Ciúmes escrita por Yokichan


Capítulo 3
Capítulo 3




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Quando Suigetsu acordou, o dia já amanhecia. A primeira claridade do sol penetrava na sala, entrando pela janela que ninguém havia se lembrado de fechar. O apartamento estava silencioso, embora dentro da cabeça de Suigetsu um carrilhão de sinos fizesse um barulho estrondoso. Ao sentar-se no sofá, sentindo as costas duras e a boca seca, segurou a cabeça com as duas mãos e emitiu um grunhido de dor. Então começou a lembrar-se do dia anterior, da briga com Karin e da garrafa de saquê que havia bebido com Shikamaru, e soube que tudo tinha ido muito mal.

Karin.

Arrastando-se até a porta do quarto, ele viu que ela ainda dormia. Deitada de costas para ele, os cabelos daquela cor muito viva esparramados sobre um travesseiro e um ombro despontando sob o lençol, sua mulher estava ali. Ela não o havia abandonado. Suigetsu teve vontade de ir até ela, de acordá-la com um beijo e de suplicar para que ela o perdoasse, de fazer amor com ela, mas então percebeu que se encontrava em péssimo estado e decidiu que seria uma afronta para ela ser acordada por um cara todo amassado e que rescendia a álcool.

Decepcionado consigo mesmo, ele atravessou o corredor até o banheiro e ligou o chuveiro. O contato da água fria sobre o corpo despertou-o por completo. Agora, colocando os pensamentos no lugar, ele se dava conta de como tinha sido idiota, comportando-se como um maldito paranoico. Sasuke não era o único Uchiha de Konoha – havia Sakura e havia a filha deles. E se a carta tivesse sido escrita por uma delas? E mesmo se tivesse partido de Sasuke, nada indicava que o assunto se tratasse de algo indecente. Ele lembrou-se da expressão de mágoa de Karin sob uma máscara de raiva no momento em que a deixou no laboratório e xingou-se baixinho.

“Imbecil. Imbecil. Mil vezes imbecil.”

Ao sair do banho, enrolou uma toalha na cintura e fez a barba diante do espelho fixado sobre a pia. Depois, escovou os dentes duas ou três vezes até sentir que o hálito de saquê o havia deixado por completo. Não queria aparecer diante da mulher como um fracassado, mas como o homem para o qual ela havia dito “sim”. Por fim, vestiu a calça de moletom que costumava usar para dormir e que se encontrava pendurada atrás da porta do banheiro e foi em silêncio até a cozinha. Precisava de alguns goles de café antes de enfrentar Karin.

Só então, ao passar pela sala, encontrou um pacote de papel sobre a mesa. Abrindo-o, viu que eram donuts, os seus preferidos, e pensou que Karin devia tê-los trazido na noite passada. Sorrindo, Suigetsu pegou um deles e deu-lhe uma mordida. Enquanto a cobertura doce derretia na boca, ele compreendeu que aqueles donuts eram quase como uma prova de amor. Nenhuma esposa que estivesse traindo o marido se importaria de levar para casa os donuts preferidos dele. Traindo. Até mesmo pensar na palavra encheu-o de asco. Era tão vil e não combinava com Karin.

Na cozinha, parado diante da cafeteira enquanto ela passava o café, exalando um vapor que cheirava bem, Suigetsu foi surpreendido por braços que chegaram por trás e que o envolveram em um abraço que ele conhecia como a palma da mão. Sua mulher possuía aquele modo único de tocá-lo. Ele sorriu e cobriu os braços dela com os seus. Às suas costas, o rosto dela se moveu para depositar-lhe um beijo entre os ombros.

— Ainda é cedo. – ele disse.

— Eu ouvi o som do chuveiro.

— Me desculpe. Acordei você.

— Não tem problema. Não é tão bom dormir sozinha.

A cafeteira começou a chiar quando terminou de passar o café e Suigetsu desligou-a. Depois, virou-se para Karin e abraçou-a melhor, beijando o alto de sua cabeça que se aconchegava sobre o peito dele. Ela vestia apenas uma camiseta velha do marido e uma das calcinhas de bichinhos das quais ele sempre achava graça.

— Eu sinto muito por ontem. – Suigetsu falou quando ela ergueu o rosto para fitá-lo.

— Você se enganou. – ela disse. – A carta não era de Sasuke. Era da Sakura.

— Eu devia ter pensado nisso.

— Sim, você devia.

— Eu sei que você não faria nada de errado. Você é maravilhosa, Karin. E eu amo você.

— Suigetsu.

— Eu amo muito você. – ele repetiu.

— Eu só queria dizer que senti sua falta ontem à noite.

Suigetsu pensou em dizer que também tinha sentido a falta dela e que aquela noite passada no sofá tinha sido uma das piores de sua vida, mas então compreendeu que Karin não precisava de mais palavras. Ela precisava dele assim como ele precisava dela. Então simplesmente beijou-a. O café esfriaria sem nem mesmo ser despejado na xícara, mas havia coisas mais urgentes agora. Depois de deixá-lo aceso com uma mordida no lábio inferior, Karin sussurrou aquele convite – “acho que ainda há tempo de voltarmos para a cama” – e envolveu-o com as pernas quando Suigetsu a tirou do chão.

Ele foi esbarrando nos móveis até, enfim, chegar ao quarto e cair com a mulher sobre a cama. Ouviu o riso baixinho dela, as molas do colchão rangendo sob o peso deles o som único e abafado que unia as respirações dos dois. E compreendeu que não havia motivos para ciúmes. Ninguém seria capaz de ameaçar ou de tomar-lhe o que ele tinha ali, porque o amor não se submete a nada, porque o amor tem suas próprias vontades, porque não pode ser roubado ou simplesmente manipulado. Porque o amor que eles sentiam um pelo outro era muito maior do que qualquer outro sentimento.

E quando o dia elevou-se no céu, tudo o que existia era aquele amor.


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Notas finais do capítulo

Fim.
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Até!