Recomeçar escrita por Flower


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

ENTÃO! Eu disse a vocês que sempre que surgisse um feriado voltaria a escrever para vocês, não foi? Então estou aqui cumprindo com minha palavra, mas antes de postar o capítulo, tenho que fazer alguns agradecimentos.

Agradeço primeiramente aos comentários fofos que recebi! Irei respondê-los assim que postar o capítulo. Obrigada por permanecerem comigo, vocês são extremamente lindas.

Agradeço também as pessoas que favoritaram a história, isso me dá um gás inexplicável, então... Obrigada.

Agradeço, claro, com muito amor no coração a nova recomendação! Marcia Veloso, não sabe o quanto é confortante as suas palavras, obrigada por estar gostando da história. ENTÃO, hoje o capítulo vai em sua homenagem minha linda. ♥.♥

Marcia, por mais que seja um capítulo um pouco triste... Saiba que é muito significante, vai ser importante para os próximos.

Sem mais delongas, boa leitura. ♥



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Um mês depois...

Oliver Queen

            — Sua mensagem está sendo encaminhada para a Caixa Postal e estará sujeita a cobrança após o sinal.

Meu coração está com as batidas tão aceleradas que eu poderia senti-lo querer escapar pela minha boca. As minhas mãos sobre o volante estão trêmulas deixando a direção do carro desalinhada.

            — Você precisa atender meu amor...

Me disperso do caminho por leves segundos para discar novamente o número de Felicity quando a buzina de um caminhão me assusta com seu som estrondeante, trazendo-me de novo para direção de meu carro.

            — Sua mensagem está sendo encaminhada para a Caixa Postal e estará sujeita a cobrança após o sinal.

            — Felicity, eu preciso que você me encontre no Hospital de Starling assim que ouvir essa mensagem, por favor!

A minha voz está estremecida, assim como as bases de meus pés que formigam em resposta ao meu estado de choque. Apenas em alguns segundos fui capaz de ultrapassar todos os sinais de trânsito somente para não perder de vista a ambulância que está em alta velocidade a minha frente.

Finalizo a ligação assim que estaciono a Mercedes de qualquer maneira sobre uma das vagas do estacionamento do Hospital de Starling. Eu não estou preocupado se fechei as portas ou se estacionei em uma vaga apropriada, todos meus sinais em alerta estão dirigidos àquela ambulância onde está William.

            — O senhor precisa se afastar, estamos tentando estabilizá-lo.

Diz apreensivo um dos paramédicos que parece inflar um balão de oxigênio diretamente na boca de William que permanece desacordado.

            — É o meu filho, eu preciso saber o que está acontecendo!

            — Senhor Queen!

A voz feminina de Evelyn surge por de trás de mim chamando minha atenção.

            — Evelyn, você precisa me dizer o que está de fato acontecendo com o meu garoto! — minha voz está embaraçada.

            — Eu não sei... Estava colocando William para a escola quando percebi que sua gengiva estava sangrando, pensei ser por alguma ferida, mas não era...

Seus olhos estão avermelhados como de alguém que chorou por certo tempo.

            — William... — respiro fundo, voltando minha atenção para meu pequeno que está sendo transferido pelos paramédicos para uma maca.

            — Eu tentei coloca-lo para deitar um pouco, mas ele reclamou que estava sentindo aquelas dores no corpo como da ultima vez, e então desmaiou! Desculpe senhor Queen...

Ela desaba em lágrimas aproximando seu corpo do meu em um abraço apertado.

            — Minha querida, a culpa não é sua.

Medo.

O maior medo de um pai não é sobre o futuro de seu filho, se ele vai seguir uma profissão de prestígio ou os passos de seu pai.

Não é sobre o time beisebol que escolherá vibrar em um dia de domingo, muito menos se irá se apaixonar por garotas ou garotos.

Nada disso importa quando sua vida está em risco.

Neste momento me sinto em uma montanha russa sem o sinto de segurança pronto para cair de cabeça pelo abismo. Além de todos meus sentidos aguçados, não consigo deixar de pensar em como Samantha estaria se estivesse aqui comigo, como ela reagiria em saber que talvez eu tenha sido um pai relapso, que não acompanhei William da forma adequada e por isso deixei com que as coisas chegassem a essa ponto.

Será que trabalhei demais? Ou me preocupei mais com meus problemas emocionais do que com meu filho? Deveria ter levado àquelas febres a sério, deveria ter mais cautela com suas dores no corpo repentinas e até mesmo com os comentários de minha mãe quando me dizia que o garoto estava pálido, mas em minha defesa, eu acreditava que aqueles sinais eram apenas de uma criança ativa como William é. Até seus hematomas que surgiam em suas pernas, para mim eram de suas quedas durante as peripécias que sempre estava envolvido.

Mas e se não forem algo simples de criança? E se realmente for algo grave?

Não vou me perdoar.

            — Oliver Queen?

Um dos paramédicos chama pelo meu nome com uma prancheta em mãos.

            — Conseguiram chegar a algum parecer sobre William?

            — O menino está estabilizado, no momento foi encaminhado para a ala pediátrica. Estou com sua ficha, você poderia ir até a recepção preenche-la?

Pego a prancheta de sua mão. — Eu só preciso saber se é algo grave... Qualquer coisa!

            — Não sabemos de mais nada até o momento, ele está em boas mãos na pediatria... Recebemos outro chamado e precisamos ir, boa sorte com o seu garoto senhor Queen.

Assinto com a cabeça, ainda fortemente angustiado, à medida que chego a recepção sou abordado por Sara Lance, pediatra particular de William.

            — Oliver!

            — Sara...

Deixo com que ela me envolva em seus braços em um abraço.

            — William está meramente bem, não sabemos ainda a causa de seu desmaio e também sobre o sangue nas gengivas que Evelyn relatou aos paramédicos, mas descobriremos ainda essa noite.

            — Você acha que possa ser algo grave? William sempre fez seus exames e parecia tão saudável!

            — Tenho algumas suspeitas em mente, mas não poderei confirmar nada agora sem antes ver os resultados dos exames em que está sendo submetido. Peço apenas que tenha calma!

            Respiro fundo. — Eu posso ao menos vê-lo?

            — Como eu disse Ollie, William está sendo submetido a exames e não poderá receber visitas até que se termine tudo... Apenas tente ficar calmo.

Sua mão se eleva até meu peito, fazendo um leve massagear pelo local.

            — Eu não consigo ficar calmo.

            — Entendo perfeitamente, porém tente pelo Will. — o aparelho que está preso em sua cintura começa apitar de repente. — Preciso voltar agora, qualquer coisa entrarei imediatamente em contato com você.

Ela pisca para mim destilando um sorriso breve antes de iniciar sua retirada.

Olho para Evelyn que está sentada em um dos bancos próximos a recepção, ela está tão devastada quanto eu, a diferença é que estou tentando manter-me como uma rocha para não desabar.

            — Ele ficará bem, princesa.

Sento ao seu lado, segurando em suas mãos.

            — A culpa é minha, Senhor Queen.

            — Não... A culpa não é sua. As crianças costumam passar mal, parece que vem em seu manual de funcionamento. — tento forçar um ar mais leve.

É difícil demais ter que se manter forte em uma situação dessas em que só gostaria de desabar em um colo acolhedor. Por um lado, tenho que segurar as lágrimas que batem à parede de meus olhos para que possam ser liberadas, por outro lado eu só gostaria de sentir Felicity aqui comigo, de tê-la em meus braços para que eu possa então permitir que essas lágrimas venham a cair, que eu não precise ser o único forte, que eu apenas receba seu conforto.

            — Ele vai ficar bem?

Evelyn levanta sua cabeça dirigindo seu olhar doce para mim.

            — Minha querida, essa é a minha única certeza. — acomodo-me melhor sobre a cadeira, podendo ter mais contato com Evelyn. — Preciso que você vá para casa e descanse um pouco.

            — Mas o senhor ficará sozinho?

            — Eu vou ficar bem.

Ela faz um sinal positivo com a cabeça, dando-me um casto beijo em uma de minhas bochechas antes de partir.

Agora, sozinho nesse frio que está entre os corredores do Hospital, permito que as lágrimas deslizem pelo meu rosto, meu coração permanece angustiado como se a mesma sensação de perda que senti no dia da morte de Samantha esteja voltando a rondar meus sentidos. Eu não consigo mensurar o quanto estou amedrontado, porque simplesmente não aguentaria passar por essa mesma dor. William representa uma parte de mim, é sangue de meu sangue, cerca de quase quatro anos dediquei minha vida a ele! Tê-lo nessa situação em que não posso escutar sua voz ou sentir sua mãozinha segurando a minha é de partir literalmente meu coração.

            — Oliver!

            A voz de Felicity me socorre de meus devaneios, e somente sua voz é capaz de me trazer de volta alguma esperança.

            — Meu amor...

Levanto da cadeira em que estou sentado quando sinto seu corpo bater contra o meu em um forte abraço. Seus lábios passeiam por meu rosto salgado pelas lágrimas, e mesmo que ela não saiba o que está acontecendo sou capaz de perceber que está transferindo minha dor para si com a finalidade de me deixar mais leve.

            — O que houve?

Felicity afasta um pouco nossas cabeças para olhar em meus olhos que aposto estarem sombrios.

            — William! — abaixo minha cabeça.

            — Você precisa olhar para mim e contar o que de fato está acontecendo, Oliver.

Seu dedo indicador levanta a ponta de meu queixo novamente direcionando meus olhos para ela.

            — Eu não sei o que aconteceu, Evelyn chamou a ambulância para William que estava com sangue nas gengivas e desacordado, eu somente corri para cá.

            — Não se sabe nada pelos médicos?

            — Sara disse que só poderá dizer algo concreto com os resultados dos exames.  

            — Hey... — suas mãos seguram fortemente meu maxilar fazendo com que meus olhos não fujam dos seus novamente. — William ficará bem, ele é um rapazinho forte, o mais forte que conheço... Mas não me surpreende, ele puxou a sua força. Então, independente do que aconteça a ele você não vai estar sozinho!

            — Nunca aconteceu nada parecido com William como dessa vez, eu só tenho medo que ele tenha o mesmo fim que Samantha...

Sou interrompido pela foz embargada de Felicity.

            — Querido, isso não vai acontecer. Samantha foi uma vencedora, ela te deu um dos seus bens mais preciosos... A vida não vai cometer o mesmo erro com William!

            — Como pode ter tanta certeza?

Minha voz está rouca e as lágrimas continuam a descer como a nascente de um rio.

            — A única certeza que eu tenho é o amor que eu sinto por você e por William, e não há nada nessa vida que consiga superar isso. E se depender de mim, esse amor vai servir de cura para tudo que William precisar!

            — Você é a minha força.

            — Você está enganado... Pois somos a força um do outro.

Sua voz é tão suave que me remete a melodia soada de uma caixinha de música em que uma bailarina fica girando em seu centro com toda sua doçura, tendo o poder de no momento me acalmar.

            — Meu querido!

A voz de Moira Queen surge por trás de nós, fazendo com que eu desvie minha atenção de Felicity por breves segundos.

            — Mãe.

Deixo que os braços quentes e reconhecidos de minha mãe envolvam meu corpo, apertando-me contra o seu. Antes que eu possa dizer algo, sou capaz de ouvir seus soluços ao pé de meu ouvido, o que não me surpreende. Moira nunca conseguiu segurar suas emoções, sempre que brigava com papai por alguma banalidade qualquer, deixava com que as lágrimas escorressem pelas suas bochechas coradas, na maioria das vezes, elas eram resultado de puro drama. Lágrimas que conseguiam fazer Robert Queen ficar de joelhos clamando por seu perdão, mas agora tendo minha mãe tão sensível ao meu redor, sei que suas lágrimas não são dramáticas, elas são apenas a resposta da preocupação que está tomando conta de sua estrutura.

            — Sua mãe não aguentou ficar esperando por algum resultado em casa.

Meu pai sussurra próximo a mim à medida que acaricia meu ombro tentando me acalentar. Sua voz é fria como uma noite de inverno, mas isso não significa que ele não esteja se sentindo tão assustado e temeroso quanto nós, a verdade é que ele se mantém como uma rocha para não nos colocar em pânico, foi com ele que aprendi a não desabar.

            — Mamãe eu disse que seria melhor aguardar em casa...

            — Moira está certa, Oliver. Nesse momento é melhor que fiquemos juntos.

Felicity volta entrelaçar seus dedos aos meus, deixando com que eu sinta seu calor.

            — Eu não iria conseguir prender essa mulher em casa... Com certeza ela ligaria para a polícia de Starling alegando que eu estaria a mantendo em cárcere privado.

A piada de meu pai consegue nos tirar uma breve risada.

            — Ele não está brincando. Ninguém iria fazer com que eu ficasse longe de meu neto, eu preciso saber o que está acontecendo!

            — Sei que não faz sentido pedir calma em um momento como esse, mas se tem algo que aprendi com minha mãe é que não podemos deixar com que o medo tome conta de nós, em situações como essas é importante que pensemos positivo.

Felicity novamente surge como nosso grilo falante tentando nos mostrar um caminho menos sombrio a se caminhar, e eu não sei como lidaria nessa situação sem sua motivação por perto. Ela apenas mostra com mais vigor o quanto faz parte de minha vida, o quanto que posso contar com ela para todos os momentos, qualquer circunstancia, porque sua mão suave e quente vai estar segurando a minha.

            — Você tem toda razão, não podemos nos desesperar sem ao menos saber o que o meu neto tem.

Meu pai concorda com Felicity, mais uma vez buscando se manter em seu eixo.

            — Obrigado por estarem aqui comigo, eu não conseguiria sem o apoio de cada um de vocês.

Minha mãe assente com a cabeça indo para o lado de meu pai que a abraça. Enquanto que eu me mantenho em pé ao lado de Felicity que assente com a cabeça para o que digo.

E agora, só temos um ao outro e a insegurança mesclada ao medo vão nos acompanhar até o momento em que os resultados desses malditos exames saírem.

~~~

            — Oliver Jonas Queen.

Um enfermeiro chama pelo meu nome na recepção, fazendo-me levantar de imediato.

            — Sim!

            — A doutora Sara Lance está esperando por você em seu consultório. Segundo andar, ala 21.

Seguro a mão de Felicity a trazendo comigo.

            — Você vem comigo?

            — Não seria melhor que seus pais o acompanhasse? — ela pergunta pouco receosa.

            — Oliver precisa de você, minha flor. Estaremos aqui esperando por notícias positivas.

Minha mãe conforta Felicity que sorri com sua resposta.

Caminhamos com certa pressa até o consultório de Sara que se encontra com a porta entreaberta a nossa espera. Ela emite um sorriso de soslaio a me ver, assim que entro por completo juntamente com Felicity, deparo-me com Laurel sentada em um pequeno sofá ao fundo, parecendo analisar com cautela algumas folhas em suas mãos.

            — Peço desculpas por fazer vocês esperarem até agora! — Sara olha em seu relógio. — Está um pouquinho tarde.

            — As horas se arrastaram, estou ansioso.

Felicity corre seu olhar até Laurel estudando seu território, aconchegando seus braços aos meus que estão cruzados rigidamente.

            — Eu vou pedir que vocês se sentem, temos que conversar.

            Respiro fundo. — Não vou me sentar, só preciso saber o que está acontecendo com William.

            — Meu amor... Sara tem razão, vamos nos sentar e ouvir com calma o que ela tem a nos dizer.

Uma de suas mãos desfaz meus braços cruzados, levando-me para a poltrona em frente à mesa de Sara que nos espera. Meneio a cabeça em reprovação, mas cedo ao pedido ao seu pedido, mas a realidade é que quando seus lábios deixam escapar as palavras Meu amor, ela consegue tudo o que quer de mim.

            — Agora será que podemos ir direto ao assunto?

Cruzo minhas mãos sobre a mesa, segurando meu nervosismo. Agora que estou próximo de saber o que levou William a esse estado, todos os meus medos e insegurança voltaram a angustiar meu peito, ao mesmo tempo em que estou querendo que Sara cuspa o resultado dos exames, tenho receio do que isso possa causar a mim e ao meu garoto.

            — Eu preciso fazer algumas perguntas, tudo bem?

Assinto com a cabeça de forma inquieta.

            — William costumava sentir essas dores no corpo com muita frequência?

            — Que eu saiba só foram duas vezes, apenas duas vezes.

            Ela relata em sua prancheta. — E a febre? Ela é recente ou também é recorrente?

            — Agora que meu filho parece estar doente, acredito que esses quadros febris sejam recorrentes, mas eu pensava ser coisa de criança.

            — Tudo bem. — ela volta a preencher sua folha, e faz um sinal positivo para Laurel que se levanta a nossa esquerda.

            — Ollie...

Felicity atenta a tudo o que está sendo dito à medida que sente a aproximação de Laurel, aperta minhas mãos sobre as suas, puxando-as para si. Eu poderia apostar que seus olhos reviraram pela forma íntima que Laurel me chamou, se esse momento não fosse tão trágico, eu iria me divertir com suas demonstrações de ciúmes.

            Laurel continua. — Assim que os resultados de William saíram, Sara me ligou e pediu que eu viesse até o hospital para analisa-los.

            — E a que conclusão chegaram? — Felicity consegue ser mais rápida que eu ao perguntar.

            — O exame de sangue de William apresentou as plaquetas muito abaixo dos valores de referência, mas o que me chamou bastante atenção foram os glóbulos brancos extremamente baixos.

            — O que você está querendo dizer?

Meus batimentos cardíacos estão descompensados, minha boca entreabre para buscar um pouco de ar fresco.

            — Segundo o resultado do exame, mais os sinais clínicos relatados... É quase certo que William esteja com Leucemia Linfóide Aguda.

Bloqueio minha respiração por cerca de alguns segundos, nesse momento, meus neurônios estão unindo todas as informações despejadas sobre mim. Eu posso ser leigo em relação à medicina, mas não sou ignorante o bastante para saber o que essa doença significa.

Câncer.

William está com câncer.

O meu menino que até ontem estava correndo pela casa esbanjando saúde agora se encontra em uma cama de hospital sendo diagnosticado com câncer. Eu posso ouvir sua vozinha soar ao pé de meu ouvido pedindo pela sua música favorita para pegar ao sono ou até mesmo sua risada depois de uma guerra de cócegas.

Meu coração está ainda mais apertado, como se quisesse me fazer acordar de um pesadelo, isso seria um pesadelo? Estou em um universo paralelo onde nada que acabei de ouvir seja verdade? Eu preciso ouvir que isso é mentira, que meu filho não está com uma doença dessas, ele é apenas uma criança frágil que não sabe nada sobre a vida, ele não merece passar por um desafio desses, por uma porra de doença dessas.

            — Isso não pode ser verdade!

Levanto da poltrona que estou, passando minhas mãos pela cabeça, minha voz está gritante, eu só consigo respirar de forma rápida e superficial, como se acabasse de correr uma maratona.

            — Oliver.

A voz de Felicity é alta, ela está tentando me tirar da escuridão que insiste em me levar consigo.

            — Ollie, eu preciso que você me escute com atenção... — Laurel se aproxima de mim, trazendo meus braços pra si.

            Seguro os braços de Laurel com certa força. — Você precisa dizer que William não está com câncer, você precisa dizer.

            — William está com câncer, a LLA é a que mais acomete crianças... Mas isso não é o fim do mundo, Ollie! A medicina está a muitos passos de nós, e a LLA tem cura, você precisa acreditar.

            As lágrimas descem pelo meu rosto sem que eu tenha total controle sobre elas. — Isso não é real. — afasto-me de seu corpo dando leves passos para trás até que sou travado pela parede.

Felicity levanta de sua poltrona vindo em minha direção, eu não consigo enxergar nada além de um total breu ao meu redor. Ao se aproximar por completo de mim, suas mãos seguram meu maxilar com propriedade, trazendo-me de volta para ela como um anjo em meio a uma guerra. Seus olhos estão atentos aos meus, mas eles brilham.

O mundo está caindo ao meu redor, talvez tudo por minha culpa, mas o olhar de Felicity permanece sem nenhum vestígio de escuridão, eles ainda são um azul tão transparente que eu gostaria de mergulhar sobre eles. Não consigo entender porque eles ainda estão assim, cheios de tanta fé.

            — Você precisa ter fé!

Ela une sua testa a minha, deixando com que minhas lágrimas também molhem seu rosto angelical.

Mas ela disse ? Isso não existe para mim.

            Mexo a cabeça em sinal negativo. — Eu não consigo.

            — Nada está acabado até que tenha um fim. — sua mão penetra pelo interior de minha jaqueta procurando meu peito, onde massageia lentamente.

            — Samantha teve um fim.

            Felicity mexe meu rosto de um lado para o outro buscando por meu olhar, eu poderia dizer que a tenho como um colete de salva-vidas frente a um mar estressado de uma noite em tempestade. — Olha para mim. Você confia em mim?

            Respondo com um sinal positivo.

            Felicity continua. — Então você vai acreditar em mim e no que as doutoras têm para dizer. Eu não vou sair do seu lado, eu vou viver a sua dor até que ela vá embora... Eu vou resgatar a fé que você acha ter sido levada pela morte de Samantha! William precisa de você bem, você precisa ser um pai forte para ele, só não deixe essa escuridão te levar, por favor!

E suas palavras conseguem me resgatar da tempestade, elas estão servindo como um cilindro de oxigênio e uma bomba de glicose, permitindo que eu dê uma chance a mim mesmo de ser forte para meu filho, porque como ela me disse um pouco mais cedo, somos a força um do outro e nesse momento eu preciso mostrar isso a William.

            Limpo as lágrimas que ainda escorrem, dando um pigarreio. — Você disse que tem cura? — desvio minha atenção para Laurel.

            — Sim, a LLA é “comum” em crianças. Se seguirmos o tratamento adequadamente poderemos reverter o quadro.

            — Eu já li sobre essa doença em um documentário, William entrará em uma fila de transplantes? — Felicity pergunta mantendo sua mão em meu peito.

            — A fila de transplante é muito concorrida, mas colocaremos os dados de William no sistema para que ele concorra às células tronco! — Laurel a responde com cautela.

            — Eu posso ser doador? — pergunto eufórico.

            — Infelizmente a mãe é quem tem mais chance de ser compatível com o tipo de tecido de William, por isso que em casos de transplantes as células maternas podem ser uma solução, porém... — Laurel respira fundo abaixando a cabeça.

            Samantha. A única chance de ter William curado era sua mãe, eu faria de tudo para que ela estivesse no meu lugar, talvez sua presença fosse a solução, seria mais útil tê-la ao seu lado do que eu.

            — Merda! Isso é uma grande merda. — exclamo desesperado.

            — Irmãos também tendem a ser compatíveis, mas como William é filho único não temos muito para onde correr... Mas eu conversei com Sara e vamos todas nos submeter ao teste de compatibilidade, nesse momento é importante apostar em todas as possibilidades. — Laurel sorri de soslaio.

            — Eu também vou me submeter a esse teste, eu sou pai de William!

            Felicity volta a me alcançar com seu olhar salvador parecendo um pouco menos preocupada comigo que aos poucos vou conseguindo me restabelecer.

            — Todos nós vamos fazer esse teste, como Laurel disse, precisamos apostar que dê certo!

Ela sorri para mim, e seu sorriso consegue me arrancar um suspiro pesado em resposta, aliviando meu peito ainda mais em saber que posso contar com sua presença para tudo o que precisar, que realmente fazemos parte de um time.

            — E além do teste de compatibilidade, iremos iniciar amanhã mesmo a quimioterapia. — Laurel continua.

            — Quimioterapia?

Pergunto assustado, geralmente esses procedimentos costumam ser fortes demais. William é apenas uma criança, ainda um bebê para mim. Tenho medo que isso possa ser muito agressivo para seu organismo, que ele possa corresponder negativamente ao tratamento.

            — Exato. Mas não se assuste, eu como pediatra particular de William sei de todas as suas restrições! O coquetel irá ser preparado de acordo com todas elas. — Sara explica.

            — Poderia ver o meu garoto?

            — Claro, William está acordado esperando para ter alta!

            Sara torna a me responder.

            — Ah, Ollie... Sara e eu achamos melhor enviar uma enfermeira para cuidar de William durante as sessões de quimioterapia, caso ele fique um pouco debilitado. — Laurel entrega as folhas de exame nas mãos de Sara, aproximando-se de mim.

            — Acha que Evelyn não dará conta de William?

Evelyn sempre foi uma presença importante a meu filho, eu diria que há um laço de amizade muito grande entre os dois, seria um erro separá-los nesse momento em que ele precisará de todos que o amam ao seu lado.

            — Evelyn poderá continuar ao lado de William sem problemas, mas a presença de uma enfermeira é ideal. — Laurel continua. — Como eu te conheço dos pés a cabeça... Sei como é desconfiado com as pessoas, então eu tratei de chamar Raisa para cuidar de Will.

Arrepio levemente com o tom de Laurel para comigo, insinuando-se mesmo com tudo desabando ao nosso redor, porém eu não poderia esperar o contrário. Ela não deixaria de mostrar a Felicity que me conhece intimamente. Chamar Raisa, a enfermeira que cuidou de mim por toda minha adolescência é usa-la como um soco na boca do estômago de Felicity.

            — Será melhor assim, meu amor... Laurel parece saber muito bem o que está dizendo. Evelyn permanecerá ao lado de William como sua babá.

Para minha surpresa a mulher que está ao meu lado dando-me total apoio parece ignorar completamente o veneno destilado por Laurel. Não vou mentir, isso é uma das qualidades que me faz entender o porquê de ser tão apaixonado, ela simplesmente é indiferente a qualquer besteira que saia da boca de Laurel, pois temos algo que é muito mais importante no momento do que ciúmes, William.

            — Sendo assim, tudo bem. Agora, será que eu poderia ver o meu filho?

Eu já estou impaciente com tamanha espera, não aguento mais ficar longe do meu pequeno.

            — A enfermeira Beatrice vai leva-lo até o quarto de William. Ah, você quer que eu avise a família sobre o que está acontecendo? — Sara se manifesta.

            Eu deveria ser o responsável por dizer a meus pais o que de fato está acontecendo a William, mas a minha vontade de tê-lo em meus braços em um abraço forte supera essa responsabilidade. Sei que também não aguentaria ver minha mãe desabando em lágrimas assim como eu quando ouvi a mesma notícia por Laurel, isso parece fraco de minha parte, porém eu prefiro que seja dessa forma.

            — Sara? Diga a minha mãe que vá para casa, eu levarei William para lá assim que ele receber alta! Ela passou muito tempo aqui a espera dos resultados dos exames, não quero que ela fique debilitada.

            — Tudo bem, farei isso. — Sara avista a enfermeira pela porta. — Beatrice, leve Oliver ao quarto de William, certo?

A enfermeira acata sua ordem.

            — Ollie... Como oncologista do Will pode acreditar que farei de tudo para que ele possa se recuperar. — Laurel aperta meu ombro levemente à medida que alcança Sara. — Irei ajudar a Sara com a notícia a seus pais.

            Respiro fundo. — Obrigado Laurel.

Assim que observo Sara e Laurel saindo, Felicity não perde a oportunidade de me arrancar uma risada remendando as palavras de Laurel em tom de ironia.

            — Farei de tudo para que ele possa se recuperar. — ela revira os olhos. — Por que mesmo nesse momento tão difícil ela insiste em arrastar as asas raquíticas dela para cima de você?

            Sorrio de sua cena de ciúmes. — Hey... Não se importe com isso. Você me acompanha com William?

            — É claro. — sua mão volta a se apertar contra a minha.

Somos então levados pela enfermeira Beatrice até o quarto em que William está. Ao entrarmos avisto meu garoto com alguns fios ligados em seu peito, além de um acesso em sua veia que me parece ser para hidrata-lo depois do susto que passou. O meu pequeno a me ver esbanja seu sorriso único, como se não estivesse sabendo de seu atual estado de saúde.

Vê-lo nessa forma em uma cama de hospital chega a me doer o coração. Meu moleque sempre foi muito ativo, amava jogar basebol quando o levava nos campos da cidade. Será que ele vai continuar o mesmo depois das sessões de quimioterapia? Será que eu vou permanecer o mesmo?

Isso me preocupa.

Não sei se sou tão forte quanto pareço. William precisará de mim mais do que tudo agora, eu só gostaria de dar o meu melhor a ele, ser forte o bastante para crer que ele possa vencer.

            — Amigão... — pigarreio tentando não transpassar minhas emoções. — Então você veio brincar de médico?

            — Papai... A gelatina é ruim.

Sua voz sonolenta me arranca um sorriso, e a vontade de chorar da um nó em minha garganta.

            — Concordo com você, pequeno. A gelatina é muito ruim. — Felicity senta à beira da cama, segurando a pequena mãozinha de William que a recebe com um sorriso.

            — Felicity!

É impressionante a ligação que William tem a Felicity.

No início achamos que seria muita informação ficarmos juntos tão rapidamente. Digo isso porque durante esse mês que passou, Felicity passou quase todas as noites conosco. Assistimos a filmes infantis quase todas as noites, ela o ensinou a mexer no celular como ninguém, e claro, dançou com ele antes de dormir, é lindo como ela o tinha em se colo enquanto rodopiava cantando uma de suas cantigas preferida.

A verdade é que William sente falta de uma presença feminina ao seu lado, talvez ele veja Felicity como sua melhor amiga, uma pessoa que ele possa contar. Da mesma forma que a vejo, a mulher que amo.

            — Você está bem? — pergunto, não segurando uma lágrima que insiste em deslizar.

            — Papai você está chorando? Vovô Robert disse que homens fortes não choram.

Sento-me ao lado de Felicity sobre a cama, tendo seu polegar secando a lágrima que escorreu, correspondo-a com um sorriso e logo me dirijo para William.

            — Não estou chorando, foi apenas um cisco. — tento disfarçar.

            — O vovô Robert talvez esteja um pouquinho errado... Os verdadeiros homens são aqueles que choram. Eles são os mais fortes.

            William forma uma ruguinha em seu cenho. — Então o papai pode chorar?

            — Sim, o papai pode chorar... Porque ele é forte.

            Sorrio com as palavras de Felicity, segurando a mão de William que está entrelaçada a dela. — Você acha que eu vou conseguir?

            — Você ainda tem alguma duvida sobre isso?

            — Eu vou lutar por ele, Felicity.

Felicity dá um leve impulso para frente, tocando de forma casta seus lábios nos meus, sorrindo à medida que assente com a cabeça concordando com minhas palavras. Ela brinca com a ponta de seu nariz no meu, fazendo um leve carinho permitindo com que eu possa sentir seu aroma floral.

            — Eu também quero!

A vozinha de William nos arranca uma risada.

            — Você quer um beijo? Meu amor... Ele também quer um beijo. Sabe o que isso significa? Que devemos acatar seu pedido.

Estamos rindo. Por incrível que pareça estamos sorrindo um para o outro.

À medida que Felicity começa a encher William de beijos e cosquinhas arrancando risadas gostosas e ingênuas eu apenas continuo parado os observando. Porque por mais que o mundo lá fora esteja caindo sobre nós, aqui dentro agora, eu só consigo enxergar as duas pessoas que mais amo em minha vida. E esse amor ele infla meu peito, resgatando a esperança que preciso para superar todos esses obstáculos.

Eu vou lutar pela saúde de William com todas as minhas forças, farei de tudo para tirá-lo dessa situação, porque eu sei que não estou sozinho.

Eu nunca estive.

O celular de Felicity vibra em sua bolsa, fazendo-a parar com as cócegas em William, ela observa o nome no visor e o ignora completamente, voltando com sua atenção para o pequeno que volta a se divertir.

            — Não era importante?

            — Curtis!

            — São assuntos da empresa, não acha que deva atender?

            — Oliver, eu vou passar as minhas responsabilidades para Ray. Eu quero ficar ao se lado e do lado do nosso pequeno.

A palavra ‘nosso’ arranca borboletas de meu estômago.

Estou pouco me importando se isso soou um pouco feminino demais. Sabem borboletas batendo asas na boca de seu estômago? Exatamente isso.

Felicity seria uma mãe maravilhosa. Que diabos estou usando a palavra no pretérito?

Ela vai ser uma mãe maravilhosa!

            — Nada disso! Eu vou me afastar e preciso de alguém que eu confie nas QC. Você vai me substituir. Conversarei hoje à noite com meu pai, quero que durante esse tempo você seja a nova diretora executiva das Indústrias Queen Consolidated.

            — Isso não é certo, eu disse a você que te daria força.

            — E você vai me dar forças todas as noites que passar assistindo desenhos com William mais uma vez. Todas as noites que dançar com ele em seu colo até que pegue no sono... Todas as noites que me permitir velar seu sono. Você já me dá forças há muito tempo.

Felicity morde seu lábio inferior respirando fundo ao ouvir minhas sinceras palavras. E não vou mentir, seu sorriso ilumina todo o quarto de hospital insosso e sem vida que estamos.

            — Eu já disse que te amo?

Ela volta a aproximar seu rosto do meu, seus olhos estão com um brilho ainda mais intenso.

            — O ano tem 365 dias, certo? Parece que você vai ter que me dizer isso por mais alguns dias... Meses ou anos.

            — Por toda a vida?

            — Por toda a vida.

Aproximo meu rosto do seu para um rápido beijo quando sou interrompido por William que nos abraça fortemente.

Eu gostaria de ter alguém fotografando esse momento, porque iria guarda-lo em um porta retrato para olhá-lo sempre que a escuridão quisesse me sucumbir, pois ela existe e vai querer me levar junto com ela assim que William demonstrar sua primeira fraqueza nessa imensa jornada que temos pela frente.

Mas não vou abaixar a cabeça, vou apenas procurar pelo olhar de Felicity que tem o poder de me reerguer.

Porque o seu amor me traz de volta.


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Notas finais do capítulo

AAAAH ESPERO QUE VOCÊS TENHAM GOSTADO.

Para quem tinha o palpite da doença só digo uma coisa, vocês são muito inteligentes, pqp! Adoroooo os palpites.

Volto a dizer que acontecerá coisas importantes nos próximos capítulo. Notícias novas, novos encontros, Oliver tentando superar a doença de William...

CHEGA DE SPOILLER. Espero vocês nos comentários. ♥♥



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