Do trono ao cadafalso escrita por Evil Queen 42


Capítulo 17
Capítulo XVII


Notas iniciais do capítulo

Voltei.
Gente, quero ressaltar um negócio: As cenas narradas onde Sakura não aparece NÃO estão contidas no diário. Coloquei apenas para que vocês pudessem ter uma visão mais ampla dos acontecimentos, e pra desvendar uma pequena parte dos mistérios que envolvem a vida da Sakura.
Boa leitura.



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"Tenho uma filha a quem chamei de Sarada. Vivi seu nascimento, terrível e sangrento, como o sonho mais sombrio que poderia ter. Era como se as parteiras, como bruxas enviadas até mim, estivessem proferindo feitiços por entre as minhas pernas. As orações para pedir por um menino foram palavras ofuscadas por meus agonizantes gritos. 

Não havia brisa soprando no ar fedorento, as cortinas escarlate na minha cama de dossel não ondularam em momento algum. 

Minhas preces foram atendidas para que tivesse um parto rápido, e realmente foi, se comparado com o anterior. Em contrapartida, foi particularmente doloroso, ouso dizer que as ondas de dor foram consideravelmente mais fortes e, se em meu primeiro parto consegui abafar meus gritos em minha garganta, dessa vez foi impossível. Todavia, minhas principais preces parecem ter sido totalmente ignoradas, pois pedi por um menino saudável. Bem, o bebê é muito saudável e certamente irá viver, mas veio ao mundo como uma menina (...)."

Sakura estava feliz pelo nascimento de uma criança saudável, porém se sentia frustrada por não atender às expectativas do Rei. 

Os astrólogos estavam errados... A criança não era um Príncipe, mas uma Princesa.

Sasuke entrou no quarto onde Sakura descansava, trazendo consigo uma empolgação imensa. Ele já comemorava internamente o nascimento do filho, tanto que partiu para o castelo onde Sakura estava confinada no momento em que soube que ela estava em trabalho de parto. 

O Rei estava cheio de sorrisos para ver seu pequeno Príncipe, sequer reparou na expressão de horror estampada nos rostos das aias de Sakura. Elas se mostravam mais atordoada do que a Rainha, que temia pelo próprio destino após trazer ao mundo uma filha. 

– Onde está meu filho? - Perguntou para a esposa, sem ao menos desviar seu olhar para o resto do quarto. 

Sakura manteve-se em silêncio. 

Sasuke olhou em seu redor, aia por aia, até pousar seus negros olhos no belo berço que havia encomendado para o filho. Seu sorriso se alargou e Sakura sentiu medo, um calafrio inexplicável. 

– O Rei tem uma filha muito formosa... - Sakura declarou com o que lhe restava de coragem. 

Sasuke uniu as sobrancelhas. Parecia confuso, incrédulo. 

Os astrólogos haviam previsto que a criança reinaria depois de seu pai, que seria um grande governante... Não estariam falando de uma menina, estariam? Certamente não. 

– Uma filha? - Questionou incrédulo - Como pôde me dar uma filha? 

Sakura sentiu seu medo aumentar. Temia pela pequena criança. Por um segundo imaginou Sasuke pagando aquele pequeno e enrugado bebê, abrindo-lhe a cabeça como se faz com um melão maduro. Foi terrível. 

A Rainha não se conteve, deixou lágrimas caírem pelo seu rosto pálido. Sentia como se as coisas tivessem fugido de seu controle... antes tinha certeza de que seu destino estava em suas mãos - ou em seu ventre -, mas a cada dia percebia que tudo lhe escapava por entre os dedos.

Precisava ser cautelosa, pois não havia controle de nada.

– Me desculpe, Sasuke. - Implorou aos pontos - Havia lhe prometido um menino, é verdade, mas deve ter algo que justifique o nascimento dessa criança... dessa menina... - Ela limpou as lágrimas teimosas e logo novas brotaram em seus olhos tristes - Por favor, me perdoa. Por minha causa o Rei rompeu uma aliança poderosa, e eu, como uma mulher ingrata, sequer fui capaz de dar-lhe um filho.  

Sasuke ainda se sentia frustrado pela previsão equivocada, mas seu sentimento por sua Rainha continuava intacto mesmo depois dos conflitos que surgiram quando ele teve um caso com uma dama de companhia. 

Ele tinha organizado bailes e justas, já havia mandado preparar cartas para anunciar aos monarcas dos países vizinhos sobre o nascimento do Príncipe. Agora deveria trocar a palavra por "Princesa", e certamente iria cancelar as justas, embora pretendesse comemorar o nascimento de sua herdeira. 

– Eu te amo, Sakura. - Sasuke forçou um sorriso.

– Não sente raiva por eu não ter lhe dado um Príncipe? - Soluçou - Não vai me abandonar por isso? 

Sasuke então se aproximou da esposa, segurou em suas mãos e lhe deu um beijo na testa.

– Eu prefiro ter que mendigar de porta em porta antes de te deixar. - Ele acariciou a face da esposa, acalmando-a - Agora, vou olhar minha filha. 

– Vá. - Sakura assentiu, agora se mostrando contente.

Sasuke se aproximou do berço de prata, então fitou aquela pequena criatura tão parecida consigo. Era claramente uma Uchiha, Sasuke ficou orgulhoso. Era consideravelmente maior do que seu primogênito que faleceu, parecia forte, o que animou o monarca.

– O nascimento dessa menina é uma grande dádiva. - Ele disse orgulhoso, acariciando o rostinho da filha com o dedo indicador - Filhos virão, eu sinto isso. - Sasuke se virou para a esposa e sorriu - Obrigado, Sakura. 

A rosada assentiu, claramente emocionada. 

Temia a fúria de Sasuke, mas ele estava feliz pelo nascimento de Sarada.

Após se despedir da esposa, Sasuke deixou o cômodo. Precisava organizar as comemorações para quando Sakura retornasse à Corte com a criança. 

A Rainha sentia sua cabeça girar. Estava fraca ainda, pois há poucas horas dera à luz, ainda não estava totalmente recuperada. 

Os astrólogos previram que no ventre de Sakura se formaria um grande governante, mas ela trouxe ao mundo uma menina. Isso significava o que exatamente? Sarada iria reinar, ou um novo filho estaria perto? Ou será que Sasuke não compreendeu corretamente? Na ânsia por um filho, teria o Rei captado apenas aquilo que queria ouvir? 

De qualquer forma, Sakura logo chegou à conclusão de que não deveria se torturar com esse assunto. Tinha uma menina, sim, mas era uma criança saudável. Sakura provou que era capaz de gerar filhos saudáveis e que, por ainda ser bem jovem, logo poderia conceber novamente. Sarada foi sua segunda criança em menos de três anos, ou seja, Sakura era claramente fértil. 

Karin pegou a pequena recém nascida enrolada em metros de tecido branco de modo que apenas seu rosto se sobressaía, então a colocou nos braços de sua mãe pela primeira vez. 

Sakura então olhou para a criaturinha causadora de tanta confusão. Tentava se libertar da sua prisão de tecido, embora não chorasse,  vez ou outra abria a pequena boca sem dentes. A pequenina olhou sua mãe nos olhos, o que lhe causou um certo espanto.

– Tem os olhos de seu pai... Os olhos furiosos de Sasuke! 

Sarada, ao contrário de seu irmão, não havia herdado as belas esmeraldas de sua mãe, mas os profundos olhos negros de seu pai. 

– Ela se parece muito com o Rei, Majestade. - Karin declarou, principalmente porque sabia que algumas aias foram responsáveis por alguns comentários maldosos quando Sakura teve seu primeiro filho e o bebê não era parecido com o pai.

Sakura riu orgulhosa para a ruiva, logo fitou novamente o rosto de sua pequena filha. 

– Oh, Sarada, é bem filha de seu pai! - Exclamou - Nasceu de mim, possui meu sangue, mas já demonstra a fúria de seu pai no olhar... 

Seria aquela menina uma regente daquele país? Seria ela quem iria reinar após a morte de seu pai? Qual seria seu destino? 

Sakura lamentava por sua doce e inocente filha. Em que mundo terrível a fez nascer? 

Os seios de Sakura choravam pela filha, e nesse momento a ama de leite providenciada por Sasuke apareceu para levar a criança. O que Sakura mais queria era alimentá-la, com seu leite e com o amor de mãe, mas sabia que não podia.  Não seria Sakura quem sentiria a boca de sua filha a mamar, quem contaria seus pequeninos dedos, quem iria pentear os finos cabelos negros, quem secaria as lágrimas que caíssem por seu delicado rosto. Não ficaria perto da filha, pois iriam criá-la como Princesa... receberia cortesias ao invés de beijos, não poderia ouvir com frequência as ternas palavras de amor vindas de sua mãe. 

Podia ouvir a pequena Sarada chorar no aposento ao lado, sentia suas mãos atadas. 

Sakura pediu para ver a filha mais tarde, aproveitava de seu confinamento para ficar ao lado de Sarada e a entregava para a ama quando ela queria mamar, ou entregava para alguma das criadas quando precisavam limpá-la. 

Estava ciente de como era a criação dos bebês Reais. Não concordava, não queria se afastar daquela pequena criatura que já amava de todo o coração, mas não poderia contrariar uma tradição de séculos. Sakura sabia que veria sua menininha cada vez menos, o leite logo secaria em seus seios enquanto Sarada se alimentava do leite de outra mulher. 

Era o preço que a rosada pagava... Almejou tanto a coroa, sem calcular que o preço seria alto. Uma Rainha não cria os filhos, não diretamente, apenas supervisiona a criação deles. Sakura tinha seus deveres na Corte, tal como Sasuke, então logo não teria tempo para Sarada. Aquilo era normal entre os membros da realeza, mas Sakura não conseguia engolir. 

Mãe e filha, filha e mãe... Rainha e Princesa, Princesa e Rainha... Seus títulos sempre falariam mais alto.

Era fato que o nascimento de Sarada em nada iria contribuir para a imagem de Sakura. De prostituta a Rainha, deu à luz um filho adoentado e posteriormente uma filha. Sasuke agora tinha uma menina como herdeira, pois, na falta de um filho homem, Sarada era obviamente a próxima na linha de sucessão. Isso não agradava aos Cortesãos. 

 Sakura agradecia pela saúde da filha, mas ao mesmo tempo implorava para que em seu ventre logo estivesse um filho. Tentaria mais uma vez... se deitaria com Sasuke, desejando, a cada investida, que da próxima vez que estivesse confinada naquela câmara fosse para trazer ao mundo seu tão almejado varão.  Sentia medo de falhar novamente, assim como sentia medo de que o desejo do Rei por ela passasse a se dissipar. 

Naquela noite, encontrava-se sozinha com sua filha em seus aposentos. Deveria dormir para repor suas forças, já que havia dado à luz há menos de um dia. No entanto, queria olhar para Sarada o quanto pudesse. 

Sentiu uma chama arder em si, acompanhada de um mau pressentimento. 

Algo dizia que não daria um filho ao Rei, isso a entristeceu. Talvez ainda estivesse um pouco sensível devido a gravidez recente, mas aquilo a abalou.

Havia sido iludida pela previsão dos astrólogos, que estavam certos de que viria logo ao mundo um sol Uchiha.

Sarada olhava fixo para Sakura, era como se já a reconhecesse como sua mãe. Sakura então sentiu uma paz interior e sorriu. 

– Quando olho nos seus olhos, Sarada, os olhos herdados de seu pai... sei que você, minha filha, é o sol. - Sakura depositou um delicado beijo na testa de sua filha - Brilhará sobre o mundo com esplendor, apesar da fúria de seu pai. Parece insanidade, mas estou certa disso. - Ela sorriu orgulhosa - O futuro poderá chegar para mim como um vento uivante. Posso estar perdida, meu amor, mas estou certa de que você foi encontrada... e será Rainha. 

... 

Sasuke cancelou as justas, mas ofereceu um banquete e todos os Cortesãos brindaram a saúde da Princesa. O Rei parecia feliz, Sakura estava de volta à Corte com Sarada e os nobres foram visitá-la. Na sala de audiência Real foi colocada uma cama, então ficaria mais fácil para que os membros da Corte fizessem as devidas felicitações. 

As orações por um Príncipe certamente não foram ouvidas, os Cortesãos em sua maioria estavam decepcionados com a Rainha, pois agora Sasuke tinha uma mulher como sua sucessora, e assim seria caso um menino não nascesse. O nascimento de uma filha não foi menos amargo para Sakura, que outrora se mostrou confiante de que daria para Sasuke seu tão aguardado Príncipe. Foi obrigada a aguentar certos tipos de comentários e desapontamento dos nobres. 

Todavia, uma vez que Sarada havia nascido saudável, e Sakura concebeu sem dificuldades, também demonstrava um alívio. Tanto o Rei e a Rainha, quanto os Cortesãos, tinham esperanças de que Sakura daria à luz novamente. 

Sasuke e Sakura fizeram vista grossa sobre os acontecimentos, mas estava claro o desapontamento de quem ia visitar a Princesa, ainda assim tentavam agir da melhor forma possível.  

A previsão pairava no ar... Naquele momento, Sakura sentiu a fragilidade do lugar que ocupava. Quando conheceu Sasuke, sem nunca antes ter ficado grávida, imaginou que a tarefa de dar um filho ao Rei seria muito fácil, e que ela era uma pessoa adequada para realizá-la. Quando Sarada veio ao mundo, pouco tempo após o falecimento de seu irmão, Sakura percebeu que nem tudo estava em suas mãos. 

Quando as visitas acabaram, Sakura se recolheu e Sarada foi levada por uma das mulheres que agora seriam responsáveis por cuidar dela. Quando estava devidamente alojada em seu aposento, deitada em sua espaçosa cama, seu pai apareceu. 

Sakura demonstrou todo o seu desinteresse só pelo olhar, mas Kizashi parecia bastante sério. A Rainha ordenou que suas aias as retirassem, então pôde ficar à sós com seu progenitor. 

– O que o senhor quer? - Indagou secamente - Sei que não veio aqui me parabenizar pelo nascimento de minha filha. 

– Preciso expressar o tamanho da minha decepção, Sakura? 

– Não, não precisa. Agora vá. 

– Ouço os comentários a cada corredor. O Rei não tem um herdeiro, mas uma herdeira. 

Sakura revirou os olhos, uma atitude infantil para sua posição segundo Kizashi. 

– Darei um herdeiro a ele.

– Desde que ele viva. - Kizashi falou com indiferença, mesmo sabendo que o assunto da morte do pequeno Sasuke ainda machucava Sakura.

– Isso é problema meu. - Disse grosseiramente. 

– É problema nosso. - Corrigiu - Você não teria chegado até aqui se não fosse por mim.

– Se não fosse por mim, meu pai, por mim! - Disse entre dentes - Sasuke se apaixonou por mim! 

– Essa paixão de  nada adiantará se você não cumprir a principal função de uma consorte. E você sabe qual é, não sabe? - Indagou de maneira retórica - Dar herdeiros para a Coroa... herdeiros, homens! Filhos saudáveis!  

– Ainda sou muito jovem, meu pai. Posso dar para o Rei uma dúzia de filhos se quiser, um por ano se preferir! - Bradou. 

– Ótimo! Pois que faça isso logo... Ainda há muita antipatia por você, alguns nobres sequer a consideram Rainha, e agora estão comemorando a sua desgraça! 

– Não chame o nascimento da minha filha de desgraça! - Vociferou - Eu provei que sou capaz de uma criança saudável. 

– Sim, provou. - Assentiu - Mas o país precisa de um futuro Rei, e os melhores astrólogos afirmaram que ele viria, mas ao invés disso você traz para o mundo uma filha! - Bradou - Uma menina inútil! 

– Eu fui útil para o senhor, não fui? - Estreitou os olhos, sentindo um nó na garganta - Admita, pai, nenhum filho homem que o senhor pudesse ter chegaria tão longe... Mulheres também são dotadas de inteligência, e eu tive mais do que o senhor... - Provocou - Queria que eu fosse amante do Rei, e ao invés disso me tornei Rainha. 

– Uma Rainha incompetente!

– Ainda assim, uma Rainha... O Rei cai de amores por mim, ele beijaria meus pés se eu mandasse! Eu tenho muito mais poder do que qualquer conselheiro, do que qualquer membro da câmara privada! - Exclamou furiosa, demonstrando superioridade em seu tom de voz - Eu sou a dona do coração de Sasuke, e possuo o homem mais poderoso desse país na palma da minha mão! 

– Então veremos, Sakura. Veremos por quanto tempo manterá o Rei nas suas mãos... - Kizashi respondeu seriamente - Principalmente, cuidado com a sua obsessão. Tudo que se aperta demais, escapa por entre os dedos. 

Kizashi então fez uma reverência antes de se retirar do quarto de Sakura, deixando-a atordoada.

"Tudo que se aperta demais, escapa por entre os dedos", ela devia considerar isso. Não suportava a idéia de ser uma mulher submissa, mas talvez precisasse por enquanto, como forma de autodefesa. Precisava controlar seu temperamento explosivo. 

Enquanto Kizashi e Sakura conversavam, Sasuke foi até seu escritório para olhar alguns documentos. Havia recebido cartas de países vizinhos, felicitando pelo nascimento da Princesa. Precisava organizar também alguns documentos que garantissem a sucessão, uma vez que Sarada agora era a herdeira do trono até que um menino viesse ao mundo. Caso algo acontecesse com o monarca, Sarada seria coroada e ficaria sob a tutela da mãe até atingir a maioridade. 

Sentado em sua poltrona de frente para a grande mesa de madeira, Sasuke estava distraído com alguns papéis e quase se assustou quando alguém entrou sem ser anunciado. 

– Majestade. - Orochimaru se pronunciou - Perdão pela intromissão. 

– Sem problemas. - Deu de ombros - É algo importante? 

– Bem... creio que o cargo a mim oferecido é de grande importância, portanto me sinto na obrigação de aconselhar meu soberano caso necessário. 

Ele se aproximou da mesa, fitando as várias cartas de felicitações para o Rei. 

– Prossiga. - Sasuke ordenou. 

– Creio que o nascimento da Princesa possa ser algum tipo de aviso, já que os astrólogos previram a vinda do futuro monarca, mas ambos sabemos que uma mulher não deve reinar. - Sasuke encarou Orochimaru com uma interrogação no olhar, como um pedido mudo para que ele continuasse - Talvez seja o caso de pensar em uma nova Rainha. A anulação do casamento seria uma coisa fácil de se conseguir. 

– E por que eu deveria anular meu casamento? 

– Porque ainda não tem um filho. - Respondeu - A Rainha trouxe ao mundo uma menina, mesmo tendo sido previsto um menino. 

– A criança é saudável. Se ela teve uma filha saudável, poderá ter um filho saudável. 

– Perdoe minhas palavras, Majestade, mas o primeiro filho não era saudável. 

– Aquilo foi uma fatalidade. - Respondeu naturalmente - Mas Sarada veio ao mundo grande e forte, e Sakura se recupera bem. Somos jovens ainda, tenho esperanças de que logo ela me dará o futuro Rei. 

– Majestade, tendo em vista o histórico familiar da Rainha, ela jamais se mostrou uma boa candidata a consorte. - Explicou - Mebuki, sua  mãe, também se mostrou muito fértil, entretanto apenas uma filha sobreviveu. 

– Orochimaru... - Sasuke soltou um longo suspiro - Acho que é relevante que saiba de uma coisa... prefiro o amor da Rainha a metade de meu reino. Não vou anular meu casamento, tampouco colocar outra mulher no lugar de Sakura. 

– Compreendo, Majestade. - Orochimaru disse sem jeito - Sinto muito. Eu só penso no futuro de Konoha. 

– Sim, você pensa.

– Essa menina só terá utilidade em jogos políticos, apenas isso. - Comentou, o que deixou o Rei furioso. 

– Essa menina por enquanto é a futura governante desse país, e minha filha também. - Disse grosseiramente - Mais respeito. 

– Perdão, Majestade. Eu estava ressaltando algo óbvio, infelizmente escolhi as palavras erradas. 

– Claro. Agora vá 

Frustrado, Orochimaru deixou o escritório do Rei e seguiu para seus aposentos. Lá, um homem dos cabelos extremamente claros e olhos negros o esperava. 

– E então? - Questionou o homem, sentado perto de uma lareira. 

– Está irredutível, Kabuto. 

Kabuto soltou um riso anasalado, pois sabia que encontraria dificuldades para acabar com a união entre Sasuke e Sakura.

– Então, o que pretende fazer?

– Rezar para que a diaba nunca dê um filho ao Rei. - Deu de ombros, pegando em seguida uma taça dourada que estava sobre a mesa - Sasuke sentirá necessidade de substituí-la. Nosso Rei não seria inconsequente a ponto de deixar uma mulher governar. 

– Eu poderia dizer que uma mulher já governa. - Brincou.

Orochimaru pegou uma jarra com vinho e encheu sua taça, bebendo tudo de uma vez.

– É certo que aquela prostituta governa inteiramente o coração do Rei, mas este mundo é dos homens. 

– Por que a teme tanto? Ora... o que Sakura Haruno pode fazer de tão grave? - Ele esboçou um sorriso - Sabe... Ela é mesmo a rival de Vênus. 

O mais velho demonstrou uma expressão de tédio após a última declaração de Kabuto. 

– Ela é astuta, inteligente demais para uma mulher! Conseguiu a maior das minhas propriedades para si sem esforço algum! Ela é manipuladora... - Respondeu de maneira ríspida - E não faz questão de esconder isso! Se o Rei precisar ir para o exterior, a concubina certamente ficará em seu lugar como regente! 

– Esse é seu medo? - Sorriu de canto. 

– Assuntos ligados à política não são tarefa de uma Rainha consorte, mas se o Rei precisar se ausentar... Teremos todos que nos submeter às vontades de uma mulher! Da prostituta que o Rei teimou em ascender! Sakura tem uma carga enorme de conhecimento, usa o dom da retórica a seu favor, ela pode estar pronta para destruir o que quiser e para derrubar quem quiser! 

– A concubina não simpatiza com o senhor, certo? - Kabuto questionou pensativo, então o moreno a sua frente assentiu - Teme que ela use seu poder para derrubá-lo? 

– Isso é óbvio, Kabuto! Ela só quer uma chance para se vingar, pois eu a separei de Sasori, e ela não aceita perder! - Cuspiu suas palavras em cima do rapaz antes de encher novamente sua taça com vinho - Vendo o comportamento daquele corvo da noite, certamente ela cairá sozinha... no entanto, pode me levar junto com ela, ou me derrubar antes de cair. - Disse pensativo - Eu preciso de uma oportunidade para afastá-la da Coroa. 

– Vênus é loira, eu pensava isso... Hoje eu vejo que seus cabelos são rosados. - Kabuto sorriu - E os olhos esverdeados...Seus olhos são sua característica mais atraente, e ela sabe muito bem como usá-los. Na verdade, tal é o seu poder que muitos homens além do Rei certamente lhe deram sua fidelidade. Aquela diaba pode persuadir qualquer ser apenas com seu olhar... pode usar seus olhos para convidar alguém para uma conversa, transmitir confiança e a promessa de uma paixão escondida. 

Orochimaru se mostrou confuso e impaciente diante da declaração de Kabuto. 

– E no que isso contribuiu, Kabuto? - Vociferou.

– Falemos sobre as qualidades dela, sim? - Questionou calmamente, mas logo prosseguiu antes que Orochimaru abrisse a boca para protestar - A retórica é conhecida como a arte dos advogados, e é essencial para se manter uma conversa inteligente... entre homens. As mulheres não devem dominar essa prática, elas devem permanecer caladas e apenas escutando, o que a nossa atual Rainha não faz. Ela é mestra nessa área, certamente foi uma característica que impressionou o Rei, mas que ao longo do tempo pode vir a incomodá-lo. 

– Sim... sabemos que ela, sutil e indiretamente, derrubou alguns inimigos. - O moreno assentiu - Chegou ao mais alto posto na escala social que uma mulher comum poderia sonhar. Aquela maldita tornou-se Rainha por mérito próprio, portanto creio que ela seja capaz de muita coisa.

– Uma vez coroada Rainha, não há outra  posição à qual ela possa subir. - Sorriu malicioso - Dessa forma, Sakura Haruno só pode descer.

– E desejo, meu caro Kabuto, que a queda dela seja mais rápida do que sua ascensão! - Exclamou. 

– Sabe, Orochimaru, uma bruxa é representada  como a personificação das qualidades invertidas de uma mulher. As mulheres normais são mais fracas que os homens, sempre submissas; Enquanto que aquelas que praticam feitiçarias são astutas, duronas, não se curvam diante de homens, isso porque têm acesso a um poder proibido. - Explicou, coçando o queixo enquanto observava as chamas na lareira -  Bruxas não são passivas, mas extremamente vorazes. Possuem um exclusivo conhecimento, e são capazes de produzir poções afrodisíacas que deixam homens perdidamente apaixonados. 

– Compreendo... - Orochimaru sorriu de canto - Uma mulher comum que conseguiu se tornar Rainha... conseguiu encantar o Rei a ponto de fazê-lo tomar medidas drásticas para tê-la... - O homem se mostrava vitorioso - Isso pode resultar numa série de acusações.

– Sim.

A expressão vitoriosa de Orochimaru se perdeu imediatamente, então ele encheu novamente sua taça com vinho.

– O Rei a ama perdidamente. Não acreditará. - Disse convicto - Precisamos de provas. 

– Que tal irmos um pouco mais além?  - Indagou com um sorriso sádico - A conduta da concubina, certamente não é a conduta mais apropriada para uma Rainha. 

– Ela se comporta como se governasse a si mesma. - Bufou - Não compreende a inferioridade do seu sexo, é impossível mantê-la em seu lugar. 

– Sabe, creio que não precisaremos sujar nossas mãos. Está claro que a prostituta do Rei logo irá cair por conta própria, visto que sua conduta é inaceitável. 

– Sim... O jeito é esperar por um momento oportuno para uma acusação, mas qual? Qual acusação? 

– Se para uma mulher comum, cometer adultério é um crime contra a moral, e passível dos piores  castigos, para uma Rainha isso é sinônimo de apenas uma coisa...

– Morte. 


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Notas finais do capítulo

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Beijocas ♡