Brincadeiras do destino escrita por Phoenix


Capítulo 10
Minha gata


Notas iniciais do capítulo

Foi difícil continuar a história depois de mudar a narração. Eu tenho tanta ideia, mas me bloqueou. Quem estiver lendo, comente please :D



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Naquela noite, todos se deitaram, mas ninguém dormiu. Com pensamentos quase se simultâneos, cada qual com seus devaneios: passado, presente, futuro, cada membro da família pensava em alguma coisa diferente. Catarine, morta de fome, variava entre pensar em comida e nos acontecimentos do dia, apesar da situação ser tão ruim, o que a fazia pensar mesmo, eram as atitudes de Naoki. Agora com a cabeça fria, uma foto valiosa, mil ideias pairavam sua cabeça de vento, mas primeiro ela precisava ouvi música, a música sempre a ajudava de alguma forma, mesmo que piorando a situação.

POV Catarine: Essa janela é o meu canto, já está decidido. Como não poderia ser, essa lua maravilhosa, amarelada, alta, forte, tão redonda, ai que fome, me lembrou um pão de queijo. Quero! Acorda menina, vamos lá testar o nível de amor do babacão. Hoje ela é babaca, é herói, nem posso falar mal, também nem quero. Como uma reza, repeti a minha fala:

— Primeira estrela que eu vejo, satisfaz o meu desejo? Se o cachorro latir é porque me ama, se alguém assoviar é porque me procura, se a porta bater é porque me odeia.

Fiu fiu, fiu fiu

— Há, Naoki, o assovio do celular vale, com toda certeza, não foge não bebê. – Peguei o celular para conferir, era apenas uma mensagem da playlist, sempre aleatória como o destino, a música tocada foi “Cuida de mim – O Teatro Mágico”.

Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás, se voltar atrás assim como eu

Busquei quem sou
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo

 

Naoki sempre dormia cedo, mas não nesta noite, mesmo deitado, de olhos fechados, estava pensativo à respeito de Catarine.

POV Irie: Aquela menina SEMPRE me deu trabalho, nem ao menos se lembra de nossa infância, baka, que estranha. Mas, apesar de ter mentido para ojiisan Sandro, eu sabia de onde vinha o apelido Kinho, sei que eu inventei o da Cat-chan e me lembro claramente que ela sempre chorava, barulhenta, pois caía, ralava o braço, batia a perna, desde sempre burra e atrapalhada. Nunca entendi o porquê dela sempre correr para mim, sempre chamar meu nome... Acho que vou a janela para observar essa imensidão azul.

— Que tola, não cansa dessas brincadeiras infantis. – Disse ao escutar aqueles versos tolas, mas me assustei com o som de assovio do celular.

— Há, Naoki, o assovio do celular vale, com toda certeza, não foge não bebê. – Sempre tão escandalosa, nem percebe que eu escuto tudo.

Mas algo começou a me incomodar profundamente. Era o som de uma música calma, romântica, essas bem clichês de meninas bakas como Catarine. Mas essa letra, ela realmente me causava uma tormenta interna.

Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso

Não entendo porque algo tão supérfluo mexe dessa maneira comigo. Elevo minhas mãos até meu peito e percebo meu coração se acelerando progressivamente, mas não sou capaz de entender o porquê. Isso me causa raiva, angustia, desconforto. Em sempre entendo tudo, raciocínio de maneira lógica, correta, sem preocupações, a minha vida inteira tem sido assim. Esse sentimento esquisito, me causa medo, e consequentemente a raiva. Preciso de me livrar deles com urgência.

Eu me deito, viro e rodo na cama, fecho e abro o olho. Sempre dormi cedo, mas essa noite não fui capaz de dormir.

POV NORIKO: Oi amiga, você nos olha aí do céu? Tenho tantas saudades de você que chega a doer. Você sabe que eu sou um pouco, talvez muito exagerada nas minhas ações, mas sei que você me perdoa sempre. Estou cuidando da sua menina como cuidaria da minha se tivesse uma. Mas agora vejo que foi bom ter um menino, afinal, seremos comadres como havíamos planejado. Te amo amiga, um dia a gente se vê.

Preciso dar uma empurradinha mais forte nesses dois. Estão muito devagar. Sorrio maleficamente só de pensar nos planos que tenho na minha cabeça. “Muarrarrarrarra”.

POV SANDRO: Eu sempre me preocupei com Catarine quando era um bebe e estava certo que crescida não me preocuparia tanto. Porém quanto mais o tempo passa, mais eu me preocupo com ela, quando eu penso que não existirá mais com o que se preocupar, acontece algo que me faz mudar de ideia. Quando nasceu, tinha medo de machuca-la por ser tão pequena, apesar de ser a maior de todos os bebês, para mim ela era muito frágil, então achei que futuramente perderia o medo. Quando estava com 10 meses era mais durinha, mas estava começando a andar, então eu tinha medo que ela se machucasse, pensei que quando tivesse o completo equilíbrio ficaria mais aliviado. Depois fiquei com medo dos objetos que ela poderia colocar na boca, pegar objetos cortantes, de se engasgar, pois comia demais, de se perder, de alguém roubá-la, de não fazer amigos, de não aprender a ler, de não conseguir estudar. Quando Rebeca ficou doente, fiquei com medo de Catarine ficar depressiva, triste ou traumatizada, e quando faleceu, foi como se meu chão fosse roubado, a pessoa que tirava meus medos da paternidade havia partido, e agora ficaria apenas Catarine, meus medos e eu. Tive muita sorte da minha filha ser destemida como a mãe, ela que sempre me encorajou, demonstrava sempre ser forte e eu agradeci demais a Deus por isso. Mas hoje, hoje foi um dos piores dias da minha vida, eu não poderia ajuda-la em nada, absolutamente em nada e essa situação me mostrou o quanto as outras pareciam ser bobas. Se não fosse pelo Kinho... eu nem sei... não quero pensar... e tenho que parar de ser tão chorão, pois isso não serve para nada. Rebeca, acho que você tinha razão quando nos disse que Kinho e Catarine seriam mais que amigos e que ele a protegeria, você realmente sempre acerta não é mesmo.

Com isso, Sandro seca suas lágrimas e coloca o porta retrato de sua esposa sobre a escrivaninha que tem em seu quarto.

Depois que a música acabou, Catarine abriu a gaveta de sua penteadeira e olhou duas cartas, ao pegá-las deixou cair uma foto e não conseguiu conter o riso, estava tendo ideias terríveis de como usa-la e faria questão de se sair bem com aquele tesouro.

— Só assim para esquecer esse dia horroroso. Mas amanhã, vai ser melhor, BEM MELHOR!!!

Apesar de ter decidido esquecer o ocorrido, seus pensamentos sempre voltavam para o ocorrido, e durante o sonho, teve a ideia de que o objetivo dos marginais tinha sido alcançado, então ela gêmia, falava alto repetidamente “não, não, não”, mas não conseguia acordar. Naoki entrou correndo no quarto e tentou acordá-la.

— Catarine, Catarine?

— Naoki, você está aqui? – Disse com os olhos fechados ainda.

— Estou sim, não se preocupe. Tudo vai passar, você vai esquecer essa situação.

— Estou com medo, eles vão me pegar, eles vão me ...

— Não fale besteiras! – Disse abraçando-a com força. – Não pense mais nisso, não fale mais nisso. Não vou deixar que nada te aconteça, eu te prometi que cuidaria de você, apesar de ter deixado sete anos se passarem, agora estou aqui e nada mais te acontecerá.

— Naoki, eu amo você! – E com isso Catarine voltou a dormir tranquilamente, mas os sentimentos de Naoki foram bagunçados naquele momento. Pensava como que ela poderia amá-lo se até então eles não se davam tão bem, e ao mesmo tempo ficou irritado, pensando em como ela trocara o “Kinho” tão facilmente. Percebendo que ela adormeceu, voltou ao seu quarto.

*

Já era de manhã e um raio de Sol, conseguiu atravessar uma pequena fresta da cortina e bater diretamente nos olhos de Catarine, juntando isso ao som do despertador foi impossível não levantar. Fora o misto se ansiedade e medo que invadia o peito de Cat-chan.

— Gente, eu sonho, meu pai. Aqueles nojentos... arg, mas o Naoki, senti como se ele tivesse me abraçando mesmo, nossa, até o perfume dele eu fui capaz de sentir, parece que até está em mim. – Disse enquanto cheirava seu pijama. – Mas a verdade é que descobri que realmente amo aquele tapado, herói, mas tapado. Nossa, preciso me arrumar.

Ela olhou seu uniforme novo, ele era mais justo e curto que o outro, ficou em dúvidas qual deveria usar até chegar à conclusão de que quem deveria se controlar não era ela e sim os tarados. Não podia viver com medo e muito menos restringir suas roupas, nada justifica a atitude daqueles dois. Então no fim se maquiou, coisa que raramente fazia, passou perfume, deixou seu cabelo mais arrumado que o normal e colocou o uniforme curto e justo, com uma meia três quartos vermelha e seu all star de cano médio preto.

Ao descer todos olhavam para ela com aquele olhar de piedade, mas ela tratou de sorrir e dizer:

— O ontem ficou lá, guardado e enterrado e o hoje está cheio de comida boa na mesa que eu vou tratar de comer.

Todos riram felizes por ela ter acordado bem. Então decidiram, cada um nas suas cabecinhas, que talvez, falar agora do assunto não seria o ideal.

— Nossa Cat-chan, hoje você está diferente, tão bonita!

— Obrigada Tio Irie, eu estou me sentindo realmente bem, não sei porque.

— Como foi sua noite? – Naoki disse enquanto lia o jornal, apesar de não aparentar muito interesse, o jornal escondia seu sorriso malicioso.

Catarine ficou vermelha, pois lembrou do final de seu sonho e foi isso que a deixou tão animada, ela colocou as mãos na bochecha.

— Então, eu tive um sonho que era ruim inicialmente, mas no final ele ficou tão bom, mas tão bom, que meu humor melhorou. – Ela não se lembrava que Naoki tinha ido ao seu quarto.

— Então será que você teve sonhos quentes com o Oniichan? – Disse Noriko sem nenhum um pingo de vergonha e com um sorriso muito malicioso.

Desse vez quem ficou vermelho foi Naoki que quase se engasgou com o café.

— Okaasan, olha o Yuri. – Disse entre os dentes para que ele não percebesse.

— O que são sonhos quentes? Como assim?

— Yu, significa sonhos na praia ou em um lugar que faz calor. – Respondeu Iri-Chan.

— Isso não faz o menor sentido. Deve ser coisa de gente velha mesmo.

Se fosse em outra situação, Yuki seria repreendido, mas por se tratar de algo mais adulto deixaram passar.

— Pois eu faria gosto, e você Kinho sabe bem disso – Sandro não esconde seus pensamentos. – Aliás gostaria de te agradecer e pedir que fique de olho nela por favor.

— Pode deixar Ojisan, eu vou cuidar da Cat-chan cabeça de vento.

— Ah, me lembrei de algo muito legal. Cat-chan, você sabe de onde vem o seu apelido? – E deu uma olhada para Naoki, que arregalou os olhos e balançou a cabeça negativamente.

— Não, não faço ideia.

— Kinho, foi você quem inventou, pois Rebeca e Sandro o chamavam de Naokinho e como você não conseguia ou tinha preguiça de falar tudo, abreviou para Kinho. Já Cat-chan, foi bem mais interessante que isso. – Naoki pigarreava na vã tentativa de parar a sua mãe, que estava parecendo um carro desgovernado tagarelando alto e sem parar. – Quando vocês tinham uns três anos, Oniichan estava aprendendo inglês, ele chegou todo afoito em casa querendo dizer a palavra nova que ele aprendeu.

— Nossa, desde os três anos ele faz inglês?

— Sim, na escola que ele estudava os pequenos também tinham essa aula. – Respondeu Iri-Chan.

— Bom, chegando em casa ele ligou para Sandro-Chan e pediu para trazer você e Rebeca para ele contar algo importante. Como seu pai gostava muito do Oniichan e de vir aqui, em trinta minutos ele chegou.

— Essa conversa está longa, chata e desnecessária. É melhor irmos para a escola. – Naoki corava gradativamente durante a história, e quanto mais vermelho ele ficava, mais devagar Noriko narrava, parecia que cada palavra que proferia era como um doce que colocava em sua boca.

— Não Oniichan, está cedo e eu quero ouvir histórias de como você era na infância. – Yuki estava curioso também e Naoki estava encurralado.

Catarine olha as expressões dos adultos e os risinhos que eles tentavam esconder em vão.

— Continuando. Quando vocês chegaram Oniichan te abraçou imediatamente, porque era costume dele fazer isso toda vez que vinha para cá. – Essa revelação vez Catarine olhar para Naoki no mesmo instante, o que fez com que ele olhasse para o jornal, já que ele a estava olhando a um tempo. Enquanto Noriko narrava, Iri-Chan, Sandro, Naoki e ela tinham um flashback daquele momento, mas Catarine, tonta, não se lembrava.

Flashback on— Naoki fez todos se sentarem e começou.

— O nome da Catarine-Chan pode ser abreviado. - Todos achavam aquela cena interessante, pois ele era tão pequeno, tinha apenas três, era pequeno, mas falava como um adulto. - Então eu pensei em um apelido para ela: “Cat-chan”.

— Nossa que legal Naoki, como chegou a essa conclusão, bonito? – Disse Rebeca admirada e rindo da situação. Enquanto isso Catarine comia uns pães de frios que estavam na mesa, enquanto olhava Naoki.

— Eu uni o nome ao significado da palavra. Hoje eu aprendi que Cat significa gato e, como a Catarine é a minha gatinha, eu vou apelida-la de Cat-chan. Tudo bem Sandro Ojisan e Rebeca Obasan?

Todos os adultos riram nesse momento, o que deixou Naoki bravo, sem entender.

— Claro que eu deixo, Kinho, meu lindo. Eu sei que você vai cuidar bem da sua Cat-chan não vai?

— Claro Tia Rebeca, eu vou casar com ela.

— Kinho, eu não telu casar tum você, eu quelu comer.

— Se você casar comigo Cat-Chan, eu vou te dar bolinha de queijo todo o dia.

Intão eu quelu casar cum você hoji.

— Mas só pode quando for adulto.

— Mas eu quelu hoje!

— Então a gente namora e casa depois, tá bom?

— Você vai mi dar bolinha de queiju?

— Vou.

Intão tá.

E saíram de mãos dadas para brincar enquanto os adultos riam e imaginavam seus filhos casando.

Flashback off

Catarine estava com a boca e olhos arregalados, assim como Yuki, os dois que estava vidrados ouvindo a história de Noriko, viraram lentamente para Naoki e o olharam como se ouvesse um ponto de interrogação em seus rostos. Na mesmo hora os dois soltaram: “Naoki” /“Oniichan”.

Enquanto Catarine ria, Yuki chorava.

— Como pode ter se apaixonado por essa baka Oniichan? Porque, Porque?

— Olha só, quem diria, porque eu não me lembro disso? Que raiva. – Catarine achava a situação muito cômica e adorava saber que ele foi apaixonado por ela, mas gostaria que esse sentimento existisse hoje em dia ainda, mas infelizmente, isso parecia impossível.

— Bom, agora que já acabou com essa história do PASSADO, como a Catarine mesmo disse “o ontem ficou lá, guardado e enterrado...”, está na hora de irmos, vamos Catarine, não quero você para trás.

— Ah, sim, obrigada. – Terminou rapidamente de comer seu pão de forma com nutella e foi colocar seus sapatos, junto a Naoki.

— Ah, meninos, deixei uma surpresinha na lancheira de vocês. Espero que gostem.

— Obrigada Obasa.

— Obrigada Okaasan.

Assim que eles saíram de casa, Naoki pegou na mão de Catarine, entrelaçando seus dedos ao dela.

Ela olhou com espanto e sua reação foi puxar sua mão, mas Naoki a segurava com firmeza.

— Me sentirei mais seguro se daqui de casa até o terminal, formos de mãos dadas.

— Mas não precisa disso, as pessoas vão pensar coisas errad...

— Sentirei que assim estarei cumprindo a promessa ao Santo ojisan da melhor maneira possível.

Então Catarine, ficou branca, vermelha e roxa, mas aproveitou aquela situação, porque de boba, só a cara... quer dizer, todo o resto também.

Assim caminharam até a estação de metrô, até que Catarine dizer de olhos arregalados.

— Naoki, o que é isso? Você está bem?


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Notas finais do capítulo

O que será que o Naoki fez?