Posso te pagar um sorvete? escrita por Lillac


Capítulo 4
Enfim, sorvetes.


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, espero que gostem!
Aliás, estou pensando em escrever um bônus (capítulo único) para essa história. Mais informações nas notas finais.



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“A resposta para todos os questionamentos de Percy” parecia bem confusa. Ela franziu o cenho, o encarando, como se duvidasse do que ele havia acabado de dizer, mas enfim, balançou os ombros e gesticulou para que entrasse. Durante as últimas duas semanas, o rapaz estivera naquele apartamento todas as tardes e já o considerava familiar. Porém, naquele momento, sentiu-se estranho e inseguro ao pôr os pés no assoalho. Annabeth caminhava na frente, partindo para a geladeira:

— Você quer um refrigerante?

Percy estava ocupado olhando para os olhos dela, e demorou mais do que deveria para dizer:

— Pode ser, é. Pode ser.

Annabeth ergueu uma sobrancelha, claramente intrigada pelo súbito comportamento dele, mas nada disse. Ela se inclinou e pegou duas latinhas de refrigerante, e então as colocou por cima da mesa. Percy a seguiu.

E eles ficaram em silêncio. Ele tinha os dedos das mãos entrelaçados sobre a mesa, e parecia repentinamente muito interessado nos nós deles. Ao mesmo tempo, Annabeth o fitava como se ele fosse uma coluna malfeita e dispensável em um de seus trabalhos arquitetônicos.

— Cabeça de Alga — ela chamou. — Você vai falar ou...?

Percy respirou fundo. Por algum motivo, lembrou-se do desespero que até algumas semanas atrás sentia toda vez que pensava no maldito teste de química. Com as aulas e ajuda das duas garotas, ele estava pouco preocupado com avaliação agora. Ao invés disso, ele tinha uma razão completamente nova para o nervosismo e palpitação cardíaca:

O prospecto de falar com a garota que gostava.

— Então — ele começou. — Olha, eu achava que você namorava com o Luke, ok? Tipo, vocês estavam o tempo todo juntos e não se desgrudavam, e assim, eu entendo, porque o Luke é incrível e um cara muito bacana, mas eu ia realmente detestar que vocês estivessem juntos. Quero dizer, você tem o direito de gostar de quem você quiser e ele também, mas isso seria muito ruim, sabe? Eu... —

— Percy — Annabeth levantou-se. Sua voz não soava nem minimamente calorosa. — Você veio aqui para ficar fazendo insinuações do meu relacionamento com o Luke? Se for isso, pode ir embora.

Percy ergueu-se também, coração batendo forte, e conseguiu dizer:

— Não! Não é isso — garantiu. — É só que um dia desses a Reyna me procurou para falar sobre você, e se não fosse por ela não estaria aqui. Eu nunca faria isso sozinho e.... —

— Ah, ótimo! Ótimo mesmo, Jackson — Annabeth rolou os olhos. — Então agora além de ficar confabulando sobre a minha não existente vida amorosa, você também está fofocando sobre mim com a minha amiga? Eu aqui achando que você era um cara legal.

Em um só ímpeto, ela andou até a porta e a escancarou com um puxão.

— Fora, Jackson.

— Não é nada disso! — Percy andou até ela, e, enquanto Annabeth o empurrava pelos ombros para tentar tirá-lo da casa, ele conseguiu falar: — Olha, eu gosto de você. Gosto mesmo.

Annabeth congelou. Com as mãos ainda nos ombros dele, porém, sem aplicar força, ela o encarou, e Percy viu aquilo como uma oportunidade para continuar:

— Eu nunca gostei de ninguém assim — admitiu, deixado completamente sem fôlego pelo modo como as tempestades nos olhos de Annabeth o olhavam. — Eu já namorei algumas garotas, e tipo, nem a Rachel... deuses, o que infernos eu estou dizendo?! — Ele fechou os olhos e acertou a própria testa com a palma da mão.

Conte com Percy Jackson para narrar suas aventuras amorosas com outras garotas enquanto tenta se declarar.

— Eu não sou um cara bom com palavras — para sua surpresa, Annabeth parecia esticar um pouco os lábios em um mínimo sorriso. — Ou química. Ou apresentações. E eu não quero te deixar desconfortável, nem nada. Eu só... eu só gosto muito mesmo de você, Annabeth. E eu.... —

Percy odiava filmes românticos clichês. Odiava mesmo. Mas, ao ser interrompido no meio de uma fala por uma Annabeth que ficara nas pontas dos pés para beijá-lo rapidamente na bochecha, inclinando-o um pouco com um puxão na gola de sua camiseta, ele não pôde encontrar em si nada do costumeiro desgosto por clichês.

Foi um beijo rápido, inocente. Annabeth afastou-se tão rápido quanto havia se aproximado, mas Percy sentiu como se houvesse durado uma eternidade.

— Eu... — Percy sentiu-se subitamente abandonado pelas palavras.

— Sim?

— Eu... eu posso te pagar um sorvete?

Annabeth fechou os olhos, sorrindo, e balançou a cabeça, cachos dourados seguindo seus movimentos, parecendo ao mesmo tempo maravilhada e incrédula.

E Percy soube que aquela era a expressão que ele queria ver pelo resto da vida.

 

 

Muito mais dramaticamente do que o necessário, o grupo de amigos de Percy havia se reunido em uma mesa do refeitório para aguardá-lo chegar com o resultado. Até mesmo Reyna e Will estavam lá.

Percy desceu as escadas que levavam de sua sala de aula até o refeitório eufórico, com as folhas de papel nas mãos. Quando os alcançou, ficou um bom tempo olhando-os em silêncio, até que Rachel, farta, saltou de sua cadeira e arrancou a prova de suas mãos.

— Ei! — Percy protestou. — Eu...

— “Passei”? — Os olhos verdes brilhantes da ruiva pareciam ainda mais eufóricos do que o usual. Ela balançou a folha de papel no ar para que todos pudessem ver o “B+” marcado com caneta vermelha.

Em meio à abraços e congratulações — Reyna, especialmente, ao abraça-lo, sussurrou-lhe que ele “tomasse conta de Annabeth ou ela lidaria com ele” ao que o garoto apenas sorriu, metade grato pela ajuda e metade aterrorizado por ela — Percy os contou que seu professor ainda estava duvidando que a nota era realmente dele, e, aparentemente, estava convencido de que Percy havia de algum modo trapaceado.

— Ele não está completamente errado, está? — Grover sorriu. — Afinal, você teve ajuda das duas melhores alunas dessa faculdade. Isso deve contar como algum tipo de trapaça. Ninguém é tão sortudo assim.

— Deixe-o em paz — Juníper o repreendeu, com um empurrão leve no ombro do namorado. — Percy mereceu.

— É verdade — Luke concordou, dando um tapinha amigável nas costas de Percy, e usando a outra mão para bagunçar o cabelo dele. — Eu nunca vi alguém estudar tanto para um teste...

Ele trocou um olhar sorrateiro com Rachel, e os dois pareceram concordar.

Percy preparou-se — demasiado acostumado — para a vergonha iminente:

— Embora eu não tenha certeza se o entusiasmo tinha mais a ver com as notas, ou com uma das professoras — Luke completou com um sorriso de canto.

Percy pensou em protestar, mas, quando Annabeth virou seu rosto delicadamente na direção do dela, e beijou-o com carinho, ele meio que esqueceu o que estava pensando — e onde estava. E quem era.

— É claro que tinha mais a ver com a professora — ela respondeu com uma piscadela.

E, como nenhum momento da vida da Percy poderia ser realmente bonito e romântico sem algum tipo de interferência, Grover completou sua comemoração jogando uma enchilada em Percy, que deslizou pela sua face, manchou suas roupas, e enfim, caiu no chão.

— Você me paga!

Ele avançou para cima do melhor amigo, enquanto os outros davam risada de sua cara suja e vermelha. Luke percebeu antes de todos. Tentou impedi-lo, segurando-o por um braço, mas já era tarde.

Quando Percy estava prestes a agarrar Grover pela barbicha, escorregou na mesma enchilada, e deu de cara com a borda da mesa.

Após o teste de química, Percy criou uma nova lista de problemas. Um nariz fraturado e um curativo embaraçosamente colossal no rosto foram os primeiros a fazerem entrada.

 

 Enquanto comia generosas colheradas do sorvete de pote que haviam comprado mais cedo, Percy sonolentamente enrolava um cacho do cabelo dela em um dedo e observava Annabeth trabalhar em um projeto em seu notebook. Percy foi de súbito acometido pelas lembranças de seu primeiro encontro com a garota. Já faziam seis meses que eles namoravam, e não pôde evitar perguntar:

— Como é que você conseguiu gostar de mim mesmo depois de te empurrar em uma poça de lama?

Annabeth parou de digitar. Ela ergueu os olhos, como se procurasse algo acima de sua cabeça, e ponderou.

— Você me atropelou com uma bicicleta e derrubou as planilhas nas quais eu estive trabalhando há meses em uma poça d’água monstruosa, mas então ficou morrendo de vergonha e literalmente foi lá e enfiou o braço para pegá-las de volta e, estranhamente, eu achei isso a coisa mais fofa de todas — ela concluiu.  — O que me lembra, Cabeça de Alga...

— Sim?

Uma cotovelada na barriga e um “ouch!” dolorido depois, Percy encontrava-se com o rosto enterrado no ombro da namorada e um abdome bastante dolorido.

Isso — ela sorriu. — Foi pelas planilhas que você arruinou.

— Uau — Percy apalpou o lugar abatido — então é verdade que o amor dói.

Annabeth sorriu.

— Você sabe que eu te amo.

Percy, mais uma vez, sentiu o ar escapando de seus pulmões ao vê-la o olhando daquele jeito. 

É, ele sabia.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a todos que acompanharam essa história. Ela foi curta, mas eu realmente gostei de escrevê-la - e espero que vocês também tenham gostado de a ler.
O capítulo bônus - possivelmente - vai explicar sobre como o Luke e a Annabeth se conheceram, o relacionamento deles e um pouco da história da Rachel e da Reyna.
Mas, por enquanto, é só isso.
Comentários são sempre apreciados!



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