Batman contra a Águia Vermelha escrita por Junko


Capítulo 2
Ameaça em Vermelho


Notas iniciais do capítulo

Ao leitor, minhas mais sinceras desculpas.

Por muito tempo, me questionei se valeria a pena ou não continuar com essa história, tendo em vista que eu havia escrito um pouco mais de 49 páginas, e perdi tudo por causa de um problema no meu HD.
Entretanto, consegui recuperar ao menos metade do roteiro original. Assim que possível, tentarei postar novos capítulos. É um pouco difícil escrever por causa da faculdade, mas tudo ficará bem.



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Saída de Gotham

Mais tarde naquela noite | 04:40

Se enfiou no carro com dificuldade, pois ainda estava com sono. Afundou no banco, e então dos bancos da frente vieram as risadas de Gordon e do outro policial, que, pela voz, julgava ser o Jones. Grandioso Jones, como o chamavam na delegacia. O apelido se devia ao fato de ele ser muito alto, mas aparentemente não ser um dos mais brilhantes. Demorou a processar o porquê de eles estarem rindo, até que notou que riam da sonolência da menina.

— Ficou jogando até tarde, Clara? — perguntou Jones, do banco do carona. Sua voz animada era completamente desarmoniosa com aquela hora da manhã. A garota esfregou os olhos e bocejou, movendo-se para o meio do banco, querendo espiar os dois.

— Que nada. Fui dormir cedo, mas tive um pesadelo — inclinou-se para frente, se segurando na grade que separava os bancos da frente e os de trás. — Para aonde estamos indo? — perguntou, vendo que rumavam para uma ala desconhecida da cidade. Começavam a entrar nas áreas com baixa densidade demográfica de Gotham onde os prédios foram abandonados ou tomados por pichações, lixo e plantas diversas. Um atalho, diria Jones. Não haviam muitas pessoas na rua, e as que por ali estavam, se enfiavam nas sombras ao ver a viatura.

— Estamos apenas nos posicionando melhor. — esclareceu Gordon, dando a seta e pegando um túnel que levava a uma avenida larga e deserta próxima à saída da cidade. Não saíram do túnel, no entanto. Podiam ver a estrada à frente, que continuava à direita, mas ainda permaneceram escondidos ali.

A noite dava seus suspiros finais, mas seguia densa e escura. A iluminação da estrada não era o suficiente para eliminar o ambiente soturno e pesado do ar. “É Gotham”, Clara pensou, enquanto observava Jones abrir a janela e sacar um cigarro. Acendeu, tragou, e baforou para fora. “Essa cidade maldita que possui esse ar esquisito”, pensou, enquanto observava a fumaça ser desfeita por uma lufada de vento. Buscou abrigo em seu casaco, o apertando contra o peito, e virou o rosto para Gordon, que parecia impaciente.

— Será que tem como apagar essa mer…. — começou a falar, zangado. Então olhou para trás, notando que a menina o observava, e então balançou a cabeça — Pode apagar isso, por favor?

— Já que pede com tanta educação… — Jones falou, enquanto acatava ao pedido e jogava o cigarro para fora da janela, na estrada, e voltou a fechar a janela. Jim resmungou algo, que Clara não pode ouvir.

Começou a se sentir desconfortável. O silêncio que começava a pairar sobre a cabeça de todos era diferente daquele agradável entre Gordon e ela, coisa desenvolvida nos últimos meses, onde eles simplesmente aquiesciam para a presença um do outro e nenhum suspiro a mais era necessário. O silêncio de agora era aquele que faz com que você se sinta nervoso, impaciente, e com vontade de falar coisas estúpidas.

— Quantos homens vão nos acompanhar, Gordon? — a mais nova perguntou, quebrando o desconforto antes que ele se estabelecesse por completo e mostrasse resultados.

— Hm? — o homem desviou o olhar da janela, e a encarou. — Doze. Se contar você, treze. Seis carros para cercar o caminhão.

Ela pareceu pensar por uns instantes, e então se remexeu no banco. Parecia que algo estava incomodando a garota. E realmente estava – nervosismo era o responsável.

— Não é contar demais com a boa vontade dos criminosos para que eles parem antes de atingirem nossos carros? — ela tornou a perguntar.

— De certa forma, sim. Mas temos armas. Podemos furar os pneus deles — Jones respondeu desta vez, fazendo uma arma com os dedos e mirando no horizonte. Parecia fazer sons de tiros com a boca. Gordon logo colocou a mão sobre a dele, a abaixando. Parecia irritado.

— E se eles também tiverem armas? — ela perguntou, após mais uma pausa.

— Então você se abaixa e fica no carro até eu vir te buscar. — Gordon falou dessa vez. — Você está falante hoje, Clara. Não precisa ficar ansiosa.

Ser lida daquela forma a incomodava. Fez um beicinho e aquietou-se. Não gostava de falar demais. Sentia-se insegura com o mundo externo, portanto, não queria ser lida daquela forma. A transparência é vulnerável, e ser vulnerável em sua situação lhe expunha a coisas que ela não queria viver. Intimidade. O silêncio é mais confortável. Deixando o pensamento de lado, ajoelhou-se no banco do carro, pois queria observar o momento em que as outras viaturas se aproximassem. Apenas dois chegaram. Talvez fosse porque os outros três viriam de outro canto. Ou então, no ponto de vista de outra pessoa, Gordon e os outros policiais chegariam como “o outro carro, vindo de outro canto”. Decidiu que estava ficando nervosa demais, e então se abaixou no banco e ficou quietinha.

Não passou tanto tempo, e logo os carros moveram-se lentamente para o meio da avenida, ficando de modo a bloquear a passagem. As luzes estavam ligadas no momento, e Gordon se comunicava com os outros carros pelo rádio. Passou então a observar Gordon através da grade. A meia-luz dos postes e do painel pouco iluminava o rosto do homem. Para lê-lo, no entanto, não era necessário ver suas feições. Conseguia ver, pelos movimentos do outro, que ele estava tranquilo. O nervosismo em seu peito aquietou-se. Talvez era isso que o fazia se destacar dentre os policiais: ele sempre estava calmo. Um olhar rápido para Jones, e era possível dizer que ele estava nervoso. Ele abria e fechava a tampa de seu zippo, e o som produzido por aquilo começou a incomodar a Snicket.

A menina tornou a se afundar no banco e esperou.

Esperou, até que viu os faróis do caminhão refletindo nas paredes do túnel. Ouviu a porta do carro ser aberta, e viu que Jones descia do carro com o rádio em mãos. Após o pequeno sinal de interferência, ouviu sua voz estridente anunciar algo como “Pare o caminhão e renda-se”. A garota observou novamente. Conseguiu ouvir sirenes, e notou que o caminhão estava sendo perseguido. Pela velocidade em que ele estava, ela notou que ele não pararia. Mais velho, mais experiente, e mais sabido, Gordon percebera aquilo também.

— Ele não vai parar — disse Gordon, em voz alta, e, apesar de suas tentativas anteriores de não xingar na frente da menor, praguejou. — Entra na porra do carro, Jones! — Logo após dizer aquilo, apanhou o rádio e ordenou que os policiais atirassem nos pneus.

A porta foi batida com força, e Jim acelerou de uma vez, tirando o carro da reta de onde o caminhão passaria. Os outros fizeram o mesmo. Logo se colocaram em posição, e os policiais mais velhos saíram dos carros e começaram a atirar nos pneus. O caminhão passou pelos policiais, com os carros da perseguição anterior na cola. Dois pneus foram atingidos. Então algo aconteceu – o caminhão perdeu o controle, rodou na pista, tombou, girou, girou e então parou. Os policiais aproximaram os carros do caminhão tombado.

— Fica no carro, entendeu? — Gordon disse, de uma forma ríspida. Como de praxe, a ordem foi ignorada, e a menina, tão invisível quanto a noite, se esgueirou para fora.

Todos os outros policiais desceram do carro. Se aproveitando da confusão, Clara se aproximou do lado do motorista. Estava vazio. Na verdade, segundo um dos policiais que o viu de frente, sempre esteve vazio, não tinha nenhum motorista desde o início. Como estava sendo guiado? Era um mistério. Alguém sugeriu drones. Mas isso não é muito caro pra um contrabandista qualquer? Havia sido a sugestão de alguém.

— Estamos lidando com peixe grande. — Clara ouviu, atenta, aos cochichos de alguns outros policiais.

A noite esfriou ainda mais. Finalmente haviam notado que Clara havia descido do carro. E, um cascudo de Jones depois, estava sob tutela do homem, que a segurava pelos ombros. “É perigoso, menina!”. Os policiais conseguiram acessar o baú do caminhão. Dentro dele não tinha nada, além de um pequeno bilhete. Os policiais o pegaram utilizando luvas, e então analisaram o conteúdo. Todos os olhares voltaram para Gordon e sua acompanhante. Franzindo o cenho, Jim pegou o bilhete e leu. Seus olhos se arregalaram. Parecia lívido. Ansioso. Retirou os óculos, massageou o canto das pálpebras, e, enfiando o bilhete no bolso, virou-se de costas para a menina e se aproximou de seus subordinados.

— Levem-na imediatamente de volta para casa. A minha casa. Quero pelo menos dois de vocês fazendo ronda no meu bairro até o fim da noite. — ele disse baixinho, para que ela não ouvisse. — Façam uma perícia do local, estou indo pra casa. E nenhuma palavra sobre isso pode vazar, vocês estão me entendendo?

Ao virar-se, apontou para Jones e, com o polegar, indicou que colocasse a menina no carro. Após um cigarro, Gordon entrou na viatura também. Respirou fundo. 

— Lembra do convite que eu te fiz mais cedo? — questionou.

Casa de Gordon

Ainda naquela mesma noite | 06:30

Por ser tarde, estar cansada, e, pela reação incomum de Gordon, se deixou levar. Sem nem mesmo poder ir para casa buscar uma muda de roupas, foi entregue diretamente à residência Gordon. Bárbara, que fora tornada ciente do assunto pelo telefone, já havia até mesmo separado um de seus pijamas para emprestar à Snicket. Ao receber a roupa em mãos, torceu para que aquilo fosse temporário. Mudanças eram desconfortáveis.

Sentia-se instável e insegura. Se pudesse, fecharia os olhos e dormiria para sempre. Entretanto, quando finalmente sentiu o colchão macio em suas costas, não conseguiu fazê-lo. O incômodo lhe consumia por dentro. Uma das peças do quebra-cabeça não lhe era acessível, então não conseguia estabelecer nem mesmo hipóteses que pudessem esclarecer a situação e lhe acalmar os ânimos.

Inquieta, decidiu ir ao banheiro. Em um pulo, saiu da cama. O corredor estava escuro, e ali tinham cinco portas. Quando mais cedo, todas estavam no mínimo semiabertas, então Clara pôde estabelecer anteriormente o que era cada porta. Por último, havia o quarto de hóspedes, então o banheiro, o quarto de Bárbara, o de Gordon e... o escritório dele. Mais cedo, havia percebido que o homem entrara no escritório com o seu casaco habitual, e saíra sem ele. Se não estivesse enganada, era no bolso desse casaco que havia guardado o bilhete.

Mordeu o lábio inferior.  

Estava com a mão sobre a maçaneta da porta do banheiro. Poderia simplesmente lavar o rosto e retornar à cama, e talvez aquilo a aquietasse ao menos pela noite. Entretanto, para ter paz de espírito, precisava saber o que estava naquele maldito bilhete. O que seria suficiente para assustar o homem daquela forma?

Esgueirou-se pelo corredor como um gato. Ao alcançar a porta, a abriu com cuidado. Notou que o casaco estava logo em um cabideiro, bem próximo à sua localização. Ao alcance das suas mãos! Tentou sorrir, como se tivesse ganhado alguma espécie de jogo, mas não conseguiu. Tateou pelo interior dos bolsos, tentando achar o papel. Não o encontrou. Não, seria fácil demais. Frustrada, pensou em voltar para a cama e ir dormir.

Adentrou o cômodo com cuidado.

Não foi difícil encontrar o bilhete. Estava enfiado em uma das gavetas, debaixo de alguns papéis. Tomando cuidado para que tudo permanecesse da forma em que estava originalmente, apanhou o papel. Aproximou-se da janela, usando da luz natural do dia que começava a raiar para ler o que estava escrito. O design da parte exterior era simples, mas interessante. O papel era todo branco, com exceção do centro: havia apenas uma águia vetorizada vermelha dentro de um círculo igualmente vermelho. E então virou o papel, e notou que havia algo ali.

“Olá, pequena Clara. Você sabe quem eu sou. Eu tenho te vigiado todos os dias. Está gostando de brincar de policial?”

Delegacia de Gotham

Dois meses depois | 19:45

Os golpes rápidos cortavam o ar e os socos produziam sons abafados contra o saco de pancadas. Um atrás do outro, sem parar. Quando cansou, distribuiu chutes. Conseguia erguer o pé até a altura da cabeça. Estava progredindo bastante. Os longos cabelos negros, presos em um rabo de cavalo, grudavam na pele da garota por causa do suor. Seu abdômen doía, sem falar dos nós das mãos, que estavam completamente vermelhos e inchados. No entanto, tinha que canalizar a sua raiva de alguma forma.

Dois meses haviam se passado, e ela não conseguiu tirar os eventos daquele dia da cabeça. A imagem da águia vermelha não saía de sua mente – e apenas lhe enchia de fúria, tornando seus socos mais pesados. Todos os dias, sonhava com ela. E em seus sonhos, aquela ave maldita carregava o corpo morto de seu irmão, e ela tentava alcançar o homem, mas sempre falhava. Desferiu socos seguidos no saco de pancadas, deixando um urro de frustração escapar de seus lábios.

Primeiro havia desconfiado das pessoas da delegacia. No entanto, pela crise em que passavam, não gastariam dinheiro nas forças policiais para fazer algo tão trivial. Era alguém de fora, que sabia que a menina estava na polícia. Então, no dia seguinte à operação, dois meses atrás, lhe veio a notícia. Estava retirando suas roupas do armário do vestiário, quando ouviu a conversa alheia:

— Ficaram sabendo? O cientista Antoine H. Snicket fugiu da prisão ontem à noite. — alguém anunciou, segurando o jornal diário.

— Snicket? Não é esse o nome daquela menina daqui…? — uma menina loira se aproximou.

Todos então passaram a olhar para Clara, que fingiu não ouvia nada. Continuou a mexer em suas coisas no armário.

— Ela mesma. Fiquei sabendo que o pai dela matou a mãe a sangue frio. Dizem que ele trabalhava para o Pinguim. Coisa de contrabando de tecnologia militar. — retrucou outra menina. A Snicket não aguentou ouvir aquilo. Fechou a porta do armário, pegou suas coisas e marchou para fora do local, passando entre as meninas que fofocavam.

“Papai”, pensou, cheia de rancor, enquanto distribuía socos no saco de pancadas. “Ele fugiu da prisão e está brincando comigo”. Para todos os outros, a águia vermelha poderia ter um significado qualquer. Para ela, era o bilhete de entrada para uma viagem em suas memórias, que a transportava diretamente àquele fatídico dia. Retornava de um dia escolar qualquer sob uma chuva torrencial. Ao chegar em sua residência, a porta estava escancarada. Mergulhou na escuridão. Raios esporádicos eram a única fonte de luz. Infelizmente, isso não a impediu de ver... o corpo de sua mãe, sem vida e distorcido no meio da sala, com uma face de eterno terror; seu pai, com as mãos sujas de sangue e gritando feito um louco sobre o corpo dela... e na parede, uma águia vermelha desenhada em sangue. Naquele mesmo dia, Ethan desapareceu.

Apenas notou que chorava quando sentiu o gosto salgado de lágrimas em seus lábios. Parou o que fazia, e esfregou o rosto com força com as costas do braço. Ele é quem devia ter mandado aquele bilhete para ela, para mexer com seus sentimentos; porque ele é um louco sádico que não consegue lidar com as emoções, nem ter uma família saudável. Nessa linha de pensamento, algo lhe ocorreu: Antoine podia ser o responsável pelo desaparecimento de Ethan. Ou talvez, ele tivesse... E se realmente...

O que faria? Para falar a verdade, não sabia. No entanto, precisava descobrir se realmente tinha sido ele. Sua mente começou a arquitetar maneiras de encontrar aonde ele estava. Tudo que precisava era falar com a pessoa certa, no momento certo, e logo estaria lá. Sua mente, que queimava com o ódio, não conseguia pensar em nada além de “Você tem que descobrir a verdade”. Então a porta de saída do ginásio foi aberta de supetão e Jones, Brown, e Gordon entraram. Todos pareciam sorrir muito. Atrás deles, vinha Anna com um bolo.

Parabéns para você! Nesta data querida… — cantavam, em uníssono e batendo palmas. Prendeu a respiração por uns instantes, e então aproximou-se deles, tentando sorrir. Havia até mesmo esquecido de seu próprio aniversário. Nos últimos dois meses trancou-se no ginásio para treinar e na biblioteca para estudar, pois foi o único meio que encontrou para escapar das coisas que estavam lhe atormentando. O sorriso daqueles seus únicos amigos (sim, considerava o Sr. Brown como um amigo, de certa forma) fez com que por uns momentos ela se esquecesse de todo o seu sofrimento e focasse naquela felicidade momentânea que era sentir-se como uma adolescente normal, que se dobra para soprar as velinhas de seu bolo de 15 anos. Os abraços calorosos e as felicitações a fizeram até mesmo esquecer da ameaça que pairava sobre sua cabeça, a águia vermelha.


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Notas finais do capítulo

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