Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 14
Um Segredo Revelado


Notas iniciais do capítulo

Os comentários surtiram efeito e eu fiquei muitoooo inspirada em escrever mais, por isso já estou postando hoje. Muito obrigada por todo o apoio!



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— O nome dele era Joseph - ela disse antes de cair no choro novamente

Ver minha mãe naquela situação, tão frágil e assustada, como nunca antes eu a vi, me partia o coração. Mas eu precisava saber mais, uma vida inteira de segredos já foi o bastante e agora a vida dela depende disso. Passei a mão em seu rosto, secando as suas lágrimas.

— Diaval me disse que esse... segredo - olhei para ele, antes de voltar a atenção para ela novamente - essa história, ou o que quer que seja, pode ajudar no julgamento, pode ser a única coisa que vai te salvar e...

— Não! - ela me interrompeu com a voz firme - Eu não vou ficar aqui o suficiente para esse julgamento

— Vai fugir? É isso que vai fazer?! - eu disse me levantando

Malévola olhou para mim com surpresa, depois direcionou o olhar para Diaval.

— É, foi ele quem me contou - eu falei - como eu já disse, ele tá me ajudando

— Seu...

Malévola tentou avançar nele novamente, mas dessa vez eu fui mais rápida, entrando na frente dela primeiro. Na hora senti meus olhos ficarem verdes e vi os dela também ficarem, o meu poder começou a se mover mais rapidamente dentro de mim, eu sabia o que ela queria fazer, passei minha vida inteira nessa brincadeira, mas agora era diferente.

Forcei meu poder para que se concentrasse, senti meus olhos ficarem mais e mais verdes, podia sentir o sangue fervendo, até que o brilho dos dela começou a ficar mais fraco e até falhar, voltando para o tom natural.

— Eu não tenho mais cinco anos - disse por fim, sentindo os meus olhos também voltarem ao normal - e não pense que essa história de fuga dará certo, farei tudo que for preciso para mante-la aqui dentro

— Está contra mim agora?

— Pelo contrário, faço isso pelo seu próprio bem - eu disse em um tom firme - agora me diga, quem era esse Joseph

Vi o semblante dela passar de sério para emocionalmente abalado em segundos. Droga, essa história realmente mexe com ela, mas não adianta, dessa vez ela não vai fazer o que quer. Malévola respirou fundo e sentou-se novamente no banco, seus olhos marejaram e ela me chamou com a mão, para que eu me aproximasse.

Ajoelhei aos seus pés novamente, exatamente como quando eu era pequena, claro que em circunstâncias bem diferentes, mas me remeteu à época. Malévola os dedos pelo rosto delicadamente, desde a minha testa até o meu queixo. Ela deu um pequeno sorriso antes de fazer um leve movimento na mão e lançar uma fumaça verde em minha direção.

Eu fechei os olhos e tentei me proteger. Ela seria capaz de me machucar? Mas eu não senti nenhuma dor e, quando abri os olhos novamente, o que vi foi bem diferente. Era como se eu tivesse feito o feitiço que me levou até Auradon novamente, com a diferença de que eu não tinha dito uma palavra.

A primeira diferença que senti foi no olfato, uma brisa fria, porém aconchegante, invadiu meus pulmões, um cheiro forte de natureza. Quando abri meus olhos, pude observar que meus pés tocavam uma grama verde escura e espessa, olhei ao redor e me vi rodeada de arbustos e pequenas árvores.

O sol estava forte e me aquecia ao mesmo tempo que iluminava o local estranhamente deserto, parecia que estava dentro de uma floresta. Até que o silêncio foi cortado por um barulho de ao longe, folhas secas e gravetos sendo esmagados, alguém se aproximava. Tentei ver quem era, forçando a vista o mais longe que conseguia, mas eu só ouvia o barulho, se aproximando mais e mais.

Quando eu já estava ficando um pouco nervosa, me vendo encurralada por lago que não conseguia enxergar, o barulho simplesmente parou. Mas antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, um riso de criança ecoou por todo o lugar, quando me virei, encontrei um menino a minha frente, me encarando.

A criança não tinha mais do que cinco anos e me olhava com curiosidade. Ele estava usando um macacão antigo e parcialmente rasgado, seus olhos eram tão verdes quanto os meus e ele usava um chapéu de fazendeiro, que era mais do que sua cabeça. Mas, por mais estranho que tudo aquilo parecesse, eu sentia como se já o conhece, como se, de alguma forma, ele fizesse parte da minha vida.

Mas, antes que eu dissesse um "oi" ou um "tudo bem?", escutei um grito vindo de dentro da mata, outra criança veio correndo e tocou no ombro da primeira.

— Tá com você! - ele gritou

O outro, que antes me olhava com atenção, sorriu e começou a correr atrás deste último. Logo mais outras três crianças apareceram, todas correndo umas atrás das outras, entre elas havia apenas uma menina, ela usava um vestido branco, visivelmente feito a mão.

Tudo aquilo começou a fazer menos sentido ainda. Para onde minha mãe havia me mandado? Eu tentei falar com aquelas crianças, cheguei até a gritar para que elas parassem de correr, mas a cada tentativa elas corriam mais e e riam mais alto ainda.

Eu comecei a ficar com falta de ar e sentia que iria desmaiar a qualquer momento. Foi quando a única menina do grupo tropeçou em uma pedra enquanto corria, ela acabou ralando o joelho e saia muito sangue, a pequena começou a chorar desesperadamente.

Eu tentei ajudar, mas novamente eles não ligaram para o que eu falava, foi quando percebi que, na verdade, eles não podiam me ver ou me escutar. Um dos meninos, o primeiro que eu vi, correu até ela e tentou ajuda-la.

— É por isso que meninas não devem brincar disso! - um outro gritou

— Porque que meninas não podem? - o pequeno de chapéu indagou - é por que ela já ganhou de você na corrida das pontes?

Todos os outros começaram a rir e eu meio que, eu sei que é estranho, mas eu me senti orgulhosa do menino, da forma como ele defendeu a menina. Até que um adulto finalmente apareceu na cena.

— O que aconteceu? - uma mulher de cabelos ruivos, usando um vestido amarelo que ia até os calcanhares, perguntou ajoelhando-se perto da menina

— Nós estávamos brincando e ela escorregou - o pequeno de chapéu explicou - foi um acidente

A mulher agradeceu o menino antes de levar a menina, que acreditei ser sua filha, em seus braços, as duas logo sumiram de vista.

— Vamos continuar? - um dos meninos perguntou

— Eu não posso - o de chapéu disse - minha mãe já deve estar me esperando. Vejo vocês amanhã!

O pequeno menino de olhos verdes levantou-se e saiu correndo, e por algum motivo eu senti vontade de segui-lo. Tive que correr para conseguir acompanha-lo, mas não o perdi de vista, quando dei por mim nós já estávamos em uma pequena vila, ainda rodeada por arbustos e árvores.

Muitas pessoas caminhavam por uma ruazinha central, feita de pequenas pedras. Algumas mulheres carregavam baldes de madeira, crianças corriam brincando, alguns homens caminhavam com o que parecia ser feno, nos braços. Algumas carroças rústicas também passavam ao longe. Parecia mais que eu tinha sido transportada para outra época.

Todas as casas eram feitas de pedras e tocos de madeira, se alinhavam uma a lado da outra, ao longo da larga rua. O que eu presumi que seria um poço, de telhado vermelho, estava rodeado por pessoas, que formavam uma fila organizada, todos com baldes e recipientes nas mãos.

Haviam algumas lojas também, uma delas parecia ser uma pequena mercearia e outra a direita claramente se tratava de um bar, com uma salva azul de um xerife com chapéu enorme. Quando finalmente lembrei do menino que eu estava seguindo, ele já estava um pouco longe de mim, correndo para o fim da rua, apressei o passo para acompanha-lo, passando por entre as pessoas sem ser notada.

Quando eu já não aguentava mais correr, ele parou diante de uma pequena casa, simples e com uma porta frágil de madeira. O menino vasculho um pequeno vaso de planta, próximo a entrada, como se procurasse alguma coisa na terra.

Um homem de cabelos claros, usando uma blusa remendada e botas velhas, esgueirou-se pelo muro e aproximou-se do garoto sorrateiramente, mas, por mais que eu quisesse alerta-lo, ele não me escutaria. O homem pegou o menino no colo e o ergueu no alto, depois começou a fazer cosquinhas nele, arrancando uma gargalhada gostosa.

— Você tava procurando a chave? Era isso que tava procurando? - o homem perguntou rindo

— Para papai! Para! - o menino gritava em meio as risadas

Meu coração se acalmou na hora, o homem era pai dele, não o faria nenhum mau, pelo contrário, eles pareciam ter uma relação muito forte e bonita, uma coisa realmente muito linda de se ver. Eu nem percebi, mas estava sorrindo e até rindo junto com eles.

Mas aquela sensação boa e aconchegante não durou muito tempo, minha visão ficou turva e eu quase cai no chão, levei a mão ao rosto, mas uma dor forte atingiu minha cabeça. Cerrei os dentes e fechei os olhos, ela passou rapidamente e quando abri os olhos, já me encontrava em um lugar diferente. Mas o que estava acontecendo?!

Eu estava no meio de uma pequena plantação de milho, o sol estava se pondo ao longe e a minha frente, estava o mesmo menino de antes. Mas dessa vez ele não me encarava, estava concentrado enquanto capinava. Ainda usava o mesmo chapéu, mas ao contrário de antes, este agora cabia perfeitamente em sua cabeça. Ele havia crescido.

Mas ele ainda me fazia sentir a mesma estranha sensação, como se eu já o conhecesse, como se fôssemos amigos. Agora o garoto estava com nove ou dez anos e os mesmos olhos verdes, mas agora seu cabelo estava um pouco maior, os fios eram loiros escuros.

Eu estava tão concentrada nele, tão focada em seus traços, que não percebi o que acontecia a minha volta. Até que eu ouvi um estrondo alto próximo dali, tomei um susto e coloquei a mão nos ouvidos, alguns pássaros voaram depressa do que parecia ser um velho celeiro.

O menino olhou para o local com preocupação, sua respiração estava visivelmente alterada e ele estava assustado. O pequeno largou a enxada no chão e correu na direção do local, foi quando eu percebi que o barulho, na verdade tinha sido um tiro.

Corri na direção do local também, até mais rápido do que o menino, uma preocupação enorme me atingia, mas quando tentei abrir as portas do celeiro, minhas mãos simplesmente atravessaram, como se eu fosse um fantasma, não conseguia mover nada. O menino continuou agindo como se eu não estivesse ali e abriu a enorme porta com um pouco de dificuldade.

Quando entramos meus olhos arregalaram-se, o feno que cobria o chão estava coberto de sangue, os animais estavam todos mortos e, ao centro de tudo, se encontrava um homem estirado no chão, com os olhos abertos e uma expressão vazia, ele estava morto. O menino correu na direção dele aos prantos.

— Papai! Papai! - ele gritava

Mas antes que ele conseguisse ao menos se aproximar do pai, um outro homem, que não tinha visto antes, segurou ele pelos braços, fortemente, o impedindo de ir até o pai. Uma raiva repentina me atingiu e eu tive vontade de mata-lo ali mesmo, mas eu não conseguia fazer nada, não conseguia sequer tocar em alguma coisa.

— Você quer o seu pai? É isso que você quer garoto?! - o homem, que tinha um charuto na boca, perguntou

— O meu pai! Por favor! Papai! - o menino gritava e chorava, soluçando

Aquela cena fez meu coração ficar pequeno, tudo aquilo me machucava aos poucos, eu sentia vontade de chorar, mas nenhuma lágrima vinha, uma sensação horrível que me sufocava e o pior, eu não conseguia fazer nada parar aquilo.

— Tudo bem - o homem disse - você vai ficar com o seu pai

O homem jogou o menino em cima do corpo do pai com uma brutalidade horrível, depois ele sacou uma arma e apontou para a cabeça da criança, eu gritei e tentei impedi-lo, mas ele não me escuta e nem me via.

A única coisa que pode ser ouvida a seguir foi o disparo da arma, o tiro acertou a testa do garoto e atravessou toda sua cabeça, saindo o outro lado e atingindo o corpo do pai morto no chão. Eu gritei e me ajoelhei no chão, as lágrimas finalmente chegaram, e eu me derramei nelas.

Antes de cair em cima do corpo do pai, completamente sem vida, o menino olhou fixamente para mim, como se pudesse me ver, seus lábios sussurraram as suas últimas palavras.

— Mamãe... - ele disse, antes de cair para trás, completamente sem vida

Minha testa franziu com aquela frase, mas logo percebi que ele não estava olhando para mim e sim para alguém que estava atrás de mim. Uma mulher jovem, alta e de cabelos incrivelmente loiros, olhava para a cena os olhos arregalados, ela correu até o menino e começou a chorar, o abraçando, chorava tanto que soluçava.

Ela beijou o rosto do menino diversas vezes, passando a mão por seus cabelos, na esperança de que ele acordasse, mas ele não o fez.

— Meu filho, meu pequeno... - ela dizia entre soluços - meu Joseph...

Foi quando eu percebi que aquela era mãe dele e que aquele era Joseph, aquele era o "lazarento" de quem o rei Stefan havia falado. A mulher logo percebeu o outro corpo em baixo do filho e deu um grito repleto de dor e sofrimento, ela o agarrou pela gola da camisa e lhe deu um beijo, depois repouso a cabeça e seu ombro, enquanto ainda abraçava o filho e sussurrava:

— Meu amor... meus meninos...

O homem que atirara no menino a puxou pelo vestido, que estava sujo de sangue, a pós de pé e segurou firme em seu braço, deixando as marcas de seus dedos.

— Isso é para você aprender a não desrespeitar o futuro rei Stefan!

Ele gritou, antes de joga-la com toda força contra o chão repleto de sangue e feno. Nesse momento eu olhei para o homem com mais concentração e percebi que, mesmo muitos anos mais novo, aquele era o próprio Stefan. Sem as roupas repletas de ouro ou uma coroa, mas era ele.

— E pensar que você rejeitou um rei para ficar com um lenhador - ele disse com desdém - agora vai aprender a fazer o que te mandam fazer

Tudo estava se encaixando, de uma forma confusa e profundamente dolorosa, que me ardia o peito e me queimava por dentro. Aqueles eram os próprios "Lenhador" e "Lazarento", mas por que? Por que Stefan fez uma coisa dessas?! A dor terrível me perfurava de dentro para fora, agora eu chorava tanto quanto a mulher.

— Por que?! - a mulher gritou entre soluços - Por que fez isso com eles?! - ela chorava descontroladamente

Depois de alguns segundos de silêncio, o homem calado e a mulher olhando para o marido e o filho mortos em seus braços, ela se pronunciou novamente, dessa vez, um pedido de suplica.

— Me mate! - ela gritou - Me mate agora!

— Não! - o homem gritou mais alto - Você merece viver com essa dor!

A mulher apenas voltou a chorar, enquanto balbuciava algumas coisas que eu não escutei, ela passava a mão pelos cabelos loiros e repletos de sangue do menino e beijava o rosto do marido diversas vezes. A dor a consumindo pouco a pouco, a dor de saber que nunca mais veria os dois com vida, nunca mais sentiria o cheiro do filho ao chegar em casa do trabalho, nunca mais sentiria o gosto quente e acalentador do beijo do marido todas as manhãs, nunca mais os veria sorrindo ou brincando. Agora a plantação permaneceria quieta e morreria aos poucos, o seu pequeno cuidador havia partido.

Stefan guardou sua arma e saiu do celeiro a passos brutos, passando bem próximo a mim. Nesse momento eu olhei para a mulher ajoelhada no chão, que agora parecia ter entrado em estado de choque. Não precisei olhar por muito tempo, alguns anos mais nova é claro, mas os olhos verdes só comprovaram, aquela era minha mãe.

— Por favor - ela disse em uma voz arrastada - por favor...

Todo aquele sofrimento me consumiu, eu não conseguia mais continuar vendo toda aquela tristeza, meu peito ardia e minha respiração começou a ficar mais pesada, não conseguia mais puxar o ar para dentro dos meus pulmões, sentia que iria desmaiar a qualquer momento. Fechei os olhos e cerrei os dentes, ainda podia escutar os gritos de sofrimento daquela mulher, da minha mãe.

Então eu uni todas as forças que me restavam para gritar:

— Para!

— Tá tudo bem - escutei uma vis me acalmar, mas ainda não tinha coragem de abrir os olhos - tá tudo bem amor, você tá de volta

Reconheci a voz e abri os olhos instintivamente, minha mãe estava a minha frente, ainda sentada no banco de concreto, ela limpava as lágrimas do rosto e eu olhava tudo ao redor, tentando entender o que havia acontecido. Eu estava de volta a cela da penitenciária, Diaval ainda estava lá também, me olhando com preocupação.

Foi quando percebi que, na verdade, eu nunca havia deixado aquela cela, aquilo tudo foi apenas uma lembrança, uma terrível lembrança do passado de minha mãe, ela apenas me permitiu vivencia-la através da magia.

Respirei fundo, deixando o ar entrar nos pulmões, levantei do chão e olhei Malévola seriamente.

— O que foi isso? - perguntei 

** Pensamentos do Ben **

Terminei o almoço ao mesmo tempo que terminava de responder uma das milhares de cartas que recebi só naquela manhã. Ainda faltavam milhares de cartas, mas as leria depois pois naquele momento tinha outros compromissos para resolver. 

Bebi o último gole de suco, limpei a boca em guardanapo e saí do escritório. Acabei encontrando Lumière enquanto caminhava para o estacionamento, ele estava lendo o jornal sentado em uma das poltronas da sala. 

— Olá Lumière— disse, estendendo a mão para cumprimenta-lo - como vai? 

— Eu vou bem Benjamin - ele respondeu com um sorriso, dobrando o jornal e se levantando - aonde vai com tanta pressa? 

— Vou a escola de ensino médio resolver alguns assuntos pendentes com a Fada Madrinha e receber um aluno novo 

— É bom ver você assim sabe, cheio de compromissos e honrando um a um. Lembro de você pequenininho, correndo por esses corredores e se escondendo atrás das cortinas, deixando sua mãe louca de preocupação - nós dois rimos 

— Você sempre esteve aqui não é Lumière? Tanto para mim quanto para o meu pai - refleti 

— E pretendo continuar por todo o tempo que o universo me permitir, somos uma família 

— E eu te garanto que ainda ficará por muito tempo meu amigo - coloquei a mão e seu ombro - ainda conhecerá os meus filhos, pode ter certeza 

Ele sorriu com minhas palavras e eu o abracei, depois nos despedimos e eu corri para a garagem, já estava parcialmente atrasado. Recusei o motorista, que já me esperava na entrada, e resolvi eu mesmo ir dirigindo até a escola, eu gosto, faz com que eu deixe minha mente relaxar. 

Quando cheguei a escola deixei o carro no estacionamento e fui caminhando até a entrada, Jane já me espera lá com sua fiel prancheta em mãos, eu suspirei, mas deixei que ela visse apenas meu sorriso, enquanto ia até ela. 

— Olá Jane - disse carinhosamente - o aluno novo já chegou ou devo falar com sua mãe primeiro

— Na verdade a Fada Madrinha ainda está ocupada com um problema, mas o aluno novo já chegou, ele deve estar na ala do dormitórios masculinos 

— Problema? - perguntei 

— Não deve de ser nada, se fosse algo serio vossa Majestade não tem com o que se preocupar 

— Ok, então eu vou a procura do... - quando me virei, para caminhar até os dormitórios - acabei esbarrando em um dos alunos que passavam por ali - me desculpe, eu... eu não tinha lhe visto ai 

Eu me desculpei, segurando nos ombros da menina a minha frente. Mas quando olhei para ela direito, percebi que já era mais uma menina, ela deveria ter quase a mesma idade que eu. Seus olhos eram escuros e seu olhar era intenso, seus cabelos eram longos e castanhos. Ela estava com uma mochila nas costas e riu da forma desajeitada como eu me desculpei. 

— Tá tudo bem, Majestade - ela disse com um sorriso, fazendo uma reverência, a qual retribui de imediato, também rindo 

— Esta é a princesa Isabel - Jane disse se aproximando de nós dois - ela é filha da rainha Rapunzel e o do Rei Flyn 

— Ah sim, sua mãe me falou sobre sua escolha de vir cursar o último ano aqui na capital, mas recebo tantas cartas que havia esquecido, me desculpe 

— A decisão foi realmente repentina, por isso não tinha lhe avisa antes Majestade - Jane disse - agora temos dois alunos novos no último ano 

— Pelo menos não serei a única novata - Isabel comentou 

— De vez em quando eu venho a escola para palestras ou eventos, qualquer problema ou dúvida você pode falar com a Jane, com a Fada Madrinha ou com um dos inspetores, se for preciso eles entraram em contato comigo imediatamente - eu disse com um sorriso - sua mãe pediu para que eu ficasse de olho em você 

— É... - Isabel riu sem graça - ás vezes ela é um pouco super protetora demais 

— Quero se sinta acolhida na escola, não tenho medo ou vergonha de perguntar qualquer coisa. Seja bem-vinda 

— Obrigada Majestade - Isabel agradeceu fazendo uma pequena reverência, antes de se retirar

Nem percebi que Jane havia se afastado um pouco e estava falando ao telefone, pelo seu semblante não pareciam serem notícias boas. Esperei que ela terminasse para falar, mas nem sequer foi precioso, ela já veio até mim com um semblante preocupado. 

— O outro aluno terá que esperar - ela disse

— Por que? O que aconteceu? 

— Acabaram de me informar que o livro da Mal, que estava no museu... foi roubado 

— Roubado?! 

** Pensamentos da Mal **

Malévola começou a chorar novamente e, por mais que aquilo me machucasse por dentro, precisava saber a verdade. 

— Era você? - perguntei - Nessa lembrança, era você não era? 

— Sim - ela disse por fim 

Passei as mãos pelo rosto, tentando colocar todos os pensamentos no lugar. Aquilo era impossível, tinha que ser. Respirei fundo. 

— Esse menino, Joseph... você o chamou de "meu filho" - eu disse, enquanto lágrimas escorriam dos olhos dela - quem ele era mãe? 

— O Joseph... - Malévola disse com uma voz falha - ele era seu irmão 

Senti meus batimentos aumentarem, minha respiração também acelerou. Então era por isso que eu sentia como se já o conhecesse, por que ele era meu irmão! Tão pequeno, tão indefeso... 

— Stefan o matou - ela disse em tom firme, falar sobre aquilo a machucava imensamente - assim como matou o pai dele 

— O lenhador? - perguntei 

— O nome dele era Antonie, nós éramos casados - Malévola voltou a chorar - isso já foi a tanto tempo... 

Me ajoelhei novamente ao seu pés e coloquei minha mão em seu joelho, praticamente suplicando. 

— Por favor mãe - implorei - me conta 

Malévola respirou fundo, tentando se recompor, aguarde alguns segundos até que ela estivesse pronto para falar e, quando estava, o que ela me contou me deixou com mais raiva de Stefan do que eu já estava, se é que isso é possível. 

— Eu tinha vinte e cinco anos na época - ela começou a explicar - eu e Antonie nos apaixonamos quando ainda éramos adolescentes, eu engravidei aos dezesseis anos e então, ele me pediu em casamento - lágrimas solitárias escorriam pelo seu rosto enquanto ela contava - nós tínhamos muito, quase nada para ser exata, mas nós tínhamos o amor, eu o amava mais do que tudo na vida - ela deu um sorriso triste enquanto falava isso - nove meses depois eu dei a um luz menino lindo, de cabelos loiros e olhos verdes, muito parecido com você - Malévola disse, encostando os dedos em meu queixo - nós éramos muito felizes, tiníamos pouco, mas para nós o Joseph era tudo

Malévola suspirou e abaixou o olhar, eu fiz um carinho em seu joelho, a encorajando a continuar. Eu estava perplexa diante de toda aquela história porque, de certa forma, era minha história também. 

— Mas a felicidade, não durou muito tempo - ela continuou - um certo dia, quando eu estava voltando do lago onde as mulheres da vila lavavam as roupas, feliz porque Antonie e Joseph já deviam estar me esperando em casa, fui surpreendida por Stefan, ele sempre gostou de mim, desde que éramos crianças crianças, mas eu nunca gostei dele, ele sempre foi uma pessoa invejosa e impiedosa, se achava melhor do que todos. Ele tentou encostar em mim, passou a mão em minha cintura e quando já estava quase chegando perto dos meus seios, eu o empurrei - Malévola ficou visivelmente mais abalada nessa parte, mas eu continuei a encorajando - ele acabou escorregando e batendo a cabeça em uma pedra, ele ficou furioso, me deu um tapa tão forte que me fez cair no chão, sujando toda a roupa que eu carregava de terra, e ele jurou que eu me arrependeria por tê-lo rejeitado 

— E o que aconteceu? - perguntei apreensiva 

— O que você viu, ele fez com que eu me arrepende-se 

Eu levantei, sem conseguir acreditar em tudo aquilo, estava com tanta raiva que poderia matar aquele velho doente o mais lentamente possível, enforca-lo com minhas próprias mãos ou envenena-lo e vê-lo agonizar até a morte. 

— Mas porque não usou magia e o matou de uma vez?! - indaguei 

— Eu não tinha poderes! - Malévola explicou - Não percebe Mal? Eu só entrei no mundo da magia para tentar acabar com a minha dor, mas tudo que ela fez foi enterra-la em mais fundo no meu coração - ela disse com firmeza, olhando no fundo dos meus olhos - Stefan se dizia rei, mas era tão pobre quanto qualquer um daquela vila 

— Co... como assim? Ele não estava na linha de sucessão? 

— Stefan não é e nem nunca foi da família real, ele era filho de um açougueiro miserável e de uma lavadeira

— Isso não é possível, como ele se tornou rei então? - perguntei 

— Ele lutou muito para fazer parte da guarda real e acabou conseguindo, passou a ganhar bem e a ser respeitado diante da sociedade, mas ele queria mais, queria tomar o lugar do rei 

— E como ele fez isso? 

— Com magia - Malévola respondeu - por que acha que agora ele está tão velho e doente que mau consegue levantar sozinho? Toda magia tem seu preço - ela deu uma pausa - e eu estou pagando o meu 

— Meu Deus, isso é loucura... - disse para mim mesma 

— O que faremos agora pequena? - Diaval finalmente se pronunciou, tocando meu ombro delicadamente 

Passei alguns segundos em silêncio, racionando o mais rápido que meu cérebro conseguia, tentando decidir quais seriam os meus próximos passos, tentando descobrir qual seria o plano agora. Tudo havia virado de cabeça para baixo, porém, tudo nunca esteve tão claro para mim. 

— Agora - disse por fim - acabaremos com a raça do Stefan 


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam? Surpreendi a todos? Modéstia á parte, isso é o que eu faço de melhor >< O que acharam da história da Malévola e o que acham que a Mal vai fazer a respeito? O que acharam da nova personagem? A princesa Isabel? Comentem tudo aqui em baixo, beijos e até a próxima!



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