A Lenda dos Dragões escrita por Hakiny


Capítulo 3
O Santuário


Notas iniciais do capítulo

Completamente perdida com os acontecimentos recentes, Karin busca a ajuda dos dragões sagrados.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735430/chapter/3

No centro daquela cidade destruída Karin se manteve parada diante do portão principal, estava em alerta a possível volta do inimigo. Já de pé, Chow tocou em seus ombros tensos, provocando uma reação trêmula. Em silêncio, Karin se deixou relaxar e se virou para o amigo, abraçando seu peito. Chow a ouviu chorar, sentiu seu corpo inteiro se desmontar e a segurou firme em seus braços.

— Está tudo bem Karin. Você protegeu a todos, salvou a cidade! Está tudo bem agora.

Ainda abalada, Ana se aproximou.

— O que foi aquilo Karin? Foi igual…

— As lendas.

Chow interrompeu a garota, com uma expressão preocupada.

— Por que?

Karin se afastava do peito de Chow — Por que tenho isso em mim? Eu não sou um descendente…

Os três garotos se entreolharam.

— Bem, vamos conversar sobre isso depois. Temos que levar a Ana para cuidar desse braço.

Chow dizia enquanto tocava o ombro das duas garotas.

— Não sou só eu que preciso de cuidados.

Ana observava os ferimentos de Chow — Aquele dragão negro te deu uma surra e tanto.

— Verdade Ana, mas ainda bem que a grande heroína Karin veio ao meu socorro.

Ana e Chow tiveram uma pequena crise de risos, enquanto Karin mantinha uma expressão preocupada em seu rosto.

Os três garotos seguiam em direção ao castelo, caminhando em meio a destroços e cadáveres. No meio do inferno, os três garotos puderam ver Layla debruçada sobre o corpo de Dorian. Uivos em coro, faziam aquele momento se tornar ainda mais sombrio.

Karin sentiu sua garganta secar. Em silêncio os jovens entraram no castelo.

Deitada em sua cama, algumas horas depois do ocorrido, Karin observava uma chuva forte bater contra a enorme vidraça de seu quarto.

Desde o ocorrido seu pai se recusou a falar com ela, em partes ela entendia que como rei, ele estava lotado de obrigações depois da invasão. Mas ao mesmo tempo, sentiu fuga na voz dele quando o procurou para conversar. Um raio rasgou o céu e fez clarão no quarto escuro da garota. Ainda preocupada, Karin agarrou seus joelhos tentando recordar do que havia acontecido naquele dia. Ela sabia que o Dragão voltaria, e estava preocupada.

O vento forte vindo da janela recém aberta, fez voar as cortinas do quarto e se manteve assim enquanto Karin descia pela sacada, usando as raízes que enfeitavam os muros de sua janela.

A chuva agredia o oriente com severidade, mas isso não impedia que Karin se embrenha-se floresta adentro as pressas.

Ela só parou quando estava diante da escadaria do velho templo, mal tomou fôlego e se pôs a subir, degrau por degrau, ameaçando escorregar algumas vezes, mas nunca parando.

No topo das escadas, exausta e completamente encharcada, Karin se arrastou para dentro e parou de frente a estátua de um dragão sagrado.

— POR FAVOR!

Karin gritava — PRECISAMOS DE AJUDA.

A garota tomou fôlego e continuou.

— EU NÃO SEI O QUE AQUELE MONGE DISSE A VOCÊS, MAS EU USAREI AS MINHAS PALAVRAS!

Karin parou por alguns segundos diante da sua imagem refletida na poça de água que o seu corpo havia deixado no chão.

— Só vocês podem pará-lo.

O reflexo foi desmanchado por uma gota de lágrima vinda do rosto da garota.

— Eles não vão te ouvir princesa.

Uma voz rouca fez com que Karin se assustasse.

— Quem está aí?

A garota se levantou.

— Eu é quem deveria fazer essa pergunta, não acha, jovem invasora?

O rosto de Karin corou ao ver o pequeno velhinho se mostrando na luz.

— Mil perdões senhor.

A princesa gesticulava — Eu já estou de saída.

— Pare com isso.

O velho se aproximava da garota — Não acha que já brincou na chuva demais? Olhe pra você, encharcada, suja de lama… Aquiete-se!

Por um instante Karin sorriu, lembrou-se da sua tia, e a forma grosseira porém amável que ela a cuidava.

Sentada perto de uma lareira, Karin havia vestido uma túnica seca.

— Senhor Zeng…

Karin sussurrava.

— Sim?

O velho respondia enquanto a servia chá.

— O que disse sobre os dragões…

— É. Eles não vão te ouvir, não importa o quanto grite ou ore.

O velho interrompia a garota, seguindo com um gole de seu chá.

— Por quê?

Karin também bebia.

— Simples...

O velho deixava seu copo ao lado, e se levantava acendendo algumas tochas do templo. A luz das chamas fez surgir desenhos gigantes do dragões nas paredes — Eles não estão mais no céu, garotinha.

O monge encarava Karin.

— Mas as histórias…

— Histórias são manipuladas Karin. Não seria fácil contar as crianças que os dragões foram escorraçados para fora do oriente como animais selvagens.

Os olhos de Karin se arregalaram.

— Escorraçados?

— Sim. Mandados embora aos berros, pedras e foices. Os dragões e suas famílias!

— Famílias?

Karin estava cada vez mais incrédula com a situação que lhe era contada.

— Agora Karin, preste bem atenção, pois vou lhe contar a história dos dragões, a verdadeira.

Karin acenou positivamente com a cabeça.

— Há muitos anos, quando eu ainda era um garoto.

Monge apontava para as pinturas, que se moviam como se estivessem vivas.

— O oriente foi tomado por trevas, os demônios que você conheceu hoje...

— Essa parte eu conheço senhor…

Karin estava confusa.

— Shhh!

O monge tapava os lábios da garota.

— Como eu dizia… Haviam sete guerreiros, o arco-íris encarnado pairou sobre nosso mundo para salvar a terra da calamidade, mas não foi só ele, o dia e a noite também vieram ao nosso socorro.

— O dragão de luz e o dragão de trevas…

Karin sussurrava com certa incredulidade.

— Garota esperta.

O monge deu alguns tapinhas na cabeça de Karin — Juntos, eles varreram o mal do oriente e trouxeram paz novamente para o povo. Eles foram bem recebidos e exaltados pelos seus feitos. Na época foram construídos altares para eles e essas pinturas enfeitavam todos os cantos.

O velho apontava para os desenhos no templo.

— Eles estavam felizes, e resolveram ficar por aqui, construir famílias e suas vidas. Mas um dia...

Zeng pausou seu copo em uma pequena mesa de centro.

— ...o egoísmo foi maior que a gratidão, e os humanos não os queriam mais aqui.

— Por quê?

A princesa estava completamente tomada por curiosidade.

— O poder incomodava… estar a mercê de seres superiores fez com que a realeza tremesse. Como o governo é o reflexo do seu povo, os habitantes da país do dragão concordaram. Então o Dragão de trevas os expulsou do continente.

— Por que ele ajudaria o povo a maltratar seus companheiros?

Karin perguntou.

— Não se sabe ao certo… mas logo depois do ocorrido, ele se voltou contra o oriente.

— E o que aconteceu?

— O sol nasceu Karin, o sol nasceu.

O monge pegou seu copo novamente e entornou seu chá na lareira, causando uma grande fumaça, que aos poucos foi tomando a forma de um dragão.

Os olhos de Karin se arregalaram.

— Como faz essas coisas?

— Mestre Zeng!

Uma voz familiar fez Karin se levantar.

— Chow?

A fogueira iluminava o rosto do rapaz.

— Karin? O que faz aqui?

Chow estava surpreso.

— O que você faz aqui?

A garota o encarava. Chow engoliu a seco.

— O Chow é quase como um discípulo, ele me visita e me trás biscoitos.

O velho se aproximava do garoto e pegava a sacola que estava em suas mãos.

— Espero que tenha trazido com castanhas dessa vez!

Ele resmungava.

— Há quanto tempo faz isso?

— Alguns anos…

Chow coçava a cabeça.

— Anos? Pensei que contássemos as coisas um para o outro!

Karin se afastava do garoto, irritada.

— Não seja tão dura com ele menina, o rapaz só queria respostas, como você quis!

O velho dizia enquanto abria o pacote de biscoitos.

— Mas…

— E onde mais dragões encontrariam respostas, se não fosse no templo onde seus antepassados foram invocados?

O velho interrompeu a garota. Karin parou por alguns segundos, no meio de toda aquela confusão, ela havia se esquecido do que havia acontecido mais cedo.

— Mestre Zeng…

Karin respirou fundo — O que sabe sobre meus antepassados?

Zeng parou por alguns segundos, parecia pensativo.

— Filha de Kishan e Azumi, neta de…

— Zeng…

Karin tocava o ombro esquerdo do monge, interrompendo sua fala — Se eu sou um dragão, isso está no meu sangue certo?

— Deveria perguntar ao seu pai.

Zeng se afastava da garota.

Karin agarrou-se a seu próprio tronco enquanto mordia os lábios, a idéia de tocar naquele assunto com o pai, que tanto a tem evitado, a deixava angustiada.

Houve alguns segundos de silêncio.

— AMENDOIM? SABE QUE DETESTO AMENDOIM!

Um pequeno bolinho voou na cabeça de Chow, quicando e caindo no chão, Karin soltou risadas baixinhas.

— Você não acharia engraçado se tivesse que aturar esse velho ranzinza quase todos os dias.

Chow limpava alguns farelos que cobriam seu casaco.

— Mas você ainda vem aqui certo? A pergunta é: por quê?

Karin o encarava.

— Exatamente pelo motivo que ele disse Karin, Zeng é um dos homens mais sábios que eu já conheci.

Chow observava o velho se afastar enquanto reclamava.

— Ele me ensinou técnicas de lutas comuns, mas mais importante, ele me ensinou a combater dragões.

— Não dá pra acreditar que o nosso povo expulsou os dragões do oriente no passado.

A princesa olhava fixamente para as enormes pinturas no templo.

— É, foi tão confuso para mim entender como eles puderam fazer esse tipo de coisa e depois seguirem suas vidas, contando para as crianças histórias sobre o quanto eles eram incríveis, ignorando o fato de que eles foram escorraçados para fora de seus lares.

Chow também encarava as pinturas, sua expressão carregava indignação.

— Isso é o tipo de coisa, que para eles, só é belo em uma pinturas.

A voz de Karin era tão melancólica que por um instante, Chow sentiu como se a garota pudesse assistir a toda aquela dor.

— E se fôssemos atrás dos dragões?

Karin interrompeu bruscamente a análise de Chow e encarou o amigo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Vejo vocês semana que vem ♥
Não esqueçam de deixar um comentário aqui pessoal! Vocês vão deixar uma autora muito feliz ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Lenda dos Dragões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.