A adolescente olhava pela janela do quarto, estava pensativa enquanto seus olhos pousavam sobre o grande jardim que rodeava aquele castelo. Sentiu mãos masculinas passarem por seus ombros e soltou um longo suspiro antes de relaxar. 

A situação já não era mais a mesma, mas Sarada não sentia mudanças. Era Rainha, não mais a Princesa. Konoha já não estava mais nas mãos de um regente provisório, visto que a herdeira de Sasuke finalmente havia atingido a maioridade. Agora sim, Sarada podia reinar como fora educada a vida toda para fazê-lo. 

— Como se sente, minha Rainha? - Arrepiou-se ao ouvir a voz masculina em seu ouvido, então fechou os olhos e sorriu. 

— Sem formalidades, Boruto. Por favor. 

Boruto era um grande amigo da nova Rainha, desde o tempo em que ambos eram crianças e Naruto era o braço direito de Sasuke. Ele acabou se tornando mais próximo do que deveria. 

— Está com medo? - Indagou o rapaz de cabelos loiros e olhos tão azuis quanto o céu daquela tarde. 

Sarada virou-se de frente para ele e esboçou um sorriso mínimo, inseguro. Embora tivesse sido criada para reinar, Sarada não podia se sentir totalmente confiante com isso. Era um  país inteiro que estava em suas mãos. 

— Uma mulher nunca foi coroada regente antes, sabia? - Indagou com desânimo - Se os antigos vissem uma mulher no trono de Konoha, diriam que o mundo inteiro passou a ser habitado por amazonas. 

— Não diga isso. - Boruto colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha de Sarada - Serás uma Rainha tão boa quanto o Rei que seu pai foi. 

A morena abaixou o olhar. Queria ser como seu pai foi? 

Não havia dúvidas de que Sasuke era um bom regente, mas não se podia dizer o mesmo dele como pessoa. Pelo menos não na visão de Sarada. 

— O que você sabe sobre a minha mãe, Boruto? - Sarada indagou normalmente, deixando confuso o rapaz. 

Pouco se sabia sobre Sakura. Na verdade o nome dela foi praticamente proibido durante o fim do reinado de Sasuke, que parecia ter motivos de sobra para apagar sua ex consorte da história. 

— A única coisa que sei é que seu pai se encantou por ela e se casou escondido, contra a vontade da Rainha mãe. - Explicou - Mas se decepcionou profundamente com ela.

— Um dos motivos foi o meu nascimento. - Sarada riu sem humor, voltando novamente seu olhar para a janela, fitando o jardim - Sasuke nunca quis uma filha, e isso foi o melhor que Sakura pôde fazer. 

A verdade era que Sarada não sabia no que acreditar. Muitos mistérios estavam por trás da vida e da morte de sua mãe; Seu pai raramente tocava no nome de Sakura, e nunca falava dela de uma forma boa, tal como todos na Corte. 

Inclusive Sarada era vista como ilegítima por muitos, mas seu pai a manteve na linha de sucessão desde antes de seu nascimento. 

Se Sasuke queria somente um herdeiro masculino, por que não casou novamente após a morte de Sakura? Por que manteve uma menina como sua herdeira mesmo após a anulação de seu casamento? Sakura foi considerada infértil mesmo tão nova?

Sarada realmente não compreendia os motivos que levaram à queda de Sakura. 

— O que aconteceu ou deixou de acontecer, Sarada, já não importa mais. - O loiro falou docemente - És Rainha. As coisas deram certo. 

— Como não importa? - Ela olhou indignada para Boruto - É da minha mãe que estamos falando! 

Ela sentiu um nó na garganta. Não se conformava com as desculpas contadas para justificar o ódio de seu pai para com a sua mãe, tal como os motivos que a levaram para a morte. 

Durante a cerimônia de coroação, enquanto era venerada pela Corte, pelos seus súditos, Sarada só conseguia pensar em como sua mãe se sentiu quando fez aquele mesmo trajeto no dia em que se tornou Rainha. 

Sakura teve seus dias de glória. Muitos não a reconheciam como Rainha legítima, uma vez que Sasuke, contrariando a tudo e a todos, coroou uma plebéia como sua esposa. Embora a família de Sakura tivesse posses, ela não tinha sangue Real. 

Ouviu-se uma batida na porta, então Sarada se recompôs. Ordenou que a pessoa entrasse, então se alegrou ao avistar os primeiros fios de cabelo ruivos. 

— Majestade... - A mulher, feliz pela nova Rainha, fez uma reverência. 

— Karin. - Sarada se aproximou rapidamente da mulher e a abraçou forte. Tinha um carinho muito grande por sua antiga governanta, a mulher que lhe viu nascer e crescer - Não precisa de tal formalidade. 

Karin foi o mais próximo de uma figura materna que Sarada teve. Foi a pessoa que estava lá para si quando Sakura não mais estava. 

— Sarada, tenho um assunto para tratar com você... - Disse seriamente - A sós. 

Sarada olhou para Boruto, então este entendeu seu pedido mudo para que se retirasse. 

Assim que o rapaz se retirou do cômodo, Karin suspirou. Estava claramente nervosa e Sarada, que a conhecia muito bem, notou isso. 

— Diga o que quer, Karin. - A morena falou curiosa, visto que o assunto parecia sério. 

— Há quinze anos guardo isto em segredo. - Em suas mãos estava um diário, então ela estendeu para que Sarada pegasse. 

Confusa, Sarada pegou o objeto das mãos de Karin. Estava um pouco velho, as folhas pareciam amareladas, mas por algum motivo Karin a entregou aquilo. 

— O que é isto? - Franziu as sobrancelhas. 

— Saberás de toda a verdade quando ler esse diário, criança. 

Sentindo cada vez mais curiosidade, Sarada abriu o diário e seu coração bateu mais forte quando soube do que se tratava. 

Sakura Haruno... Era claramente um diário de sua mãe. Pela data, ela começou a escrevê-lo bem antes de se tornar Rainha. 

— Isso é da minha mãe! - Arregalou os olhos negros, falando afoita e com as mãos trêmulas - Karin... Minha mãe escreveu isso! 

— Esse diário esteve nas mãos de Sakura por muitos anos, ela registrou nele os momentos mais importantes de sua vida. - Karin esboçou um sorriso de canto, sentindo um certo saudosismo tomar conta de si - Ela me entregou isso antes de morrer, para que eu entregasse a você um dia, pois sabia que sua verdadeira história jamais seria contada. Mas eu jamais o colocaria em suas mãos durante o reinado de seu pai, então resolvi esperar até o momento em que você se tornasse Rainha. O momento chegou, Sarada... É hora de você saber quem foi sua mãe. 

Sarada agradeceu a gentileza de Karin e em seguida pediu para ser deixada sozinha. Trancou a porta assim que a ruiva se retirou, então sentou-se na confortável poltrona em frente à mesa de madeira, pondo-se a folhear aquele diário um pouco envelhecido, mas que trazia escrita em suas folhas a história de Sakura Haruno.