Do trono ao cadafalso escrita por Evil Queen 42


Capítulo 15
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Voltei.
Boa leitura. ♡



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"Meu pai não compreende, ele põe a ambição da família sempre em primeiro lugar e trata a própria filha como um objeto... um mero peão num jogo de xadrez. Eu fui um peão, mas agora sou uma Rainha, não devo abaixar minha cabeça para Kizashi mesmo que lhe deva respeito como filha. 

Em contrapartida, compreendo a razão dele. Eu realmente devo dar um filho ao Rei logo, para que minha posição esteja de fato segura, impedindo que meus inimigos ajam contra mim por conta do meu estado vulnerável. Mas meu corpo ainda não está pronto, sinto isso... Eu ainda não estou pronta para passar novamente por tudo que passei, sabendo que corro o risco de perder outra criança após o parto. 

O Rei encontra-se paciente, mas até quando? Ele diz que precisa de um herdeiro com urgência, pois, mesmo sendo jovem e bastante saudável, Sasuke quer preparar o filho para reinar. Sinto-me não uma Rainha, mas uma égua reprodutora! Sasuke me ama, sim, mas ele espera de mim um filho e logo ficará desgostoso com a minha pessoa se não vier ao mundo um menino saudável. 

É humilhante, eu, Rainha deste país, vista como uma criatura cuja única função é deitar-se com o Rei para procriar. Já ouvi comentários de que o prazer se obtém com amantes, mas não creio que Sasuke, depois de tudo que passamos para ficarmos juntos, chegue ao ponto de me trocar por outra. Ainda assim, o melhor que posso fazer agora é evitar que alguma mulher vulgar vire a cabeça de meu marido, tendo posteriormente lugar em seu coração e em sua afeição. Mesmo machucada, preciso usar uma máscara de boa Rainha, retomando meu lugar no trono e na cama de Sasuke, como se há poucos meses eu não tivesse enterrado um filho tão aguardado (...)."

Após tantos dias afastada das pessoas e dos afazeres da Corte, Sakura apareceu para jantar com seu marido. Foi uma feliz surpresa para o Rei que por tanto tempo se viu sozinho durante o jantar, então ele próprio fez questão de se levantar para puxar a cadeira de madeira para sua esposa sentar-se ao seu lado. 

O semblante da Haruno havia melhorado. Suas bochechas estavam coradas e lábios vermelhos por conta dos cosméticos usados pela Rainha para melhorar sua aparência. Apareceu diante do Rei com um vestido negro, sem bordados, enfeites ou pedrarias; Os seios - agora um pouco maiores do que eram antes da gestação - estavam discretamente inflados a cima da linha do corpete, as longas mangas quase alcançavam o chão, e o apertado espartilho por dentro do vestido tornava imperceptível a barriga ainda um pouco inchada. Os cabelos rosados estavam completamente presos por uma trança, não havia enfeites ou um capelo. Seus brincos eram de ouro, pequenos e discretos, além disso nenhuma outra jóia era usada por ela.  

– Senti sua falta. - Sasuke disse logo que se sentou novamente, então um dos criados serviu vinho numa taça para a Rainha - Era triste jantar sem sua companhia. 

– Não colocou outra mulher em meu lugar? - Indagou com a voz baixa, então Sasuke se mostrou confuso e um pouco irritado. 

– Torno a dizer que mulher alguma ocupará seu lugar. É a Rainha agora, Sakura.

– Não era disso que eu estava falando. A mulher que ocupa o trono nem sempre é a mesma que com mais frequência ocupa outros lugares...

Sasuke compreendeu perfeitamente a insinuação de Sakura. Ele tentou se acalmar, pois sabia que a Rainha ainda estava traumatizada com a morte do filho tão aguardado. 

– Eu não tenho amantes. - Disse com a voz firme.

– Mesmo?

– Se tivesse, acredite, não haveria como esconder.

A naturalidade de Sasuke foi assustadora para Sakura. Talvez por ele ter crescido sabendo que seu pai - tal como os Reis antes dele - tinha amantes quando queria, Sasuke passou a encarar tal assunto com naturalidade, até porque Mikoto sempre foi ciente dos casos de Fugaku e nada fazia quanto a isso. Isso fez com que Sakura ficasse ainda mais preocupada, com medo de que seu marido mais tarde arrumasse outras mulheres para casos extraconjugais. Antes de se casar, Sasuke levava mulheres diferentes para sua cama com frequência, então poderia se contentar somente com Sakura? 

– Se você arrumar uma amante, Sasuke, eu faço da vida dela um inferno. - Ameaçou. 

Sasuke soltou um riso anasalado. Gostava do jeito sempre destemido e petulante de sua esposa, embora soubesse que ela com certeza não poderia fazer nada caso ele tivesse interesse em levar alguma outra mulher para a cama. 

– Faça como quiser. - Deu de ombros. 

O silêncio se instalou entre ambos por alguns minutos, eles comeram quietos e Sakura encarava discretamente o marido enquanto comia. 

– Majestade. - Chamou - Eu tive medo, me perdoe.

– Perdoar pelo que? - Indagou antes de levar uma taça de ouro até à boca, tomando um gole de vinho. 

– Quando o Rei me procurou à noite e não permiti que me tocasse... 

– Teve medo de se deitar comigo, seu marido? 

– Também. - Admitiu - Tive medo de conceber outra criança. 

– Não pretende me dar um filho? 

– Não agora. - Respondeu com certo receio, lembrando das cruéis palavras de seu pai - Meu corpo não está pronto para carregar outra criança. Ainda não. 

– Compreendo. - Abaixou o olhar - Isso significa que você não quer que eu frequente seus aposentos por enquanto. Tampouco pretende frequentar os meus. - Supôs. 

Ainda com as palavras do pai em sua mente, Sakura respirou fundo. Era uma mulher, portanto já nasceu injustiçada nesse mundo. Suas vontades de nada valiam, seus receios não eram respeitados, mesmo sendo Rainha. 

– Provo que sou uma mulher e esposa obediente quando me submeto às vontades daqueles que são superiores à minha pessoa... Farei o que o Rei, meu marido, quiser que eu faça. - Disse seriamente, parecendo estar segura de suas palavras, ainda que parecesse proferir frases ensaiadas - Portanto, Sasuke, pode me procurar quando sentir vontade. Eu estarei sempre pronta para recebê-lo.

Sasuke pegou a delicada mão de Sakura e a levou até seus lábios, depositando um beijo. A mulher logo pensou que seu esposo fosse dizer que pretendia tê-la naquela noite, mas não... Seu olhar era piedoso.

– Não... - Ele disse, ainda com os lábios próximos à pele da Haruno - Esperarei que a Rainha me procure. Então saberei que está pronta. 

Ela sorriu emocionada. Sasuke a compreendia e respeitava sua dor, todavia, as frias palavras de Kizashi ecoavam  em sua mente.

Até quando Sasuke seria tão paciente? 

Depois de tudo que Sakura passou para conseguir a coroa, depois de tanto lutar para ter Sasuke só para ela, não poderia arriscar perdê-lo para qualquer oportunista. 

– Esta noite. - Falou decidida, então Sasuke se mostrou surpreso. 

– Se é sua vontade... - Assentiu - Então, esta noite.

(...)

Novamente investigando documentos, encontrou os registros médicos do reinado de Sasuke. O Rei era bastante cuidadoso para com pessoas próximas. 

Encontrou, sem maiores dificuldades, o registro sobre a morte de seu irmão. Pelo que o médico de confiança do monarca havia escrito, a criança nasceu antes do que deveria, consequentemente não estava pronta e por isso recusava-se a mamar. Era descrito como um bebê muito pequeno, mas que mesmo assim deu bastante trabalho para nascer, fazendo a Rainha sofrer com fortes dores durante dois dias, tendo sido puxado pelos pés para fora do corpo de sua mãe. 

Havia também um outro papel que continha os registros do médico após o nascimento do pequeno Sasuke, que deveria ter se tornado Rei Sasuke II caso não tivesse perdido sua vida tão prematuramente. No papel, o médico que o examinou quando nasceu escrevia sobre a grande chance que o bebê tinha de crescer saudável, pois era pequeno, mas não tanto a ponto de não vingar. Era um menino prefeito, sem deformidades, que infelizmente não sobreviveu mais de uma semana. 

Todavia, um outro registro médico chamou ainda mais a atenção de Sarada. Tratava-se de ninguém menos que Orochimaru. Ficou horrorizada quando descobriu que Orochimaru havia sido encontrado em seus aposentos com a garganta cortada, sinal claro de suicídio. Antes de tirar a própria vida, o antigo secretário de Sasuke mostrou sinais de loucura. 

– Teve um fim merecido. - Murmurou a monarca.

De alguma forma, Sarada imaginou que a loucura e o suicídio de Orochimaru poderiam estar ligados a um sentimento de culpa por ele ter ajudado a mandar uma mulher inocente para a morte.

Guardou todos os documentos em seu devido lugar, logo ordenou que suas aias chamassem Karin e se dirigiu para o seu escritório. 

Sentada na grande e confortável cadeira de madeira em frente à grande mesa, Sarada logo ouviu Karin ser anunciada e a ruiva entrou no cômodo. 

– Majestade. - Karin fez uma reverência e Sarada riu.

– Karin, estamos sozinhas. Você me viu nascer, cuidou de mim, então tal formalidade faz-se desnecessária. 

– Fico feliz por ver como Rainha a menina que vi crescer e que amo como filha. - Declarou - Portanto devo demonstrar meu mais profundo apreço. 

– Sabe que sou grata por tudo que fez por mim... Por favor, sente-se. 

Karin colocou-se sentada de frente para a monarca que se mostrava um pouco insegura, embora tentasse esconder. Mas Karin a conhecia desde seu nascimento e sabia decifrar seus gestos. 

– Por que mandou chamar-me? - Questionou a Uzumaki. 

– Descobri mais coisas que me deixaram um pouco intrigada... Eu tinha um irmão. 

Karin esboçou um sorriso amarelo. 

– Sim. - Assentiu - Sua mãe deu à luz um menino antes que você viesse ao mundo. 

– Por que eu nunca soube? 

– Não haveria motivos para saber, Majestade. - Explicou - O assunto morreu quando sua mãe ainda era viva, pois a machucava bastante. Ela ficou por muito tempo triste, mas depois decidiu voltar sua dedicação à tentar dar um herdeiro saudável ao Rei. 

– Sim, e ela deu. Mas não foi o que meu pai esperava, não é? - Indagou retoricamente - Andei olhando as contas de meu pai, Karin. Meu nascimento não foi tão comemorado, ao contrário do nascimento de meu irmão.

– Lembro-me do desespero de Sakura... - Disse nostálgica a ruiva, e Sarada ouviu atenta - Ela estava confinada para o seu nascimento, como é tradição. Seu pai estava chegando para vê-la, e Sakura não sabia como contar que o tão esperado filho era uma filha. Ela tinha medo da ira do Rei. 

– Afirmar que tem certeza do sexo de uma criança antes mesmo do nascimento é um equívoco, não? 

– Sasuke consultou diversos médicos e astrólogos, os melhores e mais confiáveis. A previsão era de que nasceria um menino saudável, o que animou bastante o Rei e a Rainha. - Relatou - Quando você veio ao mundo, uma menina, Sakura caiu em prantos. 

– Se o Rei tivesse dado mais tempo a ela, certamente teria seu tão sonhado filho homem! - Sarada disse irritada - Eu não pedi para nascer uma mulher. 

– Mas você era amada, Sarada. - Disse Karin - Sakura, mesmo tendo desejado um menino, amou você desde que lhe colocou em seus braços pela primeira vez. Eu via, no olhar dela, todo o amor que sentia. Com Sasuke não foi diferente, embora ele também tenha ficado claramente decepcionado de início. 

– Tem mais uma coisa, Karin... O que tem a me dizer sobre Orochimaru? 

– Bem... ele era secretário do seu pai. Teve uma morte trágica. 

– Sim, ele cometeu suicídio. Tinha sinais de loucura, é verdade?

– Sim. - Assentiu - Ele ficou realmente louco e se matou. 

– O que exatamente o classificava como louco? Diga-me o que lembra. 

Karin ponderou por alguns segundos. Sabia que aquilo provavelmente mexeria com Sarada, mas ela merecia saber. 

– Orochimaru dizia que "ela" o perseguia. 

– "Ela"? - Questionou desconfiada - Minha mãe? 

– Depois da execução de sua mãe, Orochimaru não voltou à Torre por alguns anos.  - Explicou - Até que o Rei ordenou que ele fizesse o interrogatório de um homem acusado de traição, que estava preso. Para isso, Orochimaru precisou passar pelo exato local onde anos antes foi erguido o cadafalso para a execução de Sakura. Desse dia em diante, Orochimaru disse que Sakura passou a persegui-lo. 

– Como um fantasma? 

– Creio que sim... O homem passou a ser visto como um lunático, chegou a perder a tutela do filho e foi afastado do cargo de secretário. - Relatou. 

Sarada não sabia se acreditava naquele absurdo. Orochimaru realmente ficou louco, ou, de alguma forma inexplicável, Sakura passou a assombrá-lo? 

Se de fato era verdade que os fantasmas sobrevivem por memórias emocionais de alguém que sofreu uma morte violenta, seria bastante compreensível a presença de vários deles na Torre. Diziam realmente que o edifício era assombrado, mas Sarada nunca deu ouvidos para tais relatos.

Se Orochimaru estava com a consciência tão pesada a ponto de enlouquecer por conta de Sakura, era óbvio que deveria ter culpa em sua morte. Total ou parcial. 

– E meu pai, em momento algum desconfiou de Orochimaru por isso? - Sarada questionou intrigada.

– Não. - Respondeu - Por algum motivo, Sasuke tinha certeza absoluta da culpa de Sakura. Talvez o secretário tenha ficado louco por ter sido, indiretamente, o causador da morte da Rainha.

– Indiretamente? Eu tenho motivos para crer que ele começou tudo. Que ele foi o culpado. 

– Não... Orochimaru não causou a queda de Sakura.

– Como não? - Bradou. 

Depois de tudo que leu, Sarada não conseguia crer que Orochimaru fosse inocente de algo. 

– Se ele tiver alguma culpa, Majestade, foi por oportunismo. 

– Como assim, Karin? 

– Com todo o respeito, Majestade, mas Sakura trilhou com as próprias pernas seu caminho para a morte.

– Está dizendo que minha mãe cavou a própria cova? - Estreitou os olhos. 

– Sim. - Assentiu - Ela era inocente das acusações absurdas que pesavam contra ela, em contrapartida, Sakura deu motivos de sobra para aqueles que quiseram derrubá-la. 

– Como isso foi possível, Karin? - Questionou amargurada, sentindo um nó em sua garganta. 

– Sua mãe é a mulher mais controversa desse país, Sarada. Várias lacunas de sua história não são preenchidas e jamais serão, pois Sasuke mandou que destruíssem até mesmo os retratos dela para que as gerações futuras não conhecessem o rosto de uma traidora. 

De fato, Sakura passou a ser uma espécie de "ser ou não ser" após sua morte. Mesmo sendo a mãe da então monarca reinante, sua vida permanecia um mistério para muitos. Sakura era uma incógnita, uma menina desconhecida que de repente saltou para a notoriedade. Sua trajetória era até mesmo fascinante para muitos, mesmo que seu fim tenha sido trágico. A história de sua ascenção e queda era claramente intrigante. Sasuke, o Rei, se apaixonou perdidamente por uma plebéia, tendo rompido uma aliança e dispensado um casamento com uma Princesa, tudo por Sakura. De fato, foi um momento de glória para ela. 

Infelizmente a paixão ardente e infinito desejo do Rei se acabaram rápido após o casamento, então o círculo se fechou em torno de Sakura, culminando eu derradeiro fim. 

Tudo foi favorável para que a figura de Sakura fosse moldada. 

– Eu sei. - Sarada abaixou o olhar - Mas, por favor, responda minha pergunta. Você não me convenceu sobre o porquê de minha mãe ter trilhado sozinha seu caminho para a morte!

– Uma mulher com a personalidade de Sakura seria facilmente derrubada, Sarada. - Explicou - Aquelas que não seguissem a ordem natural das coisas, da forma que Sakura fez em vida, seriam vistas como uma verdadeira abominação, dando espaço para acusações de bruxaria, por exemplo. Seu pai foi convencido de que havia sido seduzido por sortilégios, portanto, arrastado para o casamento por Sakura. Todavia, há controvérsias se ele realmente disse isso. 

– Então, Sakura Haruno passou a ser um mau exemplo a ser seguido? - Arqueou uma sobrancelha, questionando de forma retórica - Sua brutal morte serviu de lição para mulheres ambiciosas, capazes de lutar por algo maior do que lhes era permitido? 

– Resumidamente, sim. - Afirmou - Sakura pagou com a própria vida por crimes que supostamente cometeu por causa de sua conduta duvidosa. O destino de Sakura serviu para assombrar aquelas que pensam em transgredir as regras, mostrando claramente qual é o lugar de uma mulher. 

– Minha mãe não era uma bruxa, Karin. - Disse com tristeza, sentindo vontade de chorar - Eu leio suas palavras no diário, ela era uma pessoa boa. Não era uma bruxa, traidora, assassina, prostituta, nem nada disso que as pessoas dizem.

– Em vez disso, Sarada, ela foi uma mulher de temperamento forte. - Contou - Com qualidades pessoais que eram bastante atraentes, mas que, quando desencadeada sua elevação, tornaram-se perigosas para ela.

– Sasuke acabou odiando o que outrora mais amou em Sakura. - Afirmou a monarca.

– Sakura não se comportava como deveria. Era fina, elegante, educada, mas era também temperamental e não aceitava receber ordens. - Contou - Questionava a política do Rei, contrariava-o em público e ridicularizava sua imagem. Tal comportamento se tornou inaceitável, mas era como se ela sentisse prazer em provocar. Ela foi espirituosa, uma pensadora independente, tinha opinião própria e não ponderava antes de expor o que se passava em sua cabeça. Mas ela também tinha um outro lado, um lado impaciente, bastante exibido em certas ocasiões, um temperamento explosivo e a língua afiada. 

– Isso certamente irritou o Rei... e seu ego. 

– Com certeza. - Assentiu - Lembro-me que o Rei e a Rainha passaram a brigar com frequência, era possível ouvir gritos de ambos em vários corredores. Sakura agredia as supostas amantes de Sasuke, era excessivamente ciumenta e já chegou a envergonhar o marido em público. - Contou - Certa vez os dois brigaram quando o Rei estava se preparando para receber a visita de um embaixador. Sakura começou a gritar com ele, a Corte parou para ver, então Sasuke ordenou que ela se calasse e se colocasse em seu devido lugar, pois era uma mulher, portanto, uma pessoa inferior a ele. Sakura, com raiva, deu uma bofetada no rosto de Sasuke, chocando os Cortesãos... Claro que Sasuke ficou extremamente constrangido de ter apanhado da esposa em público. Não havia sido a primeira vez, pois o Rei era visto algumas vezes com marcas no rosto que claramente eram tapas da Rainha, todavia, ela nunca havia feito em público até então. 

– O que meu pai fez? 

– O que qualquer homem faria se apanhasse da esposa em público. Sasuke devolveu a bofetada, Sakura teria ido de encontro ao chão se não tivesse sido amparada por mim e pelas outras aias. 

– Meu pai... ele fez isso mesmo? - Sarada questionou horrorizada. 

– Sim. - Assentiu - Pela expressão no rosto de Sakura após o tapa, ficou claro que ele nunca havia feito aquilo antes, entretanto ela foi longe demais ao agredir o Rei na frente dos Cortesãos. Mas Sakura não se calou e recrutou, então Sasuke a segurou pelo braço e foi arrastando até um cômodo, onde os dois entraram e a porta foi trancada. Eles discutiram de uma forma que nunca haviam discutido antes, todos conseguiam escutar mesmo de longe. Sasuke não admitiu ter sido humilhado por Sakura daquela forma. 

Caso Sarada aceitasse um casamento, seria assim também? Não teria o direito de opinião, sendo sempre vista como inferior ao marido? 

Ela não queria passar pelo que sua mãe passou, mesmo que Sakura tenha sido extremamente feliz em alguns momentos de sua vida.

– Milha mãe era uma mulher admirável. - Falou pensativa - Eu não teria me calado da mesma forma. Às vezes, Karin, a humilhação e a submissão podem doer mais do que um tapa no rosto. 

– Depois disso, Sasuke e Sakura quase não se falavam. Ficaram dias sem trocar uma palavra e, mesmo que Sasuke tenha se mostrado arrependido e tentado se redimir, Sakura dizia para mim confidencialmente que já não o amava mais como antes e que só se deitava com ele pela necessidade de um herdeiro. Dizia que após dar um filho saudável para Sasuke, seria apenas sua Rainha, mas não sua esposa, e que ele não a teria mais em sua cama, podendo ter quantas amantes e quantos bastardos quisesse. Não sei se era verdade ou se ela dizia apenas por estar magoada, mas a realidade é que o casamento dos dois se encontrava em uma situação crítica. 

– E meu pai, Karin? - Questionou com tristeza - O amor que ele sentia por minha mãe, aquela chama ardente, se acabou tão rápido?

– Não creio que o Rei tenha deixado de amar a Rainha, Sarada. - Disse sinceramente - Ele só não tolerava o comportamento dela. Até o momento em que as acusações foram feitas e ele mandou que investigassem, acho que ele ainda a amava, e ficou desolado quando comprovaram a culpa da Rainha. Talvez ele não tenha deixado de amá-la, mas a culpa dela em tantos crimes o chocou demais.

– Como as acusações foram iniciadas? Quem a acusou, com quais provas?

– Na verdade não foram acusações diretas, Sarada. O que causou a queda de Sakura foram fofocas em torno de sua conduta. Apenas fofocas! - Exclamou - Caso alguém estivesse procurando alguma sujeira, seria a oportunidade perfeita! Quando as fofocas chegaram aos ouvidos do Rei, ele ordenou que Orochimaru comandasse uma investigação em torno da Rainha. Foi um verdadeiro efeito dominó! 

Agora as peças do quebra cabeça estavam se juntando.  Orochimaru tinha intenção de derrubar Sakura, era verdade, mas ele não fez o trabalho todo. Na verdade, não precisou inventar nada contra ela, apenas investigar até encontrar algo comprometedor. 

– Karin... Como ela era? - Questionou curiosa algo que jamais pôde ser respondido em sua infância. 

– Sakura? - Karin questionou, então Sarada assentiu - Tinha uma singular personalidade. Uma Rainha bondosa para com suas aias. Também vaidosa, adorava se arrumar para ouvir elogios do Rei. Foi mal interpretada por alguns, tudo por mera antipatia, mas quem a conhecia de fato tinha grande admiração por ela. 

– Estou ciente de que a relação dos meus pais foi pintada de diferentes formas na cabeça de muitos... Mas, como era minha mãe, fisicamente falando? 

Karin sentiu um pequeno aperto no coração. Era triste saber que Sarada sequer lembrava do rosto de sua mãe, uma vez que era muito nova quando a perdeu e todos os retratos de Sakura haviam sido destruídos. Durante o reinado de Sasuke, era proibido que falassem de Sakura para Sarada e isso continuou até que ela se tornasse Rainha e tivesse acesso ao diário. 

– Ela era belíssima. Uma mulher linda. 

Sarada vivia imaginando como sua mãe poderia ser. Sua aparência era extremamente parecida com a de Sasuke, então não conseguia imaginar como seria Sakura baseando-se em seus traços. 

– O pouco que ouvi sobre a aparência de minha mãe não era agradável. - Disse com estranheza após ouvir Karin dizer que Sakura era  bonita - Já disseram que ela tinha deformidades. 

– Sarada. - A ruiva riu - Uma mulher deformada não teria chamado a atenção do Rei, tampouco teria se tornado Rainha. - Explicou - A falácia sobre a aparência de Sakura se deu ao fato de quererem associá-la a uma bruxa... mas Sakura era perfeita. - Sorriu docemente - Ela tinha muito bom gosto, vestia-se bem e criava modelos que foram copiados por damas elegantes da Corte. Ela foi um espelho da moda, quase que diariamente fazia alguma mudança em suas vestes, e, mesmo que algumas damas a copiassem, Sakura sempre se destacava por sua elegância e refinamento. 

– E como era seu rosto? - Questionou - Creio que não era parecido com o meu, pois herdei muito de meu pai. 

– Ela tinha os olhos como os seus, idênticos, o mesmo olhar, mas eram esverdeados como duas esmeraldas. - Contou - O diferente exerce fascínio, e Sakura possuía formosos cabelos rosados como flores de cerejeira, isso era interessante. Possuir tal tonalidade incomum nos cabelos fazia Sakura chamar atenção dos mais ávidos e aguçados olhares como se a beleza de seu rosto não fosse o suficiente. Possuía cabelos tão longos que podia sentar-se sobre eles, macios como a mais pura seda, e me pedia para penteá-los mais de uma vez por dia. 

– Ela certamente era bonita. - Sarada sorriu. 

– Sim, chegou a ser descrita como uma rival de Vênus. 

Vênus foi reverenciada como a deusa da beleza e também simbolizava o amor. Desligando-se um pouco do conceito estético, se referir a Sakura como uma rival de Vênus também sugeria o fascínio, devoção e interesse que Sakura conseguia despertar em algumas pessoas ao seu redor, mesmo que não fosse aceita como Rainha por muitos. 

– Karin... - Sarada disse cabisbaixa - Você estava presente na execução de minha mãe? 

Karin teve uma breve lembrança das últimas palavras de Sakura, o que a entristeceu por um instante. 

– Sim, eu estive perto dela, sobre o cadafalso, quando ela morreu. - Contou, o que apertou o coração de Sarada.

Lembrava-se do sangue que inundava as botas do carrasco e escorria pelo piso de madeira, sujando não só o vestido da Rainha já sem vida, como os de suas damas de companhia. 

Sasuke não havia planejado um funeral ou algo do tipo, apenas um caixão de madeira para abrigar o corpo de sua esposa como lugar de descanso final. As aias de Sakura, aos prantos, colocaram o corpo de sua falecida soberana no caixão e providenciaram um local nos arredores da Torre para enterrá-la. 

A mulher que havia conquistado o coração do Rei e tornado-se Rainha estava morta. Seu sangue ainda estava em grande quantidade sobre o cadafalso e seu corpo jazia num local sem demarcação no momento em que foi enterrada como uma traidora. 

– Então... - A voz de Sarada fez Karin votar para a realidade - Como... - Suspirou - Como ela estava? Ela... aceitou a morte? Não teve medo? 

– Sabe, Sarada, sua mãe viveu dias terríveis na prisão. Não ficou numa masmorra e nem nada do tipo, mas em aposentos confortáveis, embora em nada se comparassem aos aposentos do palácio. - Relatou - Sakura foi condenada, mas não sabia quando iria morrer. Os outros traidores foram logo executados, mas ela não. Quando questionava aos carcereiros da Torre sobre quando seria executada, eles só respondiam que o Rei ainda não havia assinado a sentença, o que impedia que ela fosse morta. 

– Sim, eu realmente vi a sentença de minha mãe. Ela foi acusada e condenada, mas meu pai levou dias para assinar a execução. 

– Sim. - Assentiu - Sakura não sabia quando a morte viria, acreditava que Sasuke fazia aquilo para torturá-la, e ficava histérica. Eu cheguei realmente a pensar que o Rei teria piedade, e dei esperanças para Sakura. Infelizmente, o Rei pretendia matá-la. 

– Eu... Eu não consigo imaginar o pânico de minha mãe enquanto caminhava para sua execução. 

– Ela nunca esteve tão bela. - Karin esboçou um meio sorriso - Ela, no fim, aceitou a morte e não a temeu. No dia de sua execução, Sakura estava vestida como se ainda gozasse das regalias da realeza. Não derramou uma única lágrima, proferiu suas últimas palavras com dignidade, cabeça erguida... Era como se ela quisesse morrer.

– Ela aceitou tão rápido assim? - Questionou - Claro, sabia que não teria como fugir, mas, aceitar? Querer morrer? 

– Eu diria que Sakura beirou a insanidade enquanto esteve presa. No entanto, houve um dia em que o Rei ordenou que todas as aias de Sakura se retirassem de seu aposento na prisão. Ficamos com medo, claro, pois imaginamos que alguém fosse torturá-la para obter alguma informação. 

– Informação? Ela já não havia sido julgada? 

– Sakura morreu jurando inocência. Ela jamais confessou sua culpa, até onde eu saiba. - Disse Karin - No entanto, é mais provável que o Rei tenha ido vê-la. Não sei exatamente, mas é provável que Sasuke tenha ido ver Sakura na prisão, por isso mandou que as aias se retirassem. De qualquer forma, no outro dia pela manhã, quando fomos autorizadas a voltar para o aposento de Sakura, o carcereiro disse para que ajudássemos a Rainha a se aprontar, pois a execução dela seria dali a poucas horas. 

– Então meu pai provavelmente fez uma visita para a minha mãe antes de assinar sua sentença. - Sarada disse pensativa. 

– Sakura estava mudada... ela parecia feliz com a idéia de morrer, não estava mais inconformada. Seja lá o que ela e o Rei tenham conversado, se é que ele realmente foi vê-la, Sakura aceitou seu cruel e sangrento destino. - Karin riu sem humor - Então ela me abraçou, pediu para que eu não chorasse e, assim como ela naquele momento, que fosse forte... - A ruiva deixou algumas lágrimas caírem. Vendo isso, Sarada não se conteve e chorou também - Disse que muitos de seus inimigos estariam lá para vê-la morrer, inclusive Orochimaru, e que por isso deveria subir no cadafalso de cabeça erguida. Sakura não derramou uma única lágrima... Então, Sarada, sua mãe implorou para que eu cuidasse de você com amor e carinho, como se fosse minha filha, e que eu não deixasse ninguém te maltratar ou te julgar por ser filha dela. "Sarada não tem culpa de ser minha filha", disse ela. - Karin sorriu nostálgica, então enxugou algumas lágrimas que teimavam em cair - Então eu prometi que cuidaria de você, como se fosse minha filha de sangue. Foi quando Sakura me fez mais um pedido. 

– Ela lhe entregou o diário. - Deduziu a monarca. 

– Sim. Sakura me entregou seu diário e pediu para que eu escondesse, pois sabia que não haveria nada referente a ela para que você se lembrasse no futuro. Sakura sabia que seus retratos seriam destruídos, assim como muitos itens que pertenceram a ela; Seus brasões logo não existiriam mais; Suas jóias voltariam para a coroa... E sua imagem seria denegrida. Sakura sabia que você, Sarada, provavelmente cresceria achando que foi filha de uma mulher terrível. Por esse motivo, Sakura me entregou seu diário, implorando para que eu o entregasse para você quando fosse mais velha, pois só assim você conheceria a história da mulher que te deu a vida. 

 


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Notas finais do capítulo

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