Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 34
Final - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas eu precisava que estivesse perfeito! Boa leitura, esperomque gostem.



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** Pensamentos do Ben **
O vento estava frio e aconchegante, juntando-se ao calor do sol do fim da tarde, proporcionando um clima ideal para qualquer coisa, principalmente para se estar na praia com a família, brincando e jogando conversa fora.

Abaixei minha mão e peguei um pouco da areia, que de tão limpa parecia ser branca, depois deixei que a mesma se fosse por entre meus dedos e então levantei o olhar e observei o mar ao longe, a linha tênue que o dividia do céu era tão fina que quase não se via, as gaivotas voavam e cantavam ao longe.

Senti uma mão em minha nuca que fez com que eu fechasse os olhos e formasse um sorriso nos lábios. Conhecia aquele toque, conhecia aquele cheiro, sabia exatamente quem era, minha esposa. A mão desceu devagar para o meu peito e eu pude sentir um beijo leve no meu ombro, que fez com que eu me arrepiasse, já que estava sem camisa.

Abri os olhos e observei novamente a praia, dessa vez procurando uma coisa em específico, ou melhor, uma pessoa. Não foi difícil encontrar, o local estava deserto e o menino não parava de correr de um lado para o outro, brincando com as ondas do mar, as perninhas ágeis se mexendo para lá e pra cá, a bermuda azul completando o cenário da natureza. Coloquei minha mão sobre a que estava em meu ombro, apertando os dedos da mesma, tendo a certeza de que ela estava mesmo ali. Mal tirou o queixo que estava apoiado e sentou-se ao meu lado, seu sorriso só fazia tudo ficar ainda mais bonito. Eu sou tão sortudo por tê-la, por ter eles dois, em minha vida.

— Promete que não vai embora nunca? - perguntei, olhando no fundo de seus lindos olhos verdes
— E pra onde mais eu iria? - ela disse ainda sorrindo, o que me fez sorrir também

Nesse momento, Joseph largou o baldinho laranja que tinha nas mãos e veio correndo até nós. Eu abri os braços e o segurei quando o mesmo pulou no meu colo, beijando sua bochecha gordinha e sentindo seu cheiro. Nossa, como eu o amo.

Joseph esticou o corpo para a mãe e fez um biquinho com os lábios, Mal o beijou e ele deu uma risada gostosa, fazendo com que nós dois também ríssemos. 

— Papai! - Joseph me chamou, me fazendo olhar para ele - Está na hora de você acordar papai!
— O que? - indaguei com a testa franzida
— Ele tem razão - Mal disse - está na hora de você acordar Ben

Meu coração começou a bater mais forte e minha respiração começou a ficar mais pesada, eu sentia que algo de ruim estava prestes a acontecer, então abracei Joseph contra o meu corpo, em uma tentativa de protegê-lo. Mas seu corpinho transformou-se em fumaça e esvaio-se dos meus braços, o que me fez ficar desesperado. Logo depois foi a vez da Mal e eu fiquei sozinho na praia.

Me levantei desesperado, tentando encontrar uma explicação pra tudo aquilo e falhando miseravelmente. Foi quando olhei para o sol e percebi sua luz aumentando que eu fechei os olhos e... acordei.

** Pensamentos da Mal **

Aquele cheiro de hospital me deixava enjoada, o café amargo era pior ainda, estava odiando ter que ficar ali, mas não tinha outra escolha, não iria embora até que o Ben acordasse. Tomei o pequeno copo de plástico em minha mão e apenas o balancei de leve, fazendo o líquido escuro ir para lá e para cá, o tédio estava sendo meu companheiro há algumas horas. 

Tirei os olhos do café e levantei o rosto, olhando pelas persianas da única janela que havia naquele quarto, a noite estava escura e o céu estrelado, eu adoraria poder estar em casa, na minha cama e embaixo das minhas cobertas. A Fada Madrinha passou por aqui mais cedo, dizendo que era completamente inaceitável que uma futura rainha dormisse em um hospital, mas eu nem liguei, no fundo ela também sabia que ninguém iria conseguir me tirar de perto dele, então ela providenciou alguns travesseiros e lençóis, o pequeno sofá esverdeado do quarto tem sido minha cama agora. 

Coloquei o copo sobre a mesa e olhei para o livro aberto sobre minhas pernas, "Nomes de Bebês de A á Z", antes de fecha-lo e coloca-lo junto ao copo. Não me julgue pela escolha de título, mas de todos os livros que haviam na estante da recepção - e não eram muitos - esse foi o único que me chamou atenção. Sabia que Joseph significa "aquele que acrescenta"? Pois é, definitivamente esse pequeno na minha barriga tem algo a acrescentar em nossas vidas, afinal, é graças a ele que eu e o Ben estamos vivos agora. 

Me levantei da poltrona na qual estava sentada e caminhei até o banheiro, que ficava dentro do quarto mesmo, abri a porta e entrei. A água fria me acordou quando molhei meu rosto com a mesma, fazia muito tempo que não dormia, mas queria continuar assim, pois dessa forma conseguia ficar de olho em Benjamin o tempo todo. Evie até brigou comigo e disse que dormir faria bem para mim e para o bebê, mas eu não conseguiria nem se quisesse. 

Olhei para o espelho e percebi que estava com olheiras em baixo dos olhos e uma aparência muito cansada, mas não era para menos, aconteceu muita coisa em pouco tempo. Me virei de lado e observei minha barriga, esta já estava começando a crescer, logo logo as pessoas vão notar, nós precisamos casar o quanto antes e evitar mais esse escândalo. 

Desliguei a luz e voltei para o quarto, me sentando na poltrona e abrindo o livro de novo, o folheando sem muita vontade, afinal, já tinha escolhido o nome do meu filho, por que precisaria olhar os outros? Bem, prefiro explicar essa parte depois.

Foi quando escutei um som diferente, olhei para Benjamin deitado naquela cama de hospital e tive a certeza de que havia sido ele. Me levantei depressa, jogando o livro na poltrona e indo até lá, procurando em seu rosto algum sinal. 

Aos poucos, seus lábios se mexeram e ele entreabriu os olhos, fazendo meu coração acelerar e um sorriso se formar em meu rosto. 

— Mal! - ele gritou, se sentando na cama de uma vez e quase batendo a testa na minha 

— Calma - eu disse segurando sua mão e tentando acalma-lo - eu tô aqui, tá tudo bem 

Benjamin me olhou com uma expressão assustada e a testa franzida, depois me puxou e me agarrou em um abraço apertado, o que estranhei, mas retribuí. Já estava com saudade daquilo. 

— Mal? - ele disse me soltando - Nossa... o que aconteceu? 

— Muita coisa - eu disse quase como que  em um suspiro - mas, resumindo, um monstro de uns quatro metros de altura caiu em cima de você, eu te trouxe para o hospital e cá estamos 

— Engraçadinha - ele disse com um sorriso, me fazendo rir - eu me lembro da guerra, bem, em partes

— E ela acabou Ben - disse com firmeza - nós vencemos 

Ele olhou para mim surpreso e depois deu sorriso, visivelmente feliz com aquela notícia. 

— E o Joseph? - Ben perguntou tocando de leve minha barriga 

— Ele está ótimo - respondi, colocando a mão sobre a dele - mas eu meio que tenho uma surpresa pra você agora 

— Surpresa? Que surpresa? - ele perguntou com a testa franzida 

— É que a Evie cismou que eu tinha que me certificar que... ele tava bem - expliquei  - mesmo depois de eu dizer pra ela que o sentia seguro dentro de mim

— Ela estava certa - ele disse - e então?

— Eu acabei fazendo uma ultrassom aqui no hospital mesmo - respondi - mas não se preocupe, o médico está proibido de contar qualquer coisa sobre isso, sob pena de morte

— Pena de morte?! - Ben indagou 

— Eu sei que é meio exagerado, mas foi minha forma de me certificar de que ele não iria contar nada, essa coisa de futura rainha tá começando a me dar certa liberdade. Eu também queria usar um feitiço, mas a Evie disse que isso sim é que era exagerado 

— Tá bom, o que tá feito, tá feito - ele disse coçando a testa - mas o que deu no exame? 

Mordi o lábio inferior e dei um sorriso, estava esperando ansiosamente que ele acordasse para que eu contasse logo aquilo de uma vez, pois estava me matando, mas não de jeito ruim acredite, eu não poderia estar mais feliz. 

— O Joseph tá ótimo, super saudável e tudo mais - respondi - a surpresa foi quando o médico colocou um aparelho na minha barriga que dá pra ouvir o coração...

—Nossa, eu queria estar lá com você - ele me interrompeu - me desculpe por isso, eu prometo compensar 

— Ben - o chamei, tendo sua atenção novamente - eu e a Evie não escutamos só um coração - meus olhos até marejaram - nós escutamos dois 

Benjamin ficou me olhando como uma estátua, completamente anestesiado pelo o que tinha acabado de ouvir. 

— Você quer dizer que... quer dizer... - ele mau conseguia completar a frase 

— Nós não vamos ter um, mas dois meninos, Ben

3 SEMANAS DEPOIS 

O meu casamento com Benjamin diante dos olhos de todos - e quando digo todos, não estou exagerando, pois  foi transmitido para as televisões de todos os reinos - foi incrivelmente lindo. A cerimônia cumpriu com as tradições e a Fada Madrinha não podia estar mais feliz ao me ver descer da carruagem puxada por seis cavalos brancos e com um vestido enorme e extravagante, digno de uma rainha. 

Evie o desenhou para mim, é claro, e a Fada Madrinha nem reclamou, pois de todos os reinos que existem, minha melhor amiga é a mais requisitada por toda a realeza. Evie também teve o cuidado de fazer um modelo que escondesse o volume a mais da minha barriga, já que ela é uma das poucas que sabe o meu segredo e o mesmo não pode ser revelado até depois do casamento, afinal, seria um escândalo ter a prova concreta de que a futura rainha... não é mais virgem. 

No fim das contas eu não podia estar mais bem arrumada, afinal, foram horas e horas com pessoas puxando e repuxando meu cabelo, fazendo minhas unhas, hidratando minha pele, fazendo a maquiagem... enfim, tanta coisa que me cansa só de lembrar. E o único motivo de aceitar tudo aquilo foi que eu sabia quem estaria me esperando no altar, com um sorriso de orelha a orelha eu posso afirmar.

O que também me deixava feliz e ansiosa era saber que aquela não seria a nossa única cerimônia, e que logo logo teríamos, enfim, um tempo só para nós dois, longe de tudo e de todos.

Lembro que na carruagem que me levou até a igreja onde foi realizado o casamento - que é a maior e a mais bonita catedral que existe em toda Auradon - estavam eu, Evie e mais quatro crianças que eu nunca vi na vida, todas elas filhas de reis, rainhas, príncipes e princesas, é claro, todas elas faziam parte da linhagem real. 

 

As crianças não paravam quietas nem por um segundo, se levantando e mexendo na cortina da janela, no cabelo da Evie e no meu vestido, o que me fez pensar em quão cansativo seria quando os meninos nascessem. 

— Que tal se todo mundo brincar do jogo do silêncio? - Evie disse segurando duas crianças pelos braços e as fazendo sentar, o que fez com que as outras duas se sentassem também 

— Nunca ouvi falar desse jogo! - o único menino do grupo, que estava vestindo um paletó preto de gravata borboleta, disse 

— Quais são as regras senhorita Evelyn? - uma das meninas, a mais velha que estava sentada ao meu lado, perguntou 

— Ah é bem fácil... - Evie disse, me fazendo rir discretamente - todo mundo tem que ficar sentadinho e quem conseguir ficar em silêncio por mais tempo, vence!

As crianças se entreolharam e pareciam um tanto desconfiadas quanto ao jogo, mas ficaram quietas por alguns minutos. Foi uma pena que todo esse silêncio não durou a viagem toda, logo uma delas se manifestou, dessa vez a mais novinha do grupo. 

— Esse jogo é uma chatice! - a pequena gritou erguendo as mãozinhas 

Todas as crianças abriram a boca em uma expressão de surpresa, eu só não entendi muito bem o porque. 

— Grace! Isso são modos? Você sabe que não devemos dizer palavrões! - a mais velha a repreendeu 

— Mas "chatice" nem é palavrão - retruquei 

Todas as crianças repetiram a expressão de surpresa de antes, só que dessa vez estavam olhando para mim, o que me fez franzir a testa e ficar estranhamente desconfortável. 

— Acredite Mal - Evie disse olhando para mim - na realeza isso é palavrão sim 

Nesse momento a carruagem virou a esquerda e entrou um corredor de pessoas, literalmente. As calçadas estavam repletas de gente gritando, levantando cartazes e jogando flores na rua, a única coisa que nos separavam delas eram grandes de ferro dispostas pelo meio-fio, também haviam guardas ajudando a conte-las. 

Assim que perceberam do que se tratava, as crianças correram todas para a janela, abrindo a cortina e observando tudo em quanto acenavam com um sorriso no rosto, como se fosse algo ensaiado. 

— O que elas tão fazendo? - perguntei 

— Ué, o que princípes e princesas fazem - Evie respondeu com um levantar de ombros - acenando para o seu povo. Viu como as pessoas estão felizes em vê-los? 

Dei uma leve olhada pela brecha da cortina que cobria a janela ao meu lado e vi que era verdade, as pessoas estavam ainda mais animadas em ver as crianças, gritando o nome delas - que nem eu sabia - e erguendo cartazes com mensagens de amor incondicional. 

Franzi a testa e fechei a cortina, virando a cabeça e olhando as crianças novamente. O sorriso delas nem sequer parecia real, parecia mais que elas estavam sendo obrigadas a fazerem aquilo, exceto pela mais novinha, Grace, que na verdade estava rindo do desespero das pessoas em tentar chegar o mais perto possível da carruagem. 

E o pior é que os pais delas nem sequer estavam ali para reparar se acenaram para o povo ou se falaram com palavras grandes e chiques, mas mesmo assim elas continuavam fazendo isso, como se fosse algo impregnado dentro delas, mesmo sendo muito pequenas. Aquilo me fez colocar a mão na barriga discretamente e pensar nos meninos, seria assim com eles também? 

Depois de alguns poucos minutos passando por aquele mar de pessoas, a carruagem finalmente parou, o que indicava que havíamos chegado á igreja onde tudo seria concretizado. Não precisa nem dizer que eu estava nervosa, né? Era certo que Benjamin estaria no altar me esperando, mas até que eu chegasse lá, milhares de pessoas que eu nunca vi na vida - e algumas que já vi também - mas que sabia que já tinham falado mau de mim em algum momento, iriam me olhar com um sorriso mais falso do que o daquelas crianças.

Senti uma mão sobre minha perna e olhei para o lado, a mais velha das crianças estava me olhando com uma ansiedade transparente, parecia que ela queria muito perguntar alguma coisa.

— Sim? - disse, a incentivando a falar

— Você o ama? - ela praticamente falou junto comigo, de tão ansiosa que estava para perguntar aquilo

— Se eu o amo? - indaguei com a testa franzida

— Sim, o rei Benjamin

Suspirei e tomei tempo em responder, levantei a cortina do meu lado novamente e olhei a enorme igreja, digna da mais alta realeza - a mesma em que Ben foi coroado rei e minha mãe quase matou todos - com um arco de flores brancas e roxas bem na entrada, logo após a escadaria, repassando novamente em minha cabeça que, por qualquer outro motivo que fosse, eu nunca me casaria em um lugar como aquele. Depois voltei o olhar para a menina de cabelos dourados sentada ao meu lado.

— É... - respondi - eu o amo

A pequena deu um sorriso enorme e daquela vez eu pude perceber que era um de verdade, completamente diferente do que ela estava dando para toda aquela gente lá fora, ela estava realmente feliz com aquela resposta e, apesar de eu achar ela um pouco nova demais para pensar em casamento, achei super fofo. 

Olhei para Evie e ela também estava sorrindo para mim, me transmitindo confiança enquanto dizia implicitamente que estava na hora de descer.

A porta da carruagem se abriu e eu pude ver Aguidar devidamente arrumado com uma roupa digna da realeza, recheada de medalhas. Nunca o tinha visto mais "príncipe" antes. Dei um sorriso leve tentando esconder o riso, mas Evie não teve o mesmo cuidado, o que fez com que nós duas acabássemos rindo.

— Tá certo, eu sei que tô parecendo um idiota, mas será que dá pra descer logo dai? Essa roupa pinica - ele disse olhando para os lados, visivelmente envergonhado

Segurei a mão de Agui e ele me ajudou a descer da carruagem, Evie veio logo atrás segurando o meu vestido e trazendo as crianças junto, tentando arrumar todas elas na posições.

Aguidar foi o escolhido para me levar até o altar pois, bem... meu pai não é mais vivo, então na falta dele eu tinha que escolher alguém da realeza e, por mais que não pareça, Agui é o príncipe de Arendelle e o primeiro na fila de sucessão ao trono de seu reino, por tanto, um digno membro da linhagem real. Além desse fato, eu e ele nos tornamos grandes amigos desde quando conheci a OPAM, ele é uma pessoa muito especial e tenho certeza de que um dia se tornará um rei incrível para o seu reino.

Bem, voltando para a organização dos pequenos, Evie fez com que o único menino do grupo e outro que havia acabado de chegar, um pouco mais velho do que este primeiro, segurassem a calda do meu vestido, enquanto as três meninas foram posicionadas na minha frente, cada uma com uma cestinha de flores na mão.

Grace, a mais novinha do grupo, começou a chorar e jogou todas as suas flores no tapete vermelho, depois rebolou a cestinha para longe, batendo os pezinhos no chão, o que fazia seus cachinhos dourados balançarem. Evie pediu para chamarem a mãe dela, mas quem veio foi uma babá, que disse algo em seu ouvido e lhe entregou um doce. A pequena enfiou a bala na boca e parou com o choro, Evie deu outra cestinha de flores pra ela e dessa vez ela não a derrubou.

Aquela cena, por mais simples e comum que pareça - afinal, qual criança não faz pirraça? - ficou gravada na minha cabeça por um bom tempo. Eu escutei claramente quando Evie pediu que chamassem a "mãe" da menina, mas quem apareceu foi uma babá. Fiquei me perguntando se seria assim comigo também, se eu seria uma completa estranha para os meus próprios filhos.

Depois deste pequeno dilema, Agui estendeu o braço para mim  e eu o segurei, dando um leve sorriso para ele, o qual respondeu com um maior ainda, como sempre. A marcha nupcial iniciou e o som vinha de uma orquestra de verdade, formada por várias crianças e adolescentes das escolas espalhadas por toda Auradon. E como quase todo o resto, eu não participei nada dessa escolha.

Confesso que até o momento eu estava tranquila, mas quando escutei a música e os dois guardas a nossa frente colocaram as mãos nas maçanetas, dando o sinal de que aquelas enormes e pesadas portas seriam abertas, meu coração começou a bater mais depressa e eu tive que respirar fundo para tentar me manter calma. 

Acho que o nervosismo na hora nem foi pelo casamento em si e sim pelo fato de que, diferente de todas as pessoas que eu já tinha visto lá fora, as que eu estava prestes a ver pertenciam em sua grande maioria a linhagem real, eram reis e rainhas, príncipes e princesas, vindos dos reinos mais remotos que se possa imaginar, todos ali para verem uma única coisa: a nova "rainha" de toda Auradon. 

O último título entre aspas porque eu não vou e nunca serei uma rainha de verdade, pelo menos não dentro da lei, isso porque eu não tenho o "sangue real" - esse último nem preciso explicar porque está entre aspas - então no lugar de uma coroa, receberei tiara e meu título será:  duquesa de Auradon. Mas Benjamin me disse que eu não precisava me preocupar, pois o povo vai me chamar de rainha mesmo assim, em uma forma de carinho. O que eu ainda não sei se me deixa calma ou ainda mais nervosa. 

Enquanto pensava em todas essas coisas ao mesmo tempo, quase me esqueci de onde estava -  no meu casamento - foi apenas quando os guardas abriram as portas e a música ficou mais alta, que eu tirei os olhos do chão e levantei a cabeça, olhando para dentro da catedral

As paredes eram cheias de colunas grossas e altas, que se interligavam através de enormes arcos sobre as cabeças de todos. O chão era formado por um mosaico de branco e azul marinho, o que dava um destaque ainda maior ao meu vestido. Haviam bandeiras representando cada um dos reinos existentes, presas as janelas. Os bancos eram bem largos e feitos de madeira escura, dispostos frente a frente em duas colunas, formando um enorme corredor da entrada até o altar, no qual estava disposto um grande tapete vermelho. Era por ali que eu tinha que passar. 

Assim que as portas se abriram, todas as pessoas se levantaram e se viraram para mim, os olhares curiosos me caçando como um tigre caça sua presa, alguns neutros, outros de puro ódio e alguns poucos amigáveis, em sua maioria dos mais jovens. Nesse momento eu gelei dos pés a cabeça, sei que é idiota e até clichê, mas pensei em tantas coisas que poderiam dar errado desde o meu primeiro passo até chegar no fim daquela tortura que já estava quase hiperventilando, o que me fez segurar mais firme no braço de Aguidar, que acabou percebendo. 

De uma forma discreta, Agui virou um pouco o rosto na direção do meu ouvido e disse em tom baixo, para que só eu ouvisse:

— Está tudo bem, não olhe para nenhum deles se você não quiser, o único que deve se preocupar é com o Benjamin, e ele está logo ali, te esperando com um sorriso de orelha á orelha 

Depois voltou a sua posição, piscando o olhos para mim. Dei um sorriso torto em agradecimento ás suas palavras gentis, ainda estava um pouco nervosa, mas não tanto quanto antes. Aguidar tinha razão, eu não preciso me preocupar com ninguém além do Benjamin. Evie então deu a ordem para que as meninas começassem a andar e espalhar as pétalas roxas pelo caminho e, antes de se retirar, me desejou boa sorte. 

Era a hora, havia finalmente chegado, depois de tantos adiantamentos, aquele era o momento que eu entraria na igreja para me casar. Segurei firme no braço de Agui e, quando as meninas já estavam a uma distância considerável, começamos a andar juntos, como havíamos feito antes nos exaustivos ensaios, só que agora com um milhão de pessoas nos assistindo - digo isso porque a rede de televisão também estava lá, um pouco afastados, mas transmitindo tudo para todo mundo. 

Respirei fundo, olhando para o chão quase que o tempo todo, cada passo era como um martírio, eu sentia como se fosse tropeçar e cair a qualquer momento, como se alguém me empurrasse para baixo, eram os pesos dos olhares, das reprovações, eu sabia disso e também sabia que ainda estava longe de acabar, o corredor era enorme e eu havia apenas acabado de começar a andar. 

Agui apertou de leve o meu braço, chamando minha atenção e me fazendo olhar pra ele. Quando o fiz, ele disse em um tom que só eu escutasse: 

— Não se preocupe com os outros, olhe só para ele - e finalizou com um sorriso

Resolvi acatar o conselho, virei o rosto e dessa vez olhei diretamente para o altar, não mais para o chão, não mais para o tapete vermelho, a barra do vestido ou as pétalas jogadas no chão, dessa vez eu olhei apenas para Benjamin, ignorando todo o resto a minha volta. 

Ben também estava me olhando, com um sorriso tão lindo que também me fez sorrir de imediato. Ele estava tão perfeito... a luz do sol que entrava pelas enormes janelas o iluminavam como se tivesse um holofote atrás, só que mil vezes mais bonito. Ben estava com a coroa dourada na cabeça e uma roupa vermelha cheia de medalhas e broches, mas eu não me importei, pois eu sabia que atrás de tudo aquilo, de toda aquela pose de rei que queriam que ele passasse, era apenas o Benjamin, o meu Benjamin. 

E eu não tirei os olhos dele nem por um momento, nem quanto ele não se controlou e começou a chorar como uma criança, por isso não posso contar com detalhes quem estava na celebração, porque nada mais me importava naquele momento, apenas ele.

Quando finalmente cheguei ao altar, senti meu coração se acalmar, era como seu eu tivesse chegado em casa ou algo assim, pois agora eu estava com ele. Benjamin apertou a mão de Agui e em seguida estendeu a mesma para mim, depositando um beijo na mesma e dizendo em tom baixo, para que só eu escutasse:

— Você está linda Mal. Eu sou o homem mais sortudo do mundo 

Me posicionei no meu lugar, ao lado dele e de frente para o padre, que usava uma roupa tão grande e espalhafatosa quanto a minha, mas a verdade é que eu não sei muito bem como um padre deve se vestir, muito menos um da realeza, afinal, não tínhamos padres na Ilha. 

Confesso que ouvir todas aquelas palavras e passagens, apesar de ser o certo, não foi muito bem o que eu fiz, porque eu não prestei muita atenção no que o padre disse, só queria terminar logo com aquilo tudo, queria Ben só para mim e o mais rápido possível, já havia esperado tempo demais. 

Quando finalmente chegou a hora mais esperada, pelo menos por mim e acredito também que por Benjamin, um menino, de no máximo cinco anos, - aquele que tinha vindo comigo na carruagem - entrou segurando uma pequena almofada vermelha nas mãos, ele andava a passos curtos e com um sorriso robótico no rosto, todos pararam para olha-lo, enquanto eu só desejava que ele andasse um pouco mais rápido. 

Depois de alguns minutos, o menino finalmente chegou, entregando a almofada para Benjamin, que tirou as alianças - me entregando uma - tomou minha mão na sua e aproximou o anel do meu dedo, parando antes para dizer as palavras, logo após as mesmas serem pronunciadas pelo padre. 

— Eu, Benjamin Florian, te recebo, Mal Bertha - ele iniciou com um roçar na garganta e acredite, eu já não me incomodo mais com meu segundo nome - como minha esposa e te prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te... em todos os dias da minha vida 

Eu sei que pode não fazer muito sentido, mas eu senti todas aquelas palavras, senti a verdade e a certeza em cada uma delas e nossa, como isso encheu meu coração de felicidade. Ben também não parou de sorrir nem por um minuto enquanto colocava a aliança no meu dedo e, quando repetiu a última frase, deixou que mais uma lágrima escorresse pelo seu rosto, a qual enxuguei com minha mão quase que imediatamente. 

Depois dele, foi a minha vez, e eu tentei ser tão real e verdadeira quanto ele havia sido, pois era o que eu sentia no meu coração. 

— Eu, Mal Bertha, te recebo, Benjamin Florian, como meu esposo - iniciei - e te prometo ser fiel, na alegria e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te e respeitando-te... em todos os dias da minha vida e... - fiz uma pausa, olhando bem no fundo dos olhos dele - quem sabe até depois 

O padre não pareceu gostar muito dessa minha "improvisação", mas não disse nada, afinal, eu só falei o que eu senti, o que veio pra mim na hora, o que meu coração sentia. Coloquei a aliança em seu dedo e já não aguentava mais de ansiedade. 

— Agora, você pode beijar a noiva - o padre disse com um singelo sorriso 

Só que, mais uma vez não foi muito bem isso o que aconteceu, pois quem o beijou fui eu, pois já não aguentava mais esperar. O puxei pelo colarinho e grudei meu lábios nos dele, sentindo seu cheiro e a textura de sua pele, como se já não o beijasse há anos, o que não era verdade.

Ben deslizou a mão para minha nuca e virou o rosto de leve, intensificando o beijo, aquele era nosso primeiro como casados e eu não conseguia sequer acreditar que aquilo era de verdade, que eu havia realmente me casado com Benjamin. 

O padre pigarreou  com um roçar de garganta, o que fez com que nós interrompêssemos o beijo, rindo da situação, pois se não fosse o padre, iríamos iniciar a lua de mel ali mesmo.  Ben desceu a mão por minhas costas e posicionou a mesma em minha cintura, me abraçando e fazendo com que eu ficasse mais próxima dele, nos colocando de frente para todas as pessoas, que levantaram dos bancos e começaram a bater palmas, nos parabenizando. 

Eu não pude evitar de rir de tudo aquilo, uma forma de deixar sair um pouco da alegria que me transbordava por dentro. Ben tirou a mão da minha cintura e segurou minha mão, juntos nós saímos da catedral pelo mesmo corredor que eu havia entrado antes, eu estava tão ansiosa que o puxei pela mão e nós praticamente corremos, o que sei que deve ter matado a Fada Madrinha do coração, mas eu nem me importei. 

Logo na saída havia uma carruagem nos esperando, só que diferente daqui havia me trago mais cedo, essa era aberta, não tinha teto, e só nós dois entramos nela. A carruagem, puxada por diversos cavalos e guiada por um cocheiro, contava com dois guardas e atravessou o corredor de pessoas igualmente como antes, só que dessa vez eu estava tão feliz que não me importei de sorrir e acenar para todos, que gritavam, batiam palmas, jogavam flores, presentes e levantavam cartazes com mensagens de amor. Se eles estavam felizes com nosso casamento, imagina eu. 

Durante todo o trajeto  também não consegui largar Ben nem por um segundo, para mim era como se a ficha ainda não tivesse caído, não conseguia acreditar que depois de tudo nós estávamos, finalmente, casados

Agora eu estou aqui, sentada em uma cadeira de escritório em frente a uma mesa de maquiagem improvisada, passando a mão por outro vestido branco, só que esse bem menos extravagante do que o primeiro, também desenhado por Evie. 

Me olhei no espelho, coloquei uma faixa de cabelo atrás da orelha e, daquela vez, não estava nem um pouco nervosa, pelo contrário, estava muito feliz de fazer aquilo na frente de todos os meus amigos, que são minha família. Muito mais feliz ainda por não ter que seguir um monte de regras, por poder fazer as coisas do jeito que eu gosto e me sinto bem, por ser eu mesma

** Pensamentos do Ben ** 

Assim que chegamos no esconderijo da OPAM - que fica a alguns minutos de caminhada dos fundos da Auradon Prep - Bernice, Isabel, Nina e Evie roubaram Mal de mim e correram para um dos quartos, me deixando sozinho com o Agui, Jay, Carlos, Steven e Ian - esse último estava segurando uma bebê no colo. 

— É sua? - perguntei 

— Sim - Ian respondeu com um sorriso orgulhoso - eu a deixei com a mãe durante a guerra e, quando tudo acabou, a primeira coisa que fiz foi sair correndo pra pega-la no colo. Achei que nunca mais iria poder fazer isso 

— Eu entendo... quer dizer, imagino como deva ser a sensação - disse - graças a Deus tudo acabou bem e nós pudemos voltar para nossas famílias. E se permite a pergunta, você não é muito jovem para ser pai?

— Meu pai me disse a mesma coisa quando eu contei que tinha engravidado minha namorada 

Nesse momento Agui, Jay e Carlos se aproximaram, eles estavam conversando e rindo ao mesmo tempo, com certeza a piada deve ter sido boa. 

— E então - Aguidar disse abrindo os braços - o que achou da decoração?

— Está tudo perfeito - respondi - com certeza a Mal vai adorar, porque eu já adorei

E estava realmente tudo lindo, todos trabalharam juntos para transformar o jardim em lugar ainda mais maravilhoso do que já é só para o nosso casamento, como eu poderia estar mais grato? 

Todas as árvores e plantas pareciam ainda mais bonitas - Steven me disse que foi obra de Onawa - o que deixava um cheiro incomparável de natureza no ar. Tudo estava iluminado por pequenas velas dentro de potes de vidro de diferentes formatos, estes espalhados pelos quatro cantos, inclusive nos galhos das árvores. Também haviam pequenas luzes de LED, dispostas como cascatas caindo das folhas.

Flores brancas naturais também estavam presentes em toda a decoração, soltando um perfume maravilhoso. Os bancos eram feitos de madeira e estavam devidamente alinhados em duas filas, de modo a formar um corredor no meio, este guiado por vários pequenos lampiões, que é por onde Mal iria passar. No final do mesmo, estava posicionado um arco coberto por um tipo de planta, marcando o local que servirá com altar. 

Ao fundo estavam dispostas várias mesas— também de madeira - como se fossem pedaços de árvores cortadas, junto com cadeiras que mais pareciam serem feitas de raízes entrelaçadas. Sobre elas estavam os pratos, as taças, os talheres e os guardanapos, e ao centro de cada uma estava posicionado um lindo arranjo de flores, com direito a uma vela branca. 

    

E claro que não podemos esquecer da mesa do bolo que estava sensacional. Era feita também de madeira, com os pés imitando raízes saindo do terra. A mesa estava recheada de doces, bem casados, pãezinhos, brigadeiros, palitos salgados, flores e, bem ao centro, um lindo e enorme bolo, de seis andares e inteiramente branco, decorado com as mesmas espécies de flores que compunham o restante da mesa. Enfim, uma das coisas mais lindas que já vi em toda minha vida. 

 

As crianças presentes, que não eram muitas, filhas dos membros da OPAM, ficaram brincando em rústicos balanços pendurados nos galhos de uma grande e robusta árvore, antes que a cerimônia começasse. Pelas risadas, eles pareciam estar se divertindo bastante. 

A decoração toda era como uma explosão de "conto de fadas", parecia mesmo que eu estava no meio de uma Floresta Encantada de verdade - só que bem melhor do que a do reino da Branca de Neve - e eu estava adorando e também tinha a certeza que a Mal iria gostar também, principalmente por ser uma uma cerimônia mais "comum", se comparada com a que tínhamos tido pela manhã.

Como rei, eu acabo tendo que seguir regras e tradições que, muitas vezes, são bem diferentes da realidade das outras pessoas e, como minha esposa, Mal acaba tendo que seguir essas mesmas imposições, foi por isso que resolvemos fazer duas cerimônias, no lugar de apenas uma. Falamos com Bernice sobre a possibilidade da segunda ser feita no esconderijo e ela topou na mesma hora, o que nos deixou animados e ansiosos. 

A primeira cerimônia foi realizada na maior catedral de toda Auradon, sobre as bênçãos do Papa e sobre os olhares de, literalmente, todo mundo. A Mal teve que usar um vestido que seguisse diversas regras, nós dois tivemos que seguir diversas regras, como não poder conversar antes da cerimônia, não poder ter uma festa legal com um bolo de casamento ou simplesmente dançar para nos divertir com nossos convidados. 

Visando o lado emocional, digamos que o casamento real é um pouco insensível, mas é só porque ele é muito antigo e, acredite, mesmo respeitando a maioria, Mal quebrou várias regras. Ela não entrou com o pai, não usou um véu - pois segundo ela, iria parecer uma freira - não disse a parte do "prometo obedecer-te" na hora dos votos e me puxou na hora beijo, quando, segundo as regras, eu era quem deveria beija-la. 

Mas está tudo bem, pois eu sei que ela se pôs a passar por tudo isso porque me ama, mas, mesmo assim, não deixou de mostrar sua essência, quem ela verdadeiramente é, e o povo percebeu isso e eles a amam cada dia mais exatamente por isso, por ser alguém mais "do povo", como muitos dizem. E eu a amo por ser assim, sem tirar e nem acrescentar nada. 

Essa segunda cerimônia nos proporcionou poder selar nosso amor diante de nossos amigos sem precisar seguir normas quanto a roupa, o cabelo ou qualquer outra coisa. Escolhemos o que quisemos e o que desejamos, sem ter ninguém para nos dizer o que pode e o que não pode, simplesmente seguimos nossos corações, nossas vontades. E o resultado final não poderia ser mais lindo, todos capricharam para fazerem com que aquilo que imaginamos, virasse realidade. 

Carlos - que é o nosso padrinho - se aproximou e me disse que estava na hora. Caminhei até o meu posto e não pude esconder o nervosismo. Passei as mãos na calça do paletó, que era preto e completamente diferente do que havia usado de manhã, em uma tentativa de enxugar o suor. Ajeitei um pouco a gravata e a pequena flor em meu bolço, tendo certeza que tudo estava no lugar. Respirei fundo e resolvi juntar as mãos na frente do corpo, para manter uma postura reta e séria. Bem, pelo menos até ela aparecer. 

** Pensamentos da Mal **

Levantei da cadeira e me pus em frente ao espelho, dando uma olhada em mim mesma, apenas me certificando que tudo estava no lugar. Se eu estava diferente da primeira cerimônia? Completamente, a começar pelo vestido, que não tinha nada haver com o primeiro que havia usado. 

Esse segundo vestido era bem mais solto e não tinha tanto brilho como o primeiro, me permitia respirar direito - o que o primeiro não fazia - e possuía pequenos detalhes de flores, que segundo Bernice são as mesmas usadas na decoração de todo o jardim. A única coisa que os vestidos tem em comum é que foram desenhados pela mesma pessoa, minha melhora amiga, Evie. 

 

Se eu estava nervosa? Admito que menos do que da primeira vez com total certeza, afinal, as pessoas que iriam me ver eram os meus amigos, membros da OPAM que aprendi a amar e ter cuidado, pessoas que de fato me conhecem e gostam de mim exatamente pelo o que eu sou, e não aquele bando de pessoas de nariz empinado que se acham superiores por ter o "sangue azul" e me odeiam exatamente por quem eu sou. 

Talvez eu esteja exagerando, talvez nem todos naquela igreja de fato me odiassem, mas de uma coisa eu tenho certeza, não vai ser nada fácil daqui pra frente, principalmente pelo fato de que, para a lei, eu sou apenas a mulher que se casou com Benjamin, jamais serei rainha, não poderei mandar em nada. 

Mas o que me tranquiliza é porque eu nunca entrei nisso com essa intenção, era a da minha mãe e graças a Deus não é mais. Eu entrei nisso porque me apaixonei pelo Benjamin quando tudo o que tinha que fazer era odia-lo, e esse sentimento foi tão forte que lá estavámos, nos casando pela segunda vez. 

Passei os olhos do vestido para o meu rosto, o qual estava com uma maquiagem simples, porém muito bonita, que tinha sido feita pela Isabel. No começo eu me senti meio esquisita, pois mesmo a diferença de idade sendo pouca, ela é como uma irmã mais nova pra mim, aprendi a gostar muito dela, mas no final eu já estava rindo e me divertindo bastante. 

Fiz um feitiço simples para que meu cabelo assumisse logo a cor natural, já estava cansada de ter a raiz de uma cor e o comprimento de outra, afinal, não poderia pintar o cabelo até que os meninos nascessem e com certeza não teria tempo depois, então era melhor me acostumar logo. Mas só fiz após o primeiro casamento, na catedral, pois sei que a Fada Madrinha odeia os meus fios roxos.  

Bernice também ajudou muito, fez praticamente tudo, ela não ajudou diretamente com meu vestido, meu cabelo ou minha maquiagem, ficou com uma parte muito mais importante. Toda a decoração e principalmente a organização de toda a cerimônia foram feitos por ela e eu não poderia estar mais agradecida. 

Todas as meninas - exceto Bernice - estavam comigo no quarto e tudo estava uma verdadeira festa. Evie dava os toque finais no meu vestido enquanto Isabel colocava batom em frente ao espelho e Nina passava uma garrafinha com vodka de mão em mão - confesso que na minha vez tomei quase tudo. 

A "festa" só parou quando ouvimos batidas na porta, o que fez com que todas olhassem para lá enquanto a pessoa do outro lado girava a maçaneta e entrava timidamente. Quando finalmente o "alguém" apareceu, Nina tratou logo de soltar um "fiu-fiu", o que fez com que todas rissem, inclusive eu. 

Diaval estava usando usando um terno muito elegante e pareceu visivelmente perdido no meio daquela explosão de meninas, mas seus olhos logo se focaram em mim e a expressão confusa deu lugar a um lindo sorriso, o que me fez lembrar da saudade que eu estava dele. 

— Me desculpem se pareço intrometido - ele disse com um roçar de garganta - mas uma moça de cabelos ruivos como o fogo me pediu para avisar as belas senhoritas, que já está na hora 

Todas as meninas levantaram ainda rindo e saíram pela porta, Evie parou para beijar minha testa e Isabel me deu um abraço de boa sorte. Nina fez questão de passar a mão pelo ombro de Diaval antes de sair para a cerimonia, o que o fez ficar vermelho. 

Quando ficamos enfim sozinhos, Diaval veio até mim e, colocando uma mão nas costas e a outra estendida em minha direção, me ajudou a levantar da cadeira na qual estava sentada. Não consegui me controlar e assim que me pus de pé o abracei apertado, tentando matar toda a saudade de uma vez. 

— Eu também senti sua falta pequenina - Diaval disse enquanto me abraçava e eu pude perceber que ele ainda sorria - eu não podia deixar que você subisse no altar sem mim, certo? Afinal, eu fiz uma promessa 

O soltei também sorrindo. Ele estava certo e eu surpresa por ele ter lembrado. Diaval havia de fato, há um certo tempo atrás, me prometido que, se esse fosse meu desejo, subiria comigo no altar. Mas aconteceram tantas coisas que eu acabei me esquecendo desse detalhe, mas não poderia estar mais feliz. 

— Lembre-se que se quiser desistir e ir embora agora mesmo, eu serei sua retaguarda 

— Desculpe, mas não vou precisar dos seus serviços essa noite - respondi rindo - nunca tive tanta certeza do que estou fazendo em toda minha vida 

— Então se é assim, ficarei feliz em acompanha-la - ele disse esticando o braço para que eu segurasse 

— Ela veio? - perguntei antes que saíssemos do camarim improvisado 

— Nem se você a obrigasse teria perdido tal acontecimento de sua vida 

Aquela notícia me fez sorrir e deixou meu coração ainda mais tranquilo. Agora eu tinha a certeza de que todos que eu amo estavam logo atrás daquela porta e que eu não tinha nada a temer. 

E a cerimônia foi realmente linda, tudo saiu exatamente como eu havia imaginado, até melhor para falar a verdade. Todos os meus amigos estavam lá, Diaval me guiou pela grama escura até o altar e daquela vez foi eu quem acabou se emocionando, não tanto quanto Benjamin é claro. 

Também pude ver minha mãe sorrindo entre os convidados, ela estava bem na frente, ao lado dos nossos padrinhos de casamento, Carlos e Evie, e pude ler os lábios dela enquanto dizia "eu te amo" para mim. 

Bernice acabou sendo meio que o nosso "padre", ela oficializou nosso casamento pela segundo vez e agora, além de casados na igreja nós também somos casados dentro dos costumes da OPAM, o que é incrível, já que é algo comum a nós dois, que nós dois concordamos e amamos. É o meio onde queremos criar os meninos também. 

E em meio a tantas diferenças da primeira cerimônia, teve uma especial que foi a minha favorita: nós pudemos fazer nossos votos. 

— Vou lhes contar uma coisa que nunca contei para ninguém antes, nem mesmo para a Mal - Benjamin disse na sua vez, tirando um pequeno papel do bolço, o que fez com que todos prestassem bastante atenção, inclusive eu, que fiquei bem curiosa na hora - um pouco antes de assumir o trono, eu estava muito nervoso em relação ao que eu faria como rei, a quais seriam as minhas decisões. Mesmo que todos me dissessem que eu deveria apenas seguir os passos do meu pai, eu discordava, queria fazer algo para o meu povo por mim mesmo, queria fazer a diferença no reino, afinal, se tudo ficasse igual igual de que adiantaria eu assumir o lugar do meu pai? - naquele momento eu estava prestando atenção única e exclusivamente em sua voz, ignorando todos a minha volta - Foi quando eu tive uma ideia para a minha primeira proclamação, aquela de trouxe os descendentes dos vilões mais perigosos para Auradon. E não pensem que a minha escolha foi aleatória, não mesmo, antes de decidir quem viria eu passei semanas estudando os arquivos que tínhamos sobre essas crianças. E foi quando eu abri o último arquivo depois de um dia cansativo de consultas, quando vi a foto da Mal presa a outros poucos papéis, que tive a certeza de que eu tinha que conhece-la. - nesse momento os meus olhos marejaram, mas me mantive firme e não chorei, diferente da maioria dos convidados - Naquele dia eu passei a noite inteira lendo aquelas poucas folhas enquanto admirava a foto dela, aprendendo o que podia sobre aquela garota, pois dentro de mim eu tinha a certeza, absoluta, de que ela era especial - Ben olhava nos meus olhos com uma paixão tão grande que foi impossível não sorrir escutando suas palavras - E eu estava certo, quando ela finalmente chegou em Auradon, não demorou muito para que eu me apaixonasse perdidamente por ela. Mal, quero que saiba que de todas as escolhas que já fiz em minha vida, seja como príncipe ou agora, como rei, a de ter em minha vida foi a que tomei com mais certeza do que estava fazendo. Eu te amo - Ben finalizou com uma lágrima escorrendo de seus olhos, a qual eu enxuguei imediatamente, mas não podíamos nos beijar ainda, afinal, ainda faltava a minha vez de dizer meus votos 

Quando chegou minha vez, entreguei meu buquê para Evie e pedi para que esperassem um pouco enquanto tirava o meu papel do decote do vestido, já que o mesmo não tinha bolço e eu tinha não onde guardar se não naquele lugar inusitado. Acabou que o papel serviu de um mero enfeite, pois as palavras já estavam todas gravadas em minha mente. 

— Quando eu conheci o Ben, as circunstâncias não eram assim tão românticas - inicie - antes mesmo de vê-lo pela primeira vez, eu já tinha um pensamento formado em minha mente, o de que, não importasse os acontecimentos, eu o mataria— nesse momento uma lágrimas escorreu pelo meu rosto, reviver essas memórias não era algo fácil pra mim - e se eu não conseguisse isso, iria o prender na pior masmorra que eu encontrasse, junto com toda sua família. Vocês devem estar se perguntando porque alguém teria um pensamento tão horrível assim para alguém que nem se quer conhecia, mas acho que o problema era exatamente esse, pois no momento que eu conheci o Benjamin, que o vi pessoalmente pela primeira vez, todo sorridente e prestativo em frente a escola, eu tive a certeza de que não teria forças o suficiente para fazer o que havia prometido a mim mesma - outras lágrima escorreu do meu rosto, desta vez meio a um sorriso melancólico meu - mas mesmo assim eu me mantive firme, se não tivesse coragem o suficiente para mata-lo, iria prende-lo e então nunca mais teria de olhar na cara dele novamente. Mas o destino mais uma vez pregou uma peça em mim e eu me vi obrigada a enfeitiça-lo a me amar, para que assim eu ficasse mais próxima da varinha mágica usada em sua coroação, o que eu não parei para pensar foi que essa decisão me tornou mais próxima não da varinha, mas de Benjamin. Eu tentei enganar a mim mesma e aos meus amigos, só que já era tarde demais, pois eu estava completa e perdidamente apaixonada pelo príncipe de toda Auradon - disse com um sorriso de orelha a orelha, olhando no fundo dos olhos de Benjamin, que se desmanchava em lágrimas - Mas como eu poderia? Ele não gostava de mim de verdade, era apenas parte de um feitiço, e quando meu plano se concretizasse e eu destruísse todo o reino e sua família, ele iria me odiar mais do que tudo no mundo, e isso era algo que eu não podia suportar. Então eu tomei a decisão de entregar a varinha mágica a minha mãe, Malévola, e então ir embora para o mais longe que conseguisse, para não ver o que iria acontecer. Só que de novo o destino pregou uma peça em mim e, enquanto eu tentava desfazer o feitiço de amor, acabei descobrindo que nunca tinha sido a magia e que Benjamin me amou desde o primeiro momento que me viu - mais lágrimas vieram e daquela vez não consegui me controlar, parecia uma criança chorando - e continua me amando até hoje. Então, pra encurtar toda essa história, eu vou terminar uma frase: uma vez, uma pessoa me disse que o amor é fraqueza e eu acreditei nisso por um bom tempo, e hoje eu quero te agradecer - nessa parte, segurei na mão de Ben - por me mostrar que essa pessoal estava completamente errada, porque eu te amo Benjamin, e o nosso amor me tornou a melhor versão de mim mesma. 

Quando terminei, abracei Benjamin e ele beijou minha testa e logo em seguida a ponta do meu nariz. Bernice roçou a garganta, indicando que ainda não estava na hora e em seguida pediu que nós trocássemos as alianças, enquanto repetíamos as mesmas palavras que já havíamos dito pela manhã. O irmão de Bernice, Arthur, foi nosso pajem e o responsável por trazer os anéis até nós, derretendo a todos no caminho, é claro. 

Depois de colocar as alianças foi a tão esperada hora do beijo, nós estávamos enfim casados segundo os costumes da OPAM. Fomos recebidos com um salva de palmas e uma enorme chuva de arroz sobre nossas cabeças. 

Nina ligou a música nesse momento e todos nós corremos para a pista de dança. Ben e eu ficamos bem ao centro e dançamos juntos a noite toda. Isabel estendeu os braços e presentiou a todos com uma centena de vagalumes e borboletas brilhantes, inclusive uma delas veio pousar no meu dedo. Steven fez uns truques com fogo e Ian dançou a noite toda com a namorado - que finalmente voltou de viagem - e a pequena Davina no colo. 

Evie dançou e também deu vários beijos em Doug, que aproveitou a oportunidade para pedir sua mão em casamento. 

Isabel e Aguidar, obviamente, não se desgrudaram nem por um segundo. Os dois pareciam muito felizes e agradecidos pela chance de uma nova vida que o universo havia os proporcionado. Então gargalhadas escandalosas dos dois foi o que não faltou.  

Minha mãe também se divertiu muito com Diaval, ela dançou como eu nunca a vi dançar antes, o que me aqueceu o coração, pois era um sinal de que ela estava bem e feliz com o novo relacionamento, finalmente vivendo a vida de uma forma saudável. 

Bernice e Amin me pareceram bastate distantes um do outro, nos os vi conversar nem uma vez sequer, mas, pelo contrário, ela e Steven não se desgrudaram durante toda a noite, posso estar enganada, mas acho que algo está rolando entre os dois. 

Jay e Carlos improvisaram diversos passos de dança já que não puderam levar nem Lonie e nem Jane, pois apesar da existência de adeptos não ser mais um segredo, Bernice que que o esconderijo continue sendo... bem, um esconderijo. Então e Ben respeitamos sua ideai e não contamos sobre ele para ninguém, tornando-o assim - secretamente - um local com proteção total do rei. Que chique, não? 

E naquele momento eu não poderia estar mais feliz em sentir o abraço e o cheiro de Benjamin, que agora não era mais meu noivo e sim meu marido - duas vezes! -, e de estar com meus amigos e minha família. Finalmente todo aquele tormento havia acabado e eu estava enfim... feliz

Pelo menos foi assim que acreditei ser. 

CONTINUA 


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Notas finais do capítulo

A parte 2 saíra em breve! Não esqueçam de comentar e favoritar a história, beijos de luz!



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