P.O.V Narrador On – Barbara

“Era muita coisa para processar em tão pouco tempo.”, pensou Bárbara quando tirou seu casaco ao chegar em casa naquela noite.  Parecia que sua mente acumulou mais perguntas  do que conseguiu encontrar as respostas . De manhã ,  a sua única pergunta fora  :

— Onde está o meu filho , Toby?

A resposta era  fácil de conseguir. O menino não tinha uma boca moldada para guardar segredos . Ele mostrou  a cidade dos Trolls , que existia embaixo da cidade de Arcádia , moldada em atender as necessidades daquelas criaturas de pedra,  ocultos para  os humanos como ela . E disse sobre as responsabilidades que seu filho teve que assumir como o Caçador de Trolls  . Aquela resposta  assustou a médica , que começou a imaginar seu filho nas terras sombrias passando frio , ficando com fome e em apuros. Enquanto imaginava o seu filho em perigo , a médica ficou  trêmula e não soube o que responder,   mas Clara interveio  : 

—Não se preocupe senhora Lake, tenho certeza que seu filho irá voltar. Algum dia! - disse  confiante e com esperança .

Bárbara tentou não mostrar a sua reação de choque ao ouvir à verdade. Cabisbaixa, fitava o chão da entrada . Sentindo se recordar de ter visto aquelas luzes da Cidade Troll  antes ,  mas foi quando mesmo?

....

Calada e cabisbaixa , subiu as escadas e  foi em direção ao banheiro. Depois que seu marido se fora com a  amante, Bárbara acabara apenas com  o seu filho Jim de seis anos  ,  enchendo a casa de pequenos momentos de alegria  . Mas por que ainda se sentia solitária?

Sentada na banheira , com os joelhos dobrados e a cabeça encostada , a mulher permaneceu imóvel  olhando para a lua branca e brilhante, parecendo sondar o seu coração e, de repente, se encheu de uma coragem completamente desconhecida.

—Então, preciso fazer o que o meu coração mais quer!

Finalmente , Bárbara sentia  que vislumbrava a natureza dos seus sentimentos. A solidão era uma sensação semelhante ao silêncio, desagradável demais de suportar por longo tempo – e isso invadiu o seu ser por se sentir insatisfeita pela sua vida incompleta .

“ Eu não quero mais sentir isso!”

Queria desesperadamente alguém que a conhecesse melhor do que ninguém, que a amparasse , em quem pudesse confiar .  Ah, como queria vê-lo outra vez! 

“ – Barbara , eu ...

— Não fale comigo. Você é a única coisa que eu quero esquecer.”

Bárbara cobriu os olhos com as mãos lembrando do rosto triste dele, quando disse essas palavras crueis .

—N...não devia ter dito  isso! – gritou chorando , os ombros sendo sacudidos por soluços .

Repentinamente Bárbara se  enxugou , vestiu seu roupão , calçou os seus chinelos e  pegou o telefone da cômoda , e digitou o único número que veio em sua mente.

Quando ela escutou a voz dele falando para deixar o recado na caixa postal ...

 “Nossa , como sentia saudade em  ouvir sua voz ... Única e rouca como a de um lobo.”

 Resolveu deixar recado .

 - Walter, sou eu , a Bárbara . –Suspirou . – Sei que faz um tempo que a gente não se fala.  Me desculpe  por ter  agido precipitada com você . E posso imaginar o quão  difícil é esquecer o que eu disse... me desculpe. Imagino que eu te causei muita dor quando disse tudo aquilo . Escute, eu li a sua carta. Ela foi a coisa mais linda que já li em minha vida! –Novas lágrimas brotaram de seus olhos enquanto segurava o telefone. Mais um suspiro- Será que podemos  marcar um dia  para nos encontrarmos e tentar começar de novo? Bom ...  É isso. Um beijo  e vou ficar esperando a sua resposta. Tchau!

Bárbara colocou o telefone de volta na cômoda , resolveu fazer um chá  e afastou- se do telefone rapidamente, antes que se arrependesse do que havia feito.

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P.O.V Narrador On -  Walter

—Ai! – gritou a menina ao sentir o choque da água quente tocando a pele dos seus pés.

Maria procurou se acalmar. Engoliu a saliva , procurou  respirar com regularidade e tentou pensar com clareza.

— Você foi exigente demais com os seus pés , e olha o que aconteceu.  – disse Walter enquanto despejava uma chaleira de água quente na bacia onde estavam os pés da menina.

Depois de ter esvaziado a chaleira ,Walter voltou a ter sua atenção a menina. As  suas mãos ásperas  deslizaram massageando os seus pés cansados com um ungüento mágico. Os pés inchados e cheios de bolhas pararam de doer . Maria ficara espantada com aquilo, enquanto olhava para ele de cima,sentada numa cadeira .  A massagem e o unguento deu uma sensação agradável e de bem – estar.  Sentiu -se completamente boba e agradecida por aquele cuidado . Maria queria retribuir aquele gesto de alguma forma. Foi quando começou acariciar os cabelos dele.

Ele levantou o olhar  espantado com aquela demonstração de  afeto.

“Nem o Jovem Atlas fizera algo assim,” não pode deixar de pensar nisso.

— Se sente melhor agora ? – perguntou ele sentindo –se envergonhado .

Walter se levantou ,  enxugou as suas mãos  enquanto  olhava  para  as suas prateleiras de livros , com intenção de acalmar os pensamentos.

—Sim. – disse ela com um sorriso.

Pegou um pano e começou a tirar o pó dos livros. Sua cabeça fervilhava de expectativa em relação a Bárbara e perguntas sobre a menina misteriosa .

“ Há quanto tempo essa menina viveu sozinha neste mundo escuro ? O que Bárbara fará quando ler a carta? Será que Jim vai encontrar a carta antes da mãe dele e irá escondê-la ?”

— O senhor deveria estar feliz. Foi um ato de muita coragem expressar os seus sentimentos em uma carta tão bonita e singela para a mulher que você ama , sabia ?!  - exclamou , animada e fazendo Walter despertar dos seus pensamentos.  – Eu deixei a carta  debaixo da porta da casa dela.

Walter soltou um suspiro.

— Fiz isso porque  você me  motivou a  agir dessa maneira.

Não sabia se devia contar a sua história para  Maria, mas sentiu necessidade de se abrir.  Então contou um resumo dela.

— Ela é uma médica muito dedicada e ocupada, e seu filho invadiu um museu da cidade . Foi quando ela resolveu me agradecer chamando para jantar ou retirar o apêndice . Escolhi a opção mais obvia que era um jantar. E nesse jantar , foram acontecendo outros encontros  e no final eu me apaixonei por ela. Eu acabei envolvendo –a nos problemas do filho e nos meus.

— E o que aconteceu ?

Ele hesitou.

— Ela resolveu terminar comigo.

Houve uma pausa . Maria teve medo de falar. O silêncio se prolongou . Ao cabo de mais um tempo ele se virou para a menina com uma expressão séria.

— Diga alguma coisa!

— Que desagradável .

Ela se aproximou dele e pegou em sua mão.

— Não sei ao certo o que estou sentindo. – ele disse, hesitante . -Não tenho certeza se sei direito o que é o amor porque sou um monstro por completo.

Ela encostou seu rosto no braço dele. Walter começou a sentir as suas inseguranças sobre o mundo e as pessoas.

— Então você não vai estar sozinho porque eu também não sei.

Walter  se sentiu  muito cansado e andou em direção à cama.

Assim que se aconchegou , ele ficou  aturdido ao ver a menina deitada no chão gelado, e  controlando –se com dificuldade, disse com uma voz gentil:

— Venha dormir aqui do meu lado!  Está muito frio hoje.

Maria levou o maior susto, mas se levantou do chão e lentamente andou até a cama. Timidamente , Maria se inclinou sobre a cama e se acomodou  nos cobertores , sentindo a sensação gostosa e aconchegante.

— Muito obrigada por dividir isto comigo. Boa noite, Strickler.

— Que Sandman dê bons sonhos para você , pequena criança.

Assim que Walter começou a roncar , completamente entregue  no mundo dos sonhos , a menina se  aconchegou em seu corpo e abraçando –o . Tinha lágrimas caindo de seus olhos  e uma expressão melancólica .

—E que você também tenha sonhos abençoados  de alegria e luz .  - disse num cochicho.