O clima ficou plúmbeo. Podia sentir o peso das palavras de Lily recaindo em seus ombros curvados, cansados de lutar.

Mas se ela estava, aparentemente, cansada de lutar, há quanto tempo estava lutando? Não me parecia ser algo recente.

“Você não descobriu isso agora, não é?”

Ela me olhou surpresa. “Não. Faz dois anos.” Olhou para o chão, pensando longe.

 “Durante dois anos, fiz quimioterapia. Começou com células pequenas, a esperança era grande. Eu e a minha família víamos um futuro feliz” lágrimas começaram a escorrer enquanto ela falava, mas, corajosa, continuou. “Aí tudo se espalhou de repente, a quimioterapia não fazia mais efeito, eu raspei meu cabelo pra nada.” Ela parou um instante, concentrada nos próprios pés. “Sabe por que tenho aquele atestado pra faltar educação física? Não é por causa dum problema no osso. É por causa da peruca. Pra não cair.”

Então riu. “Por que tô te contando isso?”

“Talvez porque eu já tenha passado por situações difíceis como as suas. Talvez porque eu esteja passando por uma situação assim agora.” Lily me olhava, buscando verdade nas minhas palavras. Era provável que estivesse cansada de mentiras, de falsas esperanças, de ilusões. Assim como eu.