Hoje ela era uma água-viva.

Tinha acordado em uma crise de “não me toques”. Ela acreditava que o pior podia acontecer caso algo ou alguém fizesse contato com ela... Naquele dia ela via tudo e todos como frágeis bonecas de porcelana, copos de vidro ou vasos de alabastro sob seu toque.

Levantou da cama com medo de rasgar as cobertas, escovou os dentes com medo de quebrar a escova e se despediu de sua mãe com medo de lhe ferir de alguma forma... Aquele seria um longo dia e ela passaria ele inteiro com medo de si mesma e do que poderia fazer.

Sentia-se, de alguma forma, como uma bomba relógio. Em qualquer instante poderia explodir e estava pronta para ferir, machucar e quebrar tudo o que estivesse em seu caminho, o que encostasse nela.

Eles lhe evitaram bastante hoje. Mas estar longe dela não os impediu de nada, se bobear, só piorou a zombaria costumeira... No fundo, ela sabia que eles perceberam que os tentáculos compridos que lhe envolviam podiam por eles para dormir para sempre, mas preferia acreditar que era apenas seu dia de sorte.

Distantes eles continuavam a rir e ela tentava se controlar para não explodir.