Hoje ela era um abutre.

Não estava a fim de brigar ou discutir, na verdade, não estava a fim de se importar. Hoje ela se contentaria com rebotalhos, responderia com meias-palavras e, talvez, um quarto de palavras se precisasse. Não caçaria problemas, apenas caçaria carcaças.

Todos aqueles que se achavam os maiores predadores lhe dariam as costas alguma hora e, nesse momento, ela se aproveitaria de toda e qualquer oportunidade que aparecesse em sua frente. Se precisasse, esperaria o dia inteiro por essa brecha, hoje ela teria paciência.

Seus planos estavam indo perfeitamente bem até eles lhe perceberem e, como de costume, eles não deixaram barato.

Era óbvio que esse bando de homens e mulheres que se achavam leões, tigres ou leopardos ridicularizaram ela por ser uma abutre. Ela que já havia sido tantos outros predadores e carnívoros não via problema algum em sua situação atual. Ela realmente não conseguia os entender, na verdade, ela já desistiu disso há muito tempo...

Lá estava ela, esperando sua carcaça e lá estavam eles rindo dela como sempre. Zombavam dela por se contentar com restos, zombavam dela por ser ela.

Riram seus risos desonestos e ela os ignorou completamente enquanto esperava seus restos.