—Capitulo 3-

Dezembro, 1908, Residência Chase.

Os preparativos começaram cedo, Annabeth podia sentir o espartilho apertando suas costelas, lutava contra a vontade de morder os lábios, era sua mania desde criança. Podia sentir sua mãe a espetando com alfinetes enquanto dava ajustes de ultima hora no vestido de noiva. Annabeth sentia o ar lhe faltar e desconfiava que não fosse culpa do espartilho, ela olhava inquieta do buquê de flores que descansava na poltrona de seu quarto até as janelas que já exibiam o brilho da manhã, tudo parecia colaborar para um casamento perfeito menos a noiva. Sua mãe a olhava de esguelha e ela fingia não notar, a decisão que tomara era frágil como vidro, sentia que a qualquer momento tudo desabaria. Não confiara em Hera na noite anterior, amava sua avó, mas admitia que seus ideais já estavam ficando ultrapassados, as vezes comentava com sua mãe sobre a lucidez da mulher, mas sua mãe apenas dava uma risada divertida e garantia que ela estava mais lúcida do que jamais esteve, por isso hoje cedo perguntara a empregada que costumava atender as vizitas. Ela tinha um olhar assustado lembrou Annabeth, mas afirmou as palavras de sua avó, só então sua decisão se solidificara, contudo sentiu que havia algo errado com aquela historia, ou ela apenas queria achar um erro. Tinha vontade de desaparecer, voar para longe sem preocupações, como um pássaro livre, mas aquele casamento a prendia em pleno voo. E pássaros engaiolados não são felizes concluiu.

— Annabeth você esta linda filha. - disse sua mãe.- Olhe só como você cresceu! Tornou-se essa mulher tão linda.

— Mamãe a senhora amava o papai quando se casou? -perguntou em um murmúrio.

Ela pareceu um pouco surpresa visto que a filha não fazia esse tipo de pergunta. Só então como a mulher perspicaz que era percebeu onde a conversa chegaria.

—Não, eu não amei seu pai quando o vi. - lembrou com um sorriso. - Na verdade eu não gostava dele, era engomadinho demais para mim, eu achava que casamento não combinava comigo. Você sabe, eu era como você queria estudar e ser livre! Mas as coisas não eram assim tão fáceis, mas eu aprendi a amar seu pai com o tempo.

— Mãe a senhora achava que casamento não combinava com seus planos. Mas eu tenho certeza que eles não combinam com os meus, é so que o Percy... - não concluiu. - O Percy esta apaixonado por mim, e sabe quando eu me lembro das brincadeiras no final da tarde do lago que costumávamos ir aos fins de semana, aquele menino das minhas memórias eu não posso deixar que ele desapareça,  não quero ser a pessoa que matou o sorriso do meu melhor amigo. Nem que para isso eu tenha...

— Que ser infeliz nesse casamento? - interrompeu vendo Annabeth assentir. - Filha, eu consigo te entender e às vezes me culpo por ter combinado aquilo com a Sally éramos tão amigas que quando ela me contou que estava grávida eu queria que nossos filhos se casassem para que uníssemos as nossas famílias. Então quando você nasceu nos ficamos tão felizes, e ainda mais depois de ver você e Percy crescerem juntos se dando tão bem.

Annabeth tentou falar alguma coisa, mas sua mãe pediu silêncio com um aceno e continuou a falar com os olhos lacrimejando:

— Vocês não se desgrudavam, andavam para todos os lados juntos e nos pensamos que vocês realmente se amassem. E você ficou tão triste depois que ele foi a Londres que eu achei... você parecia feliz com o pedido. Mas agora percebo que seus sentimentos eram outros então acho que errei como mãe. Perdoe-me!

— Eu não tenho que perdoar nada mamãe, a senhora já me apoiou em tantos outros momentos, até enfrentou o papai para que eu pudesse estudar. - disse também emocionada. - Só tenho coisas a agradecer dona Atena! Eu vou me casar pelo Percy, farei isso pelo meu melhor amigo e no fim também vou poder retribuir o que fez por mim todos esses anos. Eu vou realizar seu sonho mamãe.

Nem que para isso tenha que sufocar os meus, concluiu mentalmente. Sua mãe a olhava emocionada, dando um abraço tão apertado que fez com que o ar faltasse nos seus pulmões.

— Vamos, você já esta atrasada demais. - viu a expressão dela então completou. - Até para uma noiva, vamos!

— Sim mamãe!- forçou um sorriso. - Vamos lá um casamento me espera.

Atena notou a áurea triste que a filha exibia então, durante todo o percurso até a igreja, pensou em como havia sido egoísta, logo ela que se considerava diferente da maioria. Mas então se lembrou dos sorrisos de duas crianças, a correria de mãos dadas e às brincadeiras, o modo como se protegiam. Por isso antes de começarem a tocar a marcha nupcial e sua filha a olhou insegura soube exatamente o que dizer:

— Talvez você aprenda a amá-lo. - disse em um sussurro antes de se acomodar no seu lugar no altar.

Viu como ambos haviam crescido quando Percy e Annabeth ficaram lado a lado ouvindo as palavras do padre. Olhou para Sally e compreendeu que as duas pensavam a mesma coisa naquele momento.

Seus filhos haviam crescido.

***

Percy estava nervoso, desde que acordará pensava na decisão que tomou durante a noite, na sua mente a ideia parecia vacilar como se a qualquer momento. Mas em seu coração a ideia parecia sólida como rocha. Ele só não sabia a quem deveria atender, por isso se lembrou das memórias que o prendiam a esse casamento. Já fora egoísta demais, já era hora de crescer e pensar nos sentimentos dos outros. Nem que para isso tivesse que ignorar os próprios, por isso foi até a igreja, fitou o rosto ansioso da sua mãe e podia ver o sonho dela se realizando. Foi então que seu coração bateu mais forte, a marcha nupcial tocou e ele a viu pela primeira vez em cinco anos, ela sempre fora bonita mais agora se possível estava ainda mais bela. Mas a decisão vacilou, mas uma vez. Será que era o certo a se fazer? Perguntava-se, até que por fim ao ouvir a pergunta tão esperada, seu coração ganhou a batalha.

—Sim.- falou.

***

Annabeth sentiu o mundo desabar com aquela resposta. Sentiu o ar lhe faltar mais uma vez o tempo parecia ter parado. Não conseguia ouvir nada além das batidas do próprio coração, mas no momento que o padre fez a tão temida pergunta conseguiu ouvir perfeitamente. Será que era o certo, talvez nunca fosse sentir o vento da liberdade no seu rosto.

—Sim. - falou firme.

— Eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva. - encerrou o padre.

E todo seu mundo desabou quando sentiu os lábios dele se selando aos seus, era aquela mesma sensação de frieza que viu nos olhos dele durante o pedido. E Percy também pode sentir a mesma coisa, suas mentes pareciam nubladas com uma raiva eminente. Só conseguiam pensar em uma coisa:

Hera me enganou.