Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 32
26 de Julho ➶


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amados e pacientes leitorxs!!
Bom gente, por mim eu ainda não teria postado esse capítulo, pois ele está na metade do que eu havia programado para ter acontecido rsrs, mas nem tudo que eu quero acontece e eu não conseguia mais encaixar a trama nesse capítulo e eu não tive alternativas, além de finalizar do modo que está. O próximo vem, só no dia que Deus sabe, mas sei o que ele irá ter e os finalmente está mais "perto" de acontecer, finalmente né amadxs? rsrs
Agradeço imensamente também, a Charlotte pela recomendação! Nem acreditei quando vi, e não nego que chorei sim! Obrigada pela força que estão me desejando!

Aproveitem, espero que gostem! Aguardo-lhes nos comentários, ou nas mensagens privadas! Favoritem, adicionem em suas bibliotecas, recomendem se quiserem, compartilhem com o povo aí! Obrigada por estarem me fortalecendo! Obrigada mesmo!



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Sempre ao Seu Lado 

Capítulo 28 

 

 Sentia as pequenas mãos passearem sobre meu rosto num afago tão leve que ocasionava pequenas cócegas em minha pele. A voz de Hilary soava baixinho num monólogo que em quase tudo que ela cochichava, apenas a mesma poderia entender; era engraçado como ela parecia estar falando sobre diversos assuntos: cabelo, seus brinquedos, até o nome de Loren eu a ouvi falar, ora ou outra ela cochichava sobre mim, “mamãe isso...”, “mamãe aquilo....”, foi inevitável que um riso leve elevasse meus lábios num sorriso fechado. Ainda com meus olhos pesados pelo sono, eu movi minhas mãos, agora com a esquerda livre de agulhas, para procurar pelo corpinho da minha filha. Hilary tentou fugir das minhas mãos, seu humor estava maravilhoso; normalmente ela se mantinha em bastante silêncio, mas como agora vivemos com outras pessoas ela se expressa muito mais. Imobilizei seus bracinhos mantendo-a perto da beira do colchão, abri meus olhos com cuidado devido a claridade cinzenta que o sol dispunha por trás das nuvens pesadas no mesmo momento que Hilary soltava uma risada gostosa e encolhia seus ombros no ato, ela ainda estava com o pijama que eu a vesti na noite passada, mas não parecia ter acordado agora, seus olhos castanhos se encontraram com os meus no meio do seu riso e deixei seus bracinhos livres. Ela não tardou a passar suas pequenas mãos nas partes livres do meu rosto de novo. 

 

— Bom dia, Hilary. — desejei dando um sorriso melhor para ela e cocei os cantos dos olhos. A criaturinha falou alguma coisa que eu não consegui entender e pegou uma mecha do meu cabelo — Será que eu estou acordando tão tarde assim de novo? Ou ainda é cedo? — olhei para atrás dela, na parede de vidro analisando o tempo, as nuvens cinzentas estavam por toda a parte, mas não parecia que iria chover logo, e muito menos eu conseguia me basear com o tempo sempre assim, senti falta de um relógio para me situar; tinha sempre que perguntar para alguém as horas e até mesmo que dia era, pois eu me confundia. Voltei a olhar para a minha filha que estava distraída com o meu cabelo e analisei o ambiente com o sorriso fechado em meus lábios e me perguntei, como ela havia saído do berço... O sorriso se desfez no mesmo momento e franzi minhas sobrancelhas quando o fato dela estar ali me perturbou — Quem te tirou do berço bebê? — perguntei para ela. Seus olhinhos me encararam — Quem desceu você do berço?! — ergui meu braço esquerdo e apontei a mão para trás de nós, indicando o móvel. 

 

Hilary olhou para algo atrás de mim e um sorrisinho surgiu em seus pequenos lábios. Afastando-se da beira do colchão ela moveu suas perninhas com rapidez para contornar a cama indo para o outro lado do cômodo. Quando ela não estava mais na vista dos meus olhos curiosos, eu fui me arrumando sobre o colchão para tentar virar meu corpo e saber a causa dela ter corrido para lá; com a barriga mudando de tamanho a cada hora, os meus movimentos estavam ficando cada vez mais limitados, sentar estava sendo quase que um exercício físico, sem contar com a limitação de oxigênio por conta do espaço reduzido dentro de mim. Ergui minha perna direita para conseguir me virar direito e mesmo não querendo afastei o edredom do meu corpo, pressionei minhas mãos contra a lombar e me espreguicei. Virei meu rosto para ver Hilary com a mãozinha esquerda esticada entre as passagens de madeira do berço, ela tentava pegar algum de seus pequenos bichinhos de pelúcia que trouxemos. Pus minhas pernas para fora da cama procurando através do tato o meu chinelo e por costume eu analisei o cômodo.  

O volumoso livro que Jasper estava lendo quando esteve por aqui durante a madrugada foi colocado num canto do criado mudo, o marca-página vermelho estava sobre a capa. Inclinei os cantos dos meus lábios para baixo me surpreendendo pelo modo ligeiro que ele leu todo aquele livro em poucas horas. Me levantei e mantive-me um pouco parada no lugar esperando que meu corpo se acostumasse com o novo peso e a nova proporção da “bagagem” interna; quando me senti confortável o suficiente para me mover, caminhei na direção da minha filha.  

Ajeitei o tubinho da sonda na curvatura da minha orelha e parei atrás do seu corpinho. Olhei na direção da porta, aguardando que alguém passasse por ali, talvez assim a minha curiosidade em saber como foi que Hilary escapuliu do berço fosse revelada, mas ninguém aparecia e para que eu não ficasse na dúvida de que ninguém estava mesmo por ali, me atrevi a dar uma espiada no corredor inclinando-me sobre o batente da porta olhando de uma extensão à outra.  

“É, não havia ninguém mesmo” pensei. 

 

— Amorzinho? — chamei Hilary quando retrocedi para o interior do quarto e encostei a porta — Vamos no banheiro? A mamãe precisa fazer xixi e iniciar o dia... Acho que já passou da hora né? 

 

— Bom dia! — Hilary tirou sua mãozinha do vão da madeira e virou para mim assim que parei atrás dela novamente. Suas mãos se ergueram e encostaram no volume da minha barriga. Seus olhinhos ainda um pouco inchados, olhavam com bastante interesse para a redoma pontuda a sua frente. 

 

— Bom dia meu amor. — afaguei seu cabelo — Que linda filha... Está cumprimentando o bebê? 

 

Hilary não respondeu, mas o sorrisinho mostrando a pontinha dos novos dentes moldurando seu rostinho redondo foi a confirmação que eu precisei. Não resisti em apertar carinhosamente suas bochechas macias. 

 

— Xixi mamãe? — ela perguntou erguendo mais sua mão direita para segurar a minha esquerda. Envolvi minha mão sobre a sua pequenina. 

 

— Sim! — alonguei a palavra me alegrando pela sua iniciativa nos direcionando a passos curtos ao banheiro — Vamos fazer xixi. — confirmei — Você dormiu bem meu bebê? 

 

— Sim mamãe! — acenou com a cabeça — Dormiu mamãe? — perguntou sobre mim. 

 

— Sim, a mamãe dormiu muito bem... — abri a porta do banheiro para entrarmos e apenas a empurrei, não fazendo questão de fechá-la. Abri minha boca para comentar que Jasper esteve ali com a gente, mas não o fiz, me senti estranha, como se o fato de ter permitido que Renesmee fosse intitulada a ser sua “tia” pudesse se estender aos demais membros da família. Emmett poderia chegar a chorar de felicidade se isso fosse concedido. Eu teria que conversar a respeito disso com eles — Tudo bem, vamos fazer xixi! 

 

Levei Hilary até ao vaso sanitário e me abaixei até que conseguisse segurar na borda da tampa, assim eu consegui equilíbrio para me colocar de joelhos e abrir os botões do seu pijaminha e remover a fralda. Hilary estava animada para sentar no vaso e até tentou me ajudar a equilibrá-la sobre o assento estofado. Eu tive que rir disso, foi tão engraçado vê-la se apoiando em mim e falando animada! Hilary era naturalmente fofa mesmo. Desde que eu soube de sua existência pequena dentro de mim, ela se tornou minha dose de ânimo diária. Aprendi a viver e me reerguer com ela. 

 

Quando terminou de fazer xixi e estava novamente no chão, ela insistiu que eu também me sentasse ali para fazer xixi. Foi um pouco complicado, já que toda a vontade que eu estava sentindo anteriormente pareceu desaparecer e não foi eliminado mais que alguns mililitros de urina. Tive que convencê-la de que eu havia mesmo feito xixi, pois a criaturinha parecia cismar na sua própria linguagem que não havia xixi o suficiente no vaso sanitário. 

 

— Ai, Hilary!... — contive a risada no peito pegando sua mãozinha afastando-a do vaso mais uma vez. Abri o registro da água e deixei que a banheira se enchesse — Amorzinho, mas a mamãe só fez um pouquinho mesmo. — a direcionei para a porta que nos levaria ao closet. Vou aproveitar que estávamos a sós ali para banhá-la. 

 

— ...Xixi mamãe, de novo! — foram as únicas palavras compreensíveis entre todas as outras que ela havia falado enquanto insistia olhando para trás.  

 

— Depois a mamãe faz mais. — disse. Finalmente ela se contentou com minhas palavras se silenciando. 

 

Permiti que Hilary explorasse o local. Não havia muitas coisas que ela conseguisse abrir facilmente além das minhas caixas, o que era de menos, pois eram minhas. Enquanto ela passeava pelo lugar, eu procurei algumas peças de roupas para vesti-la.  

 

— Qual desses arquinhos(tiara) você quer usar hoje? — perguntei para ela mostrando o acessório em minhas mãos. Um era de pérolas brancas falsas e o outro era encapado de fita com borboletas em glitter. Hilary tomou a de borboletinhas nas suas mãos e tentou colocá-la na cabeça — Tudo bem, esse é o escolhido. — peguei o arco de volta antes que ela pudesse se machucar com ele e guardei o outro na gaveta junto com os outros laços e presilhas. 

 

Peguei os produtos higiênicos e conduzi minha filha de volta para o banheiro onde eu terminei de tirar seu pijama e aguardamos mais um pouco para que o nível da água fosse o suficiente para acomodá-la dentro da banheira. 

 

— A mamãe não vai lavar seu cabelo tá bom? Já fizemos isso ontem, se lembra? — perguntei me virando para abrir as gavetas da bancada, peguei dois brinquedinhos e joguei-os na água e procurei um laço pra amarrar seu cabelo. 

 

— É. — Hilary anuiu mergulhando suas mãozinhas sobre a água. Envolvi minhas mãos na raiz de seus cabelos juntando-os no topo e amarrei. 

  

Deixei Hilary brincando com seus brinquedos na água quente para que eu desse uma lavada no meu rosto e escovasse os dentes. Mal me olhei no espelho para que eu não fizesse mais que o necessário, depois eu me arrumaria. 

 Fiz um esforço para conseguir ficar sobre os joelhos para ensaboar o corpinho da minha filha, era complicado manter Hilary quietinha quando não dá pra apoiar o corpo na borda da banheira. Entre risos, frustração e várias tentativas, eu consegui. Outra situação complicada foi me levantar e tentar tirar a criaturinha de dentro da banheira. O vestido estava todo molhado, mas eu ainda conseguia sentir o perfume forte e cheiroso que Cole usou ontem, eu não sabia diferir muito bem as fragrâncias, mas podia me arriscar a dizer que consigo sentir o leve cheiro de folhas de violeta, que faziam me lembrar do jardim de Esme e de toda a floresta que envolve a cidade onde estou, não seria de menos já que ele vem de uma linhagem que ama e protege a fauna e flora juntamente com a resistência do seu povo através dos séculos. Terminei o banho da minha filha muito bem, tirando a parte em que Hilary quase me fez entrar na banheira junto com ela, hoje foi a experiência de banho mais engraçada que eu já tive com a minha menina, mesmo que tenha sido exaustivo. 

 

— Hilary, aonde é que você está indo?! — perguntei vendo o minúsculo corpo se mover para o outro lado do banheiro antes que eu pudesse segurá-la. Recolhi as coisas que eu trouxe de qualquer jeito nos braços para segui-la — Hilary, é do outro lado! — fui atrás dela quando o pingo de gente envolvida na toalha escapuliu para o quarto. 

“Isso que dá apenas encostar a porta!” suspirei seguindo-a. 

 

— Aqui mamãe! — ela me chamou apressando seus passinhos na direção da cama. 

 

— Cuidado! — adverti, mas não valeu de nada quando vi que ela tropeçou na ponta da toalha e caiu com as mãozinhas espalmadas contra as tábuas de madeira. Hilary não fez questão de chorar, na posição que caiu ela continuou seu caminho engatinhando até chegar na cama para se colocar em pé novamente. 

 

— Aqui mamãe! — chamou tentando se segurar na ponta do colchão para subir sozinha. A toalha quase que não está mais sobre seu corpo. 

 

— Pode parar por aí mocinha! Meu Deus do céu hein! — joguei as coisas sobre o colchão e a coloquei na cama — Da onde surgiu todo esse pique? — a segurei pela toalha. A carinha de sapeca que ela fazia era irresistível; abracei minha filha e enchi seu rostinho de beijinhos — A menina mais linda da mamãe! — passei meu nariz pelo seu cangote húmido inalando o cheirinho do seu sabonete. Hilary riu se encolhendo e tentou se afastar da cócega — Não, não!... — a segurei pertinho de mim — se tá cheirosa assim, a mamãe tem que cheirar!... — passei meu nariz pelo lugar novamente. 

 

— Ai mamãe! — Hilary tornou a rir enquanto se encolhia mais uma vez. Ela levou suas mãos ao local não permitindo que eu a cheirasse de novo — A bebê tomou banho. — ela cochichou para mim dando um sorrisinho lindo. 

 

— Tomou mesmo! — a desenrolei da toalha deitando-a sobre o colchão macio — Agora vamos vestir a bebê da mamãe né? 

 

— Sim! E a mamãe? — enrolou a toalha nas mãos. 

 

 — Depois a mamãe vai se arrumar também, amorzinho. — consenti passando o talco sobre ela. 

 

 

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— Agora é com você, bebê. — dei o arquinho em suas mãos — A mamãe vai te ajudar a colocar. — segurei suas mãos nas minhas para que ela colocasse o arco sobre a cabeça — Olha que menina mais linda da mamãe! — senti o orgulho inflar dentro de mim. Hilary sorriu bem entendida das palavras — Dá uma voltinha pra mamãe te ver! — ergui sua mão esquerda para girá-la sobre o colchão. Hilary riu daquele jeitinho lindo que me fazia derreter — Eu te amo tanto minha menina! — envolvi suas bochechas nas minhas mãos e lhe dei um beijinho. 

 

— Descer, mamãe! — ela se sentou e esperou que eu a ajudasse a sair da cama. 

 

Aproveitei a oportunidade de ouro onde estávamos apenas nós duas no cômodo para organizá-lo. Guardei os itens higiênicos da Hilary de volta no closet, separando as peças de roupas que seriam lavadas. Retirei todo o kit de berço e recolhi os brinquedinhos perdidos do móvel dando-os para que Hilary brincasse com eles na frente da parede de vidro, falando bem séria para que ela não saísse dali sem a permissão da mamãe. Estendi os lençóis novamente no berço, ajeitando o edredom, a lateral de apoio que só ficava no canto da parede e os travesseiros, arrumando da minha maneira. Fiz a mesma coisa com a cama de casal à minha disposição, guardei o que achei necessário ser guardado e mudei a disposição estética do edredom sobre o colchão. Creio que Esme não ficará chateada por esse único dia sem organizar o quarto. Eu sentia falta de arrumar alguma coisa. Parei no meio do cômodo analisando o meu feito com um sorriso orgulhoso apertando minhas bochechas e movendo a fita hipoalergênica que mantinha a sonda no lugar; não havia tanta diferença, até porque, eram os mesmos kits de cama e berço, mas só por eu tê-los dispostos ali, já me deixava bem; desci minhas mãos em direção a minha barriga sentindo o bebê se mexer. 

 

— Toma mamãe! — ergui meu rosto quando ouvi a voz de Hilary, percebi que ela vinha na minha direção com a mãozinha direita estendida para mim. Um de seus diversos laços estava entre seus dedinhos. 

 

— Obrigada filha, a mamãe vai guardar. — agradeci assim que ela estava aminha frente, afastei minhas mãos da barriga ainda sentindo os movimentos do bebê e me agachei para pegar o laço — Como é que se diz agora? 

 

— De nada, mamãe! — Hilary retribuiu e correu para os seus brinquedos. 

 

Observei-a voltar a brincar com seus brinquedos por um momento, antes de caminhar para dentro do closet guardando o laço entre tantos outros. Mais um para a coleção. Hilary brincava audivelmente pelo quarto, é até engraçado vê-la começar a brincar sozinha colocando em prática os primeiros indícios de socialização e fala tão depressa. Minha menina está crescendo mais rápido do que eu queria e me preocupei com o avanço que o bebê dentro de mim teria quando nascesse. Tentei fazer uma conta me baseando nas semanas reduzidas à vinte e quatro horas, mas isso me pareceu absurdo. Fechei meus olhos levando minhas mãos a têmpora e respirei fundo da melhor maneira possível. Uma, duas, três, quatro vezes... Abri meus olhos apenas por que percebi que o cômodo havia ficado muito silencioso, apenas alguns passinhos pra cá e pra lá e um silêncio assim onde há criança só pode significar uma coisa: travessura!  

Movi meus pés para fora do closet procurando por ela, senti um pouco de frio por causa da roupa molhada que ainda estava no meu corpo e parei meus passos olhando o ambiente vendo que Hilary não estava na área da parede de vidro. Adentrei mais para o quarto e ouvi seus passinhos serem interrompidos quando Hilary exclamou um “Oi!” para alguém, fiquei mais calma, era provável de ser Rosalie a estar ali com ela, ou até mesmo Jasper, bem, qualquer pessoa que more aqui, a possibilidade é grande. Pelo menos minha criaturinha não havia saído do quarto, meu coração havia se acelerado em desespero apenas em pensar que ela estaria próxima da escadaria...  

 

— Bom dia!... — saudei quem quer que fosse antes mesmo de chegar ao local. Tornei a mover meus pés e virei meu rosto caminhando na direção da porta para cumprimentar a pessoa que estava com Hilary quietinha sobre seus braços. A criaturinha estava sorridente e bastante à vontade no colo — ... ?! — minha saudação falhou e me assustei pela presença. Minhas sobrancelhas se franziram e minha cabeça se balançou para o lado, me senti confusa e muito envergonhada — Hã... — ergui minha mão esquerda para alinhar quaisquer mechas de cabelo que estivessem numa bagunça. Aí me lembrei que eu estava numa tremenda bagunça — Bom dia? — tornei a saudar, envergonhada — Você que havia descido a Hilary do berço? — foi a única pergunta que saiu dos meus lábios. Senti meu rosto se aquecer. 

 

— Na verdade, fui eu! — Alice apareceu do nada atrás do corpo masculino que se tornava gigante pelo contraste do seu corpo miúdo. Ela entrou no quarto com seu jeitinho peculiar de dançarina, com suas mãos unidas a frente do seu corpo magrinho contrastando a pele branca e pálida sobre o vestido curto preto — Ele estava apenas turistando pela casa... — sorriu para mim passando pela cama sumindo para a outra extremidade do quarto. 

 

— No terceiro andar? — inquiri para os dois tentando saber se era a verdade. 

 

 — Cômodo por cômodo! — Alice brincou caminhando em direção ao closet e deixou a porta aberta. Um riso repercutiu entre eles — Gostou da parte que deixei para você?! — sua voz soou dentro do local.  

 

 — Sim! — concordei tentando vê-la — Muito gentil da sua parte. — foi a melhor maneira que encontrei para agradecer. Movi meus olhos para a porta novamente sentindo a intensidade das batidas do meu coração. Puxei um pouco mais de ar para os pulmões criando coragem para socializar — Não vai me dizer nada? — perguntei sentindo meus lábios tremerem num indício de um sorriso contido. 

 

 — Estava esperando que você acordasse. — seus olhos puxados foram apertados pelo sorriso lindo que ele direcionou para mim — Bom dia, Lee. — cumprimentou-me com aquele olhar. 

 

— Bom dia, Cole. — me esforcei em não suspirar. Passei a língua pelos lábios me sentindo nervosa com a sua presença na porta do quarto, sendo que eu estou mais horrível que o habitual! — Uau, na próxima vez, já pode aparecer com o café da manhã! — tentei descontrair pois eu estava gritando por dentro: “Caramba, eu devo estar horrenda! Olha a situação do meu cabelo! Eu ainda estou com o vestido! Ai, não... Ele já deve saber que eu dormi com a roupa! Meu Deus do céu!...”. 

 

— Ou o almoço! — ele riu traindo minha atenção para ele novamente olhando-me como na noite anterior. Era o mesmo olhar, a mesma intensidade — Tem planos pra hoje, Lee? 

 

— Além do de sempre... — sinalizei para a sonda — ...Não que eu saiba. — o respondi — Porquê? 

 

— Estou pensando em te sequestrar para o jardim de Esme... — anunciou mudando a posição de Hilary em seus braços esculturais — Quase um piquenique... 

 

— Não, ela não tem nenhum compromisso além desse! — Alice emendou antes mesmo que o som das últimas palavras dele soassem. A pequena mulher saiu do closet com uma caixinha azul aveludada nas mãos e me olhou profundamente — Já separei o look perfeito para você usar hoje! Por algum milagre hoje as nuvens libertarão o sol! Você não pode perder essa oportunidade pois será o último deste ano! 

 

— Sol em Forks? Isso sim é uma surpresa. — me animei olhando de Alice para Cole — Eu não vou mesmo perder a oportunidade, que horas será? — perguntei a ele. 

 

 Cole pareceu surpreso ao me ouvir aceitar, mas não tive certeza quando sua atenção foi exigida de imediato por Hilary. 

 

— Agora! — Alice falou por ele quase dançando a minha volta. Entre todos da família, ela parecia mesmo ter saído de um conto de fadas, talvez ela até esconda a varinha de condão.  

 

— Mas já? — perguntei. Alice ainda continuava a me cercar. 

 

— Sim. — Cole concordou mesmo ainda estando entretido com minha filha. 

 

— É claro! — Alice tornou a falar — Você precisa se arrumar, tomar a sua dieta e o que mais precisar. Terá tempo o suficiente... — ela finalmente parou de circular meu corpo. Aquilo já estava me deixando tonta. — Faça aquele penteado com os grampos, vai ficar muito bonito. — sugeriu. 

 

— Como você sabe sobre esse penteado? — franzi minhas sobrancelhas em confusão. Não havia o feito depois que a conheci. 

 

— Nessie me contou! — esclareceu com animação — Ela gostou do penteado.  

 

— O mesmo que você estava quando nos vimos pela primeira vez. Ontem e hoje foi o vestido... — Cole comentou logo após as primeiras palavras de Alice — Se estiver disposta a fazê-lo, vai ficar muito bonito. — compactuou com a opinião de Alice. 

 

Senti-me disposta a colaborar com a sugestão aprovada por ambos; anuí com a cabeça, concordando em pentear meu cabelo da mesma maneira. Alice se agitou dentro do quarto, empurrando a caixinha aveludada para Cole e o despachando com Hilary para fora dali; Depois me direcionou para o banheiro, comentando que Esme já estava ciente de que não precisaria arrumar a cama hoje e que ela não estava chateada com isso. 

 

 — Ela entende que você queira se sentir no controle de alguma coisa na sua vida. — Alice comentou despejando um pouco dos sais de banho importado que ela trouxe do seu banheiro — Ultimamente quase nada têm andado de acordo com suas expectativas e ela te entende perfeitamente. 

 

— Faz algum tempo que minhas expectativas não andam de acordo com a minha realidade, claro que não em todos os sentidos... — comentei olhando para ela, suas sobrancelhas se tencionaram de repente, como se estivesse tendo algum incômodo — Está tudo bem? — sondei sua reação quando me aproximei de seu corpo miúdo. 

 

— Está sim! — me olhou dando um sorriso largo como se nada tivesse acontecido — É apenas uma dor de cabeça passageira. — surgiu ao meu lado erguendo os braços fininhos na direção dos meus ombros, sem conseguir alcançá-los. Suas mãos frias pousaram confortavelmente sobre as laterais dos meus braços, seus enormes olhos dourados analisavam-me de perto — Agora você pode finalmente estar, perfumada... Tire seu vestido antes que possa te fazer mal, pois ele vai direto para a lavanderia. É inadmissível que você continue com ele no seu corpo. — foi para atrás de mim, me ajudando a tirá-lo pelas minhas pernas. 

 

 

 

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— Como se sente? — Alice me encarava ansiosa pelo reflexo do espelho. 

 

— Me sinto como a “Elena Goldwyn” no tapete vermelho. — soltei um riso ao comparar-me com minha atriz favorita. Alice sorriu — Toda produzida para a centenária “People’s Choise Awards”, ou algo parecido!... —  como a tradição de ser um evento diurno, o vestido de listras em cor creme e um marrom claro ornava perfeitamente, eu apostava numa combinação como essa no corpo negro de Elena, a não ser pela sandália baixa e simples que calçava meus pés. Puxei uma grande quantidade de ar para dentro de mim, expirando com calma para fora — Obrigada por me ajudar com a depilação. — cochichei para ela. 

 

— Você já me agradeceu, mas aceito; de nada. Você consegue ter uma visão crítica muito boa sobre moda, quando quer. — avaliou minha opinião — Porém eu tenho uma visão mais intuitiva relacionada a sua, de que tenho certeza que a Elena estaria encantada ao te ver usando a peça inspirada em suas atuações. — ela analisou o vestido longo que me vestiu e olhou-me sugestiva pelo reflexo do espelho. Olhei para o tecido perplexa, entendendo ao que Alice se referia — Cada cor representa uma personagem que ela deu vida, esse trabalho foi muito bem produzido, não me arrependo nem um pouco da oportunidade de ter a peça destaque. 

 

— A coleção “Vidas de Elena Goldwyn, por J. Nova” já foi lançada? Mas não seria lançada apenas em setembro?! — segurei o tecido incrível entre meus dedos, vendo-o em meu corpo com outro significado. Eu, Amberli, vestida com a peça destaque da coleção que homenageia minha atriz favorita?! Olhei para o corte que modelava meu corpo. As alças eram de fácil regulagem e fininhas que caiam para um decote em V bem acentuado e desenhado pelo seguimento das listras, havia bojo em todo o corte do busto que não deixavam meus seios perdidos por ali, mesmo com o aumento do volume devido a produção de leite. A modelagem seguia em linha reta, modelaria sutilmente as curvas do corpo, mas devido ao volume crescente da minha barriga, o vestido proporcionava um caimento diferente, que aos meus olhos estava mais bonito ainda — Como você conseguiu isso?! — minha voz saiu esganiçada. Quantos mil havia custado esse vestido?! 

 

— Adquiri no pré lançamento que realizaram a uns dias atrás. —  comentou como se não fosse nada demais — Você gostou? — quis saber. 

 

— Caramba... Você não comprou esse vestido só por minha causa, né? — fiquei com medo da resposta. 

 

— Não; Amberli, esse é o modelo “Coco Torrado”, perfeitamente inspirado na obra “Sem Corte” onde ela deu vida à “Carly”. Eu apenas quis te emprestar. — respondeu. Não senti muita verdade em suas palavras, mas sabia que duvidar não me adiantaria em nada. Movi meus pés na direção do quarto e Alice me acompanhou — Estava pensando aqui comigo... — mudou de assunto — Qual foi a última vez que você pintou suas unhas? Se quiser eu posso pintá-las para você, se você gostar de vermelho, será melhor ainda, pois coleciono todos os tons possíveis! 

  

— Eu nem me lembro... Não estava fazendo muita questão de pintá-las, não tinha tempo ou ânimo para isso. — caminhamos para fora do closet e foi inevitável interromper meus passos para admirar a verdadeira tonalidade do ambiente com a luz solar — Hã...Se quiser, elas estão a sua disposição. — retomei a conversa atravessando o quarto junto dela. 

 

— Eu deveria ter te perguntado isso assim que cheguei em Forks, suas unhas estariam incríveis nas fotos... — seus lábios penderam, soando um pouco arrependida. 

 

— Alice, — pedi por sua atenção — eu queria sua opinião em uma coisa. — apertei meus lábios um no outro olhando-a de soslaio enquanto descíamos os degraus. 

 

— Pode falar. — concedeu. 

 

— Ontem eu consenti com Renesmee que Hilary começasse a tratá-la como sua tia; ela ficou feliz, só que eu não estou me sentindo bem em privar todos vocês disso também, pois sei que Emmett e Rosalie claramente gostariam desse “título”. — enfatizei a palavra movendo meus dedos — Qual é a sua opinião sobre isso? — esperei por suas palavras. 

 

— Assim, você está nos dando a oportunidade de apadrinharmos a sua filha. — entendeu aonde eu queria chegar — Então se você se sente confortável e segura de nomear-nos assim, tudo bem! — sorriu — Até porque, a Hilary ainda não consegue falar nossos nomes mesmo, e gostamos de cuidar dela, até porque estamos as inserindo em nossa família. Se você quiser que ela nos considere como seus tios, nós aceitaremos de bom grado. 

 

— Eu quero sim. — admiti aliviada, ajustando o tubinho da sonda atrás da curva da orelha — Me sinto mais competente agora que Hilary têm tios caritativos que cuidam tão bem de mim e dela.  

 

— Quê isso Amberli! — Alice soltou um riso gostoso de se ouvir — Mas e então? Você tem preferência em algum tom de vermelho?! Eu iria adorar pintar as pequenas unhas da Hilary também! 

 

Ela acompanhou meus passos durante todo o percurso para fora da mansão comentando com entusiasmo o assunto sobre se tornar a minha guia de beleza e moda particular. Emendei o assunto, tornando a comentar sobre as atuações incríveis de Elena Goldwyn e o quanto a sua influência internacional é merecida. Alice não se desprendeu de mim, acompanhou-me com sua conversa leve e pele reluzente como diamante até que estivesse na companhia de Cole novamente, no último degrau do último deck. Respirei fundo, sentindo-me ansiosa para estar com ele novamente, de maneira que sentia o palpitar das batidas do meu coração até nas palmas das mãos e um leve formigamento nas pontas dos dedos tanto das mãos, quanto dos pés. Ansiei tocá-lo como nas vezes anteriores para amenizar o desejo angustiante que sempre tenho quando percebo estar no mesmo ambiente que ele. 

 Cole ficou todo esse tempo em silêncio, apenas olhou fundo nos meus olhos, tão perto quanto sua altura possibilitava, e através do tom claro das suas írises eu percebi o momento imediato das suas pupilas se dilatarem; sua mão máscula e fervente entrelaçou-se a minha, que sempre parecia estar fria com seu toque, acatando ao anseio silencioso do meu coração dando-me a sensação de pertencimento e estabilidade. 

 E assim que Alice sumiu, me informando de que minha filha estaria muito bem sem mim por algum tempo, eu fui sendo direcionada por ele no jardim maravilhoso de Esme. Ao contrário do que eu imaginava, nós não fomos para o canteiro onde a enorme mesa de madeira estava, apesar do caminho parecer ter nos direcionado para lá. Cole me guiou para uma área mais distante e depressiva do terreno onde formava uma passagem feita com lascas de pedras; as árvores nessa parte eram mais distantes umas das outras, o que possibilitava a passagem de claridade maior e se estava prestes a acontecer segundo o que Alice disse, o local estará com grandes passagens de luz solar em breve, e eu não via a hora disso acontecer.  

Descemos pacientemente pela passagem até que de longe pude ver uma mesinha de madeira crua, seu tampo era o próprio tronco da madeira escura com decorações em cima, e apenas duas cadeiras estavam dispostas ali. Ergui meu rosto com a feição surpresa em direção a Cole, mas não esperei por alguma reação que ele também pudesse ter, desviei minha atenção para a mesa montada para dois, lindamente decorada. Animada, tentei nos apressar para aquela direção, meus olhos clamavam para admirar mais de perto, pois eu não estava convicta de que algo assim estava realmente posicionado para me receber. Era real? Ou era mais um flashback de algum sonho que eu possivelmente já tive? 

 

— Não tão rápido animadinha! — Cole finalmente falou ao rir e retroceder nossos passos no mesmo ritmo que os meus, quase como os de uma tartaruga, mas não pude reclamar, eu estava mais próxima ainda do seu corpo, seu calor irradiava dos tecidos leves que o envolviam. Ergui meu rosto novamente para olhá-lo — Sua expressão está idêntica ao da Hilary quando Alice dá um novo brinquedo a ela. Cheio de expectativas. Só muda pelas suas bochechas avermelhadas e o suor momentâneo das suas mãos. Ou eu deveria dizer que é o contrário?... — seus dedos deram um leve aperto no entrelaço de nossas mãos, as minhas pareciam mais frias ainda. 

 

— É que eu nunca fui convidada para almoçar em uma floresta! É uma experiência inédita! — sorri falando-lhe a verdade com entusiasmo.  

 

Desviei meus olhos dele para olhar cheia de curiosidade o pequeno ambiente montado ali para nos receber. A cada passo que aproximávamos da mesa posta, mais encantada eu ficava com a decoração que estava naquele lugar; não havia dúvida alguma de que isso era todo o dedo pálido de Alice envolvido. Haviam pequenos detalhes ali que eu sabia que são referentes a mim, principalmente as flores que decoram o ambiente nos pequenos vasos de vidro orgânico delicadamente pendidos em alguns galhos e até mesmo na mesa, dos quais ninguém saberia, se não estivessem colhendo informações minhas nos pertences que acomodei no meu carro, pois são gerberas, minha espécie de flores favorita e isso eu ainda não havia contado a nenhum deles. Apesar da grande quantidade de cores dessa espécie, haviam selecionado ali os tons de azul da flor, que entre o verde que nos envolvia tornava o ambiente até que romântico aos meus olhos. 

Minhas sobrancelhas se franziram ante aos meus pensamentos, mas não fui capaz de repreender-me, eu apreciaria mesmo uma experiência romântica dessa maneira, pois que outra vez na vida eu estaria almoçando ou jantando numa área florestal com uma mesa tão bem decorada assim? Nem nos meus sonhos mais absurdos isso poderia me acontecer, é algo realmente inédito e entusiasmante. 

Porém, isso ainda não anulava a estranheza que palpitava dentro de mim de que isso também era, no mínimo, estranho. Mas nem fiz questão de dar atenção a isso, continuei com meu sorriso nos lábios caminhando na companhia de Cole até que estivéssemos a frente da mesa adornada para nós.  

 

— São gerberas! — sorri estendendo minhas mãos para tocar em uma pétala entre as diversas flores que haviam ali — Minha favorita. — contemplei a posição dos ornamentos concentrados apenas de um lado do tampo da mesa para que nada pudesse atrapalhar-nos durante a refeição onde estava os conjuntos básicos com a passadeira sobre o tronco, os porta-guardanapos sobre os pratos brancos na companhia dos talheres e duas taças para cada. 

 

— Pensei que fossem margaridas modificadas. — Cole admitiu rindo — Eu não entendo nada de flores, apenas gosto dos formatos e cores, não passa muito disso. — me indicou a cadeira à nossa esquerda. 

 

— Elas são da mesma família, então você quase acertou. — comentei a seu favor e sentei-me, reparando na caixa térmica portátil que havia no seu lado. 

 

— Já perito em flores, então!... — sorriu acomodando-se na cadeira a minha frente — Olha, não estava em meus melhores planos te trazer para um piquenique com mesa e cadeira, mas com certeza você não ficaria confortável de se sentar nesses musgos húmidos. —  concordei prendendo um riso — Eu pedi ajuda para a Nessie, só que ela empurrou Alice para cima de mim, e qualquer pessoa que olha para você, nota o quanto precisa espairecer. — de modo automático seu lábio repuxou um pouquinho para o lado fazendo um leve aceno da cabeça lamente que não durou muito tempo em sua expressão — E é exatamente por isso que estamos aqui agora! —  a maneira como ele sempre fala, tem a capacidade surreal de mudar o clima do ambiente em milésimos de segundos — Eu não quero falar sobre o futuro, ou muito menos me lembrar das mágoas do passado. Nós iremos comer tudo o que tem para comer, — abriu a caixa térmica sem desviar seu rosto de mim — eu nem sei o que é, pois, a única coisa que preparei foi o local em que estamos, mas será apenas eu e você trocando as melhores memórias e experiencias que tivermos vivido. 

 

— Tudo bem! — me ajeitei sobre o assento preparando melhor meu estado de espírito — E quem vai começar? 

 

— Não precisamos disso Lee, simplesmente acontece; mas se precisa de uma direção, eu te ajudo. — foi colocando alguns recipientes sobre a mesa — Que tal começarmos dizendo qual foi a última série que juramos assistir até o final e não passou do quinto episódio?! 

 

— Droga! — lamentei me lembrando da maioria — Acho melhor eu começar fazendo uma lista... — resmunguei pegando a próxima vasilha de suas mãos. 

 

— O quê? — perguntou rindo — começou a assistir três ao mesmo tempo também? 

 

— Não... — minhas sobrancelhas se curvaram para baixo e me encolhi na cadeira estendendo meus braços sobre o tampo da mesa — Comecei cinco. — choraminguei e me surpreendi ao ouvir Cole xingar baixinho quando tirou de dentro da caixa térmica uma garrafa de vinho. 

 

— Você está mais acumulada que eu, — soltou um riso surpreso — olha Lee, eu não tenho nada a ver com essa garrafa de vinho, — o vidro tilintou quando ele colocou sobre a madeira, pois sua atenção ainda estava sobre as outras bebidas e alimentos que ele retirava da caixa térmica — nem sei se você pode ficar bebendo uma coisa dessas... A única coisa que eu tenho a ver por aqui, é com alguns pratos que minha mãe fez questão de cozinhar para você, como “Spiku” — apontou para um dos pequenos recipientes na mesa. Trouxe-o para mais perto de mim, curiosa para saber o que era — e o “Terang Bulan”. 

 

Spiku claramente era um tipo de bolo, de três camadas e visivelmente muito mais macio e húmido do que eu estava acostumada a consumir. 

 

— O que é o Terang Bulan? — perguntei ainda com meus olhos quase devorando os pedaços de bolo. Pisquei meus olhos desviando minha atenção do doce, colocando-o de volta na mesa. 

 

 — É uma sobremesa também, quase como uma panqueca recheada; o nome significa “Lua Cheia”, provavelmente porque as tradicionais se assemelham a isso, mas hoje os mais novos gostam de incrementar os sabores, então não há apenas um padrão para preparar o recheio. — seus olhos se concentraram em mim por um momento antes de olhar para as pequenas porções que havia pela mesa — Ela deve estar em alguma dessas vasilhas. 

 

— Sua mãe que fez?! — apercebi. 

 

— Sim. — seu lábio se moveu num leve sorriso — Se ela tivesse insistido um pouco mais, você os receberia pelas mãos dela. 

 

— Oh, nossa!... — me constrangi apenas em imaginar — Na próxima vez, não faça sua mãe insistir tanto. — tentei parecer séria, apesar do sorriso involuntário que meus lábios formavam — Preciso conhecê-la logo! Já posso começar a listar algumas receitas que ela poderia me ensinar? 

 

— Só depois que sua lista de séries em haver estiverem encerradas. — caçoou. 

 

— Não frustre minhas esperanças de conhecer sua mãe!... 

 

— Já pode começar a maratonar então! — contemplei seu riso, me encantando com a maneira de como seus olhos quase se fechavam quando ele ria — Quantas mesmo?! 

 

 

 

 

 

 

 

➶ 

 

 

 

 

 

 

 

— ...É claro, — Cole fez uma pausa para beber o líquido que havia na taça — eu não te fiz andar até aqui apenas para comermos, apesar dessa parte me agradar demais. — soltou um breve riso e desviou seus olhos dos meus por um instante. Havíamos, literalmente, devorado todas as porções que nos ofereceram para comer, as vasilhas vazias estavam jogadas na caixa térmica e Cole havia se permitido partilhar do vinho disposto a nós, e apesar do seu alto consumo, ele continuava a entornar o vinho para dentro de sua taça como se fosse água, sem nenhuma alteração — Tenho algo aqui comigo para te dar. — seus olhos claros olhavam para mim novamente — É algo não só para você, mas para seus filhos também... E... Olha, eu não sei como te presentear, mas é algo para sempre se lembrar, vale como uma informação também, — me pareceu confuso em tentar descrever o que estava realmente querendo dizer — e eu acho melhor você tirar suas próprias conclusões. — suas mãos afastaram algumas decorações da mesa para puxar o vaso redondo com as flores pendentes, de algum modo ele retirou um embrulho dali — Espero que goste. — retirou a embalagem que o protegia. 

 

Inclinei-me para frente por reflexo, curiosa para ver o que ele me daria. 

Era exatamente a mesma embalagem aveludada que esteve nas mãos de Alice há pouco tempo atrás. Azul sóbrio, a tonalidade parecia estar bem mais escura em suas mãos do que na de Alice, mas não me havia dúvida alguma de que era a mesma. Cole parecia nervoso segurando a pequena caixa de joalheria em suas mãos e mesmo com o nervosismo aparente, ele estendeu a palma da sua mão esquerda para que a minha fosse amparada ao receber seu presente e assim, ele colocou com cuidado o objeto aveludado, que através do tato, eu pude sentir a maciez e o quão leve é. 

Levei minha outra mão para segurar a caixa e trazê-la para mais próxima de mim, afastei a louça, abrindo espaço para colocar a caixinha sobre a mesa, abrindo o pequeno e discreto fecho prateado, ansiosa para saber o que havia dentro para que eu pudesse pegar o acessório e analisá-lo de perto com bastante cuidado.  

Presos a uma mini almofada preta com um emblema, estavam três pulseiras douradas. Seus elos trançados uniam-se delicadamente às pequenas placas lisas de um possível ouro, onde a primeira estava gravada com o meu nome, a segunda se encontrava vazia e a terceira tinha o nome da Hilary. Eu nunca havia pensado na possibilidade de gravar uma joia com o nome dos filhos para que pudessem preservá-los como uma saudosa recordação de um acessório que eles tenham usado desde os primeiros dias de vida; então não havia dúvida alguma, o presente me surpreendeu muito! 

 Retirei a terceira pulseira dali com cuidado, passando a ponta dos meus dedos suavemente sobre a gravura delicada do nome de Hilary, vendo o acessório brilhante reluzir nas minhas mãos quando um feixe de luz transpassou as árvores que cercavam o local, tornando o ambiente mais iluminado novamente. Senti meus olhos se aguarem no momento em que entendi o que aquela pulseira sem gravura no meio significava. Minha postura amuou sobre o assento de madeira sentindo um peso medonho e invisível da responsabilidade que havia sobre minha concepção, pois eu teria um bebê em meus braços em poucas unidades de dias e... 

 

— Eu estou me dando um prazo de vinte e quatro horas para definir um nome para essa criança. — deixei que meus pensamentos fluíssem por meus lábios. Suspirei com força sentindo um peso no ar e deixei de olhar para as lindas pulseiras douradas, fixando meus olhos nos seus, sentindo-me acolhida até em seu silêncio; o movimento dos meus olhos fez com que as lagrimas saíssem e escorressem pelo meu rosto — Pelo menos para decidir o nome desse bebê eu terei controle. — senti mais outras lágrimas saírem dos meus olhos — É o mínimo, e a única coisa que eu posso decidir por nós. — levei minha mão ao rosto para limpar o rastro das lágrimas voltando a olhar com carinho para o presente — Obrigada Cole, eu amei! Nunca, nunca havia pensado em ter algo com tanto significado... — funguei percebendo que mais lágrimas transbordavam dos meus olhos — Obrigada por estar aqui comigo, acompanhando de perto toda... Tudo isso. — apertei meus lábios contendo o choro, sentindo meus olhos arderem pela proporção de lágrimas que escorriam. 

 

 Cole retirou a joia da minha mão com cuidado, não reagi a sua investida, pois tentava controlar a ebulição de sentimentos dentro de mim. Ele deve ter me falado alguma coisa, mas eu não consegui compreender suas palavras, apenas movi minha cabeça num sim automático admirando seus traços e percebendo alguma verdade em suas feições. Com o meu consentimento vago e alheio, vi Cole se levantar para envolver suas mãos febris nas minhas, fazendo-me ficar em pé e ser abraçada por ele. Nem tive tempo para entender e me chocar com isso, nem mesmo quando o contato do meu rosto em seu corpo fez com que o tubo preso em mim fosse movido um pouco mais para dentro do meu nariz, apenas envolvi meus braços sobre seu corpo quente e musculoso sentindo-me a vontade em fechar meus olhos e chorar ali, tendo o alívio de ser confortada por ele. 

Cole esperou que eu chorasse em seu abraço por algum tempo, num momento ou outro ele até chegava a tentar se comunicar comigo, mas eu não conseguia compreendê-lo e muito menos encontrava minha voz para lhe falar alguma coisa além dos resmungos chorosos que escapavam pela minha boca. Suas mãos quentes se moviam entre minha cintura e coluna num afago acolhedor enquanto meu corpo pranteava apoiada ao seu. 

 

— ...Eu estou aqui, estou aqui para você Lee. Você não estará sozinha. — comecei a entender o que ele estava falando comigo. Senti quando sua mão esquerda deixou de tocar a área da cintura, para tocar meus cabelos depois de algum tempo. Ele tornou a ficar em silêncio — Você consegue me entender? —  ele tornou a falar quando meu corpo foi se abrandando e comecei a me sentir mais calma. Abri meus olhos, e mesmo sem querer, afastei minhas mãos do seu corpo para enxugar meu rosto, ajeitar a sonda que passava a incomodar o nariz e olhar para ele, admirando-o e me atentando as suas palavras — Entende quando eu te digo que não estará mais sozinha, Lee? — seus olhos castanho-claros com verde me encaravam sob as pálpebras puxadas — Olha, eu preciso deixar claro para você. Quero que me escute e entenda Lee: Eu não vou te deixar, eu quero ficar com você, estar com você, independente da situação e circunstância; você podendo me pedir ou não e principalmente quando me pedir, eu quero estar sempre ao seu lado, num dia bom ou não, eu quero estar ao seu lado. — sua mão esquerda não hesitou em tocar o lado direito do meu rosto — Você não está mais sozinha. — me afirmou. 

 

Eu estava maravilhada com a sua declaração e através disso, não foi difícil perceber que meus olhos se enchiam de lágrimas mais uma vez, só que desta vez eram de bons sentimentos. Movi minha cabeça num sim, guardando suas palavras dentro de mim, da mesma maneira em que o vi carregar minha filha pelo jardim de Esme. A cada minuto em que eu passava com ele, mais ele quebrava os paradigmas que inconscientemente haviam em mim sobre ele, até por que, ele é homem; a reputação em si ainda não é tão admirável em algumas questões. 

  

— Obrigada. — sussurrei com sinceridade ao pondo minha mão sobre a sua que aquecia meu rosto, mantendo-o ali — Do fundo do meu coração, obrigada. 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Elena Goldwyn - uma atriz aclamada pela Amberli no universo da história. Se ela realmente existir, eu não tinha ideia.

As sobremesas mencionadas existem, e um dia planejo fazê-las tem a receita no YT, apenas precisarei traduzir kkkkk



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