Ciúmes escrita por Yokichan


Capítulo 2
Capítulo 2




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De fato, Suigetsu deixou o hospital com a intenção obstinada de dar uma lição no maldito que achava-se no direito de corresponder-se com Karin. No maldito que, um dia, fora seu companheiro de equipe. Enquanto atravessava Konoha, pisando duro e bufando feito um animal furioso, ele pensava que Sasuke era mesmo um canalha. Por sua causa, ele havia brigado com a mulher e agora tinha certeza de que passaria a noite no sofá da sala, virando-se de um lado para o outro sem conseguir pegar no sono, incapaz de esquecer-se do olhar zangado de Karin.

Daquele olhar magoado que costumava feri-lo profundamente.

— Ei, Suigetsu!

Alguém chamou-o e, ao parar e olhar ao redor, o corpo anunciando um alerta, avistou Shikamaru espiando sob o toldo de um bar. Então permitiu-se relaxar, resolvendo adiar sua vingança por um momento e ir ver o que o amigo queria. Ele passou sob a aba do toldo e sentou-se ao lado de Shikamaru em frente ao balcão. Sem que precisasse falar qualquer coisa, o dono do bar serviu-lhe uma dose de saquê.

Suigetsu bebeu-a de um só trago.

E percebeu que Shikamaru o encarava com curiosidade.

— Onde estava indo com tanta pressa?

— Quebrar a cara do Sasuke.

O amigo permaneceu a encará-lo enquanto pensava a respeito daquilo. Depois, decidindo que tinha feito a coisa certa ao chamá-lo para jogar conversa fora, já que Temari e o filho tinham ido visitar a Areia e ele sentia-se abandonado, lançou um olhar ao dono do bar, que deixou a garrafa de saquê sobre o balcão e foi ocupar-se com as suas tarefas.

Shikamaru serviu-lhe outra dose.

— Há algum motivo em especial?

— Ele andou escrevendo cartas a Karin! Aquele patife!

— Cartas?

— Bem, uma carta... – e sorveu outro gole de bebida.

— E o que dizia essa carta? – Shikamaru o fitava com aquela sua tranquilidade típica.

— Eu sei lá! – ele bateu com o copo sobre o balcão. – Mas não importa. Não há qualquer coisa decente que ele poderia ter para falar à minha mulher.

Shikamaru assentiu com um monossílabo ao desviar os olhos para o próprio copo. Observou o resto da bebida preenchendo o fundo do copo e bebeu-o num gole. Podia sentir a energia negativa, aquela aura quase negra e tempestuosa, emanando de Suigetsu. Sabia que Sasuke não era do tipo que divertia-se mandando cartas às esposas dos outros, assim como sabia que o amigo ao seu lado tendia a reações exageradas por motivos muito pequenos, às vezes até mesmo inexistentes. Por isso, encheu novamente o copo de Suigetsu e decidiu que o melhor era não deixá-lo sair dali tão cedo.

Não queria outra guerra em Konoha.

— E você falou sobre isso com a Karin?

— Falei! – e então o tom de voz enfraqueceu. – Mas ela simplesmente me mandou embora.

— É mesmo?

— Talvez ela me expulse de casa.

— Não creio que isso chegue a tanto. É comum que os casais briguem às vezes.

Suigetsu lançou o copo contra a parede atrás do balcão e agarrou a garrafa, bebendo um longo gole diretamente do bico e absorvendo aquilo com um suspiro ardido. O dono do bar abriu a boca para reclamar, mas Shikamaru silenciou-o com um gesto de mão, indicando que tudo estava sob controle.

— Me diga, Shikamaru. O que você faria se alguém desse em cima da sua mulher?

— Desse em cima como?

— Assediando-a, cercando-a por todos os lados. – outro gole. – Sendo um perseguidor.

— Eu acabaria com ele, é claro.

— Então não diga que eu estou errado.

— Não disse que você está errado, só acho que deveria esfriar a cabeça antes de tudo.

— Ah, eu vou. – e abriu um sorriso perverso. – Vou esfriá-la depois de socar a cara daquele desgraçado.

Mas tudo o que Suigetsu conseguiu foi ficar tão bêbado que, antes do cair da noite, já não podia mais manter-se de pé. Balbuciando coisas que pareciam não fazer sentindo e enrolando a língua enquanto pensava desferir ameaças ao inimigo de seu casamento, ele deixou-se carregar por Shikamaru até a porta do apartamento em que morava com Karin. Quando o amigo perguntou-lhe se ficaria bem, respondeu que sim, que tudo do que precisava era de sua mulher.

Ao cambalear para dentro do apartamento escuro, contudo, não encontrou quem esperava encontrar. Karin não estava em lugar algum e ele jogou-se sobre o sofá, lamentando-se por ter sido abandonado pela esposa por conta de um maldito Uchiha. Às paredes e aos móveis, disse que a amava e que sentia a sua falta. Chamou pelo nome dela, mas ninguém apareceu para consolá-lo.

Então acabou caindo num sono profundo.

~

Karin, por sua vez, sentiu-se tão ofendida com as acusações de Suigetsu que resolveu não voltar para casa depois do trabalho no laboratório. Não queria ter de lidar com os ciúmes do marido e com aquela história ridícula que ele havia fantasiado. Nas outras vezes, ela tinha sido paciente ao lembrá-lo de que o amava e de que jamais se interessaria por outro homem, havia acalmado suas angústias e explicado que aquela coisa com Sasuke tinha ficado no passado, em um passado distante e há muito superado. Com beijos e sorrisos divertidos, Karin havia prometido a Suigetsu que ele sempre seria o único homem de sua vida.

Contudo, aquilo continuava acontecendo e ela havia perdido a paciência.

Não podia admitir esse tipo de humilhação.

Karin perguntou-se quantas vezes mais teria que provar o seu amor por ele.

Então ligou para Sakura e para Ino, as melhores amigas que alguém poderia ter, e as três combinaram de encontrar-se no lugar de sempre – a lanchonete que vendia os melhores doces de Konoha. Ali mesmo, no laboratório do hospital, Karin livrou-se do jaleco, soltou os cabelos e ajeitou-os diante do reflexo proporcionado pelo monitor de um computador desligado, alisou as roupas com as mãos e pegou a bolsa pendurada perto da porta.

Ao sair para a noite que já caía, tentou ignorar qualquer pensamento condescendente em relação a Suigetsu, dizendo para si mesma que ele havia provocado aquilo e que seria bom ficar sozinho durante um tempo para perceber o quão estúpido havia sido. Cumprimentou Tenten e a velhinha da padaria ao passar por elas na calçada, desviou dos meninos que corriam atrás de um cachorro e fingiu não perceber o olhar de Shikamaru quando cruzaram-se em uma esquina. Ele vinha da direção de sua casa. Será que estivera com Suigetsu? Mas então lembrou-se de que ainda não queria saber do marido e apenas saudou-o com um sorriso antes de deixá-lo para trás e seguir seu caminho.

As duas já estavam acomodadas a uma mesa da lanchonete quando Karin chegou e sentou-se junto delas. Pediram milk-shakes, donuts, bolinhos dos mais variados sabores e doces que davam água na boca apenas ao olhá-los. Quando se reuniam, era sempre aquele exagero de açúcar.

— E então? – Ino perguntou. – O que aconteceu dessa vez?

— O que você acha?

— Suigetsu, apenas. – Karin bufou.

— Ciúmes outra vez? – Sakura sorriu.

— Sim. – Karin deu uma mordida num bolinho cor de rosa. – Estou perdendo a paciência.

— Homens... – Ino suspirou. – Sempre fazendo tudo errado.

— Mas e então? O que você fez? – Sakura quis saber.

— Mandei-o embora, é claro! O que mais eu poderia fazer?

Karin não fazia ideia de que aquilo pudesse ser mais cômico do que trágico até que as duas começaram a rir. Seu casamento estava um caos, ela precisava de conselhos, e tudo o que suas melhores amigas sabiam fazer era rir. Karin ocupou a boca com um bombom antes que dela pudessem sair palavras pouco decentes.

Ino consolou-a com tapinhas no ombro.

— Não fique assim. – ela disse. – Ele certamente já está arrependido.

— Chorando sozinho na cama de vocês. – Sakura acrescentou.

— É mais provável que ele esteja jogando a nossa cama pela janela.

— Olha... – Ino ergueu um dedo. – Sai também era bastante ciumento quando começamos a sair.

— Aposto que ele nunca fez escândalos por causa disso. – Karin rolou os olhos.

— É... Isso é verdade. Mas acontece que Suigetsu é mais...

— Explosivo. – Sakura sugeriu.

— Inconsequente.

— E intempestivo.

— Além de bastante precipitado.

— Dá pra vocês duas pararem de falar dos defeitos do meu marido? – Karin reclamou.

Ela pensou que, embora Suigetsu tivesse muitos defeitos, também havia muitas coisas nele que a fizeram apaixonar-se. Enquanto sugava o milk-shake de chocolate pelo canudo e as duas amigas tagarelavam sem parar, agora sobre os defeitos dos próprios maridos, Karin lembrou-se de que Suigetsu era muito gentil, quase um cavalheiro à moda antiga. Além disso, era romântico e muito atencioso, nunca esquecendo-se do aniversário dela ou do presente do Dia dos Namorados. Nas manhãs de domingo, ele cumpria rigorosamente o ritual de acordá-la com o café na cama e, quando saíam para jantar fora ou para ir ao cinema, ele fazia questão de dizer o quanto a achava linda – “a mulher mais linda de Konoha”.

Suigetsu era um marido irrepreensível quando não estava com ciúmes.

— ... fazer um chá e tentar conversar. – Ino estava dizendo.

— O quê?

— Estávamos concordando que você deveria ir para casa, fazer um chá e tentar conversar com ele.

— Mas deixe claro que não quer que esse tipo de coisa se repita. – Sakura completou.

— Diga que essa é a última vez. – Ino aconselhou. – Assuste-o.

— Certo.

Quando o assunto parecia ter sido resolvido, as três passaram a falar sobre a educação dos filhos, embora Karin ainda não fosse mãe, sobre receitas de bolos, sobre uma nova técnica de operação que Sakura havia desenvolvido no hospital, sobre ninjutsu e sobre alisamento capilar. Ao se darem conta de que a atendente da lanchonete pretendia encerrar o expediente, porque de repente havia ficado tarde, elas pagaram a conta – Karin resolveu levar alguns donuts para Suigetsu – e se despediram.

Enquanto subia as escadas do prédio, com o pacote de donuts numa das mãos e um ar confiante no rosto, esperançosa de que o marido estaria esperando-a, arrependido feito um cão, Karin pensou que tudo ficaria bem outra vez. Porém, ao entrar no apartamento e ligar as luzes da sala, foi recebida por duas coisas que, definitivamente, não esperava. A primeira foi o cheiro nauseante de saquê, e a segunda foi a imagem de Suigetsu esparramado sobre o sofá, parecendo tão péssimo que Karin nem mesmo foi capaz de sentir raiva.

Ela apenas jogou o pacote de donuts sobre a mesa e foi para o quarto.

Por que tinha se casado com aquele homem?


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