A Lenda dos Dragões escrita por Hakiny


Capítulo 4
Dois Caminhos


Notas iniciais do capítulo

heeeey!
Vamos descobrir um pouco mais sobre os dragões?
VAMOS!



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— Eles foram expulsos do continente Karin.

Chow protestava.

— Nós podemos ir até o outro continente e…

— E dize o que? Oi, somos filhos das pessoas que expulsaram vocês de suas casas, estamos com problemas, podem nos ajudar?

Chow abusava de ironia em suas palavras.

— Não seja debochado.

Karin cruzava os braços e torcia o nariz.

— Mesmo que eles aceitassem, o que já é suficientemente impossível, mas mesmo assim, vamos considerar essa possibilidade… Karin, eu não sei se o Zeng te contou, mas o dragão negro expulsou todos o dragões, SOZINHO! O que te faz pensar que vai ser diferente agora?

Chow pesava a voz para a garota.

— Porque agora nós temos você Chow!

Karin se mostrava empolgada. O guerreiro teve uma pequena crise de riso.

— Eu mal fui capaz de aguentar um minuto com ele em batalha!

— Mas mesmo assim conseguiu feri-lo.

Zeng, que antes havia saído daquele cômodo, agora se aproximava dos dois.

— A garota tem razão Chow. Agora temos um dragão negro do nosso lado.

— Mestre, eu não sou nem metade de um dragão, e não serei até que o ancestral morra, e adivinha quem é o boss?

Chow parecia levemente desesperado diante da loucura de seus companheiros.

— Calma rapaz, todos sabemos que você não é páreo para ele, mas corre dentro de você algo que pode ferí-lo.

Zeng explicava com certa leveza.

— Sangue de dragão? Acredito que os outros DRAGÕES tenham pensado nisso também.

Chow argumentava com sarcasmo.

— Não, sangue de dragão negro! Nem um outro dragão teve essa vantagem contra ele antes.

Chow se calou. Zeng abriu um sorriso cínico e começou a explicar.

— O corpo de um dragão negro é a armadura mais poderosa que existe. Sabem por quê?

Os dois garotos já sentados e atentos, apenas acenaram negativamente com a cabeça. Zeng levantou uma concha suja de sopa e apontou para a parede coberta de desenhos dos dragões.

— Existem no total nove dragões. Azul, amarelo, vermelho, violeta, verde, ciano, laranja, negro e branco. Esses dragões são divididos em 4 grupos. Cada grupo possui uma imunidade, completamente automática, sem necessidade de concentração ou força, uma passiva. Essas passivas são: Fogo, ferro, veneno e tempo. Então, já temos oito dragões certo?

Karin e Chow ainda em silêncio confirmaram com a cabeça.

— O único dragão fora desses grupos é o dragão negro, pelo simples fato de ele ser imune a todas essas coisas!

Zeng estava empolgado.

— Por essa razão, nem um ser vivo, foi capaz de feri-lo gravemente até hoje.

O monge encerrou a sua fala fixando seus olhos em Chow.

— Simplificando…

Zeng balançava a concha ensopada de um lado para o outro — Você pode não ser tão forte quanto um dragão completo, mas possui dentro do corpo a única coisa que pode ferir o mais poderoso de todos..

— Então, o Chow seria como uma arma e os dragões seriam os guerreiros!

Karin se levantava empolgada.

Chow se manteve em silêncio.

— Mas…

A princesa cessou seus pulinhos — Quanto tempo ainda temos? Quer dizer, é óbvio que ele vai voltar, a pergunta é quando? Aliás, por que ele foi embora?

— Acalme-se princesa, uma pergunta de cada vez.

O velho batia na cabeça de Karin com a concha que carregava consigo, deixando pequenos respingos de sopa no cabelo da garota.

— O dragão negro deixou a cidade porque foi pego de surpresa por outro dragão, não um simples dragão, mas o elemento oposto a ele! Não estou dizendo que você é capaz de derrotá-lo Karin, mas digamos que ele hesitaria em te ferir com muita facilidade.

— Que louco…

Karin arregalava os olhos.

— Mas não foi só por isso.

Zeng se sentava — Hoje é o primeiro dia da lua crescente. Quando a luz volta aos céus, a escuridão se vai. Mas devo avisar que essa vantagem é temporária, o dragão de trevas é muito poderoso e esteve adormecido por anos, assim que ele recuperar toda a sua força, as fases da lua não interferiram em nada.

— Então temos exatamente 29 dias até a próxima noite sem lua, certo?

Karin exalava determinação.

— Precisamente. E depois disso, nada mais o fará parar.

Zeng explicava.

— Bom, eu vou indo.

Chow se levantava e se dirigia até a porta do templo, era nítida a sua expressão de descontentamento.

— Partimos amanhã?

Karin se aproximava do garoto, com um sorriso no rosto.

— Eu não concordei com isso.

Com essas palavras, Chow apenas se retirou do templo em passos firmes.

— Pirralho! Volte aqui e arrume essa bagunça!

O velho se referia a sujeira que ele mesmo havia feito.

— Mestre… podemos conversar enquanto faço a faxina.

Karin sorria simpaticamente enquanto segurava uma vassoura que havia encontrado por ali..

Batidas incessantes fizeram com que Chow despertasse de seu sono, a luz forte da manhã irritavam seus olhos cansados da curta noite. Sentado na cama ainda atordoado, o guerreiro nem lembrava quando o sono havia lhe alcançado.

— Chow! O que está fazendo? Já passa de meio dia!

A voz de Ana intercalava as batidas insistentes na porta.

Ainda sonolento, Chow abriu a porta de seu quarto, permitindo que Ana entrasse ali com a intensidade de um touro furioso.

— Estou batendo há horas!

A garota reclamava.

— Tenho certeza que isso foi uma hipérbole.

Chow se jogava mais uma vez na cama.

— Não percebe nada de diferente em mim?

Ana balançava os braços de um lado para o outro. Cobrindo parte dos olhos, e um pouco confuso, Chow apenas negou com a cabeça.

— Você é um lerdo mesmo!

Ana arremessava uma bota que havia encontrado em algum lugar no chão, na cabeça de seu companheiro.

— Meu braço, imbecil.

Ana acenava com o braço esquerdo. Chow pausou seus gritos exagerados de dor, após levar a pancada e se concentrou na sacerdotisa. Lembrou-se de seu braço quebrado pelo dragão negro.

— Como…?

— Karin!

Ana gritava com entusiasmo de quem estava louca para essa pergunta. A feição de Chow endureceu.

— Eu não sei como, nem porquê, mas esse negócio de dragão sagrado é realmente poderoso! Ela segurou o meu braço por alguns instantes, de repente a mão dela começou a brilhar e tcharaaan eu estava curada!

A voz de Ana ficava cada vez mais distante na mente de Chow.

— Ei! Chow!

Ana socava o ombro do garoto. Os olhos de Chow se arregalaram como se tivesse despertado de um sonho.

— Quando parou de me ouvir?

A garota o encarava visivelmente brava.

— Onde está Karin?

Chow se levantou bruscamente.

— No jardim talvez… eu não tenho certeza.

Ana estava assustada com a reação do garoto.

Sem dizer mais nada Chow saiu do quarto em passos rápidos.

Ignorando qualquer um a sua frente, o guerreiro desbravou os corredores do castelo até a porta que levava ao jardim. A luz ainda incomodava, mas não o suficiente para fazê-lo parar. Já do lado de fora, Chow avistou Karin em pé em meio as tulipas, seu vestido branco estava envolto por uma luz singela, era claro que Karin estava concentrando sua energia.

— O que pensa que está fazendo?

Chow puxou forte o braço da garota, interrompendo seu treino.

— Bom dia…

Karin franzia as sobrancelhas.

— Está treinando…

O guerreiro sussurrava.

— E você estava dormindo… que feio Chow.

Karin sorriu.

— Olha como age! Mergulha no desconhecido como se o céu fosse o limite. Isso não é brincadeira Karin! Você está lidando com coisas que vão além da sua compreensão!

Chow dizia de forma firme e direta, como um sermão.

— O que está acontecendo com você?

A expressão tranquila de Karin, foi substituída por uma irritada.

— Estou tentando te proteger!

Chow alterava o tom de voz.

— Desde que o Dragão negro começou a destruir as tribos você está diferente, me evita, não me olha nos olhos… Por um tempo achei que tinha lhe feito algum mal, que estava com raiva de mim por algo.

— Não…

Chow queria tirar a culpa de Karin e deixar claro que não possuía qualquer sentimento negativo por ela, mas a princesa se recusou a ouvi-lo e continuou.

— Ontem eu descobri que você escondia coisas de mim! Você não fez questão de vim falar comigo depois da invasão, mesmo sabendo o quanto aquilo havia me afetado e agora se opõe a minha maneira de lidar com isso.

Karin tomou fôlego e continuou.

— Por que não continua a me ignorar como fazia antes? Percebo que seu interesse só se manifesta em minha direção, quando consigo me mover sozinha.

As palavras de Karin penetraram o peito de Chow como uma espada larga. O guerreiro cambaleou um pouco até cair sentado na grama.

A princesa estava pronta para sair dali, mas sentiu seu peito apertar ao se deparar com o amigo naquele estado.

— Chow…

Karin sussurrou.

— Se não me contar o que está acontecendo, serei incapaz de compreender seus motivos.

Chow que até então mantinha seus olhos focados no chão, agora olhava para a princesa de baixo.

— Nossas almas estão ligadas aos nossos ancestrais…

O guerreiro dizia com uma voz quase inaudível. Lentamente, Karin se ajoelhou na sua frente.

— A primeira vez que fui ao templo, eu tinha 14 anos. Eu consegui quebrar uma rocha gigantesca com um soco em um momento de fúria. Aquilo foi estranho, mas eu estava forte, aos 14 anos eu não achava realmente necessário entender o porquê. Esse sentimento perdurou até uma certa noite…

Chow respirou  fundo.

— Eu tive o pior pesadelo de toda a minha vida. Centenas de mortos, minhas mãos cobertas de sangue, os gritos de desespero faziam meus ouvidos sangrarem. Era tão real que depois de acordado me perguntava se havia passado a noite realmente em meu quarto. Aquele foi o primeiro dia. Eu estava assustado, mas era só um pesadelo, e eu achei que poderia continuar. Achei errado. Noite após noite, os sonhos malditos me atormentavam. Os gritos, o sangue, os rostos. Em um mês eu estava beirando a loucura, então eu fui ao santuário dos dragões e Zeng me encontrou chorando aos pés de uma estátua.

Ele me ofereceu chá e me explicou como aquilo funcionava. “A sua alma está ligada a alma do dragão negro, a dor dele também é sua.” Ele disse. Eu, obviamente, fiquei muito irritado! Como poderia levar o peso de alguém que eu nem sequer conhecia? Foi então que ele me ofereceu dois caminhos. O primeiro era a rejeição, ele selaria o poder do dragão em mim, e aquilo iria acabar com os pesadelos. O segundo era a aceitação, ele me ensinaria a controlar os meus poderes e eu teria que aprender a conviver com as lembranças.

Eu quis esquecer, de verdade, eu realmente quis me livrar de toda aquela dor! Mas quando Zeng me disse o que estava por vir, quem estava prestes a despertar, eu entendi que pra mim não tinha dois caminhos.

As mãos de Karin já estavam nos ombros de Chow há algum tempo, ela o acariciava como se tentasse passar segurança.

— Mas você tem Karin!

Chow segurou firme os braços da garota, seus olhos estavam marejados, porém esperançosos.

— Karin, você não precisa passar por isso, não precisa tomar para si as lembranças de outra pessoa, as dores de outra pessoa.

Karin ouvia atentamente as súplicas de Chow. Carinhosamente, a princesa retirou as mãos do garoto de cima de seus braços e as segurou, em seu rosto um sorriso fraco aqueceu o coração do guerreiro.

— Chow, se as lembranças do dragão branco não atormentarem os meus sonhos, eu acabarei fazendo as minhas próprias. Os gritos dos inocentes que serão mortos pela minha omissão serão mais altos. Estamos em guerra Chow, os pesadelos não esperam a noite para invadir nossas mentes e tomar nossa sanidade.

Chow apertava as mãos de Karin na tentativa de achar conforto, pois as suas próprias mãos estavam trêmulas.

— Agora eu te peço, permaneça do meu lado, seja o companheiro fiel e presente que sempre foi, e não tente me afastar do sofrimento me causando mais dor com a sua ausência.

Chow foi incapaz de dizer qualquer coisa, então apenas buscou descanso nos braços de sua estimada companheira.


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês semana que vem amiguinhos!
AAAH! Queria tirar o momento pra compartilhar algo com vocês.
A Lenda dos dragões possui capítulos muito extensos, por isso a pedido de alguns leitores eu decidi dividi-los em dois!
O lado bom nisso é que tenho mais material guardado e mais tempo pra escrever e não deixar que meus leitores esperem mais de uma semana para um novo capítulo né? xD
Até semana que vem!



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