Todas as Partes que Não Cabem a Mim escrita por Lyes


Capítulo 1
Capítulo Único - Lava Lamp


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo!!!!!!!!
O nome da música é Lava Lamp, do Cuco. Como fui trouxa não coloquei o nome da música e nem o link, socorro.
Recomendo que ouçam enquanto estão lendo. xD
https://www.youtube.com/watch?v=Qf7x5sMncaE
Bem... É a minha segunda one-shot. Uhuuul.
Estou postando como um "rito de passagem". É meu aniversário, então... É! Quero que seja uma fase boa, então achei que postar essa one logo no começo fosse me dar forças e um pouco de sorte.
Escrevi isso aqui num dia só, coisa que nunca faço, não normalmente. Quem sabe não é o anúncio de que finalmente vou tomar vergonha na cara e voltar a escrever regularmente, né? xD
Então, muito obrigada ♥
Espero que gostem. Nos vemos lá embaixo?



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You're a million miles away
The bridge between winter and summer
Seems like a bummer, but it's worth the wait
And I know you'll shine the way
With your lava lamp

Lava lamp...

 

Xx

 

Castiel enviou uma foto.

“Queria te ver, mas você está a um milhão de quilômetros daqui”.

Não, eu definitivamente não estava. Que escolha idiota para uma legenda, Castiel. Afinal, não é você que vive dizendo que não temos nada um com o outro?

Não éramos nada um para o outro. Ou talvez fôssemos, não sei. Talvez eu não quisesse realmente saber. Só ocorreu de estarmos fodidos o bastante para juntar nossas dores e virarmos, às vezes, uma coisa só.

Juntávamos incertezas, medos e restos vagos de sentimentos que o mundo um dia fragmentou. Precisávamos de companhia, um ombro amigo, uma distração, algo para afastar a dor do abandono. Para afastar a sensação totalmente insana de que não somos bem-vindos nesse mundo, de que tínhamos que apagar erros do passado sofrendo no presente, sem saber se algum alívio nos espera no futuro.

Um dia decidimos que o “foda-se” faria nosso caminho, sem ligar para o que os outros chamavam de destino. Lidar com karma é literalmente o inferno. Se deu certo, ainda não sabemos, já que as coisas iam ficando mais loucas a cada dia que passava.

“Não é um milhão, é mais ou menos dez vezes mais.”

Não era uma resposta sincera, já que eu sabia que não podia me afastar de verdade. Eu o sentia como chuva. Pingo por pingo, estalando e se liquefazendo em minha pele, sua presença encharcava meus sentidos e embaçava minha visão. Castiel estava em todo lugar. Era um romance puramente químico, se é que posso chamar essa porcaria tóxica de romance. Era só, no máximo, mais uma desculpa para que não ficássemos sozinhos. Por mais que Castiel viva dizendo que precisa de mim, ainda acho que ele só precisa de alguém. Qualquer alguém. Só por caráter de companhia. Afinal, ele adora dizer coisas desnecessárias.

“É, eu sei. Já que você fez o favor de me evitar a semana toda”.

Que dramático.

Tá, confesso, eu realmente o evitei a semana toda. Em minha defesa, estava extremamente confusa e não sabia mais o que fazer em relação a nossa “relação”. E adivinha se funcionou? A maldita semana durou o que pareceram ser anos, tudo doía, minha cabeça girava e a confusão estava infinitamente maior, minhas ideias estavam um breu total. Assim como a foto que Castiel me mandou, nesses dias sombrios eu só conseguia enxergar com clareza — como um ato de protesto do meu coração estúpido — fios rubros, seus traços angulosos e seus olhos, que ora geravam, ora absorviam toda a luz do ambiente.

“Eu sei que você vai iluminar o caminho. Com sua lâmpada de lava, no meio do seu quarto”.

Por que ele sempre adivinhava o que eu estava pensando? E responder meu pensamento com um trecho da minha música favorita? Pelos céus! Devo rir, chorar, chorar de rir ou rir pra não chorar? Maldito seja.

Lembro-me da primeira vez que ele cantou para mim. Estávamos enganchados em minha cama, num dia chuvoso e escuro, enquanto minha lâmpada de lava estava ligada.  Que caminho eu iria iluminar, céus? Eu não deveria ter mostrado aquela música a ele, mas não podia evitar de sorrir ao ver seu fascínio ao observar as fracas sombras roxas dançantes que a lâmpada espalhava por minhas paredes em dias nublados. É claro que ele fazia isso só pra me atingir, já que o infeliz conhece de cor todos os meus pontos fracos. Porque, infelizmente, eu cedi. Deixei-o entrar e tomar posse dos meus pensamentos, das minhas verdades e do meu íntimo mais profundo. Mas não de graça, já que eu também havia tomado um bom pedaço de seus dias, eu conhecia cada cantinho que ele tentava esconder, mesmo que não entendesse a maior parte das suas ações ou motivações. Esse garoto é fodidamente complexo, puta que pariu.

Deveria ser crime utilizar como arma a música favorita de alguém”.

Muita coisa que ele fazia comigo deveria ser crime. Deveria ser crime ter um sorriso tão bonito, ser naturalmente sexy e não precisar se esforçar para chamar atenção. Castiel poderia pegar prisão perpétua por ser infinitamente irresistível.

“Se é assim, deveria ser crime ignorar pessoas sem ter motivo”.

Touché.

Essa eu não pude responder, não sem parecer idiota, infantil ou acabar perdendo a razão. Maldito seja, mais uma vez.

“O que você está fazendo para estar acordada a essa hora?”.

02:37:45.

“Nada” menti.

Era óbvio que eu não estava fazendo nada. Eu não conseguiria, não hoje. Não depois dessa sexta-feira horrorosa em que eu poderia listar os desastres em ordem alfabética. É óbvio que todos sabem responder a charada sobre o que começa com A e torna um inferno o dia de qualquer alma que tenha a infelicidade de cruzar seu caminho. Dica: Tem grau de parentesco com nosso querido representante de turma.

Eram 02:39:03, enquanto eu vagava sem rumo pela cidade, com um casaco parcialmente socado por cima do pijama. Uma noite insone era tudo o que eu não precisava.Minha mente estava tão lotada de pensamentos que o sono acabou por ficar sem espaço para atuar. Então, aqui estou. Decidi às pressas e caminhei devagar, para chegar em absolutamente lugar nenhum.

Ok, lugar nenhum uma ova. Meus pés sabiam muito bem para onde estavam indo, eu só não tinha percebido ainda.

Sweet Amoris.

E eles só voltaram a me obedecer quando eu estava ali no pátio, encarando aquele banco. O banco onde nos conhecemos. Onde nos sentamos pra conversar. Onde nos beijamos pela primeira vez. Era o banco das muitas coisas. Era, também, a minha âncora para o mundo real. Sempre me sentava ali e ficava, ficava até perceber que estava pensando demais sobre alguma coisa, sem chegar a lugar algum.

E foi o que fiz. Pensei até sentir dor, pelo que pareceram horas. Vaguei por lembranças, boas e ruins. Percebi que perdi a conta de todas as vezes em que nos desentendemos, das vezes em que brigamos. Às vezes por relativamente nada, às vezes por absolutamente tudo. Lembrei de quase tudo o que ele me disse, retomei coisas que nunca iria esquecer, principalmente o que me fez perceber que sentia algo, mesmo que mínimo, por ele. Foi um dos dias mais esquisitos da minha vida, quando uma luz piscou em minha cabeça e… eu simplesmente soube. Sem sinos badalando, pétalas de rosa ou música romântica ao fundo

Estávamos sentados na escada, enquanto Castiel desfrutava de seu passatempo favorito: me irritar. A conversa foi tomando um rumo mais sério sem que percebêssemos. Pouco tempo depois já compartilhávamos sem problemas nossas histórias constrangedoras mais íntimas. Foi aí, no calor do momento, que ele me revelou a peça essencial para que eu o entendesse.

A verdade é que Castiel às vezes se sentia incompleto. Lhe faltavam peças, peças que perdera durante o caminho. Peças que perdera por pessoas, pedaços que nunca quis de volta, pedaços que não lhe cabiam mais. Assim, entendi a real importância daquele banco.  Quando Castiel estava se sentindo prestes a desaparecer, gravou seu nome ali, na terceira ripa do lado direito, de cima para baixo. Um pedaço permanente para se lembrar que ainda era de carne e osso. Para não se esquecer de que ainda não deveria desaparecer.

Mas… que pedaço cabia a mim? Será que ele sequer havia reservado um? Ou aquele, debaixo do banco, era o último? Afinal, eu realmente queria um pedaço dele?

Era isso que vinha me incomodando. O que eu realmente representava para ele? Era muito? Era pouco? Era, sequer, alguma coisa?

No fundo eu sabia que ele se importava, mas...

E se eu estivesse certa? E se eu estivesse errada? E se eu estivesse sendo as duas coisas, numa noite só? Talvez eu só estivesse pensando demais, não? Ou eu só estava sendo egoísta? Pelos céus, estava me sentindo tão perdida… ou, talvez… só não tivesse encontrado ainda. Mas encontrar o quê?

Ou talvez, só encontrar?

Mais uma vez, aquela luz, aquela pequena bênção, piscou em minha cabeça. É isso!

Encontrar.

Se existe vontade, sempre vai haver um jeito. Algo me dizia que esse era o caminho.

De cima para baixo, a terceira ripa do lado direito, perto da haste de metal. CASTIEL. Ali, registrado sobre a madeira raspada, estava um dos pedaços dele. Um santuário pessoal, que me provava que aquela história toda não era um sonho. Eu fazia sempre a mesma coisa: me abaixar, esticar o braço e sentir as letras com a ponta dos dedos, era quase como tocá-lo. Mas, dessa vez, algo estava diferente. Havia mais alguma coisa escrita ali. Um “L” desajeitado, o “O” perfeitamente redondo, aquele “R” estranho, quase triangular — sua marca registrada — e um “Y” que mais se parecia com um X.

Era um nome.

LORY

O meu nome.

Não o nome de qualquer outra garota. Não o nome de qualquer companhia.

Mallory.

Maldito seja, pela terceira vez.

Eis a minha resposta.

Eu precisava encontrar.

 

Xx

 

Pela segunda vez no dia, meus pés assumiram a dianteira. Fizeram o caminho contrário, depois seguiram pela esquerda. Dessa vez eu sabia muito bem para onde estava indo. Corria sem dúvidas, movida só pela adrenalina. Afinal, aquele poderia ser um novo começo, o fim das minhas dúvidas. Ou só o fim de tudo.

Às 02:45:49, eu estava ali, parada do lado de fora, esperando um lampejo de coragem.

“Da minha janela, eu pude ver. A luz azul brilhante brilhava profundamente“.

Enviei, mesmo que meus dedos tremessem a ponto de mal conseguir segurar o celular

“Como o mar na véspera de ano novo… desejando que você esteja ao meu lado” respondeu, imediatamente.

“Ontem, em L.A., estava ensolarado, mas choveu. No meu quarto, quando escrevi uma canção para…”

Eu não podia parar, não agora. Não quando estávamos chegando onde eu queria.

“Someone is out there, waiting for me. I have to find her, and tell her that I love her”.

Sorri. Sabia que Castiel não deixaria de lado sua parte favorita. Agora, só me restava dizer que realmente havia alguém esperando por ele aqui fora, ou tudo seria em vão. Coragem, Mallory.

“Você pode olhar pela sua janela?” enviei a mensagem, ainda tentando conter a tremedeira. Frio? Ansiedade? Adrenalina?

Amor.

Foi exatamente o que senti quando vi Castiel na janela, me olhando com sua típica careta de desaprovação. Em resposta, sorri e acenei, alargando ainda mais o sorriso quando o vi revirar os olhos e sumir, aparentemente iria descer para abrir a porta.

— O que diabos está fazendo aqui, Mallory? Você está de pijama e pantufas, faz ideia do quanto tá frio?

Joguei-me em seus braços. Que se dane o frio, que se dane o sermão, que se danem as aparências. Eu tinha a minha resposta.

— Eu vou encontrar — murmurei, sem a mínima vontade de me afastar dele, mesmo que só um centímetro.

— Você está delirando, garotinha? — Afagou meus cabelos, surpreso, encantado e preocupado.

— Eu vou juntar, tudinho. Pode ter certeza.

— Juntar o quê, Lory?

— Seus pedaços, idiota! Até que todos pertençam a mim, entendeu? Somente a mim!

Secando as lágrimas que eu não percebi que estavam caindo, Castiel me puxou para mais perto. Mais alguns milímetros e toda a distância entre nós evaporaria, mais alguns milímetros e seríamos um só, mais uma vez.

Não importa quantos dias cinzas tivemos. Agora a felicidade era brilhante, como um raio de sol visto por debaixo dos cílios, sem qualquer traço de amargura ou tristeza do passado.

Finalmente quebramos aquele ciclo vicioso. Os erros do passado deveriam ficar por lá, já que o futuro é incerto e no presente momento só uma coisa importa: Nós.

Nossas dores, nossas cores, nossos beijos. Só importa o que somos e nada mais.

Assim criamos nosso novo ciclo. Olhar, sorrir, beijar, sentir. Amar. Porque o resto… era só o resto, perto de uma coisa tão grande quanto nossos sentimentos.

 

Xx

 

04:22:37

— Mallory…

— Hm? — respondi, mesmo que estivesse prestes a ceder ao sono.

— Sempre pertenceu a você.

— O quê?

Em resposta, Castiel levou minha mão até seu peito, para me fazer sentir as batidas firmes e ritmadas de seu coração. Logo percebi a verdade, aquela que estava óbvia desde o começo e invalidava todas as minhas preocupações:

— Tudo.

Nossos corações estavam conectados, mesmo que de um jeito meio inesperado. Nossas batidas se intercalavam para que nunca, em hipótese alguma, houvesse silêncio entre nós dois.

 

Xx

 

If only
You'd hold me
And I wasn't
One billion miles away

 

Fim


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Isso é tudo, pessoal!!! Até a próxima?
Espero que tenha uma próxima!