Annabeth se esgueirou até ao quarto, com as costas apoiadas sobre a madeira fria da porta, ela desabou vagarosamente até ao chão, pouco se importando com o vestido que outrora havia colocado tão cuidadosamente. Sentiu a respiração falhar, ela havia tido coragem, havia realmente pedido o divórcio. Suspirou exausta, seu coração batia descompassado, como se tivesse perdido o ritmo de uma valsa feita diariamente, ele sangrava dentro do peito, com feridas que ela não tinha tanta certeza que iriam cicatrizar.

—Annabeth... - ouviu a respiração pesada de Percy do outro lado da porta.

Ela não respondeu, sabia que cedo ou tarde ele iria à procura de explicações, mas por que logo agora que ela não sabia o que se passava em sua cabeça, temeu que a barreira que construíra com tanto empenho em volta do seu coração quebrasse de uma só vez. Céus! Ela não podia escolher, pois se pudesse escolheria que isso não tivesse acontecido, escolheria que a ruiva nunca tivesse aparecido. Se pudesse escolheria Percy... Esse é o problema, ao escolher seu marido ela abandonaria a si mesma, abandonaria as convecções de uma vida toda. Não estava pronta para isso.

—Eu sei que você está me ouvindo!-exclamou se sentando no chão se apoiando no outro lado da porta. -Tudo bem se não quiser responder, eu só queria que você me escutasse.

Continuou em silêncio, afinal o que poderia dizer? Ele só esperava por duas respostas: uma recusa ou uma oportunidade. E ela não poderia responder, não hoje, nem amanhã, talvez nunca conseguisse na verdade.

—Você é a mulher mais teimosa que eu conheço. -provocou cauteloso, ele só precisava fazer com que ela desistisse do divórcio.

—Isso é surpreendente, já que deve conhecer muitas mulheres. -ironizou ácida, mordendo a língua logo em seguida, ela deveria ficar calada.

—Realmente... -começou.

—Você é um hipócrita. -exclamou irritada.

—Annie... Por favor, realmente conheci mais mulheres do que você pode imaginar, já estive com mais delas do que você possa contar. Mas, nosso casamento esta indo de mal a pior, e tudo que eu quero é que saiba a verdade, sobre tudo. Sei que fui um canalha e que você queria me estrangular nesse momento.

Annabeth cerrou os punhos, aquele imprestável agora lia mentes também?

—Pode acreditar que é realmente o que eu quero fazer. -sussurrou de forma inaudível.

—Eu era um garoto mimado em outro país, acredite tudo que eu queria fazer era retornar para casa. No momento que eu senti a brisa gelada londrina eu soube que aquele lugar jamais seria meu lar. Quando eu conheci a Rachel eu me senti mais adulto, como se eu fosse dono de mim mesmo. Eu só queria mostrar aos meus pais que eu estava no controle, que eles não mandavam em mim. A história do casamento parecia uma brincadeira de mau gosto, você era a pessoa que eu mais confiava. Era a única coisa que me impedia de me adaptar a Londres, quando fui arrastado até aquele bar onde conheci a Rachel eu, eu... Eu tentei esquecer-me de você e de todo resto, queria uma vida nova, que eu pudesse desenha-la a meu bel-prazer. Annabeth acredite em mim, eu nunca amei nenhuma dessas mulheres.

—Por que tem tanta certeza?- atirou à pergunta, nervosa demais, ela o atacava com palavras para rebater o impacto que as dele causavam em sua mente.

— Eu não amei nenhuma delas, também não amei Rachel, e tudo isso por um simples motivo: nenhuma delas é você. Nenhuma consegue ser tão teimosa e marrenta quanto você, elas não são doces como você, nem orgulhosas e ao mesmo tempo compreensivas. Você é como uma tempestade que destrói um litoral. E só Deus sabe o quanto eu me arrependo.

—Acha que pode covencer a mim com palavras bonitas?-perguntou irônica, ela tinha um olhar desdenhoso, embora ele de fato não pudesse ver.

—Acho que posso te convencer com sentimentos, com os meus sentimentos e com os seus, que embora você negue, continua mantendo por mim. - ele falava como seu coração mandava. Ele só precisava que ela o escolhesse.

—Percy... - ela sentia as palavras se afogando no esquecimento, porque era isso que ele fazia com ela, lhe arrancava as palavras.

—Você não consegue mais negar, você não precisa negligenciar o que sente, sei que errei, sei que não mereço nem que me direcione o olhar. Mas eu te imploro por uma chance, uma segunda chance.

—O que você poderia me provar com isso Percy?- questionou nervosa, apertando o tecido do vestido.

—Eu poderia provar que você é a coisa mais importante para mim. - respondeu rápido e sem pensar duas vezes. - Posso provar que eu errei por que não conhecia o quão bom é amar você.

—Você é um canalha. -riu divertida. - Já me revelou uma vez que não me perdoaria e ainda insiste nessa ideia.

—Isso é...

—Não ouse dizer que isso é diferente, pois não é. Com certeza acha que estou exagerando. Mas não sou o tipo de pessoa que tem duas palavras, minha confiança uma vez perdida é praticamente impossível de ser novamente conquistada.

—Eu só estou pedindo uma chance para tentar. Sem garantias, é só uma oportunidade, você pode decidir, está em suas mãos.

—Eu não posso escolher... - afundou as unhas entre os fios dourados do cabelo, ela não podia! Por que era tão difícil de entender?

—É claro que pode!-falou Percy se levantando.

—Como pode ter tanta certeza?-ela indagou verdadeiramente curiosa, como ele podia afirmar tantas coisas sobre sua pessoa, por que confiava tanto que ela o perdoaria?

—Annie... Além de ser a mais teimosa, você é a mulher mais inteligente e especial que eu conheço.

—Isso é uma grande mentira. -suspirou decepcionada, ela tentava ser forte, mas falhava miseravelmente.

—Já tive mentiras demais para uma vida, acabaram todos os segredos, eu não vou mais hesitar em te dizer o quão incrível e necessária você é para minha vida. Você é minha amiga, minha esposa e minha cúmplice e eu amo você e vou provar isso pelo resto dos meus dias.

—Eu... Eu vou pensar. -garantiu, mesmo estando insegura.

—Sei que vai. -afirmou. -Boa noite Annabeth Jackson.

—Boa noite. -sorriu quase inconscientemente.

***

—Ele já está mexendo demais hoje!-exclamou Nico acariciando a barriga da esposa sobre o tecido fino da camisola.

—Está mexendo bem menos em comparação ao outros dias, acho que sua presença o acalma. -falou Thalia tocando as mãos de Nico que repousavam em sua barriga já crescida.

—Você é agitada naturalmente meu amor. -riu divertido do bico emburrado da esposa. - Você acha que vai ser um menino ou uma menina?

—O que você acha que vai ser? Você quer um menino não é?-perguntou desviando da própria pergunta, a verdade é que estava curiosa sobre isso há algum tempo.

—Eu realmente não sei. -confessou.

—Eu também não. - se recostou sobre o ombro do marido, já estavam prontos para dormir. - A verdade é que já amo tanto essa criança que não me importo com o sexo desde que ela venha a esse mundo saudável.

—Você é linda sabia?-perguntou acariciando os fios escuros de cabelo da amada.

—É claro que sabia!- murmurou sonolenta.

—E também é bem preguiçosa, não é meu amor?

—Agora eu durmo por dois!- justificou indignada, levantou o olhar para encarar o marido que sorria como uma criança que acaba de ganhar um doce. -Você é tão irritantemente bonito.

Ela rosnou inconformada, viu o sorriso dele aumentar ainda mais até que se tornasse uma risada anasalada.

—Sou irresistível meu bem. - disse convencido, sentindo a respiração lenta da esposa no seu pescoço,

—Insuportável isso sim!-rebateu ela irônica, vendo o sorriso dele se desmanchar tão rapidamente quanto surgira.

—Mas você me ama mesmo assim.

—Não posso negar. -se rendeu.

—Eu sabia!- deu um sorriso sem mostrar os dentes.

***

Quando Annabeth abriu os olhos naquela manhã, a primeira coisa que notou foi o grande arranjo de rosas vermelhas que descansava displicente sobre seu criado mudo. Elas pareciam sorrir para o sol, prometendo deixar o dia mais colorido. Katie entrou como um furacão em seu quarto, ela carregava um sorriso divertido enquanto praticamente arrancava as cobertas de Annabeth.

—Vamos patroa você precisa levantar!-ela puxava o braço da loira energeticamente. - O seu marido deseja falar com você, vamos lá! Sei que vai gostar.

—Katie, não sei se notou, mas não posso descer assim!-apontou para os cabelos rebeldes que não se ajustavam.

—Então se arrume depressa senhora.

***

Assim que desceu pode notar as escadas, Annabeth sentiu os olhos marejarem, mas logo se recompôs. A sua volta se encontravam os mais diversos arranjos, com todos os tipos de flores: lírios, girassóis, orquídeas, margaridas, rosas vermelhas e brancas... O jardim parecia ter se transportado para dentro de sua casa, lá embaixo Percy a esperava.

Se ele achava que com isso iria fazê-la mudar de ideia estava muito engan...

—Não acho. -ele pareceu ler seus pensamentos o que fez com que uma coloração avermelhada tingisse a face de Annabeth. - Na verdade esse é só o meu bom dia, sua mãe disse que você amava flores.

—Você falou com a minha mãe?-perguntou confusa e um tanto envergonhada pelo flagra instante atrás.

—Falei. Qual parte você não entendeu? Vou tentar de tudo para te conquistar novamente Annie. -revelou oferecendo uma rosa vermelha para Annabeth que a aceitou.

Annabeth o olhava meio perplexa, por mais clichê que aquilo tivesse sido ela não pode deixar de pensar, no quão aquela atitude fora bela. Percy observou o relógio esperando alguns segundos sobre o olhar atento da sua esposa.

—Chegou a hora. -ele constatou um tanto feliz.

—Mas, é a hora de quê exatamente?-Percy riu do vinco que ela formava entre as sobrancelhas quando estava confusa.

—Essa é a parte do dia, onde eu digo que te amo e que fui um idiota!- informou.

Não tocou nas mãos de Annabeth por medo que ela se afastasse, mas prendeu o seu olhar firmemente no dela como se pudesse enxergar sua alma.

—Annabeth Jackson, eu fui um idiota que não merece o seu perdão, mas te peço uma oportunidade para que eu possa provar todos os dias pelo resto da minha vida o quão você é especial para mim. Eu amo você.

Ela deixou uma lágrima escapar pela primeira vez, ela havia se emocionado, mas tratou de enxugar o rosto rapidamente. Ela não saberia como responder a isso, por que tinha que ser tão idiota, era difícil demais de escolher.

—Não precisa responder hoje, vou repetir isso até que você me diga sim. -ele falou sem focar na outra hipótese de reposta.

Annabeth tratou de reprimir o sorriso que ameaçava surgir no canto dos seus lábios, era por isso que eles combinavam tanto.

Percy era o homem mais teimoso que Annabeth conhecia.