28 de dezembro de 2007

Bella continua:

— Conversando com meu marido ele me sugeriu que eu contasse para você um pouco antes de meu despertar.

— Claro, será muito interessante – digo, curiosa e empolgada.

— Eu sabia que você gostaria de ouvir – diz Edward.

— Deixa eu continuar – interrompe Bella. – Você deve saber exatamente como é a transformação...

— Eu já sei – atravesso.

— ...antes de decidir. Para mim a morfina teve o efeito de me deixar paralisada enquanto eu queimava.

— Mas podemos tentar mais dessa vez – olho para Carlisle.

— Sim, criança. É claro que eu não gostaria de ver você sofrendo, eu sei como é o processo. É a memória mais forte de todos nós.

— Eu não me recordo – diz Alice.

— Você é exceção, querida – diz Esme.

— “Para toda regra há exceção” – concluo citando o que ela disse há quase um ano e sintetiza seu modo de pensar. Ela tem a mente aberta como eu.

— Eu disse que precisava de mais tempo para o analgésico se espalhar para poder fazer o efeito – diz Edward. - Mas não quiseram me escutar.

— Não havia tempo para esperar para tirar Renesmee de dentro de mim – diz Bella. – Eu não queria perdê-la, eu não tinha me sacrificado passando por tudo o que passei à toa. Era o certo a ser feito.

— Mesmo se tiver que sentir dor, espero que não tenha, mas se tiver ao menos eu sei que agora dessa vez não será sem objetivo.

— Quando seu pai batia em você Carol, não é nada comparado – diz Edward lendo minha mente.

— Você não sabe Edward, você não estava lá – protesto.

— Eu posso ver em seus pensamentos como se eu tivesse estado lá, sim – retruca ele.

 Esme e Carlisle ficam perplexos só de imaginar o que eu vivi. Sem dúvida meu irmão também soube pelo que mamãe passou.

— Que seja, mas dessa vez eu saberei por que está doendo e irei aguentar. Sempre foi assim, eu suportava. Sou uma sobrevivente.

— Sim, sweetie, você é – diz mamãe e afaga meus cabelos.

— Mas em certo momento você vai querer morrer tamanha dor. Vai desejar ter morrido ou que te matem – diz Bella categoricamente.

Não gosto que digam como eu vou reagir, como se estivessem me ordenando. Não sou previsível.

— O que é conhecido é o processo da mudança, Carol. Não importa o quanto você diga que vai aguentar, com certeza vai, mas isso não muda o fato de ser uma experiência dolorosa.

— Não precisa ser, vamos tentar que não seja – diz papai. – Ela não quer sentir dor, vamos tentar que seja uma transição o menos traumática possível.

— Você é muito otimista Carlisle – comenta Edward.

— Não filho; sou realista. Vou tentar tudo o que posso fazer. Porque não usar todos os recursos da medicina disponíveis?

— Eu jamais vou pensar em morrer. Eu quero ser uma Cullen. Eu conheço e aceito o que for preciso passar.

Bella, melhor do que ninguém deveria me compreender. Ela está fazendo comigo exatamente o que fizeram com ela, mas mesmo assim ela quis se tornar uma vampira e conseguiu. Eu também vou conseguir.

— Bem, eu fiz o meu papel. Eu avisei. Cumpri com o que prometi a mim mesma ano passado assim que acordei, eu me disse que iria alertar caso Carlisle precisasse criar outro vampiro. Eu estou com a consciência tranquila.

— Obrigada pela preocupação Bella. Mas você compreende melhor do que ninguém porque quero o que quero.

— Acho que só nós duas escolhemos ser vampiras.

— Eu também acho que escolhi ser transformada para não ser morta por aquele sádico do James - diz Alice.

— Provavelmente eu também teria aceitado ser uma vampira se eu soubesse que seria necessário para ficar para sempre com meu marido – diz Esme.

Acho que apenas Rosalie não teria escolhido se tivesse alternativa. somente Emmett fez com que ela aceitasse melhor o fato de ser vampira.

— Sua história com papai me lembra muito a de Bella e Edward, mamãe – acrescento.

— E você é a nossa ‘Renesmee’ – ela me olha com carinho.

— Se você quiser mãe e papai concordar. Mas eu não sou uma híbrida, nada contra, mas prefiro ser totalmente vampira.

— Nem poderia mesmo tia. Só pode nascer assim como eu, não pode se transformar. Você só pode mesmo se tornar uma vampira completa uma vez que é humana.

— Renesmee! – meu irmão repreende a filha.

— Não falei por mal, papai – ela se defende.

— Não tem problema, eu entendi. Não me ofendi. Nem ofendi você não é minha sobrinha?

— Ahn não – ela diz se voltando. - Eu gosto de ser assim rara. Não me senti ofendida pelo que você disse. Está tudo bem tia.

— Mas se tornar uma vampira não é tão fácil quanto parece – diz Bella.

— Eu sei, mas você escolheu se tornar de um jeito mais difícil.

— Não escolhi dessa maneira. Eu não imaginava que poderia gerar uma filha de meu marido. Mas não havia outra forma de Edward me transformar. Duvido que ele cumpriria sua parte se eu não tivesse engravidado.

— Ei, amor assim você me ofende. Er, bem, é, eu admito que talvez eu não fosse mesmo transformar você. Você lembra como eu era avesso à ideia de transformá-la, querida.

Eu sei que Carlisle iria transformá-la caso fosse necessário, mas Bella preferia que fosse Edward e por isso os dois fizeram um acordo bem intrincado.

— Mas eu quero dizer que eu me tornei uma recém-criada excepcional. Os outros tiveram muitos problemas para controlar sua sede. Principalmente Jasper.

— Eu já pedi desculpa por ter atacado você – se defende meu irmão.

— Mesmo que tenha desculpado, aconteceu e nada pode mudar isso. Até mesmo agora, você sabe que só conseguiu ficar perto de mim depois que eu fui transformada em vampira. Ficar perto da Carol é mais difícil para você do que para nós, você tem que admitir.

— Sim, eu reconheço.

Eu estremeço, pois um arrepio percorre minha espinha e ele percebe. Eu já sabia disso, meus pais avisaram que Jasper era o mais novo vampiro ‘vegetariano’ da família. O tempo que ele viveu se alimentando de sangue humano fez com que fosse mais difícil para ele resistir à tentação, mas ouvir ele falar é diferente, torna o perigo ainda mais real.

Será que os outros podem segurá-lo se ele vier para cima de mim? Emmett seria forte o suficiente? Ele faria isso por mim? Lembro-me que ele já fez por Bella no aniversário de 18 anos dela e provavelmente ele faria sim o mesmo por mim.

Isso que eu nem tinha visto ainda suas cicatrizes, se eu as tivesse visto ficaria com mais medo ainda porque se ele sobreviveu ao ataque de tantos vampiros provavelmente se livraria dos outros que tentassem lhe segurar e viria para cima de mim. Seria melhor se Esme corresse comigo enquanto os outros tentassem segurá-lo.

— Não tenha medo irmã, eu estou bem, não vou machucar você. Emmett pode me segurar - afirma Jasper ao sentir minha reação.

— Você conseguiria escapar? – pergunto com a voz tremendo.

— Não, ele é o mais forte da família. É esse o dom dele. Assim como Edward é o mais rápido, Emmett é o mais forte. Ao menos por enquanto.

— Por enquanto? – Jasper deve ter me feito relaxar porque todo o medo que eu tinha se dissipou como se nunca tivesse existido e só restou a curiosidade.

— Porque você será mais forte que ele quando for uma recém-criada. Eu conheço muito bem esses vampiros novos - ele explica.

— Vamos caçar, querido – chama Alice e ele a segue porque sabe que precisa. Ele tem de estar seguro para ficar próximo a mim, não quer correr o risco de me machucar.

Eles saem da sala antes que eu pisque.

— Ser um vampiro não é tão legal assim. Tem benefícios, é claro não nego, mas também sacrifícios – diz Bella.

— Eu sei que ser uma Cullen não é fácil como parece ser, é viver permanentemente em vigilância sobre suas ações.

— Quando o processo da mudança estava quase terminando – diz Bella. - eu podia sentir que a sensação de ardência estava cedendo e diminuía lentamente, bem lentamente, primeiro na ponta dos meus dedos das mãos e dos pés. Eu senti que podia dobrá-los, mas não fiz nada disso.

‘Eu sabia que o mínimo gesto seria perceptível pelo meu marido, mas eu não podia me dar ao luxo de perder o autocontrole e eu sabia que se fizesse qualquer movimento correria o risco de espernear de dor, e eu não queria que Edward visse isso. E isso nem adiantaria  mesmo, só serviria para deixá-lo triste.

‘Descobri que podia pensar em meio aquela situação, a dor era administrada por outra parte da minha nova mente ampliada, sobrando muito espaço para eu me distrair e concentrar em outra coisa. Nunca fui multi-tarefas, na verdade se não me concentrasse muito em uma coisa apenas de cada vez eu não conseguia fazer nada.

‘Eu podia sentir que estava mais forte e a dor que era insuportável anteriormente agora era tolerável. Como eu podia ouvir melhor agora do que antes quando eu era humana, todos os meus sentidos foram ampliados, intensificados e aguçados, passei a contar a respiração lenta e ritmada de alguém ao me lado.

‘Sim, o cheiro de mel, lilás e sol não me dizia outra coisa. Era Edward quem estava ali. Meu marido não me deixou nem por um segundo – exceto quando os lobos ameaçavam nos atacar. Eu deveria saber que ele não desistiria de me salvar assim como eu também não desistiria de tentar sobreviver. Eu iria fazer a minha parte e ele a dele.

— Os lobos atacaram? – pergunto atônita.

— Sim. Quando Renesmee nasceu, lembra?

— Lembrei - aquiesço.

Bella continua:

— Dali a pouco, ouvi passos que se aproximavam. Era Carlisle que veio saber como eu estava. Na verdade ele já sabia, só fora confirmar. Ele pediu se não mudara nada ainda e Edward respondeu que não. Meu marido se inclinou contra meu corpo e inspirou dizendo que não havia mais cheiro de morfina. Carlisle retrucou que já sabia e por isso foi verificar.

‘Essa notícia me deixou aliviada, mas também significava que logo a dor seria ainda maior, insuperável, para que a transformação se completasse. Mas quanto tempo mais eu queimaria? Quantas horas ou minutos ainda faltavam para isso finalmente acabar e eu pudesse aproveitar?

‘Eu estava tão ansiosa para conhecer Renesmee. Minha filha! Minha pequena cutucadora. Era difícil evocar sua imagem, seu rosto parecia desfocado como se visto através de um vidro embaçado. Minhas memórias humanas não ajudavam e a imagem dela ficava cada vez mais escura. Meus olhos humanos eram tão fracos! Não era agradável tentar ver através deles e ainda mais através de memórias também humanas enevoadas.

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