Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 26
Eles


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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** Pensamentos da Mal **

Não dava para simplesmente deitar e dormir, não era tão simples assim, não tinha como esquecer o que ele me contou. Fazia apenas poucos minutos que Carlos tinha ido embora, mas para mim pareciam mais horas, uma eternidade. Eu sentia dentro de mim, no fundo do meu coração, que eu tinha que conhece-los, mesmo não fazendo a menor ideia de quem eles eram. 

Cobri Ben com o cobertor - mais do que ele já estava - e fui até o meu quarto, a noite estava silenciosa e não se escutava nada pelos corredores do enorme castelo, todos estavam dormindo, inocentes do que estava prestes a acontecer. 

Quando alcancei minha porta, girei a maçaneta e entrei. Peguei uma pequena mochila e coloquei algumas guloseimas dentro - tirei todas do pequeno frigobar que havia no meu quarto - também coloquei uma lanterna e um cachecol, a noite estava muito fria lá fora. 

Peguei meu casaco - que estava em cima da cama - e o vesti, olhei o relógio na minha cabeceira e ele marcava exatamente duas horas da manhã, se eu fosse rápida, voltaria antes que alguém notasse a minha ausência. Sai sorrateiramente do castelo, no caminho encontrei dois guardas, que supostamente deveriam estar acordados, dormindo o mais profundo dos sonhos. Peguei minha moto e pilotei até a escola. 

Chegando lá, estacionei logo na entrada, tirei meu capacete e olhei em volta, todos os alunos estavam dormindo, o campus estava completamente vazio, a única luz vinha da enorme lua pendurada no céu. Respirei fundo, colocando o frio congelante para dentro dos pulmões, e segui caminhando pelo gramado leste, até chegar nesse tal bosque. 

Quando já estava desacreditada que aquilo fosse verdade, pois já havia andado tanto que meus pés doíam, a grama baixa e impecável do campus finalmente deu lugar a uma grama alta, escura e rebelde, sem nenhum tipo de intervenção humana, tão natural quanto a natureza. Depois dali foram apenas mais alguns passos, até me deparar com uma enorme árvore. Seu caule era formado por raízes retorcidas, seus galhos se entrelaçavam como cabelos cacheados ao vento, tão altos quando um prédio, ela era linda. 

Mas o mais especial, foi a sensação que senti em meu peito no momento que botei os olhos nela. Eu já tinha visto algo do tipo antes, quando estava a procura de Diaval, era magia, uma das formas mais loucas e misturadas de magia que já senti na vida. Em poucos segundos eu estava sorrindo, não consigo explicar direito o porque, mas algo dentro de mim se enchia de felicidade. 

— Você também sentiu? - disse colocando a mão na minha barriga, uma mania que eu peguei desde que descobri estar grávida

Respirei fundo e fui até mais perto da grande árvore, ela não se abriria tão facilmente, eu precisava provar que, igual ao outros, igual a eles, eu também tinha magia. 

"Meu coração sente

Toda essa magia presente

Me deixei entrar 

Para me apresentar"

Respirei fundo e assoprei logo em seguida, uma névoa verde saiu de meus lábios e envolveu a árvore. O simples fato de usar magia me deixa revitalizada, como se eu tivesse tomado um energético ou algo do tipo, a sensação é maravilhosa. 

Em poucos segundos o chão começou a tremer, mas eu não me assustei, havia sido exatamente assim da última vez. A grama começou a rachar e altos de terra escura surgiram, raízes enormes saíram do chão e se aglomerarão na superfície. Aos poucos, uma espécie de porta, feita da própria árvore, começou a se formar. Umas das coisas mais lindas e encharcadas de magia que eu já vi na vida. 

** Pensamentos da Princesa Isabel **

ALGUMAS HORAS ANTES

Ouvi batidas em minha porta, dei uma última olhada no espelho antes ir até lá e abri-la. Do outro lado encontrei Agui, com seus cabelos mais brancos do que nunca e os olhos azuis que me fazem derreter. Seu olho direito estava bem menos inchado e o roxo havia dado lugar a uma mancha amarelo meio escuro. 

— Está pronta? - ele perguntou, quase sem vontade 

— Perdi alguma coisa? - perguntei, olhando de relance para relógio em cima da minha penteadeira, eram dez e quarenta da noite 

— Com o acidente do rei a guarda aqui na escola redobrou, Bernice me pediu para que fossemos juntos - ele explicou - é mais seguro 

— Tudo bem - concordei - apenas espere que eu coloque os sapatos, sim? 

Agui concordou e entrou no quarto, fechando a porta logo em seguida. Ele se sentou na ponta da minha cama. 

— Você sabe que é noite de treino, né? Não precisa ir tão arrumada, afinal, vai se sujar toda - ele disse de forma debochada 

— Está sugerindo que vou apanhar? - me virei para ele com a sobrancelha erguida 

— Bem, você não teve muitas noites de treinamento e das ultimas vezes mau usou seus poderes... 

— Eu estava insegura, ok? - o interrompi 

— E isso passou? - Agui indagou 

— Completamente - disse amarrando o cadarço dos meus tênis 

Levantei e me olhei no espelho, arrumando alguns fios do meu cabelo, aqueles que parecem estar fazendo contato com extraterrestres e insistem em ficar levantados. Pelo espelho mesmo, observei Agui, ele estava usando uma jaqueta velha azul escura e calças jeans, parecia estar indo para uma guerra, mas mesmo assim estava muito bonito. Até que ele bufou, interrompendo meus pensamentos e desmanchando meu sorriso. 

— Posso saber qual o problema? - indaguei

— Não acho que você tenha feito o Noah esperar tanto - finalmente ele soltou, era isso que estava o incomodando e, por mais que me deixasse com raiva, também era muito fofo, pois significava que ele estava com ciúmes 

— Então é isso? O problema é o fato do Noah ter me chamado pra sair? 

— Olha, não é da minha conta o que vocês fazem, ok? Eu só achei que você fosse diferente, mas pelo visto eu me enganei, é igualzinha as outras meninas 

— Ei! - disse em tom mais alto, fazendo ele prestar atenção em mim - Eu não sou nada igual as outras meninas. Pro seu governo, eu e o Noah não saímos 

— Ah não? - ele perguntou, com uma expressão completamente diferente, bem mais calma - E por que não? 

— Por que eu não consegui falar com meus pais para conseguir a liberação da escola - expliquei, os lábios dele quase formaram um sorriso - e o único motivo pra eu ter aceitado o convite dele, foi porque passei tempo demais esperando o seu 

Agui levantou a cabeça, me olhando com os olhos esbugalhados. 

— Quer dizer que você também?... 

— Sim, Agui - respondi - eu também gosto de você - ele já estava sorrindo de verdade - como foi capaz de achar que eu sairia com alguém que deixou os amigos fazerem isso com você? 

Toquei a lateral do rosto dele, próximo ao olho machucado, acariciando. 

— Mas você disse... 

— Eu tava com raiva, fui falar com ele e ele prometeu que ia conversar com os amigos, mas não foi muito isso o que ele fez... 

Agui  levantou da cama e se aproximou de mim, praticamente colando o corpo no meu, mas eu não recuei, fazia tempo que queria aquilo. Ele toucou as laterais do meu rosto com as mãos, tão geladas quanto o gelo, me fazendo estremecer por dentro. Depois entreabriu os lábios e se aproximou devagar, colando-os nos meus. 

Apenas fechei os olhos e me entreguei, era meu primeiro beijo e eu não podia ter escolhido uma pessoa melhor, estava nas nuvens. Agui movimentou a mão direita até minha nuca , intensificando o beijo e, apesar de eu não fazer a menor ideia do que estava fazendo, as coisas fluíram muito naturalmente. 

Depois de algum tempo ele me soltou, mas permaneceu próximo a mim. Seu sorriso era largo e cheio de alegria, o que acabou me fazendo sorrir também. Nós dois queríamos aquilo há muito tempo, apenas não tínhamos tido a coragem de colocar pra fora e, eu ter sido a primeira a ter feito isso, me deixou muito confiante. 

— Você errou Isabel Ryder - Agui disse - eu não gosto de você, eu gosto muito de você 

Agui disse, arrancando de mim outro sorriso. Eu estava nas nuvens! 

** Pensamentos de Bernice **

ALGUMAS HORAS ANTES

A noite de treinamento estava marcada para aquele dia, o que significa que muitas coisas deveriam ser arrumadas, os alvos e moldes de espuma ainda estavam guardados no galpão. Normalmente quem me ajuda com isso é o Amin, mas ele está ocupado ajudando Steve no churrasco, afinal, uma noite de treinamento só é completa com comida, usar os poderes requer muita energia. 

Andei pelo esconderijo a procura de Diaval, mas não o encontrei em lugar nenhum, nem no jardim externo ele estava, o que era estranho, já que não fazia muito tempo que ele e Malévola haviam me ajudado a restaurar a proteção do esconderijo. 

Me aproximei de Nina, que estava ocupada gritando para que os meninos colocassem o sofá "um pouco mais para esquerda", mesmo eu não fazendo a menor ideia do que ele estava fazendo no jardim, e perguntei se ela tinha visto Diaval. 

— Não está na sua sala? - ela perguntou com a testa franzida - Eu vi ele entrando lá

Achei aquilo estranho, afinal, o que ele faria lá sem mim? Mas resolvi averiguar. Quando cheguei, não encontrei nada além da minha velha mesa, a estante de livros e o porta retrato do Arthur - meu irmão - quando tinha pouco mais que um ano. Mas quando eu já ia fechando a porta, percebi algo sobressalente na tela do computador, fechei a porta, liguei a luz e caminhei até lá. Se tratava de um bilhete, preso por um pedaço de fita. 

"Querida Bernice, 

Lhe escrevo com as minhas mais sinceras desculpas, te conheço muito para saber que vais ficar uma arara quando chegar ao fim desta carta, mas também lhe conheço suficientemente bem para te confiar essa missão. Quando te coloquei como chefe de uma das principais sedes da OPAM, não foi apenas por seu rosto bonito ou por ser neta de um Deus, fiz isso por quem você é e por tudo que demonstrou aprender ao longo de todos esses anos que passamos juntos. No fundo eu sabia que esse dia chegaria, lamento muito, mas temos que aceitar os fatos. Nosso lema foi: "lutar aqui em baixo, para que não tenhamos que lutar lá em cima", mas receio que ele terá que ser quebrado, no lugar dele coloco um novo, a partir do qual guiará teus novos adeptos. "Lutaremos lá em cima, para que nosso filhos não tenham que lutar nunca". Eu sei que é confuso, sei que vai contra todos os princípios que te ensinei, mas temo que terá que usar seus poderes na guerra, minha querida."

Franzi a testa, aquilo tudo era, no mínimo, absurdo. Virei o pequeno pedaço de papel, a procura de mais informações. 

"Que guerra? Aquela que já tinha conversado contigo, a diferença é que ela não vem por parte da coroa, essa guerra vem do outro lado das águas, de uma pequena porção de terra chamada Ilha dos Perdidos. Eu soube há pouco tempo, apenas o suficiente para bolar um plano. Juntamente com uma grande amiga, lhe enviarei uma esperança, pois temo que sozinhos vocês não conseguiram vencer. Seja esperta e de mente aberta, a ajuda virá do lugar mais improvável, por isso, quando ela chegar, a receba da melhor forma possível. Ela saberá quando a guerra ocorrerá. Estarei observando de longe. Beijos, 

Diaval"

Respirei fundo, virando aquela carta de um lado para outro pelo menos umas dez vezes. Ele estava realmente falando sério? A guerra da qual Diaval me falou vinha por parte do governo, ele temia que um dia fossemos descobertos e que tivéssemos que lutar para não sermos presos e condenados a morte. Mas inimigos na Ilha dos Perdidos? Nenhum de nós nunca esteve lá, como poderíamos fazer inimizades? A não ser que... 

Peguei a pequena carta em minha mãos novamente, corri os olhos até encontrar a frase que estimulava meus pensamentos, como óleo para engrenagens velhas. 

"Lutaremos lá em cima, para que nossos filhos não tenham que lutar nunca."

Era isso, a guerra trará mais do que inevitáveis mortes, ela trará um futuro para os nossos filhos, um futuro onde eles jamais terão que lutar, ou seja, vão poder viver normalmente, ir a escola, brincar, trabalhar e, acima de tudo, usar os seus poderes sem medo, sem precisar se esconder. 

E esse futuro tão maravilhoso só será verdade a partir do momento da ruptura da lei anti-magia, o que só vai acontecer quando conseguirmos respeito, quando conseguirmos mostrar nosso valor, provar que alguns dos nossos não são suficientes para representar o todo. E por que uma guerra nos traria isso? Pois seria um momento de bravura, os inimigos não querem nossa cabeça... querem a do rei. 

Dei um leve sorriso, me sentindo super confiante por ter desvendado todo aquele mistério escondido entre as palavras de Diaval. E é claro que precisaríamos de uma ajuda, uma ponte, entre a OPAM e o Rei. Até já imagino quem seja essa tal... "esperança". 

** Pensamentos da Mal **

SEDE OPAM - SUBSOLO DO CAMPUS LESTE DA AURADON PREP 

Olhei em volta, nada além de mato e pequenos arbustos, ninguém da escola ia ali, bem, pelo menos ninguém comum... abri a porta rústica e entrei, mas o que encontrei foi completamente além de tudo o que havia imaginado quando ainda estava do lado de fora. 

Se tratava de um lugar dez vezes maior do que a circunferência daquela árvores que virá lá fora, ali dentro tudo era muito bem iluminado com a ajuda de lâmpadas. Haviam grossas colunas e o teto era bem alto e esférico! Como isso era possível? Sendo que o caule da árvore lá fora era o mais perfeito dos cilindros? 

E eu não estava sozinha, várias pessoas passavam de um lado para outro, pessoas que nunca havia visto em toda Auradon, elas eram diferentes, eu podia sentir, eram criaturas mágicas, assim como eu. Aquilo me fez sorrir instantaneamente, me fez sentir ainda mais revigorada do que já estava por ter usado meus poderes lá fora. 

O melhor de tudo foi que ninguém percebeu minha presença, estavam todos muito ocupados levando diversos itens para algum lugar mais ao fundo, pude escutar gritos e palavrões vindos de lá, o que poderia ter me feito pensar que se tratava de uma briga, mas as risadas escandalosas cortavam o clima tenso e me deram até vontade de rir também.

Fechei a porta devagar e... pasmem! Do lado de dentro era apenas uma porta comum, como qualquer outra! De madeira com uma maçaneta prateada. Aquilo era como um sonho pra mim, imaginem um cachorro em um quarto repleto e ossos de carne, era exatamente como eu me sentia, só que infinitamente melhor. 

Não conseguia parar de sorrir com cada coisa que via, tinham prateleiras com muitos livros - todos de magia!— mesa com cadeiras e vários tipos de poções, espécies de cajado um pouco mais a direita, presos na parede como casacos! Fez eu me sentir como se estivesse na escola novamente, aquele seria o pátio, só que repleto de diferentes tipos de magia. 

 

Haviam sala a direitas também, com grandes janelas de vidro que nos permitiam ver o que havia lá dentro, depósitos, escritórios, bibliotecas... cada um com seu toque único. Foi ai que algo, ou melhor, alguém, obstruiu minha visão. Uma menina de cabelos ruivos como o fogo e um semblante confiante, parou bem na minha frente. Ao lado dela havia um garoto de pele negra e olhos castanhos, muito bonito. 

— Bem vinda a OPAM Majestade - ela disse - nós estávamos a sua espera  

— E... eu.. e - gaguejei com o susto que tomei - não estou aqui para fazer mal, juro! Não trouxe guardas, nem Ben está comigo! Eu só vim... só...

— Veio para nos conhecer - ela me interrompeu, falando exatamente o que eu diria 

— Que? 

Ela deu um sorriso de lado. 

— Meu nome é Bernice e esse é o Amin - a menina disse - sou a diretora e... como todos aqui, adepta de magia 

Fiquei alguns segundos a olhando, tão confusa como nunca estive em toda minha vida. Ela sabia que eu viria? Como? 

— Sei que tem muitas perguntas - ela prosseguiu - mas que tal eu te apresentar o local primeiro? 

— Mas... como... como você sabia? - perguntei 

— Digamos que temos um amigo em comum 

Bernice se virou e começou a andar, Amin fez um gesto com a mão, indicando que eu os seguisse, o que fiz sem hesitar. Tudo ainda parecia um sonho pra mim, como se não fosse verdade, como se eu fosse acordar a qualquer momento. 

— Esse é o esconderijo - ela disse com um gesto nas mãos, como se abarcasse todo o local nelas - invisível a qualquer bastardo

— Invisível? - repeti, como uma boba 

— Sim, um não adepto de magia jamais pode ver ou entrar aqui sem a ajuda de algum de nós 

— Nós? 

— Sim, Majestade - Bernice respondeu, eu consigo sentir sua magia da mesma forma que sente a minha. Afinal, não poderia estar aqui se não fosse 

Apenas concordei com a cabeça, a encorajado a continuar com sua tour. 

— Bem - ela disse se virando e caminhando novamente - fizemos este lugar com a ajuda de vários adeptos, cada um fez uma parte a sua maneira e juntos construíram o todo. Temos de tudo aqui para fazer com que nossos membros se sintam o mais confortável possível. Biblioteca com livros de magia, depósito com ingredientes e poções, salas de treinamento, mercenária, onde alguns de nós constroem armas para focalizar e ajudar a controlar seus poderes... 

— Isso é incrível - a interrompi 

— Sim, essa é a única sede da OPAM, mas é uma das melhores, posso garantir 

— OPAM? 

— Organização de Proteção aos Adeptos de Magia - Bernice explicou - uma grande organização que se espalha por toda Auradon, temos pelo menos uma sede em uma cada reino, o número chega a triplicar em locais que a lei anti-magia é vigente 

— Mas... como? - indaguei, completamente confusa 

— Como vê agora, criando esconderijos, ajudando uns aos outros... - ela fez uma pausa - não podemos negar quem somos, muito menos deixar que sejamos presos por nossa essência. Aqui em baixo nós podemos ser quem somos, sem nos preocupar com nada mais 

Aquilo só ficava cada vez mais incrível. A lei não conseguiu seu propósito afinal, todos aqueles que foram presos e condenados não chegavam nem aos pés do número de pessoas que fazem parte dessa organização. E tudo literalmente em baixo do nariz de todos, escondidos com aquilo que tanto proibiram, escondidos com a magia. 

— Vamos - Bernice disse - todos estão lá fora treinando 

Ela voltou a caminhar ao lado de Amin e eu apenas os acompanhei. Até que chegamos em uma grande abertura feita na parede, que dava acesso a um jardim de grama escura. Mas como isso era possível? Não estávamos em baixo da terra? No sub-solo? Como poderia haver um jardim?! Mas daquela vez não perguntei, afinal, a resposta já era óbvia: magia. 

O céu estava escuro, o tempo não havia mudado, mas eles tinham muitas luzes presas as árvores, velas dentro de garrafas. Também haviam almofadas e lençóis estendidos sobre a grama, onde algumas pessoas estavam sentadas conversando e rindo, comendo e bebendo. 

 

Mas o que destacava era uma pequena aglomeração no centro, como quando os pedestres param para assistir a uma apresentação de rua, só que nesse caso, se tratava de uma luta, uma luta de magia. 

— Hoje é noite de treinamento - Bernice explicou - além de descontração, é uma ótima oportunidade para testar seus poderes e ver como eles reagem aos de outra pessoa

Estava maravilhada com aquilo. No centro estavam um garoto usando uma jaqueta de couro preta e jeans, do outro lado havia uma menina de pele bronzeada e cabelos pretos incrivelmente lisos, ela usava um vestido marrom com a barra rendada. 

Em meio a gritos de incentivo das pessoas em volta, ela fez um gesto com as mãos, como se arrancasse algo e, em poucos segundos, raízes brotaram do chão e começaram a se entrelaçar nas pernas do garoto, as apertando fortemente, o que fez gritar. 

Mas ele também não ficou parado, abriu os braços e fez surgir fogo em suas mãos. Fogo! Ele direcionou as chamas para as plantas e a menina gritou de dor, como se ele estivesse queimando a pele dela. As raízes se esquivaram e voltaram para a pele, mas a garota também não se rendeu, ela abarcou o ar com as palmas e as direcionou para o menino. 

Daquela vez um tipo diferente de planta o atingiu, de caule bem fino e folhas verdes, muitas de uma vez, envolvendo os braços do garoto, que gritou de dor e caiu no chão, se coçando todo. Foi ai que uma risada escandalosa pode ser ouvida. Um garoto, de pele e cabelos incrivelmente brancos, sentado em uma das almofadas ao lado de um garota de cabelos castanhos, estava rindo sem parar, a risada dele era simplesmente contagiosa! 

— Vou te apresentar, ok? - Bernice disse, tirando minha atenção da luta e voltando-a a ela 

— Ok... - disse, um pouco insegura 

Bernice andou até o centro e deu os parabéns a garota de pele bronzeada, depois ajudou o garoto do fogo a se levantar e pareceu dar algumas dicas á ele. Todos ali eram tão jovens quanto ela, mas davam muita importância a tudo que ela falava. 

Bernice chamou os que estavam sentados e pediu para que todos formassem uma fila indiana, voltados para mim, todos estavam, literalmente, olhando para mim agora. Bernice fez um gesto com a mão, me chamando. Fui até lá a passos lentos, não queria ser vista como uma invasora ou algo do tipo. 

— Já havia conversado com eles - ela disse - já sabiam que viria e estão prontos para as apresentações 

— Apresentações? - indaguei 

Bernice deu um sorriso e me convidou para sentar ao seu lado, em duas almofadas que Amin havia nos trago. Em poucos segundos todos se sentaram também, apenas um levantou e se posicionou na nossa frente, na mesma posição que eu estava antes. 

— Meu nome é Steve - o rapaz de jaqueta preta disse - sou filho da Princesa do Fogo, mas não tenho nenhuma linhagem real 

Todos começaram a rir, inclusive eu. 

— Meu poder é o fogo, posso fazer praticamente tudo com ele 

Steve fez surgir bolas de chamas vermelhas em ambas as mãos. Encostou o fogo no rosto e no cabelo, demonstrando que ele jamais se queimava. Meus olhos quase saltaram, aquilo era incrível! Uma forma de magia que nunca tinha visto antes. Depois ele fechou os olhos, pressionando as pálpebras, e em poucos segundos as chamas começaram a se espalhar por seu corpo e suas roupas, mas, novamente, nada era queimado. Era como se o fogo fizesse parte dele, e acredito que faça. 

Depois de Steve, foi a vez de uma menina de pele negra e grandes olhos castanhos. Ela parecia ser bem popular, já que quando levantou todos começaram a bater palmas e assobiar. A menina sorriu e fez um gesto com as mãos, como se pedisse para que todos parassem, mas ao mesmo tempo se sentindo lisonjeada. 

— Meu nome é Nina - ela disse após todos se calarem - sou filha da Princesa Moana de Motunui e meu poder é a água 

Nina fez uma espécie de concha com ambas as mãos e fechou os olhos em seguida, se concentrando. Em questões de segundos, linhas d'água começaram a vir de todas as direções, como se ela estivesse sugando. Algumas vinham de copos espalhados pelo jardim, outras de dentro do esconderijo e outras até da terra! Uma dessas linhas passou bem perto de mim, a toquei devagar e depois olhei para minha palma, estava molhada. 

Nina então colocou uma mão sobre a outra, com uma certa distância, e fez surgir uma enorme bola d'água. O que prendeu minha atenção, assim como a de todos a minha volta, era incrível. 

Ela elevou a bola até o alto, cerca de uns três metros acima de nossas cabeças, deu um sorrisinho e bateu uma mão na outra, produzindo um estalo e fazendo a bolha tremer e explodir, respingando água em todos e até um pouco em mim também. 

— Nina! - todos gritaram como eu um coro, mas a menina apenas riu com a travessura e voltou a se sentar, dando lugar para outra pessoa 

Daquela vez levantaram-se duas pessoas, a menina da pele bronzeada que vi lutar alguns minutos antes e um menino, cuja pele era tão bronzeada quanto a dela. O cabelo de ambos era preto e muito liso, o predomínio de uma espécie de tecido marrom na roupa também era comum aos dois. 

— Meu nome é Umi - o garoto disse - e essa minha irmã gêmea, Onawa 

Foi ai que prestei atenção em seus rostos, eles eram incrivelmente parecidos! Para falar a verdade, um era a cópia do outro! 

— Somos filhos da Pocahontas - Onawa disse com orgulho - e nossa magia é natureza 

Os gêmeos deram as mãos e voltaram as palmas da outra para o chão, fazendo surgir pequenas flores brancas, que logo tomaram o jardim por completo. Depois fizeram surgir arbustos, árvores, samambaias, palmeiras... uma infinidade de plantas. 

— Odeio flores - Bernice disse ao meu lado com cara de nojo, o que me fez rir - tudo bem, já entendemos! Tirem tudo daqui e deem lugar para o próximo, sim? 

Umi e Onawa fecharam as palmas, fazendo todas as plantas voltarem para a terra, sumindo completamente. Depois fizeram uma pequena reverencia, recebendo uma chuva de aplausos e voltaram a se sentar. 

Muitas pessoas se apresentaram para mim, cada uma com seu estilo único. Um menino que levitava coisas, uma garota que conseguia controlar o ar... todos me surpreenderam a sua própria maneira. Foi quando o garoto de cabelos brancos, dono da risada escandalosa, resolveu se manifestar.

— Agora é a hora da faísca! - ele gritou, fazendo todos rirem. Algo em seu olhar me fez entender que se tratava de Bernice 

— Já que resolveu se pronunciar, agora é sua vez - ela disse com um sorriso, mas como autoridade - pro centro 

O garoto não pareceu se importar, levantou rindo e foi até o centro, para que todos - incluindo eu - pudessem vê-lo, e todos pareciam muito bem atentos, o que significa que, será lá o que ele faça, deve ser bom. 

— Meu nome é Aguidar, em homenagem ao meu avô materno - ele disse - mas todos me chamam de Agui. Sou o filho mais velho da rainha Elsa, o que faz de mim o primeiro na linha sucessão de Arendelle. Meu cajado foi dado a mim por meu pai e me ajudou durante muito tempo a focalizar meu poder, mas graças aos treinamentos na OPAM, posso fazer algumas coisas sem ele... Ah! Já ia me esquecendo, meu poder é... bem, digamos que eu nunca tenho frio 

Agui ficou parado por alguns segundos, o que me fez quase perguntar se ele iria fazer algo ou não, mas logo eu percebi o que acontecia. Suas mãos começaram a... bem, a congelar! Depois o gelo subiu por seus braços até pouco antes dos cotovelos. Era incrível. 

Em poucos segundos, um frio cortante invadiu o jardim, rodeando todos nós, tão congelante que me fez tremer e abraçar meus próprios braços. O frio tomou a grama, criando gotas de orvalho e depois as congelando. Os pequenos arbustos também foram vitimas, seus pequenos galhos congelaram por completo. 

Bernice esfregou as mãos, tentando aquece-las, depois estralou os dedos e fez um gesto para que o garoto prosseguisse com sua "apresentação". Agui sorriu e levantou uma das mãos para o alto, uma neblina azul saiu de seus dedos e seguiu para o céu, em poucos segundos pequenos cristais de gelo começaram a cair sobre nossas cabeças, cobrindo toda a grama. 

— Está... nevando? - perguntei, Bernice apenas confirmou com a cabeça, tudo aquilo era muito comum pra ela 

Agui fez uma reverência e todos aplaudiram, depois foi se sentar. Mas o gelo continuou todo ali, ele não parecia se incomodar, mas eu já estava quase morrendo congelada com aquele frio. 

— Steve, por favor? - Benice disse, fazendo o garoto do fogo respirar fundo, enchendo os pulmões, e em seguida soltar um sopro que descongelou tudo, trazendo um calor confortante - E então, está pronta para conhecer a Isabel? 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, não se esqueçam de clicar nos links do capítulo para verem imagens relacionadas a histórias, são incríveis! Não esqueçam também de comentar e favoritar, beijos.