Al Limite Del Proibito escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Lembrando que Nico e Thalia tentaram se matar no último capítulo.
Esse continua a narração em uma espécie de flash back, antes deles se apaixonarem e viverem a cena do primeiro capítulo.
Espero que gostem!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745251/chapter/3

As Parcas de fato de pregaram uma peça.

Em outubro do ano seguinte, Lady Ártemis foi com o irmão gêmeo em busca da mãe, Leto, que havia fugido do Tártaro pouco antes das Portas da Morte serem fechadas. Como uma ironia sem limite, nós caçadoras fomos enviadas ao Acampamento Meio-Sangue para nossa proteção: tínhamos muitos inimigos e estávamos vulneráveis, o ataque de Órion em Porto Rico havia levado metade das minhas caçadoras, as melhores e mais antigas guerreiras.

Não achem que agi como Zoe Nightshade: não me incomodava a presença de homens. Contudo, tampouco me cativava. Eu seguia o protocolo da caçada: tinha duas fiéis aliadas sempre ao meu lado, permancíamos boa parte do tempo no chalé oito e ganhávamos os caça à bandeiras, como nossa maior tradição.

Annabeth, Percy, Jason e qualquer outro que eu pudesse chamar de amigo estava ausente, afinal, era meio ano letivo, incluindo Nova Roma, e nossa estadia era curta. Logo, não vi nenhum deles.

Quando novembro chegou e com ele o dia de todos os santos, havia uma celebração especial no Acampamento Meio-Sangue: em memória de tantos que haviam morrido nas duas grandes guerras contra Cronos e Gaia, celebrações eram presididas pelos filhos do Submundo, incluindo o mau humorado filho de Hades, honrando aqueles que deram sua vida pelo Olimpo.

Eu não o havia visto até então, logo, ainda não havíamos tentado nos matar.

De qualquer forma, nós, caçadoras, assistimos à cerimônia em silêncio, observando as homenagens que cada chalé fazia aos seus irmãos, com cantos, poemas e discursos bonitos. Homenagens à semideuses gregos e romanos. Contudo, não havia menção à nenhuma caçadora, afinal, nós não pertencíamos ao Acampamento Meio-Sangue. Nem mesmo menção à Bianca di Angelo.

Após a cerimônia, em uma parte da floresta, plantaram uma flor para cada herói morto. Neste ponto, eu e as demais caçadoras voltamos ao nosso chalé, deixando que os campistas honrassem os seus.

Gostaria de dizer que eu dormi profundamente naquela noite, mas não seria verdade. Eu estava inquieta, as memórias dos últimos anos, de tantas guerras, me atormentavam, bem como a sensação de que uma nova guerra estava por vir. Se fossemos atacados novamente, quantas mortes teríamos? Quantas flores seriam plantadas novamente? Alguma delas teria uma fita azul trazendo o nome de Jason Grace? Restaria alguma caçadora de Ártemis no final?

A angústia me fez levantar da cama, certificando-me de que todas as caçadoras dormiam. De pijamas, um casaco pesado e armas em punho, deixei-me andar à esmo no Acampamento Meio-Sangue, o frio da noite levando meus medos embora. Não importava qual seria meu próximo inimigo e nem quanto tempo demoraria a chegar: eu o enfrentaria de queixo erguido e lança na mão.

Talvez tenha sido esse pensamento que me levou até a floresta, onde plantaram as flores mais cedo. Ou talvez só tenha sido as luzes. Não havia mais ninguém, minha única companhia eram as flores e as velas que as cercavam.

Era um belo arco-íris formado por rosas, orquídeas, margaridas e jacintos, cada flor, única em sua cor. Algumas continham uma fitinha com o nome da pessoa honrada, outras eram solitárias, sem identificação, mas cada uma era para alguém especial.

As flores eram os túmulos vivos, o que restava depois de tantas mortalhas queimadas em meio à guerra, as lápides que permaneceriam depois de tanto sangue dos deuses derramado. Nossas lembranças, agradecimentos e inspirações para as guerras futuras. E era triste ter tantas ali.

Caminhei por entre as plantas, tentando reconhecer os nomes escritos nas fitas, inebriada pelo cheiro doce e pela melancolia de um cemitério simbólico e bonito. Em certo ponto, encontrei um narciso cuja a fita amarrada era prateada. Numa caligrafia dourada, trazia um nome: Luke Castellan.

Mesmo um traidor havia recebido sua homenagem.

Segui a diante, questionando-me se a escolha da flor teria algo haver com a história de Narciso _ ambos eram encantadores, orgulhoso e haviam tido seu final trágico _ e se ela teria sido plantada por alguém que um dia amara Luke, por alguém que o pranteara naquela noite.

Ao mesmo tempo, perguntei-me o que ele diria sobre aquilo: talvez dissesse que era um gesto bonito, ou talvez dissesse que era em vão, ou mesmo algo hipócrita. Naquela época, a noção de que eu não conheci, de verdade, Luke Castellan, já começava a se formular na minha mente.  

Um pouco mais adiante, infiltrando-se entre as árvores, uma outra flor me chamou atenção: uma rosa de um vermelho tão escuro que tornava-se negra. A fita amarrada ao caule era igualmente escura, o nome quase incompreensível em tinta negra e caligrafia fina e rebuscada. Entretanto, o reconheci assim mesmo: Bianca di Angelo. Uma flor para uma caçadora.

Ajoelhei-me entre as raízes da árvore que a cercava e toquei suas pétalas. Eram suaves, mas também gélidas, e era assim que eu me lembrava da filha de Hades: uma beleza e fala doce, mas com uma aura fria e olhos negros que prometiam força e determinação, como os espinhos que cercavam o caule da rosa.

— Meus amigos disseram que eu devia escolher uma flor mais bela. _ Uma voz rouca e sombria soou na escuridão da floresta e não precisei me virar para reconhecer o poder que emanava de Nico di Angelo.

Ele se ajoelhou ao meu lado e ficou calado por um longo tempo. Seus dedos passaram pela terra ao redor da flor, deixando-a fofa, um gesto simples que parecia cheio de significados para ele.

— Acho que essa combina mais com ela. _ Nico murmurou, talvez falando com ele mesmo. _ Uma flor triste, para uma memória triste.

— Ela foi uma heroína. _ sussurrei, sem olhá-lo nos olhos, pensando no dia em que Bianca havia morrido na minha frente. _ Mas você já sabe disso.

— Ela sempre foi.

Foi a resposta de Nico e, talvez, ele nunca tenha dito algo tão verdadeiro.

Eu não sabia muito sobre a história dos irmãos Di Angelo, mas havia testemunhado como a menina havia se doado ao irmão _ um amor que até havia lhe provocado a morte ao roubar um simples brinquedo em busca do perdão dele _ e, depois, à caçada. Em uma missão em que todos eram mais experientes e mais velhos, em que deveríamos cuidar dela, Bianca havia se sacrificado para salvar nossas vidas. E, talvez, isso tenha tido um impacto maior do que podíamos imaginar na época.

— Achei que as flores eram só para campistas. _ comentei, ainda ajoelhada ao lado de Nico.

Ele suspirou pesadamente, negando.

— É para todos que fazem falta. Talvez não tenha o nome de todos que se sacrificaram, mas são apenas aqueles que foram importantes para alguém, aqueles que fizeram a diferença, ainda que para apenas uma pessoa.

Enfim olhei nos olhos de Nico di Angelo. Havia uma melancolia em meio ao negro de suas íris, como se sua mente estivesse estilhaçada em dor. Entretanto, havia também uma certa calma, como se ele estivesse começando a se recuperar dos cortes da vida, começando a recuperar as forças depois de uma longa jornada. Ele estava diferente, notei, não só em corpo, mas também em alma. Me ocorreu que ele devia estar com seus quinze anos, a mesma idade que eu tinha ao me tornar caçadora. Dentre em breve, ele se tornaria mais velho.

— Por isso você plantou uma para Bianca? _ perguntei, e o rapaz assentiu. Isso me fez notar a sombra de uma barba rala surgindo, além de inúmeros cortes que cobriam sua bochecha, provavelmente resquícios de uma tentativa de se barbear.

— E para Dédalo. _ Nico comentou. Tentei lembrar de onde conhecia o nome, mas tudo o que resgatei foi ele ter sido uma espécie de inventor do labirinto que nos causou problemas. _ E Bob. Percy me pediu para plantar uma para Damásen, ele e Bob se sacrificaram para Percy e Annabeth fugirem do Tártaro.

Assenti, me lembrando das histórias que haviam me contado e de Bob, o titã em que havíamos dado um banho no rio Estige e não fazíamos ideia de que se tornaria um herói para nós. As últimas guerras trouxeram aliados inimagináveis.

— Por favor, não diga que plantaram uma para Órion ou terei que matar alguém aqui. _ Brinquei, pensando em quantas caçadoras aquele gigante havia matado só no último século.

— Ah, eu mesmo mataria! _ Nico retrucou e ouvi algo que poderia ter sido seu riso: um grunhido baixo, rouco e inteligível.

Novamente o silêncio se fez presente durante a madrugada, algo melancólico, mas leve e apropriado. O silêncio que diz tudo o que as palavras tentam dizer. Já estava pensando se deveria voltar ou não para o chalé de Ártemis quando Nico estendeu a mão na minha direção.

Franzi a testa, observando algumas sementes prateadas brilharem contra a luva de couro preta. Ergui os olhos até os de Nico, que me fitava com um leve repuxar de lábios para o canto esquerdo. Na época, eu não sabia que aquele era seu sorriso.

— Na verdade, Percy pediu que eu plantasse para mais alguns amigos. _ Nico disse. _ Incluindo Zoe Nightshade. O que acha de honrar suas amigas?

Havia mais do que o convite de enterrar sementes mágicas em meio à floresta. Era, de certa forma, um tratado de paz. Uma forma de esquecer que nossos pais se odiavam, que havíamos tentado nos matar há pouco tempo, que nós dois éramos inimigos. Cronos e Gaia já haviam provocado a morte de semideuses demais. Não fazia sentido guerrear entre nós.

Por mais que nosso cemitério de flores fosse bonito, eu gostaria de vê-lo vazio.

Assenti, aceitando a oferta de paz e as sementes de Nico di Angelo.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tem muita referência a detalhes dos livros, se ficarem confusos, posso fazer uma lista de cada referência. O que acham?
Gostaram da ideia de flores para lembrar dos mortos? Fico meio triste quando lembro que eles são queimados e não se tem exatamente um cemitério. Sem falar naqueles que morrem e não conseguem recuperar o corpo, no caso da Bianca. Nem um túmulo eles tem.
Adoraria saber a opinião de vocês!
Obrigada por lerem!