Aprendendo a Amar escrita por Moon Queen


Capítulo 14
Doloroso passado


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Antes que vocês leiam, eu queria agradecer por todos vocês que estão lendo, vocês são minha motivação para continuar a escrever. Queria avisar também que a fanfic já está nos seus estágios finais. Espero que aproveitam o capítulo!
Um beijo, um brigadeiro!



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Nos fundos de um quartinho empoeirado a garotinha retirava o livro guardado com tanto cuidado por entre as vestes, o livro tinha a capa de couro e as folhas já eram amarelas e desgastadas pelo tempo, mas mesmo assim ela o segurava como se fosse um grande tesouro. O abriu ansiosa esperando rever os seus companheiros de tinta, aquelas pequenas letras que ainda tinha dificuldades para ler a chamavam para mergulhar naquele imenso mar de palavras. Cada ponto e vírgula pareciam lhe prometer um mundo diferente do qual vivia, e à medida que seus dedos mudavam as páginas ela se viu cada vez mais submersa naquele universo. Ouviu as passadas e rapidamente escondeu o livro atrás do próprio corpo, a velha porta se abriu com um rangido, e por ela entrou uma mulher que a garota conhecia muito bem.

—Sua pirralha imunda o que está fazendo aqui?- perguntou a mulher aos berros, ela tinha um olhar de fúria.

A garotinha se encolheu e apertou ainda mais o livro atrás do corpo.

—Por que não responde?- a mulher questionava ainda gritando, já começando a se irritar pela falta de repostas vinda da criança.

—Eu, eu... Eu não, eu vim aqui para... -a voz da criança falhava miseravelmente, sentia o pequeno coração bater de forma tão rápida que chegava a doer.

A mulher sorriu de forma venenosa, o brilho da juventude que antes iluminava seu rosto esperançoso agora havia sumido. Naquele sorriso desgastado pelo tempo ela mostrava todo ódio e revolta resultante de uma vida de submissão.

—Por que não fala? A ratinha ficou com medo?- ela se aproximava da menina que rapidamente se levantou do chão sujo. - Você está escondendo o que ai atrás?

A garota sentiu o livro ser arrancado das suas mãos de forma bruta, a mulher avaliava o material entre as mãos, sua feição era de puro nojo e desgosto.

—Um livro?- ela perguntou, mas a menina manteve a cabeça abaixada. - Você que estava lendo?

—Sim senhora.

— Mas é seu horário de trabalho não é?

—Eu já terminei meus afazeres.

— Então arrume coisas novas para fazer, ler faz muito mal, cria caraminholas na cabeça das mocinhas. - ela alertou. - Por isso de hoje em diante você não vai ler nunca mais! E esse livro está sendo confiscado.

—Por favor, mamãe! Deixe-me ficar com ele! É meu aniversário.

—Jura?- a voz da mulher era sarcástica. - Então como presente vá limpar todos os quartos do andar de cima.

— Mas mamãe... -a voz dela morreu na garganta, ao ver a expressão de sua mãe. - Sim senhora.

A menina se preparava para sair, mas a mulher a chamou antes que a porta se fechasse.

—Pirralha?-chamou. - Não me chame de mamãe, eu não gosto de me lembrar de que um verme como você saiu de mim. É por sua causa que estou aqui sua pirralha imunda, não se meta mais no meu caminho.

A garota apenas assentiu e se retirou em silêncio, sentiu o gosto salgado das lágrimas que banhavam o seu rosto infantil. Ela era um verme. Uma imunda. Ela não merecia viver, era por sua causa que sua mãe se enfiara naquela boate de quinta. Ela era a culpada por todas as desgraças.

***

A música alta do ambiente era ensurdecedora, as duas garotas dividiam uma pequena cama. A garota do livro empoeirado abraçava fortemente a irmã mais nova e tapava seus ouvidos para que ela não escutasse nada, a mais velha já tinha dezessete anos, enquanto a pequena tinha somente nove anos recém-completados. Ela abraçava o corpo pequeno quase como se quisesse os fundir. Quando ouviu o som de algo se quebrando e murmúrios de pessoas próximos a porta do seu quarto, ela se virou rapidamente para irmã.

—Você já ouviu a história da Cinderela?-perguntou tentando desviar a todo custo à atenção que a pequena mantinha sobre o que acontecia fora daquelas paredes.

Ela balançou a cabeça em negação, os olhos grandes e castanhos brilhavam em expectativa.

— Essa historia começa assim: era uma vez uma moça muito pobre...

—Assim como a gente? - interrompeu a pequena curiosa.

A irmã a olhou delicadamente passando as mãos sob os cabelos encaracolados da menor.

—Assim como nós Juno. - ela confirmou para só então dar continuidade aquela historia.

***

Sua irmã havia pegado no sono há pouco tempo, mas ela mesma não conseguia dormir, os horrores daquela noite promíscua lhe rasgavam os ouvidos. Fechou os olhos quando ouviu o ranger da porta. As passadas indicavam que duas pessoas haviam entrado no recinto.

—A mais velha já esta na idade não acha Reia?-perguntou outra mulher a sua mãe. - Ela até que é razoavelmente bonita, daria uma ótima acompanhante.

A outra permaneceu calada, sem pensar em nenhum momento interceder pela filha.

—Além do mais desde o seu ultimo descuido temos mais uma boca pra alimentar. - a voz era fria e calculista, a adolescente sabia qual foi o ultimo descuido, tentou controlar a vontade de apertar Juno ainda mais contra si.

—Quando ela começa?-foi a primeira e ultima coisa que falou durante aquela noite.

—Amanhã. - disse simplesmente- Ela é virgem e vai nos garantir uma boa grana, talvez um dia ela te ajude a pagar toda sua divida Reia.

Depois de ouvir aquela conversa foi que realmente não conseguiu mais dormir, sentiu uma lagrima solitária escorrer pelo seu rosto, sentiu sua mãe acariciar seus cabelos, aquele foi o primeiro gesto de carinho que recebia da sua mãe em toda sua vida.

***

A noite do dia seguinte surgiu rápida como um raio que corta o céu em dias de tempestade, ela entrou naquele vestido relutante. A vestimenta deixava mais partes nuas do que cobertas, naquele momento sentiu vergonha de si mesma. Cruzou os braços acima dos seios tentando inutilmente cobrir o imenso decote, as mulheres se maquiavam e riam, ela simplesmente não entendia como elas conseguiam ver isso como algo banal. Como conseguiam lidar com o fato de que daqui a poucos minutos elas venderiam seus próprios corpos como mercadorias baratas e descartáveis.

Sentiu vontade de vomitar ao abrirem as portas e darem inicio a noite, ela permaneceu abraçada ao próprio corpo. Pensava em Juno, essa noite não havia ninguém que protegesse seus ouvidos da sinfonia promíscua do anoitecer. Ouviu valores sendo ditados sob o seu corpo, viu sua inocência sendo oferecida aos bárbaros, homens velhos e nojentos que fugiam das esposas para se aventurarem nos braços daquelas mulheres da vida. Não conseguia ouvir nada sua cabeça zunia com o barulho alto da musica, sentiu sua consciência abandonar seu corpo por alguns poucos segundos, se viu na escuridão completa, até sentir os braços que a trouxeram de volta a realidade.

Afastou-se rapidamente, ainda um pouco perturbada com o momento de inconsciência, notou que os braços pertenciam a um garoto que parecia ter a sua idade. Ele tinha cabelos negros e olhos estranhamente dourados pareciam duas pepitas de ouro, notou no sorriso leve algo que a levou a confiar no garoto.

Sentiu seu braço ser puxado brutalmente. Um homem velho segurava seu braço com força.

—Eu já paguei por essa aqui. - ele falou mais para o garoto do que para a menina.

A garota sentiu uma vertigem novamente, aquele homem era asqueroso, olhou suplicante para a mulher que conversara com sua mãe na noite anterior. Ela tinha um sorriso divertido dançando sob seus lábios, parecia sentir prazer em ver a menina implorar. A adolescente abaixou o olhar, não conseguia encarar o mundo a sua volta, sentiu nojo de tudo inclusive de si mesma, sua mãe tinha razão quando falou aquilo anos atrás, ela era um verme...

—Eu cubro a quantia. -disse simples o garoto de olhos de ouro.

O velho rosnou em protesto.

—Eu dobro a quantia. - ele tinha cheiro de álcool, um cheiro asqueroso e fétido, já que era misturado ao suor.

—Eu continuo cobrindo a quantia. - repetiu tranquilamente, a dona da boate tinha um sorriso afetado.

—Senhor?-ela chamou o velho. - Aqui nos trabalhamos com valores, essa garota é uma virgem, ela vale mais do que as outras, esta disposto a cobrir a proposta do senhor...

—Jackson. -respondeu o mais novo.

—Está disposto a cobrir a quantia?-perguntou novamente.

A adolescente sentiu seu braço ser largado, e o velho sair resmungando na sua própria língua de bêbado. A garota analisava seu salvador lhe lançando um olhar de agradecimento no que o mesmo respondeu com um sorriso leve.

Ele segurou seu braço levemente se dirigindo ao quarto que lhe fora reservado, assim que chegou se atirou no sofá de forma cansada. Ela permaneceu de pé esperando ordens, estas não vieram.

—Eu não vou fazer nada com você. - avisou o garoto notando o olhar de pavor que a menina lhe lançou quando ofereceu que se sentasse. - Eu acho que nos dois estamos meio perdidos nessa noite.

Ela não respondeu, mas se sentou na poltrona na frente da dele, e o olhava confusa.

 -Por que eu paguei se não quero dormir com você?-questionou ao notar o olhar de confusão da menina. - Eu gostaria de alguém para conversar, todos precisaram desabafar de vez em quando.

 Ela assentiu levemente em concordância, era realmente uma surpresa o garoto pagar tão caro para só conversar com uma pessoa que ele nem conhecia, permaneceu calada esperando que fosse ele a iniciar a conversa.

—Bom, eu acho que devíamos começar pelo básico antes de te encher com meus problemas chatos. - ela sorriu levemente, ele era engraçado. - Vamos me ajude, como começaremos: Nossa cor favorita, comida, eu não sei como começar a falar... Mas creio que para poder desabafar com alguém eu deva saber pelo menos o seu nome.

Ela permaneceu calada sem saber realmente se podia revelar o seu nome, já ouvira falar que era perigoso que os clientes soubessem do nome das mulheres.

—Bom, é melhor que eu comece. -falou percebendo o silêncio da parceira. - Meu nome é Cronos Jackson.

 Ele não insistiu mais, esperou os minutos de silêncio da garota, ela falaria quando estivesse pronta.

Mordeu os lábios e inspirou fundo decidindo ser sincera com seu salvador.

—Eu me chamo Hera. - informou, notou o sorriso de Cronos, aquele foi o maior erro que cometeu na vida.

Se apaixonar por um homem proibido.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Esse capítulo serviu para introduzir a verdadeira face do plano da Hera. Esse foi o passado da nossa querida vaquinha. Não se preocupem eu ainda não esqueci de Percabeth! Eles marcarão presença no próximo capítulo!
Até a próxima!