Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 25
Carlos




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** Pensamentos do Ben **
ALGUMAS HORAS ANTES
Antes de entrar no escritório, ajeitei meu paletó e passei a mão pelo cabelo, pois ainda me lembro das intermináveis aulas de etiqueta, onde aprendi a ter postura, entre outras coisas. E como estava prestes a entrar na sala onde minha antiga professora trabalha, era melhor mostrar que havia aprendido, pelo menos, alguma coisa.

Coloquei a mão na maçaneta e girei, destrancando a porta e entrando logo em seguida. Fada Madrinha estava sentada diante de sua mesa de madeira escura, lendo um papel do topo de uma pilha de outros, tudo devidamente organizado. Quando percebeu minha presença, me lançou um sorriso doce e amigável.

— Boa tarde, Benjamin - ela disse

— Boa tarde - respondi, me sentando em uma das duas cadeiras que estavam a minha frente - Como andam as coisas por aqui? Os novos alunos estão se adaptando?

— Surpreendentemente bem, na verdade - ela respondeu, deixando os papeis de lado - a sua ideia de uma colônia de férias para aproximar os novatos dos veteranos, foi sensacional

— A ideia foi da Evie também - respondi com um sorriso - nós pensamos juntos no projeto

— Uma das melhores coisas que você já fez foi colocar essa menina no conselho, sabia? É bom ter alguém que tenha uma cabeça mais parecida com a sua lá dentro. Você fez muito bem

— É - respondi - eu não me sentia muito representado e a Evie foi, realmente, a escolha perfeita. Ela me ajuda em praticamente tudo, é muito atenciosa e está sempre disposta a solucionar qualquer tipo de problema

— E o que o traz aqui Ben? Seu semblante não me parece muito bom

Respirei fundo. A Fada Madrinha me conhece realmente muito bem, sempre percebe quando algo está me afligindo, quando algo não está como deveria estar.

— O Conselho recebeu uma denúncia anônima hoje - revelei - e eu tenho que investigar a veracidade das informações

— Investigar? É algo sério? - ela indagou

— Muito sério, Fada Madrinha - respondi  - denunciaram que existe, aqui no subsolo da Auradon Prep - abaixei a voz naquela parte - uma espécie de esconderijo, onde adeptos de magia se encontram, como um... clube ou algo assim

Fada Madrinha arregalou os olhos com a informação e colocou a mão no peito, totalmente perplexa com a hipótese de algo assim existisse, ainda mais bem ali, quase que literalmente em baixo de seu nariz.

— Meu Deus, Ben - ela disse - isso é um crime seríssimo e deve ser tratado como tal! Os culpados, toda essa organização, deve ser castigada...

— Calma - disse - eu ainda não tenho certeza se isso é realmente verdade, tenho até minha suspeitas de que não seja, mas como rei eu tenho que fazer uma investigação

— Buscas? Aqui na escola? - ela perguntou

— Sim - respondi - e como diretora da Auradon Prep, nada mais prudente que a senhora nos acompanhe, não é mesmo?

Eu sabia que tinha grandes chances de ela não aceitar o convite, afinal, era quase como se eu a tivesse conduzindo a fazer um crime. Mas a ela também é uma das mais poderosas, nesse quesito, que eu conheço e, como preciso mostrar que sei lhe dar com uma situação desse tipo, eu precisava dela.

— Está me pedindo para usar meus poderes? - Fada Madrinha perguntou - É isso mesmo que entendi?

— Não - respondi de prontidão, mesmo sabendo que era exatamente isso o que eu queria - eu peço apenas que a senhora nos acompanhe, como a diretora que você é, afinal, quem melhor para nos mostrar as instalações do subsolo?  - disse - E... enquanto isso... a senhora poderia, de repente, nós alertar caso sentisse algo... diferente - finalizei com um sorriso

Fada Madrinha me olhou por longos segundos, tempo este que passei com o mesmo sorriso, tentando desvendar o que se passava na cabeça dela. Acredito que ela estava me avaliando, ou quem sabe avaliando a história como um todo, o que realmente importa é que, no final de tudo, ela acabou aceitando.

— Tudo bem - ela disse - eu acompanho vocês. Mas apenas como diretora

— Claro - concordei de prontidão - apenas como diretora

— Vou ligar para Jane e pedir que reduza o toque de recolher, é melhor fazermos isso sem alunos curiosos em volta

— Eu concordo

CERCA DE UMA HORA DEPOIS

A construção era bem antiga, o que me fez ter receio pelos alunos e logo adicionar mais uma tarefa a minha interminável lista mental: "reformar o subsolo da Auradon Prep". Nós usamos lanternas para conseguir enxergar e tomamos muito cuidado para não pisar nas pedras pontiagudas que haviam por lá.

Mesmo com as lanternas, o caminho continuava bastante escuro, o que me fez ter receio também pela equipe que estava me acompanhando. Mas antes que eu pudesse me pronunciar sobre isso, Scarlett e Philip apressaram o passo e vieram ao meu encontro, claramente querendo falar alguma coisa.

— Vossa Majestade - Philip disse, sendo mais formal do que normalmente é - sei que desde o julgamento da mãe de sua noiva as coisas ficaram um poucos estranhas entre nós, mas o senhor continua sendo meu rei e eu preso muito por sua segurança

— Essa construção é muito antiga e frágil, não podemos arriscar sua vida andando por aqui - Scarlett completou

— Eu entendo e agradeço a preocupação - eu disse - mas temos que averiguar se essa denuncia é, de fato, verdade

— Concordamos plenamente - Philip disse - mas ainda presamos por sua segurança, então nos oferecemos para ir na frente

— É muito perigoso...

— Por favor Majestade - Scarlett me interrompeu - nos sentiríamos honrados

Olhei para os dois por mais alguns segundos, antes de aceitar e permitir que eles fossem na frente. Desde o julgamento nossa relação não anda das melhores e talvez esse seja o pontapé para uma reconciliação, afinal, eles serão sempre do Conselho e nossa convivência é inevitável, então, de todas as opções, prefiro a que presa a paz.

Scarlett e Philip começaram a caminhar, iluminando todo local com suas lanternas, eu e os guardas também tínhamos as nossas e fazíamos o mesmo, observando cada centímetro daquela estranha... caverna.

Encontramos rochas, areia e poeira, tirando algumas placas gastas - que indicavam sob qual parte da escola estávamos - não encontramos nada de interessante. Já havíamos andando bastante e eu tinha certeza que o final daquele enorme túnel estava próximo, o que só confirmava mais ainda minhas suspeitas, não havia nenhuma organização, pelo menos não ali.

Mas o que aconteceu logo em seguida me impediu de chegar ao final, me impediu de... qualquer coisa, na verdade. Escutamos alguns passos ao longe, de algo ou alguém que estava há poucos metros atrás de nós. Eu parei a caminhada e iluminei o caminho que havia passado com a lanterna, mas não vi ninguém.

— Vamos Majestade - Philip disse, sua expressão demonstrava impaciência - já estamos quase no fim

— Espere - ordenei, não estava gostando muito desse tom autoritário dele - acho que ouvi alguma coisa

Me virei novamente, aumentando a intensidade da lanterna, procurando o que ou quem havia provocado o barulho, algo em meu coração dizia que era importante.

Foi quando ouvi, bem longe, um chamado que não pude ignorar:

Ben!

Era a Mal, minha noiva estava me chamando. Mas o que diabos ela estava fazendo ali? E sozinha? Era muito perigoso, precisava chegar até ela. Mas antes que eu desce o primeiro passo em sua direção, um outro barulhou ecoou por toda a caverna, bem maior e tenebroso, algo estava errado.

E, como se uma bomba houvesse explodido, o teto acima de minha cabeça começou a roncar, areia caiu sobre mim e o chão começou a tremer, como em um terremoto. Aquilo tudo iria desabar e não tínhamos muito tempo, eu tinha que pensar na segurança de toda minha equipe, mas também tinha que pensar na de minha noiva, que agora estava há cerca de tres metros de mim, respirando ofegante e com os olhos esbugalhados.

Mas tudo aconteceu muito tempo, eu sequer tive tempo de pensar em algum plano, o teto roncou mais alto, olhei para cima e vi enormes pedras se soltarem, caindo em minha direção. Eu iria morrer esmagado.

Ben! — ouvi Mal gritar

Mas já era tarde, senti algo pesado acertar minha nuca, a dor me fez ver estrelas e eu fui de encontro ao chão

** Pensamentos da Mal** 

AGORA

Quando finalmente os alcancei, o chão começou a tremer fortemente, quase me jogando no chão. Ben apontava a lanterna em minha direção, o teto rangeu alto e enormes pedras começaram a cair, bem em cima deles.

— BEN! — eu gritei

Em seguida tive que agir rápido, pois uma enorme rocha se desprendera do teto e caia na direção do Ben. Ergui minha mãos e gritei, um grito tão forte que senti minha garganta rasgando. Minhas mãos tremularam, mas eu consegui mante-las erguidas, senti o poder irradiando por todo o meu corpo e se focalizando em minhas palmas.

Era como seu eu estivesse segurando a pedra com minhas próprias mãos, senti todo o peso caindo sobre mim, mas consegui manter a rocha parada no ar, envolvida por uma névoa verde, flutuando sobre a cabeça do Ben, apenas alguns centímetros para atingi-lo. 

Só que, infelizmente, uma segunda pedra se desprendeu, bem menor do que a que eu segurava, e esse eu não consegui segurar, ela atingiu em cheio a nuca do Ben, o fazendo gritar e levar a mão ao local, caindo no chão logo em seguida.

Meu coração parou de bater naquele instante, senti meu peito gelar e minhas mãos suarem, tremulando involuntariamente. Lágrimas escorreram pelo meu rosto e, por alguns segundos, senti que meu mundo havia saído de orbita. Ben estava jogado no chão, os olhos fechados e o rosto pálido, sangue escorrendo de sua nuca e sujando a gola de sua camisa de seda. 

Ben! — gritei novamente, sentindo meu peito arder 

A névoa que, incrivelmente, eu estava produzindo, ficou mais verde e mais violenta, quebrando a enorme rocha em milhares de pequenos pedacinhos, que se chocaram em alta velocidade contra as paredes da caverna e caíram no chão, levantado uma grande quantidade de poeira. 

O chão parou de tremer e o teto de ranger, meu grito havia cortado o vazio de tal forma, que tudo parecia ter voltado aos seus lugares, tão quieto e silencioso quanto antes, como se nada tivesse acontecido nos últimos minutos. Como se o universo tivesse parado apenas para olhar para mim. 

Corri na direção do Ben e me ajoelhei no chão ao seu lado. Senti pequena pedrinhas perfurarem a pele dos meus joelhos, mas não liguei, aquela dor não era nada comparada a que eu sentia em meu coração. Levantei a cabeça dele daquele chão frio e úmido, coberto de poeira, e a coloquei em meu colo. 

Mas Ben não olhou para mim, não me perguntou o que eu estava fazendo ali, sequer emitiu algum som. Me desesperei com a ideia de perda-lo, o que me fez bater de leve em seu rosto, em uma falha tentativa de acorda-lo. 

— Ben! Por favor! Fale comigo! - eu gritei 

Me virei para os guardas, que me olhavam com os olhos arregalados. Dois deles haviam até tirado seus capacetes, como se Ben já estivesse morto, o que claramente não era verdade! Não podia ser! Eu não posso perde-lo.  

— O que estão fazendo ai parados?! - gritei, ecoando por toda a caverna - Venham aqui e me ajudem a leva-lo para o hospital! Ele precisa de cuidados! AGORA! 

Os guardas finalmente apareceram acordam e se mexeram para me ajudar, ele levantaram Ben com cuidado e nós caminhamos rápido para fora dali, antes que tudo desabasse em nossas cabeças. 

22:30 - Hospital Geral de Auradon 

Abri levemente a cortina da janela, apenas para ver se ainda continuavam lá em baixo e, infelizmente, continuavam. Repórteres e mais repórteres se aglomeravam na entrada do hospital, sendo preciso que a guarda local aparecesse para conter a agitação. 

Poucos segundos parada ali fora o suficiente para que os flash's se direcionarem para a janela, me fazendo fechar a cortina rapidamente. Respirei fundo e tomei mais um gole do meu chá, que é uma bebida da qual nem gosto muito, mas... devido a circunstâncias, é a única coisa que está me mantendo calma. 

Repousei o copo de plástico na mesa e olhei para a maca posicionada no meio do quarto. Ben continuava lá, quieto e indiferente, rodeado por tubos e máquinas, parecia que ele havia apenas caído no sono, no meio das páginas de algum livro. Mas a verdade era bem mais cruel do que isso, o enorme curativo na parte de trás de sua cabeça, comprovava. 

Suspirei, esfregando uma mão na outra, aquele lugar era muito frio, parecia mais que eu estava em Arendelle no inverno do que em Auradon no meio do verão. Fui até Ben e o cobri mais com o cobertor, me certificando de que ele não passasse frio. Seu rosto estava tão sereno que me fez sorrir e passar meus dedos por seu queixo. Eu precisava, desesperadamente, que ele acordasse. 

— Mal? - ouvi uma voz familiar chamar, me virei e encontrei Evie com a porta do quarto entreaberta, segurando na maçaneta - Como ele está? 

— Estável - respondi, o que a fez entrar no quarto e andar até mim - o médico diz que aparentemente ele está bem, mas que só vai ter certeza quando ele acordar 

— Não é tão ruim, não é mesmo? 

— É... - suspirei - poderia ter sido pior se eu não estivesse lá 

— Ainda bem que estava 

Evie deu um meio sorriso e me abraçou, passando um pouco de conforto. Mas eu também sabia que a confusão lá em baixo não se resolveria sozinha e, se ela estava ali e não lá, é porque precisava de algo. 

— Mal... - ela iniciou - a população está preocupada, os repórteres estão sedentos por qualquer tipo de informação e... eu poderia até fazer, mas você como futura rainha...

— Tenho que fazer - conclui por ela

— Não precisa entrar em detalhes, ninguém tem que saber da acusação - Evie disse - apenas diga o básico, que Ben está estável e que assim que acordar e receber alta, voltará as atividades reais 

Fiz positivo com a cabeça, criando um discurso em minha mente e já me preparando para o que enfrentaria lá em baixo. 

 

Depois de descer alguns andares e caminhar por longos corredores, finalmente cheguei ao lado de fora do hospital. A rua estava repleta de repórteres com câmeras, filmadoras e microfones. Quando me viram a situação só ficou ainda pior, o tumulto se alastrou e todos gritavam meu nome ao mesmo tempo, minha cabeça girava de uma direção a outra, tentando olhar para todos. 

Uma enorme grade de ferro os segurava a poucos metros de mim, Evie me acompanhou até um pouco mais perto e todos fizeram silêncio para me escutar, tive que falar alto para que fosse ouvida. Tentei focar em apenas uma câmera, que estava bem a minha frente, ela tinha o símbolo que representa todos os reinos na lateral, certamente deveria ser da rede de televisão pública. 

Fechei os olhos e respirei fundo, tentando me lembrar de tudo que eu deveria ter aprendido nas aulas com a Fada Madrinha, mas foi inútil, eu não lembrava de praticamente nada. 

— Cidadãos da capital e de todos os reinos - iniciei - no fim da tarde de hoje o rei Benjamin sofreu um acidente enquanto visitava as instalações do subsolo da Auradon Prep, ele foi trago para o hospital e está estável - fiz uma pausa - mas alguns exames ainda precisam serem feitos, a estimativa é de que ele seja liberado amanhã bem cedo, para que volte as obrigações reais 

— Senhorita Mal! - um reporter gritou, me fazendo olhar para ele instintivamente - O que o rei Benjamin estava fazendo no subsolo da escola? 

— Como eu já disse, ele estava fazendo uma visita, queria se certificar de que as instalações ainda eram seguras para os alunos e, infelizmente, acabou descobrindo da pior maneira que não - menti - os alunos já foram retirados da área de risco e o local já está sendo reformado, em menos de uma semana tudo estará de volta ao normal 

— Mas por que o rei não mandou apenas os guardas? - outro perguntou 

— E por que ele levou dois de seus conselheiros juntos? - outro, mais atrás, gritou 

Eu não tinha resposta para aquilo porque em parte, eu não sabia, e em outra porque não podia dizer a verdade. Olhei para Evie e ela apenas mexeu os lábios, formando a palavra: "ignore". Respirei fundo e fiz exatamente isso. 

— Voltaremos em breve com mais informações sobre o estado de saúde do rei Benjamin - disse novamente a câmera em destaque, não me importando com as perguntas lançadas em minha direção - Peço a todos que mantenham a calma e mandem pensamentos positivos

Uma pequena e solitária lágrima escorreu pelo meu rosto, a qual limpei imediatamente. Malditos hormônios! 

— Como eu fui? - perguntei para Evie quando já estávamos dentro do hospital novamente 

— Maravilhosamente bem - ela respondeu com um sorriso, tentando me animar 

** Pensamentos da Audrey **

Senti minha cabeça pesar, como se estivesse carregando uma montanha inteira nela. Franzi a  testa e abri os olhos, minha visão era turva e eu não conseguia ver praticamente nada, demorou alguns segundos até que eu conseguisse distinguir as coisas ao meu redor. 

Eu estava em alguma espécie de galpão, tudo estava muito escuro, havia apenas uma fraca luz ao longe, escapando do que acreditei ser uma porta. Tentei me levantar e ir até lá, mas minhas mãos estavam presas as costas da cadeira na qual eu estava sentada, o que me desesperou e me fez tentar me libertar, mas era inútil, eu estava muito bem amarrada. 

Olhei melhor para o local e acabei vendo uma mesa ao meu lado direito, em cima dela havia um jarro marrom, aparentemente pesado. Estiquei meu pé até conseguir encostar a ponta do meu sapato na mesa, a chutando com toda minha força logo em seguida, fazendo o jarro cair no chão e se quebrar em vários pedaços, o que fez um grande barulho. 

A porta se abriu quase que imediatamente, o trinco bateu na parede de traz e a pessoa me olhou com raiva. A luz fraca invadiu o lugar e eu pude ver de quem se tratava, era o Harry, o mesmo que disse que me amava e que ficaríamos juntos para sempre, parece que ele quebrou a promessa. 

— Parece que você acordou - ele disse, mais olhando para o chão do que pra mim, parecia... envergonhado 

— Você me prendeu?! - gritei - Posso saber o porque?!

— Eu nunca segui minhas próprias ordens - Harry disse finalmente me olhando, mas soando ainda mais misterioso - por mim você nem sequer se meteria nisso, mas ela disse que era necessário... disse que era única maneira de quebrar a barreira 

— Mas eu pensei que ela já estivesse do lado de fora - disse franzindo a testa 

—  E está - ele respondeu - nossa intenção nunca foi tornar você rainha Audrey, mas você acreditou tão fácil... e eu preciso tanto quebrar aquela barreira

— Espera - o interrompi - quebrar? Você pretende trazer todos pra cá? O que quer? Uma vida melhor para os habitantes da Ilha? É sério isso?! 

— É extremamente sério! - ele gritou, sua voz reverberando por toda a pequena sala

— Achei que você fosse diferente - eu disse, tentando toca-lo de alguma maneira - mas parece que eu me enganei 

— Não princesa... - ele disse com um sorriso que mais parecia de dor - você nunca me conheceu se verdade. E sabe por que? Por que você nunca soube o que é passar fome, nunca soube o que é o que dormir sem jantar e sem saber se vai conseguir tomar café no dia seguinte - seu olhar era firme e fixo no meu - você nunca soube o que é ter medo, medo de perder alguém que você ama profundamente, ama tanto que o seu peito dói, só de pensar que essa pessoa pode estar sofrendo 

— Não é a Uma, não é? - perguntei em tom baixo, porém firme - Quem é? Quem é essa pessoa digna de tanto amor? 

Harry passou alguns segundos, que para mim mais pareceram horas, olhando para o vazio, perdido em pensamentos que eu jamais irei saber. Até que ele olhou para mim, para o fundo dos meus olhos, e eu pude sentir a dor dele. 

— Me desculpe por fazer isso - ele disse por fim, colocando a mão no bolso, o que me deixou apreensiva - mas por nossos filhos fazemos qualquer coisa 

E antes que eu pudesse raciocinar o que aquilo significava, Harry tirou um pano do bolso e pressionou contra o meu nariz. Eu me debati com todas as minhas forças, mas ele era bem mais forte, me segurou com uma das mãos e em poucos segundos, minha vista escureceu, eu senti meu corpo todo ficar mole e depois não senti mais nada. 

** Pensamentos do Ben **

— Ben!

Mal gritou em minha direção, sua expressão continha medo e suas mãos levantadas em minha direção pareciam irradiar algum tipo de magia, ela estava usando seus poderes. Mas antes que eu pudesse gritar para que ela saísse dali, para que saísse daquele lugar, algo atingiu minha nunca, me proporcionando uma dor tão intensa que meu corpo não foi capaz de aguentar, o que me fez desmaiar logo em seguida. 

Um clarão me atingiu, tão forte que me fez fechar os olhos, depois foi diminuindo, até que eu pudesse olhar ao redor e enxergar onde estava. Se tratava de um enorme campo, coberto por uma grama verde queimada, com algumas flores e grãos de trigo. O céu era extremamente azul e tinhas apenas algumas nuvens, espalhadas aqui e ali. Tudo era lindo. 

Não sabia exatamente onde estava ou como havia ido parar ali, mas tinha a certeza que, de alguma forma, estava seguro. Respirei fundo e comecei a caminhar, minha mão roçando na grama alta e o sol me atingindo graciosamente, se fazendo ser sentido em todos os meus poros. 

Até que, bem ao longe, enxerguei uma pessoa se mexendo entre a grama. Me aproximei sorrateiramente, para não assusta-la, até que quando cheguei perto o suficiente, percebi que se tratava de um garoto, que brincava com a pequena plantação de trigo. Seu cabelo era loiro escuro, quase da mesma cor do trigo com o qual brincava. 

Quando ele percebeu minha presença, virou-se em minha direção e ficou me encarando, com uma postura tão segura que chegava a ser estranho, já que se tratava apenas de uma criança. No fundo, ele me lembrava alguém, me lembrava de mim mesmo, de alguma forma. 

— Oi garoto - tentei soar o mais amigável possível - sabe onde estamos? 

O menino me encarou por alguns segundos, depois apontou para o próprio peito, em seguida levou o dedo para a boca, o encostando nos lábios e fez negativo com a cabeça, como se quisesse me dizer alguma coisa. 

— Você não pode falar? - perguntei - Ou não pode? 

Dessa vez o garoto me deu um sorriso, tão radiante e inocente que fez meu coração derreter. Mas antes que eu pudesse perguntar o porque daquele sorriso, o mesmo clarão me atingiu novamente, me fazendo fechar os olhos na mesma hora, o garoto correu para mais dentro do campo e em não pude mais ver para onde ele foi, a luz era muito forte, o que me fez levar a mão até meus olhos, pois eu sentia como se eles estivessem queimando. 

— Não! - gritei, ainda com a mão nos olhos - Pare! 

— Ben... - ouvi uma voz familiar ao longe - Acorde! 

Abri os olhos e me sentei, meu peito sabia e descia com minha respiração ofegante e o suor pingava de minha testa, levei a mão ao rosto e o esfreguei, tentando me situar novamente. Eu estava em uma espécie de maca, em uma sala quase que inteiramente branca, haviam algumas flores e estava escuro lá fora. 

— Está tudo bem, você está bem - Mal disse segurando meu ombro e me fazendo deitar novamente, ela era a dona daquela voz, ela havia me trago de volta, seja lá onde for que eu estava 

— Você me trouxe de volta... - eu disse, minha voz se arrastando 

— Como? 

— O menino... ele não podia falar, ele não conseguia falar - contei 

— Você passou um tempo desacordado, deve ter sonhado com isso, não se preocupe, vou chamar um médico - ela disse, mas antes que desse o primeiro passo eu segurei seu pulso, a fazendo ficar 

— Não era pra você estar lá - eu disse, as memórias vinham pra mim em forma de flash's, muitos de uma vez - você deveria ter ficado em casa 

— E ainda bem que eu não fiquei - Mal disse - se eu não tivesse lá, Deus sabe o que teria acontecido com você - uma lágrima escorreu pelo rosto dela, o que me partiu o coração

— Me desculpe, eu não devia ter falado com você daquele jeito - disse, ainda segurando sua mão 

— Tá tudo bem, isso não importa agora. Eu vou chamar um médico, ok? 

Fiz positivo com a cabeça, permitindo que ela fosse. 

** Pensamentos da Mal ** 

O médico examinou Ben, fez perguntas e por fim disse que ele estava Ben, que apesar do desmaio tudo não passou de um grande susto. Eu o levei para casa com a ajuda de Evie, Jay e alguns guardas, agradeci aos meus amigos e liguei para os pais do Ben, que estavam em uma pequena viagem e que assim que souberam quiseram voltar, mas eu os assegurei de que não era necessário. 

Me deitei ao lado de Ben, em seu quarto, e tentei dormir, mas algo dentro de mim não me permitiu, eu sentia uma estranha sensação de que aquilo não havia acabado, pelo contrário, havia apenas começado. 

Ao contrário de mim, Ben dormia tranqüilamente, o médico deu alguns remédios para ele e me disse que com certeza ele só acordaria no outro dia, o que me tranquilizou um pouco para tentar descansar, mas aquela estranha sensação continuava, me impedindo até de cochilar. 

Levantei da cama e fui até o banheiro, o do Ben era ainda maior que o meu, lavei meu rosto e me olhei no espelho por alguns segundos, dizendo para mim mesma que estava tudo bem, que aquele sentimentos era apenas coisa da minha cabeça, que Ben estava seguro. 

Respirei fundo e sequei meu rosto com uma toalha, desliguei a luz e, quando estava prestes a voltar para cama, vi um vulto balançar as enormes cortinas da janela, que estava aberta. Meu coração gelou e eu paralisei ao ver a silhueta de uma pessoa, mas antes que eu fizesse qualquer coisa, reconheci quem era. 

Carlos estava parado próximo a cortina, ele olhava diretamente para mim, mas de alguma forma parecia que olhava para o vazio. Ele estava usando as mesmas roupas de quando desapareceu, mas algo havia mudado nele, não era mais o mesmo. 

— Carlos? - perguntei em um tom baixo, para não acordar o Ben - Onde estava todo esse tempo? Estávamos preocupados 

Eles continuou me encarando, parado, quase como se estivesse congelado. O único movimento que fez foi franzir a testa, achei que ele fosse até falar alguma coisa, mas continuou calado. Era como se ele estivesse... preso, como se alguém o estivesse mandando e ele estivesse decidindo se obedeceria ou não. 

— O que está fazendo aqui? - perguntei, tentando fazer com que ele falasse alguma coisa 

Carlos fechou os olhos e balançou a cabeça, como se quisesse expulsar algumas coisa dali d dentro, depois voltou a me encarar, só que dessa vez de uma forma diferente, um olhar que continha medo, era ele de novo. 

— O que aconteceu com o Ben não é nada comparado ao que estar por vir - ele disse em um tom firme, quase como se forçasse a própria voz a sair - Uma e Harry tem um exército, eles pegaram Audrey e eu, eles planejam coisas horríveis, querem matar você e o Ben

— O que? - perguntei assustada - Do que você tá falando? 

— Uma quer vingança - ele disse - precisam de preparar, seu povo precisa de você Mal 

— Ainda não são meu povo - relutei 

— Mas logo serão - Carlos disse, suas mãos cerradas, suas veias pulsando - você precisava ir até o bosque que fica depois da Auradon Prep, precisa contar a eles sobre os planos de Uma para que juntos vocês possam deter ela 

— Eles? Quem são eles? 

— Saberá quando chegar lá - ele respondeu - mas pra isso você precisará ir sozinha, caso o contrário, todos nós iremos morrer 

— Mas... 

— Não conte que me viu aqui, isso só pioraria tudo - ele me interrompeu - prometo fazer o possível para ajudar. A magia dela é forte, mas a sua é muito mais 

Antes que eu dissesse alguma coisa, Carlos pulou da janela e desapareceu na calada da noite, fiquei surpresa não só com sua visita inesperada, mas com o fato de que ele não se machucou pulando daquela altura. E o que diabos ele disse? Uma tem um exercito? Ela planeja nos matar? E quem são eles? 


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