Alguns dias se passaram. 

Arie não se importou com o castigo que recebera dos professores. Chutaria qualquer um novamente, se ousassem arrumar encrenca com o Mika. Agora, tinha certeza disso. 

Mika.

Talvez fosse impressão sua, mas ele parecia estar faltando com mais frequência. Havia a possibilidade de que ao invés disso, ela que estivesse menos acostumada à ausência dele.

Na semana seguinte, ele estava de volta e ambos resolveram passar o recreio juntos. Num momento, conversaram. Em outro, mantiveram o silêncio. Sentados no pátio, encaravam o céu fúnebre e cinza. Como uma mortalha, nuvens espessas e escuras cobriam aquele céu sem vida. Logo iria chover.

— As vezes, eu queria poder ser uma nuvem. Gosto do céu.

Arie encarou o menino, curiosa.

— Uma carregada de chuva?

Mika balançou a cabeça, olhando Arie. Abriu um sorriso empolgado.

— Uma que flutua num céu tão azul quanto seus olhos. Quieta e devagar, observando todos de cima sem incomodar ninguém. Seria bom. 

A menina franziu o cenho, não convencida.

— Não seria. Nuvens ficam muito distantes. 

— Acho que eu seria melhor como uma nuvem, do que como Mika.

Arie o fitou.

O sorriso dele havia se desmanchado.

Pela primeira vez, dando lugar a lágrimas.