma coisa... fofa. Tirando o último cobertor, quase levou um susto. Eram travesseiros. Um velho truque. Colocar vários travesseiros e cobri-los com lençóis para fazer parecer que alguém estava dormindo. Era bastante comum com criminosos menores e fugazes da polícia que se hospedavam em hotéis e tinham suas localizações confirmadas.

Mas com certeza o susto provinha de algo além dos travesseiros. Ligeiramente, o caçador pensou que Rufus pudera ter saído escondido, mas largou a ideia assim que vira o que estava no interior dos travesseiros, outrora de pluma branca. Estavam abertos e dentro de alguns deles, para o choque de Lester, haviam membros decepados e ensaguentados. O caçador se afastou depressa, enojado.

Rufus tivera seus pés e mãos brutalmente cortados como carne de açougue.

Alexia, no momento da leitura da mórbida carta, estava agachada em um canto do quarto, deprimida e isolada, ainda chorando. Adam não conseguia conter sua fúria e um desejo de vingança subiu à sua cabeça como lava de vulcão. Lester estava encostado na parede, em estado de choque e sem saber como reagir àquilo.

— Sempre odiei despedidas... - disse Êmina, enxugando as lágrimas. - Sinceramente, eu não esperava por essa.

— Ninguém esperava. - retrucou Adam, andando devagar de um lado para o outro. - Vamos fazer o que ele pediu. Vamos cumprir a promessa. Em vingança.

— Fizeram isso para nos provocar, com certeza. - disse Lester, inconformado. - Poxa, por que logo o Rufus, por que!? - enraivecido, chutou uma cadeira.

— Calma, Lester. - pediu Adam. - Todos nós estamos sufocados de raiva até o pescoço. Rufus justificou sua traição. Ele se deu por vencido... mas foi por nós. - olhou para cada um de seus amigos. - Ele sabia que morreria se caso esse Michael soubesse que ele estava traindo os Red Wolfs.

— E vai saber se havia garantia de que iriam pagar a tal fortuna. - disse Êmina. - Com uma sociedade secreta como essa, alguém que fosse um cúmplice independente dos cultos certamente seria alvo de desconfiança e perseguição. Na pior das hipóteses, dá em queima de arquivo. Exatamente o que ocorreu com Rufus. - afirmou ela, com um tom pesaroso e triste.

As atenções, repentinamente, voltaram-se à Alexia. "Nossa, tadinha.", pensou Êmina, olhando para ela com um suspiro cansado.

A vidente caíra em uma depressão profunda. Mas lá no fundo, sentia seu âmago arder. Uma chama que há muito ela esperava que viesse a acender. Mataram Rufus barbaramente. Aquele que foi como seu segundo pai, embora dava ordens à ele por ser seu assistente, se fora. Seu choro parou. Alexia levantou-se com calma e enxugou o rosto. Voltou-se para o trio.

— Como você se sente, Alexia? - perguntou Adam, preocupado com o estado da jovem.

A vidente o olhou firmemente.

— É só mais uma perda. - disse ela, com um tom lúgubre. - Eu acho que... após tantas outras que já suportei na minha vida até aqui... eu não sinto mais nada. Algo dentro mim me anestesiou. Jurei não mais chorar. Mas nunca ousei jurar não mais seguir em frente. - um semblante firme e determinado se formou em sua face. - Seria ainda pior se eu descobrisse sozinha. Mas vocês estiveram aqui... aliás, ainda estão. As presenças de vocês foram essenciais para que eu me fortalecesse.

Os três passaram a suavizar suas expressões e a olharam com orgulho.

A vidente prosseguira:

— Poucos minutos atrás eu senti um vazio imenso no meu coração. Vou preenche-lo com o sentimento de justiça pulsando dentro mim. - falou, revigorando-se gradualmente. - Isto não vai ficar impune, de modo algum ficará. Robert Loub entrou na minha vida e sugou minha felicidade por anos. Eu também quero fazer parte do cumprimento desta promessa.

Um silêncio pairou naquela atmosfera pesada de puro luto.

Êmina foi se aproximando de Alexia, contendo as lágrimas, embora estivesse sorrindo levemente. Lhe dera um singelo abraço. A vidente retribuiu o gesto rapidamente.

— Ao menos você revelou seus sentimentos. - disse a caçadora, sorrindo mais abertamente enquanto uma lágrima caía.

— Você está curiosa demais para meu gosto. - brincou Alexia, sussurrando enquanto a abraçava fortemente.

Adam e Lester se entreolharam e puderam sentir o clima se amenizar. Ambos assentiram um para o outro.

— Muito bem. - disse Adam, preparado. - Hora de usarmos o símbolo. Vamos para a casa de Charlie e nos planejarmos.

Diante da porta de entrada da cabana, o papel com o símbolo já se encontrava grudado na parte superior. As fitas adesivas foi uma das melhores invenções daquela época e sentiam-se agradecidos por isso. Êmina estava na frente, com a mão sobre o desenho, recitando as palavras em voz baixa e de olhos fechados. Imaginara a sala de estar da casa do mago do tempo. A característica luz amarelada emanou do símbolo, brilhante. A maçaneta girou e a tranca se abriu. Enquanto a porta revelava a passagem, foram iluminados pelas lâmpadas alaranjadas do cômodo. Êmina ajeitou sua trança lateral e o sobretudo preto e andou em direção ás escadas.

Alexia ajeitou seu vestido simples preto esverdeado e seguiu atrás da caçadora. Adam e Lester entraram por último. O caçador estrategista não escondera sua pouca vontade diante de um feito como aquele. "Quantos mistérios um mago do tempo pode esconder durante a sua vida?", se perguntou enquanto entrava.

A porta fechou-se com um baque veloz.

Charlie, de fato, estava os esperando ansiosamente.

                                                                                   ***

Os passos apressados competiam contra a rapidez implacável do relógio. Nele marcava 19:50. O museu ainda estava intacto, mas a dupla de aventureiros, felizmente, tivera tempo tanto para escapar da iminente explosão quanto para descobrir a contagem: Exatamente 35 minutos. Mollock assumira a ideia de que a chegada do Exército seria adiantada, presumindo ser uns dez ou quinze minutos antes do que foi dito na última transmissão no rádio. Os segundos contavam aceleradamente, as bombas armadas em todas as partes, com exceção do subterrâneo.

Hector corria por uma área mais aberta da floresta, suas botas deixando pegadas irregulares no solo arejado, com seu rosto sendo cintilado pela luz azulada da "lua gigante" que parecia crescer a cada vez que se olhava no céu. Eleonor vinha logo atrás, correndo na mesma velocidade, porém, extremamente exausta. Os ferimentos no braço começavam a tornar-se doloridos. Após alguns instantes, deram uma parada brusca a fim de reaver o fôlego.

Hector virou-se para Eleonor, limpando o suor de sua testa. A bruxa olhava na direção do museu, contemplando a opulenta silhueta da estrutura de mármore que se distanciava a alguns metros, mas ainda assim mostrava-se imponente como o Everest.

Voltou-se para Hector, aturdida.

— Precisamos voltar! - disse, com urgência no tom. - Ainda deve restar algum tempo para que possamos desarmar as bombas!

— Só que o mapa já era. - salientou o caçador. - Sem ele não podemos presumir o lugar mais provável no qual Mollock armazenou o detonador.

— No subterrâneo talvez? - deduziu ele, tentando.

— Olha... - aproximou-se dela, intencionando acalma-la. - O mapa era nosso meio para nos orientar. Nós já escapamos, estamos aqui, vivos, não faz sentido voltarmos.

— Não faz sentido!? - indagou ela, franzindo o cenho. - Hector, obras inestimáveis estão prestes a serem destroçadas! O governo não terá como financiar mais do que já tem para criar e restaurar as peças que lá se encontram, livros importantes estão lá.

— Se se refere ao Goétia...

— Não é só do Goétia. - afirmou ela, fixando seus olhos nos dele. - Sei que não é o único museu da cidade, mas é o que possui um acervo literário mais do que extraordinário. Meu nível Ômega está em plena fase de treinamento e adaptação e se uma cópia do Goétia está lá, é óbvio que outros livros de bruxaria também estão na biblioteca. Leitura é fundamental, ainda quando se precisa aprender novos feitiços e se defender.

— Veja só quem está sendo egoísta agora... - disse o caçador, olhando para um lado, insatisfeito.

— Concorda que é uma péssima hora para discutirmos nossas intenções, certo? - ela o olhou cada vez mais fundo.

— Assim como também é uma péssima hora para voltarmos lá. - retrucou Hector, firme. - Museus espalhados por Londres possuem bibliotecas tão boas quanto a deste, não sei porque está tão preocupada. Nosso foco é Mollock, unica e exclusivamente.

— Não precisa me lembrar de algo que já sei. - disparou ela, irritando-se. - Tudo bem, deixaremos milhares de obras de arte históricas e de valores incalculáveis virarem cinzas.

O caçador a fitou incisivamente.

— Sabe... tenho a leve impressão de que parece estar fugindo de algo... - cruzou os braços semi-cerrando os olhos. - Disse que havia saído do Coven por vontade própria. Será mesmo que foi assim que ocorreu?

— É uma longa história. - disse ela, encolhendo os ombros. - Você revelou seus segredos à mim, nada mais justo do que retribuir.

Hector continuou encarando-a com insistente desconfiança. "Eleonor... quem você realmente é?", pensou ele, recordando-se do excruciante dia em que a conhecera naquele bar barato e sem classe. "Entrou na minha vida muito de repente... Obra do destino? Não, nada ocorre por acaso. Há uma razão... e creio que estou perto de descobri-la.".

Um estridente som de uma sirene, ainda que distante, picotou os devaneios de Hector, fazendo-o sobressaltar de leve e voltar-se para a panorâmica vista da grande Londres e suas luzes elegantes. Estavam à beira de um penhasco que abrigava arbustos e folhagens densas. Uma queda de mais de 30 metros. Tentaram encontrar, em meio as silhuetas dos prédios, a origem do insuportável som daquela sirene.

O céu estrelado dava um aspecto épico e digno para um pintor se inspirar em uma obra.

Hector e Eleonor entreolharam-se, preocupados, o som da sirene transpassando seus tímpanos.

— É... chegaram bem cedo. - disse a bruxa, surpresa.

Hesitante, o caçador não conseguia mais se imaginar parado no mesmo ponto.

— Vamos! - puxou Eleonor com força, correndo a toda velocidade e adentrando de vez na floresta. - O Exército subirá o morro em menos de quinze minutos, já estão perto demais! - olhou depressa para o relógio. - Meia-hora!

— Mas... Hector, nós devemos ajuda-los! - exclamou Eleonor, em um lampejo. - Vão ser mortos lá dentro pelas explosões!

— Já sinto por suas mortes! - afirmou o caçador, correndo ainda mais velozmente. - Estamos em uma guerra, Eleonor! Sacrifícios são inevitáveis!

A moça iria protestar, mas se deteve no mesmo instante, passando a correr ao lado do companheiro no mesmo ritmo desenfreado.

O Exército Britânico se aproximava a todo vapor para fazer uma varredura completa no museu.

                                                                                 ***

Winchester - Condado de Hampshire; 20:45. 

Após uma longa caminhada pelo movimentado centro de Londres, Hector e Eleonor chegaram esbanjando um cansaço demasiado que se resumia em suspiros duradouros e contínuos. A região de Winchester fora o destino escolhido pela bruxa, que quase não foi seguido devido à insistência de Hector em avançar diretamente para a casa de Charlie, cujo endereço fora-lhe fornecido após uma ligação em uma cabine próxima. O caçador-detetive notou uma estranho pesar no tom de voz apresentado por Adam...

                                                                                 ***

— Alô? 

— Hã? Hector? - disse Adam, logo reconhecendo a voz do amigo. - Nossa, você não sabe o quão aliviador é ouvir sua voz, irmão. 

— Idem. - disse ele, olhando para o lado de fora, exatamente para a direção onde Eleonor fora para contratar um motorista através de seus métodos. - Como se saíram? Conseguiram resgatar Rosie? - uma empolgação fez seu peito inflar de ansiedade. 

— Sim, nós conseguimos, com muita sorte. Espero que venha rápido, pois eu quero te contar umas coisas bem sinistras... - fez uma pausa... uma longa pausa. 

— Adam? - estranhou Hector de imediato. - Não estou gostando do modo como está falando... até parece que ocorreu uma tragédia. - ele baixou a cabeça, tenso. - Adam... me diga. Aconteceu alguma coisa? Rosie está bem? 

— Acredito que sim, ela está bem. Olha, não dá para falar sobre tudo agora... é que estamos em uma reunião com Charlie. Só posso dizer o endereço... - a fala do caçador estava estranhamente rápida. 

Adam dera à Hector o endereço detalhadamente. 

— Nem preciso perguntar se anotou, não é? - forçou um tom brincalhão. 

— Claro que não, Adam. - disse Hector, cada vez mais desconfiado. - Você sabe muito bem que memorizo informações importantes, sempre. 

— Pois é... Mas eu posso garantir à você que Rosie está segura. - desconversou Adam. 

— Tudo bem, eu só preciso ir para Hampshire... meu parceiro quer visitar a família... - mentiu Hector forçadamente. - Logo depois irei direto para aí. Mas eu tenho péssimas notícias. E uma delas talvez seja a pior: Mollock já se encaminhou para as Ruínas Cinzas. 

— O quê!? - exclamou Adam, incrédulo. - Repete pra mim! Não pode ser... Mas como?

— Tem a ver com a Bíblia de Abamanu e suas cópias. Falamos sobre isso quando estivermos todos juntos. 

— Ótimo. Estamos todos esperando, venha logo, por favor.  

— Agora estou curioso para saber como voltaram em tão pouco tempo. 

— Você não vai acreditar. Quando vier vai conhecer alguém extremamente incrível. - garantiu Adam. 

— Assim espero. Até mais, Adam. - disse Hector, apressando-se ao ver Eleonor voltar de uma outra esquina. 

                                                                               ***

Hector deixara seu extasiado corpo cair em uma confortável poltrona de couro marrom. Suspirou de boca aberta com os olhos fechados, permitindo que todo e qualquer resquício de cansaço fosse minimizado até não sobrar mais nenhum. Eleonor apreciava, de pé, através da janela a grande lua. Seus cabelos castanhos e lisos reluziam aquela luz pálida e seu semblante estava plenamente tranquilo e sereno.

— Esta é a primeira vez que vejo uma lua cheia assim tão grande. - comentou ela, fitando o astro.

A moça lentamente voltou-se para Hector.

— Você está bem?

O caçador abrira os olhos, encarando-a com um olhar exausto.

— Só um cansaço passageiro, não é nada demais. Sei como se sente.

— Do que está falando? - indagou ela, chegando um pouco mais perto, pisando no belo carpete cor de vinho daquela sala de estar.

— Os soldados do Exército. - respondeu ela, secamente. - Aposto que estava desejando possuir algum encanto capaz de fazer o tempo retroceder. Me corrija se eu estiver errado.

Ela sorrira timidamente.

— É... até que não seria uma má ideia. - mexeu nas unhas quebradiças. - Mas sendo realista, seria impossível. Bruxas não são como deuses, não distorcem a realidade para benefício próprio. Nem possuem poder para tal coisa.

— Acredita na existência de outros deuses?

Eleonor sentira seu pulso acelerar ao perceber sua grande chance em fazer aquela conversa culimar no assunto que a faria, obrigatoriamente, revelar seus mais profundos segredos. Se caso resolvesse fazer enquanto estavam no museu, se culparia por ser responsável em desviar o foco da missão e atenuaria as tensões entre ela e Hector.

Pensou sabiamente na resposta que daria.

— Sim. O Coven, até determinado período, venerava o deus do mundo inferior Hades. - ergueu os olhos para Hector, firmes como uma corda bem amarrada. - Eu até já cheguei a participar de uma cerimônia de reverência... Nós geralmente fazíamos isto para pedir algo em troca das oferendas dadas. A última coisa entregue, o último presente dado antes do Coven entrar em declínio foi a realização de um sonho preservado por séculos de irmandade.

Hector se acomodou na poltrona, cada vez mais curioso com aquela história. Não tirou os olhos de Eleonor nem por um único segundo.

A moça prosseguiu com o relato:

— Hector, eu quero que saiba agora o motivo pelo qual eu tenho me esquivado... - fez uma pausa, suspirando. - O Coven, ele não... Eu, na verdade, não me desvencilhei de lá por vontade própria. Não abandonei por insatisfação. Na realidade, eu fui expulsa.

O coração do caçador acelerou-se e o suor novamente se formara em sua testa molhando seus cabelos. Se ergueu um pouco mais, tornando a tirar as costas do apoio reclinável da poltrona, ficando sentado e fitando a companheira como quem exige mais informações em um interrogatório.

— Então está mesmo fugindo. - disparou ele. - Diga-me de uma vez: Quem é você?

A pergunta ecoou na mente de Eleonor, fazendo-a empalidecer de repente. Foi como uma faca arremessada diretamente em seu coração. "Oh não!", pensou ela, desesperada, "Sinto como se esta fosse a primeira vez em que estamos nos conhecendo... mas de um modo mais frio e profundo.".

— Hector... Eis a razão do porque eu ter escolhido este lugar exatamente para abrir o jogo com você. Vou ser justa com você tirando essa minha máscara de mulher inocente... Eu, assim como você, cometi muitos erros.

— Diga-me logo! - vociferou Hector, levantando-se impaciente.

Eleonor estremeceu com o tom de voz do caçador. Contudo, compreendia a raiva do parceiro.

— Tudo bem, só fique calmo. - disse afastando-se por alguns centímetros. - Minhas ex-colegas... O Coven pretende armar uma cilada contra mim a qualquer momento. Soube disso pouco antes de nos conhecermos e tentei fugir. Eu encontrei uma chance de me manter afastada o suficiente assim que eu te vi. - ela dera um sorriso triste. - Eu pensei: "Se estou ao lado de um caçador bravo como este, então não tenho nada a temer". Eu sabia que não ia durar tempo o bastante para fazer elas desistirem. Uma traição, quando sentida pelos magoados, faz eles se rebelarem a ponto de não perdoarem jamais.

— Então sua fuga faz de você uma traidora!? - disse Hector.

— Nós dois somos traidores! - retrucou Eleonor, ríspida. - Não pense que me esqueci do que fez à Rosie. Mas tudo bem, eu entendo, no seu caso você havia sido obrigado a fazer algo que não devia por ter sido chantageado pelo homem que planejou a morte do seu pai... Mas quanto à mim, eu as traí por egoísmo.

— Pois então me fale o motivo dessa traição, ora! - exigiu Hector, aproximando-se dela, fervoroso.

— Todas as bruxas tinham um consenso: Que quando a busca pela vida eterna se iniciasse definitivamente, traições se revelariam. E assim foi. - uma lágrima desceu pelo rosto, seus olhos verdes estavam marejados. - Todas, sem exceção, passaram a desconfiar umas das outras, nenhuma delas queria ser rejeitada por Hades em hipótese alguma. Isto tem total relação com o último presente...

— E qual foi este presente? O que Hades ofereceu em troca das oferendas? - perguntou Hector, austero.

— Lembra quando conversamos sobre a noite em que você esteve no templo dos Red Wolfs junto de Rosie e aquele seu amigo Michael se revelou um deles? - seu olhar denotava uma figura indefesa mediante àquela situação.

Hector pôs as mãos na cabeça ao fechar os olhos, tentando não rememorar aquele fatídico dia. "Só posso estar sonhando.", pensou ele, desalentado. Andou para um lado da sala, reprimindo um terrível medo de saber o que viria a seguir da boca daquela mulher misteriosa.

— Hector... - disse ela, se aproximando. - Lembro também que havia me dito que Michael mencionou algo sobre o último presente... o soro da juventude. O elixir da imortalidade oferecido por Hades.

Hector virara-se abruptamente para ela, fuzilando-a com os olhos.

— Me deixe adivinhar: Você roubou o tal soro e isto explica a perseguição das outras bruxas, certo?

— Apenas me escute, mas você está certo sim. - disse ela, assentindo rapidamente. - Agora vasculhe na sua boa memória... - gesticulou com as mãos para faze-lo se lembrar. - A pessoa que Michael mencionou que possuía o soro...

O caçador, por um instante, ficara sem entender, mas, ao se ver escolha, teve de se recordar daquela horrenda noite. Divagou por vários minutos... destrancara o baú de sua mente e palavras duras reverberaram na sua cabeça em uma reprise torturante e esmagadora. Aquela voz soturna e familiar falava fazendo Hector se sentir novamente naquele exato momento. "As bruxas são astutas por natureza, pois sabem como esconder seus anseios, jogos e planos daqueles que precisam de sua confiança. Elas, sobretudo, buscavam a vida eterna. Elas almejavam sobrepujar o poder da morte, queriam ser deusas, onipotentes e oniscientes. Para isso, existia o Soro da Juventude." .
O caçador estacara, estupefato com a revelação sorrateira como uma serpente rastejando prestes a mostrar seus dentes venenosos. A voz de Michael parecia não querer se calar. "Sim, sim, sim. Sua avó" . O olhar do caçador arregalou-se em um misto de temor e ojeriza. "... cuja rixa conosco dura até hoje.". Teve de se afastar, completamente cego pelas excruciantes imagens daquele dia. "Ela teve um relacionamento com meu pai no passado.". Relanceou os olhos para Eleonor, ainda sob o efeito daquelas memórias, se afastando cada vez mais. "Mas tudo devido à traição dela à meu pai.".

Uma sensação nauseante lhe acometeu até o último nervo. Fulminou Eleonor com o olhar, recuando vagarosamente vários passos. "Não... Não pode ser verdade!".

— Você... - gaguejou ele, impressionado com o que descobrira. - Não... - assentiu negativamente com rapidez.

Eleonor, por outro lado, assentira com um sim, chorando.

— Sim, Hector. Acho que agora tudo ficou mais claro para você. Isso é bom.

— Bom!? - vociferou ele, furioso. - Foi bom você ter me enganado esse tempo todo!? Ah, sim, eu não devia estar se dirigindo desta forma. Devo chama-la de senhora?

— Hector, por favor... entenda.

— Eu já entendi o bastante! - disse o caçador, erguendo as mãos, rendido. - Teve um relacionamento com o antigo Mestre de Cerimônias, roubou o Soro da Juventude para si, enganou a própria neta, está sendo perseguida por outras bruxas perigosas por consequência disso... Faltou algo? Devo incluir mais outro crime na sua ficha? - perguntou Hector, inclinando-se na direção dela, o tom desafiador.

Eleonor agora chorava copiosamente, com as mãos no rosto, soluçando constantemente. "Rosie... consigo sentir sua presença...", pensou ela.

— Me julgue o quanto lhe for necessário. - afirmou ela, secando as lágrimas. - Fui ingênua quando pensei que nunca desconfiariam da ausência do soro... Já era previsível que atribuíssem a culpa na bruxa recém-promovida à Ômega. Aquelas invejosas devem ter se espalhado pelos quatro cantos do país para planejar suas emboscadas, se disfarçando, conspirando... e estando aqui, Hector, eu me torno um alvo fácil, estou perigosamente exposta. - tentara chegar perto do caçador, mas o mesmo gesticulou para que parasse.

— Por favor, não se aproxime de mim, Eleonor. - disse ele, mantendo o olhar fogoso. - Ou deveria dizer... Senhora Campbell?

A bruxa rira leve e forçadamente.

— Ah, Hector... você não faz ideia do quanto eu ensaiei minhas palavras nessa minha mente atormentada, o quanto tentei medir minhas palavras só para que no final não saísse tão machucado. Eu ainda lembro de Josh. Foi como se eu perdesse um parente próximo.

— Não ponha Josh no meio disso tudo. - disse Hector, frio. - Agora... eu posso ver com clareza... você não deveria ter me mandado a carta de Richard Campbell, seu filho. Assim como eu não devia ter feito aquela ligação.

— Rosie está aqui. - disse Eleonor, abruptamente.

Recuperando a disposição, Hector olhou em volta, analiticamente, e um peso ainda maior se chocou contra sua cabeça, sentindo-se em um mar de pesadelos contínuos. Imediatamente reconheceu o aposento no qual ambos se encontravam naquele momento. Anteriormente estava cansado demais para se dar conta do lugar onde estava.

O caçador voltou-se para Eleonor, assentindo positivamente, permanecendo sério.

— É. Se o que diz for verdade....

— Mas é verdade. - disse ela interrompendo-o. - Consigo sentir a energia espiritual dela, nós bruxas sentimos os chackras uma das outras a qualquer distância, mas também sentimos energias de pessoas comuns da mesma forma. Ela está aqui, Hector. - sorrira levemente. - Acho que não há mais nada para falar. Boa sorte. - aproximou-se dele vagarosamente... encostando seu rosto no dele... e em seguida seus lábios...

O caçador-detetive lutou contra a vontade que fervia dentro de si naquele exato instante em querer se afastar, mas se viu rendido a um fogo diferente e mais esclarecido... Aquele duradouro e acalorado beijo o fez entender as motivações da bruxa ameaçada de morte. "Proteger as pessoas com as quais eu compartilho minha confiança. Esta é minha missão", pensava ele enquanto mantinha os olhos fechados e desprendia seus lábios dos de Eleonor. Ambos se olharam por uns segundos...

— Me sinto uma nova criatura... eu não tenho mais 70 anos, Hector. - disse ela, recuando aos poucos. - Eu vou torcer por você e por seus amigos, eu, sinceramente, desejo que vençam Mollock... e vingue Josh, por nós dois. - afirmou, com plena convicção. - Impeçam que Abamanu venha a este mundo. E, por favor, não me chame de Sra. Campbell. - ela dera um riso fraco.

Hector tentou sorrir, mesmo sentindo-se contagiado por aquele sorriso inconfundível.

— Me desculpe. - disse ele, acanhado. - Eu me excedi. Eu não consigo lidar com a verdade. Depois do que fizemos agora... o seu toque me fez entender que está mesmo arrependida com relação à Rosie. Mas que o fez para impedir que o Coven pusesse em prática seus planos, sabe-se lá quais eram. Talvez, neste caso, você não tenha sido tão egoísta.

Eleonor já estava próxima à porta, pronta para sair.

— Acaba de adivinhar meu principal intento. - disse ela, tocando na maçaneta.

— Ao menos espere até esta batalha contra Mollock terminar, para que possamos, quem sabe, nos encontrarmos de novo e lutarmos contra o Coven. Ou eu posso ajuda-la a fugir...

— Não, Hector. - disse Eleonor, mudando drasticamente seu tom de voz. - Não posso permitir que mais pessoas se envolvam nisso. Se você vier, estará conivente com meus atos. Ligado à mim, Rosie pode se tornar uma nova vítima, já que nós estamos intimamente vinculados à ela. Prefiro fugir do país sozinha nesse caso.

— O quê!? Mas fugir agora? - indagou o caçador, pasmo.

— Não é óbvio pra você? - disse ela, girando, por fim, a maçaneta. - O meu tempo está se esgotando, já cumpri meu papel como sua parceira. Enfrentei esta tormenta sozinha e é assim que vai permanecer, não quero que ninguém mais interfira nisso... Não quero que haja mais mortes por minha causa.

— Não entendo você recusar minha ajuda, depois de tudo que passamos naquele museu...

— Não é isso! - disse Eleonor, o tom mais duro e rígido. - Não é que eu esteja recusando sua parceria, você depositou uma confiança que eu necessitava e sou eternamente grata por isso. Apenas não quero envolve-lo, simples assim. - fizera uma pausa, pensativa. - E, após conhecer bem sua personalidade protetora e insistente, já tomei medidas preventivas quanto a qualquer tentativa sua de me impedir.

Hector sentiu suas mãos molharem-se de suor puro. Olhou apreensivo para Eleonor.

— O que você fez?

— Lembra quando você foi à cabine telefônica e, enquanto isso, eu tive de ir procurar um motorista para nos levar até aqui? Claro. - disse ela, afastando uma mecha do cabelo castanho. - Pois bem... digamos que não foi só o motorista que foi vítima dos meus métodos especiais de convencimento... - revelou, com ar misterioso.

— E quem mais você enfeitiçou? - o caçador alterara seu tom novamente rigoroso.

— Saberá em pouco tempo. Desculpe, Hector. - disse ela, olhando-o tristemente. - Se não fosse pelo que virá para impedi-lo, você me puxaria de volta assim que eu atravessasse a soleira dessa porta. E não adianta negar, eu sei que faria.

Engolindo em seco a afirmação, Hector tornou a recuar mais uma vez. Dúvidas amargas pesavam como chumbo grosso na sua mente. Uma delas era relacionada à confiança depositada em Eleonor. Haveria um preço tão alto para se pagar por confiar em alguém julgado como "errado" e "perigoso", mas altamente determinado a consertar seus erros?

— Eu ainda estou chocado com tudo isso, eu... não sei mais o que pensar. - disse ele, confuso. - Ao menos me diga para onde pretende fugir.

— Alemanha ou Rússia. - disse ela, concisa.

— Não, Eleonor. - desaprovou Hector. - Estes países, atualmente, se encontram em tensões políticas e a qualquer momento uma nova guerra entre várias potências pode estourar... Fosse para fugir de bruxas ardilosas, eu não aconselharia nenhum destes destinos.

— Então talvez este seja um bom momento para não ouvir seus conselhos. - disparou ela, sem dó. - Me perdoe, Hector. - disse, com enorme pesar nos olhos.

— Pelo quê? - perguntou ele, cerrando os punhos.

A bruxa voltara-se para a janela à sua direita, a única da sala de estar.

— Por isso. - disse, por fim.

Um baque intensamente impactante na janela fez a vidraça estilhaçar minimamente. Um vulto sombrio pulou para dentro do cômodo em velocidade surpreendente. Hector protegera os olhos dos estilhaços que voaram pelo ar, recuando cada vez mais. Sentiu como se um meteoro ou uma corpo metálico tivesse caído. A figura ergueu-se no mesmo instante em que o caçador tirava pequenos cacos de vidro do seu sobretudo de couro marrom. Voltou-se para o ser... e arregalara os olhos, boquiaberto.

— Um meta-simbionte!? - exclamou Hector, relanceando a entrada. Eleonor havia sumido e certamente já estava longe o bastante para sequer ser alcançada.

A criatura rosnou selvagemente para Hector. Um homem de camisa branca e suja com mangas curtas apresentava um monstruoso aspecto. O rosto quase que totalmente coberto de pelos, os cabelos despenteados e maiores do que quando estava em seu forma dita "humana" e os olhos inteiramente brancos que escorriam um líquido negro que talvez fosse seu sangue infectado pela magia utilizada por Eleonor. Seus dentes eram presas pontiagudas e evidentemente brancas. Os lobisomens da espécie Meta-Simbionte eram, geralmente, confundidos com uma amálgama de primata com lobo selvagem por caçadores amadores, até mesmo por caçadores de aluguel desinformados e nada estudiosos. Na realidade, eram 75% humano e 25% lobo e em casos específicos sua sede de matar é moderada. Mas não naquele caso... o feitiço da bruxa caçada quadruplicou as habilidade mortíferas do lobisomem. "Como ela pôde!?", pensou Hector, levemente sentindo-se traído.

— Que falta faz meu arsenal... - disse ele, sem a menor escolha, enquanto a criatura lançava rosnados ameaçadores e se aproximava lentamente.

Em um primeiro e súbito ataque, o lobisomem abrira sua boca avançando contra Hector. Agarrando-se brutalmente à criatura, o caçador tentou forçar para que não fosse mordido logo naquele avanço. Rolaram pelo chão, derrubando a pequena mesa no centro da sala e o vaso de vidro que estava sobre ela. As presas do meta-simbionte tentavam cravar-se no rosto de Hector, cada vez melado de saliva. Olhava com horror para aqueles olhos brancos, segurando os braços do monstro com toda a sua força. "Não sei por quanto tempo... eu posso aguentar!", pensou ele, tentando idealizar uma forma de sair daquela enrascada. Ao passo em que suas mãos perdiam força mediante à persistência insana do monstro ao querer morde-lo, Hector não teve outra saída a não optar por aquela medida desesperada.

Batera sua cabeça contra a do lobisomem em um impacto barulhento. Após o golpe, rapidamente tentou dar um chute no tórax da criatura. Desvencilhando-se, Hector pegara um castiçal caído no chão e, levantando-se rápido, tentou golpear o monstro com o objeto. Acertara seu rosto fortemente, fazendo-o sangrar. Mais outro golpe no rosto da criatura. O castiçal se despedaçara instantaneamente. Para estar com a vantagem e no controle, Hector o segurou pela gola da camisa e o ergueu com o máximo de força possível. Rapidamente, jogou-o contra uma parede, derrubando vários livros da estante com a vibração criada. O concreto rachou e quebrou-se. Ofegando, Hector posicionou-se, preparando-se para uma nova investida. O lobisomem ainda rosnava, mas parecia calmo... respirando de modo pesado. Um ataque repentino quase fez o coração de Hector saltar pela boca. O monstro pulara para cima dele, pegando-o desprevenido. Baquearam no chão, deslizando um pouco pelo carpete desarrumado. O caçador tentara afastar com as duas mãos o rosto da criatura, que não desistia em querer saciar sua fome. O meta-simbionte cravara suas garras nos ombros de Hector, fazendo-o lançar um urro de dor. A oportunidade perfeita se fez presente. As mãos do caçador enfraqueceram de imediato... e os dentes do lobisomem encontraram sua brecha...

                                                                                 ***

Rosie, ainda deitada e adormecida, remexia-se na cama, querendo despertar, quase escutando os longínquos sons da confusão no cômodo principal.

A caixinha de música estava caída no chão. Silenciosa.

Em um despertar tão súbito quanto inesperado, Rosie sobressaltara esbugalhando os olhos. Sentou-se da cama com pressa... reconhecendo a voz através daquele urro gutural de dor.

O segundo dado por ele... após sentir uma intensa mordida soar como duas agulhas penetrando em sua veia carótida.

Rosie voltou seu olhar assustado para a porta... e levantou-se, ainda ouvindo o grito doloroso quase interminável, se arrepiando a cada segundo.

Disse para si mesma:

— Hector!?


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