Papeis, livros, eu-lírico e eu te amo escrita por Tia Lina


Capítulo 2
Surpresas literárias


Notas iniciais do capítulo

Oláááááá, enfermeira! Tudo bem com vocês? Tiveram um bom início de ano? Espero que sim ^^ Estou no mundo para dizer: Sejam muito bem vindos ao melhor ano da vida de vocês ♥ E pra começar bem...

BoA leitura ^^



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— Escolhemos Rei Lear e Romeu e Julieta como tema de pesquisa. – Sam deu de ombros. – Nós tivemos que ler no ano passado e eu não quero ter que passar por outro romance de Shakespeare só pra ganhar nota no meu último ano de colégio.

— Ótimo! Agora perdi o direito de usar Rei Lear e aquele inútil do Barnes não quer nem se dar ao trabalho de ler! – Steve revirou os olhos, mordendo mais um pedaço de sanduíche.

— Como assim, cara? Quão ruim pode ter sido essa escolha de dupla?

— Ele olhou na minha cara e me disse que não precisa dos meus livros emprestados, tá na cara que vai aproveitar o fato de eu ter as duas obras pra montar em cima e me obrigar a fazer o trabalho todo sozinho! – Steve bufou, abandonando o lanche no final.

— Que cara escroto!

— Eu deveria ir conversar com a senhora Wright sobre isso! Ela sabe que sou um bom aluno, certamente me deixará trocar de dupla.

— Ih, cara, melhor não arriscar. – Sam negava com a cabeça enquanto se concentrava em seu próprio sanduíche. – Ouvi dizer que Amanda foi fazer isso e acabou formando dupla com Perkins. A senhora Wright não parece estar de brincadeira desta vez.

— Isso é um porre. – Steve bagunçou os cabelos, levantando-se. – Vou passar na biblioteca ver o que tem de Shakespeare disponível enquanto me preparo mentalmente pra enfrentar duas aulas de química e uma de geometria logo antes de ter que enfrentar longas horas na casa do Barnes. Falou.

Steve e Sam fizeram seu toque de mãos usual antes que o loiro seguisse diretamente para a biblioteca.

Muitos alunos brilhantes estudaram naquele colégio, afinal de contas, aquele era um dos melhores colégios da cidade. Grandes mentes se formaram naquele lugar e Steve queria apenas ser mais uma delas, é claro que não permitiria que alguém como o Barnes estragasse suas notas impecáveis, ele mudaria de nome antes disso.

De um modo geral, não tinha nada contra o garoto. Ele não incomodava ninguém, não falava com ninguém, nunca se atrasava e nunca arrumava confusões. Para falar bem a verdade, não fosse pelo fato de seu armário ser a apenas duas portas de distância do de Barnes, Steve sequer o notaria na escola. O garoto parecia se esforçar todos os dias para passar desapercebido, mesmo com toda aquela altura e aqueles cabelos na altura dos ombros. Barnes não era exatamente invisível, uma vez que não era nem pequeno e nem mirrado, mas fazia um trabalho tão bom em se manter escondido que, de certa maneira, ganhara a admiração do loiro por isso.

Não, definitivamente Steve não tinha absolutamente nada contra a pessoa do Barnes.

O que o estava incomodando era ser obrigado a fazer um projeto que valeria mais de 70% de sua nota para o semestre com alguém que tinha a fama de pagar para que outros fizessem o seu trabalho. Como ele conseguia dormir à noite sabendo que sequer se esforçava para ser um aluno razoável? Era isso o que incomodava o Rogers. Ser obrigado a fazer o trabalho sozinho e colocar o nome do outro somente para dar-lhe uma nota de mão beijada o estava consumindo vivo.

De todos os tipos de pessoas que mais odiava na vida, Steve detestava os preguiçosos mais do que qualquer outro.

E sua mente pareceu o atrair diretamente para o caminho de seus olhos assim que o loiro cruzou a biblioteca e viu o Barnes contando uma quantia generosa de dinheiro, sentado num canto afastado. Steve trincou os dentes ao ver que haviam alguns trabalhos sobre a mesa e imaginou se o outro não acabara de negociar com alguém a parte do projeto que teria que fazer consigo. Ele ignorou a visão quando sua melhor amiga ruiva se juntou a ele na mesa, parecendo rir de algo que o moreno falava.

Seguiu para a sessão dos clássicos e começou a procurar por Shakespeare entre as prateleiras, encontrando somente uma cópia muito mal acabada de Romeu e Julieta e outra de O Rei Lear. Ele suspirou cansado e se recostou na prateleira logo atrás de suas costas. Não poderia pedir mais livros para seu pai, acabara de gastar suas economias em 4 edições de sua HQ favorita, como explicaria que não tinha dinheiro para comprar os livros para concluir seu projeto? Rogers suspirou de novo e decidiu que iria à biblioteca municipal assim que saísse da casa do Barnes naquele mesmo dia.

E com este pensamento, o sinal do intervalo soou, indicando o final de seu descanso e o início do último período de tortura do dia. Rogers suspirou e buscou forças de onde não sabia  ter, e que qualquer entidade o ajudasse a passar por aquele dia, amém.

Mais tarde, e já se sentindo próximo à exaustão mental, o papel que Barnes lhe dera no dia anterior estava em seu bolso, ao alcance de suas mãos, caso se esquecesse do nome da rua pela décima terceira vez. A letra cursiva estava rabiscada de maneira ligeira, mas continuava sendo muito bonita, aquele fora o primeiro pensamento que lhe acometera assim que leu o papel pela primeira vez. Chegou finalmente em frente ao sobrado branco de janelas e porta amarelas, como indicado no papel, que agora estava em sua mão. Número 407, estava no lugar certo. Adiantou-se até a entrada e tocou a campainha, sendo atendido de prontidão por uma mulher magra e alta, de curtos cabelos escuros e olhos verdes como o do Barnes. Certamente aquela era sua mãe, se parecia muito com ele.

— Boa tarde, sou Steve Rogers, um colega de classe de James Barnes, estamos fazendo um projeto juntos para a aula de literatura. – A mulher sorriu calorosamente.

— Entre, Steve Rogers, James está no quarto, eu vou chamá-lo. – Conduziu-o à sala, convidando-o a se sentar. – Quer algo para tomar? Certamente a caminhada até aqui foi cansativa.

— Agradeço a gentileza, senhora Barnes, mas não, obrigado.

Era fácil sorrir para a mulher, ela trazia consigo uma aura calorosa e acolhedora, principalmente quando sorria. Steve se pegou analisando as poucas fotos da casa assim que ela se retirou, apenas para matar o tempo enquanto o garoto não aparecia. Arregalou levemente os olhos quando avistou uma em particular, na qual o garoto Barnes parecia distraído demais enquanto ria de alguma coisa com uma caixa na mão. Steve não esperava ver tantas tatuagens em um adolescente de 17 anos, no entanto estava ali, em pé, com o porta retratos em mãos, analisando uma por uma as tatuagens no braço esquerdo do Barnes.

— Foi no Natal do ano passado. – A voz grave, e um pouco aveludada do outro (ele admitia) o despertou de seus devaneios. Steve quase derrubou o quadro no chão. – Não se incomode, é natural se sentir curioso com as fotos das outras pessoas na primeira vez que se visita a casa delas. - Ele deu de ombros como se aquilo realmente não significasse nada.

Barnes estava com metade dos cabelos presos num coque, camiseta vermelha e calça de moletom cinza. Mantinha as mãos escondidas nos bolsos enquanto se balançava minimamente para a frente e para trás, parecendo não perceber o próprio movimentar. Steve devolveu o porta retratos ao lugar de origem e se aproximou devagar, tendo um pequeno vislumbre das tatuagens do outro ao vivo.

— Então... vamos para o meu quarto, nós não temos algo como um escritório nesta casa, todos os meus livros e materiais de estudo ficam no meu quarto, para mim é mais cômodo quando preciso de algo no meio da noite. – Deu de ombros novamente, sem se importar em olhar para trás para contemplar a expressão surpresa no rosto do Rogers.

O quarto do Barnes ficava na terceira porta do corredor, e era completamente diferente do que o loiro imaginava. O Barnes parecia ser bagunceiro e ter um quarto cheio de caixas vazias de pizza, abarrotado de pôsteres de bandas de rock pesado e muitas imagens de gente pelada em todo canto, no entanto, seu quarto era muito mais limpo e organizado que o de Steve. Por um momento, o loiro agradeceu o fato do moreno ter cedido a casa, do contrário, se envergonharia daquela pilha de roupas em cima de sua cama que ele sabia que jamais voltaria ao seu guarda-roupa.

Ao contrário do seu, o quarto do Barnes era inteiro branco e bem iluminado. Em uma das paredes havia uma prateleira enorme, cheia de livros. Seu computador descansava em outra parede, e não havia um papel sequer amassado sobre sua mesinha. A cama estava muito bem arrumada e cheia de travesseiros que pareciam confortáveis demais para uma só pessoa. Steve poderia morar naquele quarto a partir daquele dia e ele sequer se importaria com o mundo lá fora. E então ele avistou em outra mesa alguma bagunça. Algo que faz dele um adolescente comum, pensou. Ao se aproximar, uniu as sobrancelhas.

— Química avançada? – Analisou o conteúdo das folhas e uniu as sobrancelhas. – Nós nem temos essa matéria na escola. – Comentou mais consigo mesmo, porém, alto o suficiente para o moreno ouvir.

— Não é material da escola, estou fazendo um trabalho para um cara aí. – Ele deu de ombros.

— Você está fazendo um trabalho pra alguém? – Steve direcionou sua expressão desentendida para o Barnes.

— As pessoas me procuram e me passam o que preciso colocar no projeto delas, então eu faço o trabalho sujo e tiro uma grana com isso. – Deu de ombros outra vez, se sentando na cadeira da mesa onde estava seu computador. – Não é um trabalho, mas garante uma grana extra todo mês, então. – Deu de ombros novamente, finalizando o assunto.

— Eu não imaginava. – Steve puxou a outra cadeira e se sentou ao lado dele, ainda boquiaberto e um tanto quanto desconfortável. – Eu pensei que não fazia nem os seus trabalhos.

— Sou sempre o primeiro a entregar os meus projetos, não curto muito esse negócio de perder prazo, mas enfim, melhor fazermos logo a divisão desse trabalho, assim eu já te libero por hoje.

— Nós não poderemos mais fazer sobre o Rei Lear, Sam e Darcy já escolheram esse livro, precisamos pegar outro. Eu sei que não é exatamente uma obrigação não repetir títulos, mas eu prefiro fugir desses clichês. - Fez uma careta involuntária.

— Não se preocupe com isso agora, vamos fazer as divisões das tarefas e depois escolhemos os livros, tudo bem?

— Por mim, fechado. – Ele concordou.

— Temos três semanas para concluirmos e cinco tópicos para completarmos. Se não se incomodar, eu prefito fazer a revisão, estou acostumado com esse tipo de leitura e sou muito bom com as normas técnicas, afinal, também faço alguns trabalhos universitários. – Steve se esforçou muito para não arregalar os olhos. – Você pode dar conta das sinopses e da análise da tragédia? Então para mim ficaria a análise da comédia ou romance, traçar um paralelo entre elas, a revisão e os elementos pré-textuais.

— Se fizer essa divisão, você ficará sobrecarregado. – Steve arqueou uma sobrancelha.

— Você quer pegar os elementos pré-textuais?

— Por que não me dá as sinopses e as análises?

— Porque não posso te deixar fazer isso tudo sozinho, e isso seria sobrecarga, além de não ser nada justo. – Bucky também arqueou uma sobrancelha.

— Tá, beleza, então me dá a droga dos elementos pré-textuais.

— Vamos padronizar a fonte para Times, ok?

— E por que não Arial?

— Porque Arial é de leitura cansativa e a estética é horrível. – Ele falava enquanto digitava freneticamente.

— Tá, e que livros escolheremos?

Sem se preocupar em avisar, Bucky se levantou e caminhou até sua estante, parando em um dos cantos enquanto aguardava Steve o seguir. Quando o loiro parou ao seu lado, ele apontou para uma coleção logo ao final da quarta prateleira, o que obrigou o loiro a arregalar os olhos levemente.

— Você comprou todos esses livros de Shakespeare? Por acaso ele é o seu favorito?

— Não passa nem perto. – Bucky comentou, rindo soprado. Aquela era a primeira vez que o ouvia rir, Steve achou curiosamente agradável. – Só estava curioso e interessado numa época, então comprei tudo o que vi dele.

— E qual deles escolheremos?

— Se me permite, eu posso indicar? – Encarou o loiro daquela maneira que, aparentemente, só ele conseguia fazer, deixando-o desconfortável novamente. Steve aquiesceu. – A Tempestade e A Megera Domada. Pode levar os dois, já os li e reli diversas vezes.

— Por que esses dois? – Ele segurou os dois volumes que o Barnes lhe entregava.

— A Megera Domada foi uma das primeiras comédias que Shakespeare escreveu e A Tempestade pode ter sido um dos últimos, se não o último. Acho que nos dará uma visão bem interessante sobre a mudança no estilo de escrita do autor.

Steve estava tão embasbacado com aquele pequeno universo que acabara de descobrir que tudo o que conseguia fazer era concordar e se surpreender. E voltando ao computador, os dois continuaram a planejar como e quando começariam aquele trabalho que, certamente, renderia bem mais que surpresas literárias.


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Notas finais do capítulo

Existem algumas considerações que queria fazer aqui, ok? A primeira (e a mais importante pra vocês) é que eu ainda não defini um ritmo de atualização, então eu vou fazendo conforme vou escrevendo e revisando, ok? Assim que souber que ritmo seguirei, eu aviso ^^

Segunda (e também importante) é que eu decidi criar um universo um pouco diferente para essa fanfic. Sabe todas essas discussões sobre sexualidade que rolam na maioria das histórias? Pois é, esqueçam essas discussões. Eu criei um universo para essa história que é indiferente ao sexo das pessoas, então não esperem nem um tipo de confusão com nenhum personagem envolvendo o romance do Steve com Bucky ou de qualquer outro casal. Isso não vai acontecer aqui, porque eu queria espalhar um pouquinho do que eu experienciei com um anime que assisti no final do ano passado que foi maravilhoso ♥ E sim, eu tô falando de Yuri on Ice!! ♥

Terceiro é que essas duas obras de Shakespeare são bem interessantes, então eu super recomendo ^^ A Megera Domada tem sido minha obra favorita do escritor desde muito tempo, e depois que peguei alguns estudos aprofundados sobre ela eu só tive mais motivos para amá-la ♥ Então, fica a dica ^^ São leituras de uma hora, uma hora e meia, dá pra ler antes de ir dormir ^^ E não, eu não sou a grande fã de Shakespeare, mesmo porque, só li essas duas obras até hoje (eis o motivo de ter escolhido justamente essas) ^^

Enfim... Steve foi e tomou nas fuças. Olha esse Bucky todo inteligente, conquistando o coração de geral ♥ Não sei vocês, mas gente inteligente me deixa toda derretida, eu não sei como sobreviverei a este Bucky Ç_Ç Obrigada pela companhia e até breve ♥ XoXo ;*

P.S.: Eu fiz um esquema do quarto do Bucky para que vocês pudessem ter uma compreensão visual melhor de como arrumei as coisas dentro dele https://twitter.com/GoliaSalles/status/948019097937293312



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