Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 29
Bônus II ➳


Notas iniciais do capítulo

PREPAREM O CORAÇÃO MEUS AMADOS LEITORES!
Ai gente, nem eu to me aguentando tá?!!!!!
só escrevo umas coisas: LEIA E APROVEITE!

ps: Gente lembrem-se, essa é a segunda vez que saio da visão da Amberli, e estou indo para um terreno incrivelmente contrário, um homem! Algo tremendamente novooo, me digam o que acharam e se gostariam mais desse ponto de vista!



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Sempre ao Seu Lado 

 

↠ .Cole. ↞

 

 

— Eu já te falei um milhão de vezes, seu maldito! Fique fora da minha área! 

 

Afastei as placas de silicone da entrada do galpão de pesagem, caminhando pelas tábuas extensas de madeira húmida impregnada de sal. De longe eu podia ouvir mais uma briga entre Sean e “o Espertinho”, Logan. Rivais de pesca, era bem comum, a situação se tornava desconfortável quando um ou outro irritava o adversário no mar e a rixa se estendia até os píeres. Mudei meu plano inicial e virei entre uma tora de sustentação contrária ao meu caminho dando uma passada longa para as passagens flutuantes tentando achar a embarcação deles entre todos esses barcos; não deveriam estar longe. 

 Mais à frente pude ver todos os tripulantes das embarcações reunidos num semicírculo, seus rostos expressavam o quão putos estavam, Sean e Logan estavam mais juntos, de frente um para o outro, em uma das mãos d’o Espertinho, estava uma das grandes boias das embarcações de pesca, não duvidava muito que o vadio do Sean tenha pegado pesado com suas piadinhas irritantes. Era de se esperar. 

 Zayn foi o primeiro a me perceber. Ele era o mais velho do barco de Sean e tinha anos de experiência no mar e trabalhou com o avô do garoto, agora era chefe dos convés no barco. Vi o movimento mínimo que ele fez com a cabeça em cumprimento ao afastar o cigarro dos lábios e expelir a fumaça tóxica que aquilo produzia. Mesmo com o rosto sério, eu senti o quanto ele ficou surpreso em já me ver ali. 

 

— Eu não vou falar de novo seu moleque de merda! — o Espertinho bradou contra o rosto de Sean apontando seu dedo na cara dele — Eu quebro suas pernas se ousar a tocar em mais alguma coisa do meu barco! — gritou enfurecido. 

 

— Quero ver você tentar! Você não é dono do mar, tá legal?! Que porra, use esse seu apelidinho idiota, seja esperto! — Sean desdenhou, tão irritado quanto ele. 

 

 Foi a gota d’água que faltava para que Logan jogasse sua boia de qualquer jeito sobre a madeira do píer e socasse o lado esquerdo do rosto do garoto. Cruzei meus braços, parando a poucos metros deles, vendo a situação sem nenhuma emoção. Eu queria que batessem o suficiente um no outro para que o orgulho deles não ficassem feridos por afastá-los tão depressa. A sorte deles era que não trabalhavam na linha de frente comigo. Quando eu me cansei de ver os chutes e socos que davam e recebiam, chamei por Leonardo, da equipe de Logan para supostamente me ajudar a afastá-los. 

 

 — Mas que merda é essa hein?! — bradei quando ambos estavam sendo amparados por seus colegas de equipe. 

 

— Esse garoto é um estúpido! Precisa aprender onde é seu lugar! — Logan grunhiu cuspindo no chão. Sua barba grande e grisalha estava respingada com seu sangue. Estava irado. 

 

 — Não fui eu que agi com estupidez aqui! — Sean debochou levantando os ombros. Movi meus olhos para sua direção em advertência — Foi mal. — se desculpou massageando seu maxilar. 

 

 — Eu não vou enrolar por aqui e muito menos passar um sermão em vocês, porque não lido com criança alguma. — respondi seco, olhando para cada homem ali — Estúpidos. Cada um de vocês. — apontei — Mas os capitães... Ah! — soltei um riso irônico — Vocês são a porra dos capitães mais incompetentes que já tive a desgraça de conviver! Que é? Por acaso tenho cara de babá pra lidar com draminha de criança?! — gritei para os dois — Que voltem para a casa e chupem suas chupetas embaixo de um cobertor quentinho, pois aqui não me parece ser seus lugares!! — silêncio — Aqui é ou não o lugar de vocês? O lugar onde investiram tudo o que tinham para viverem das pescas? 

 

 — Sim! —Sean respondeu. 

 

— Claro que é! — Logan soou ofendido. 

 

— Então recolham seus peixes de hoje. Leve-os para a pesagem e saibam o quanto ganharam. Mas não voltem para pescar amanhã. Estão proibidos. — sentenciei. Todos os presentes levantaram a voz para protestar — Querem que eu estenda para uma suspensão de pesca a cada um de vocês?! — fiz minha voz sobressair sobre a deles. 

 

— Não pode nos ameaçar assim! — reclamou Russell, da equipe de Sean. 

 

 — Isso é apenas um aviso. — pontuei sem enrolação — Mas sei que são inteligentes o suficiente para obedecerem, antes que algum caralho de ameaça, de fato venha acontecer. — o silêncio deles foi minha resposta — O que ainda estão fazendo aqui, olhando para a minha cara? Movam-se! — os enxotei. 

 

 Sem firula, mas todos com cara de merda, as equipes se dividiram para seus lugares, continuando a atar os laços das embarcações. Dei meia volta entre as tábuas sempre molhadas do píer voltando para um dos galpões vermelhos centrais que eu gerenciava no porto. Mark estava a me esperar no Jessie’s. Eu precisava mantê-lo o mais adaptado o possível para que eu pudesse tomar as rédeas do porto de La Push o mais rápido o possível, não apenas pelo investimento alto que eu me dispus a realizar lá, mas pela minha mãe. Ellie havia colocado na cabeça que seria capaz de definhar em desgosto por ter seu único filho tão longe dela. Quando eu me lembrava do drama que minha mãe fez na ligação sobre as quatro horas de viagem que o trajeto daqui até La Push demorava na época, sempre me faz querer revirar meus olhos. Mas ela tinha razão, eu não poderia deixá-la sozinha por lá, mas não era como se eu tivesse muita escolha em me manter tão longe do meu refúgio natural... Natural até demais. 

 Diminuí meus passos, parando de caminhar, encostando-me ao poste de luz, concentrando minha respiração para que o tremor do meu corpo se estabilizasse. Esses homens brigavam por qualquer coisa irrelevante apenas para canalizar a tensão e o estresse que estar em mar aberto trazia, pois precisavam voltar no final do dia com no mínimo, cem peixes que deveriam pesar mais de cinquenta quilos. Não que eu estivesse de fato os ofendendo, mas para eles era muito mais fácil machucar alguém sem que lhe partisse os ossos como se fosse um graveto seco, quem dera se eu pudesse realizar o mesmo, pois sou capaz de matá-los com apenas um soco. O privilégio de um olho roxo sequer tem a expectativa de acontecer. Era frustrante e deixava o lobo dentro de mim muito irado e expectante para se ver liberto. A força que eu fazia para contê-lo dentro de mim, era tanta que um dia entre os meses estáveis, o esforço se tornava físico, mas a cada dia eu conseguia driblá-lo melhor e ele era o principal motivo da minha hesitação por voltar a morar em La Push... 

Tomei o fôlego e afastei meu corpo do poste arrumando minha postura e caminhando com o olhar altivo para onde Mark ainda aguardava. 

 Empurrei a porta de estrutura metálica corroída pela ferrugem e sal caminhando pelo galpão naturalmente mal iluminado. Subi a escada de ferro que ficava no canto esquerdo do local, que levava direto para uma cabine que chamamos de escritório. Não havia muita decoração ou aconchego ali, era um local privativo o suficiente para tratar de negócios. 

 

 — Ora, Cole! — cumprimentamo-nos com um breve aperto de mãos — Que raio de atraso foi esse? 

 

— Problemas em alguns barcos, que já foi resolvido. — sentei a frente da mesa esclarecendo. — Já podemos abrir as pastas de licitação. — opinei indicando os embrulhos em suas mãos. Minha previsão é de partir ainda hoje para Forks. 

 

— Tudo bem. — lançou a pasta sobre a mesa — Mande lembranças minha à gostosa da sua mãe. 

 

 — Você não quer ouvir a minha resposta... — aconselhei respirando fundo para conter a forte onda de irritação que senti ao ouvir a merda que saiu de sua boca. O cara é casado, inferno! 

 

— Não quero! — concordou me estendendo alguns envelopes pardos — Eu também mandei um prontuário de posse e cargas para os escritórios mais capacitados daqui para cuidar das outras burocracias para a gente. Degrazio prometeu adiantar o máximo possível para nós. 

 

 — Carl sabe o que faz. — consenti com seus feitos separando as cópias para serem escaneadas — Em uma semana ele já estará aqui com você para serem meus olhos e ouvidos virtuais por Ilwaco. — informei, mas não o deixei saber sobre todas as câmeras e escutas que providenciei pelos locais. 

 

 — Olhos de águia! — aprovou — Tem certeza de que seus colegas quileutes darão conta do recado? — quis saber. 

 

— Eu estarei dando todo o suporte necessário para eles, — respondi sem rodeios — estaremos trabalhando no mesmo local todos os dias e eles aprendem rápido, nosso povo era os maiores pescadores das costas, e não apenas da noroeste americana. Eles sabem o que fazer. — ratifiquei. 

 

— Confio no que diz. — anuiu com a cabeça — E como é o nome do homem que fará o intercâmbio entre La Push e Ilwaco? 

 

 — Embry Call. — o lembrei — deveria anotar isso. Não quero que ele tenha a impressão de que você sempre se esquece das coisas importantes. — fui indireto. 

 

— Vou fazer isso agora mesmo! — concordou puxando um bloco de anotação e uma caneta de sua jaqueta, anotando o nome. — Quais foram os barcos desentendidos da vez? — ficou curioso. 

 

— Os mesmos de sempre, “Ashley” e “Bazinga”. 

 

— O Espertinho e Sean deveriam se casar de vez, dois viadinhos! — riu. 

 

— Deveria policiar mais suas palavras Mark. Use-as para outras pessoas, não para mim. — recolhi as folhas de volta aos envelopes. 

 

— Claro, não queremos ser presos por ofender um viadinho alheio! — debochou. 

 

 — Já pode fazer algo mais útil agora. Volte ao trabalho. — o dispensei. 

 

— Claro. Greg deve estar morrendo de saudades de mim, por estar lidando com aquelas equipes sozinho. Até mais chefia, tenha uma boa viagem! — se despediu — E cuidado com algum viadinho assanhado na estrada! — gritou ao fechar a porta. Grunhi pela sua falta de senso. Pelo menos ele não bateu a porta. 

 

 

 

[Algumas horas mais tarde...] 

 

 

 — Finalmente! Finalmente os espíritos guerreiros guiaram meu menino para casa! — minha mãe exultou de alívio quando abriu a porta da casa para me receber. Sua mão escancarou a porta e seu corpo se moveu rápido para a varanda a fim de me abraçar o mais apertado que ela conseguia. Não que seu aperto pudesse me incomodar, mas eu gostava dos seus abraços cheios de carinho. 

 

— Oi mamãe! — me curvei abraçando-a de volta, não intensificando meus braços ao redor de seu tronco. — Sim, eles me guiaram em segurança. 

 

— Eu sabia que você voltaria ainda hoje para a casa! — exclamou sorridente me abrigando para dentro de sua casa. Um clarão do relâmpago clareou mais o ambiente assim que fechei a porta e caminhei no espaço do pequeno hall de entrada. Minha mãe esperou que eu me desfizesse do casaco que eu usava apenas para manter a discrição, mesmo que eu não fosse mais tão quente, ainda assim era difícil de sentir o frio. Ao meu lado, minha amada mãe nos direcionou para a sala de jantar — Fiz sua torta favorita meu amor! Jamais deixaria de recepcioná-lo tão bem! 

 

— Mãe, eu te avisei que estaria aqui hoje... — me senti confuso. 

 

— Eu sei Bee-Bee; — contestou chamando-me pelo apelido carinhoso que me deu antes mesmo que eu nascesse — mas imprevistos acontecem a todo o momento meu filho, com você não seria diferente, mas eu sentia dentro de mim, que você chegaria hoje mesmo! — respondeu convicta. 

 

— Tudo bem, dona Franchesca. — passei meu braço sobre seus ombros e acariciei — Vamos almoçar sua torta quileute maravilhosa, assistirmos alguma bobagem juntos no seu quarto o dia inteiro, se quiser até te faço massagens e depois eu vou dormir, para amanhã... 

 

— Você não vai dizer que irá para aquela casa solitária, e me deixar por todas essas semanas sozinha Bee-Bee?! — olhou-me magoada. 

 

— Mãe... — me desculpei — Eu também preciso morar na minha casa. Mesmo que seja apenas para tomar banho e trabalhar. 

 

— Hmm... — resmungou — Por hoje vou me contentar com as regalias em te ter comigo no meu quarto, principalmente por causa da massagem. Minhas pernas estão precisando. — cedeu — Isso me lembra de quando você era apenas um menino... — divagou — Mas você irá lavar a louça antes de subirmos. — sentenciou. Entramos na sala de estar — Agora sente-se aí, que eu vou pegar a torta. Tenho que mimar o único filho que Deus me deu... — sua mão tocou levemente o meu rosto — Vai! Senta logo aí! — ordenou saindo apressada para a cozinha. 

 

 Mantive-me parado no mesmo lugar olhando para o corpo moreno da minha mãe se mover pelo cômodo. Seu cabelo negro mediano estava preso num laço de couro com missangas de sementes num penteado baixo para que não fizesse muito movimento quando andasse de um lado para o outro. Ela usava uma blusa salmão de mangas compridas, calça jeans de corte reto e nos pés ela usava a tão amada bota de tricô vermelha, que era tão velha quanto eu. A maneira como minha mãe tratava aquilo como uma peça supersticiosa era intrigante. Minha mãe sempre carregou as lendas e convicções espirituais da nossa tribo com muito respeito e devoção, principalmente pela nossa genealogia carregar a linhagem mágica quileute por incontáveis gerações, e eu fazia parte dela mesmo que por alguns anos eu considerei a bênção dos espíritos guerreiros como uma maldição. Minha amada mãe Ellie Franchesca, acredita fielmente que há uma grande missão de vida para nossa família através do seu calçado vermelho de tricô. Ela não tem nenhuma ideia do que possa ser, mas carrega consigo a fé da incumbência que recebeu dos espíritos antes mesmo de saber que estava grávida; de acordo com as palavras dela. Ora ou outra ela usava o calçado para nos lembrar que em algum momento algo em nossas vidas viria a acontecer, na vontade dos nossos primeiros anciões guerreiros que nos guiavam espiritualmente quando queriam. 

 “Eu sabia que você voltaria ainda hoje para a casa!” a voz da minha mãe soprou em meus pensamentos. Pensei na ocasião dela estar com a bota nos pés e sua convicção, que eu considerava óbvia do meu retorno. “Finalmente os espíritos guerreiros guiaram meu menino para casa!” sua voz soprou em meus pensamentos outra vez... 

 

— O que você está fazendo parado no mesmo lugar que te deixei meu filho? — franziu a testa confusa, caminhando em direção a pequena mesa de quatro cadeiras mais a frente colocando a torta ali — Você é muito lindo, mas não quer dizer que precisa fazer parte da decoração! — fez piada movendo seus lábios num sorriso discreto. 

 

 — Eu tenho a quem puxar. — pisquei um olho para ela, que riu. As linhas de expressão aprofundaram os cantos dos seus olhos castanhos escuros. 

 

— Com esses olhos únicos em toda a tribo, é impossível de negar. — cortejou-me com um olhar que só ela me direcionava. Eu costumo o chamar de olhar de mãe. Se as outras mães fazem isso, eu já não sabia, mas a minha, sim — Venha Bee-Bee, almoce com sua velha mãe. — convidou. 

 

— Pare de se chamar de velha, mãe. — reprochei, tomando meu assento— Você está mais linda que muitas adolescentes pelo mundo! E você sabe que é verdade! 

 

 — Deus e os espíritos têm me dado graça, estão me mantendo em muito mais do que eu já esperei. — soou aliviada servindo os copos com uma bebida nativa — Vamos orar em gratidão a esse momento em que temos um ao outro, e pela a oportunidade de estarmos juntos novamente. 

 

 — Sua bota tem alguma ligação com isso? — quis saber, pegando a faca para separar as fatias da torta. 

 

— Não sei meu filho. — me estendeu seu prato para receber sua parte — Apenas sinto que precisamos analisar o que temos com mais atenção para que não se escape por nossos dedos. Sua vinda a Forks significa algo mais além do que as pescaria, Cole. Apenas precisamos esperar o que os espíritos têm a nos dar. 

 

— Não podemos fazer coisa alguma além disso. — concordei. 

 

— Sim. — anuiu e decidiu mudar de assunto — Mas quais são suas novidades filho? Creio que os meninos da matilha estejam ansiosos pela sua volta... Martim disse que faz muito tempo que não têm contato com o seu, lobo... 

 

— Consigo segurá-lo muito bem agora, mãe. Mesmo quando o sinto prantear. — comuniquei sem esconder-lhe nada. 

 

— Não deveria fazer isso! — repreendeu com o semblante irritado. Eu sabia que isso a deixava magoada — Meu filho, isso é uma benção! Quando vai conviver com a graça de poder dividir seu corpo com um animal tão incrível e protetor?! 

 

— E toda essa raiva que eu sinto quando eu deixo que ele faça parte de mim?! — perguntei — Mãe, eu odeio ser dominado por um sentimento tão destruidor... 

 

— Deveria se esforçar apenas para controlar essa fúria, não o conter intermitentemente dentro de si! — cortou-me — Como acha que seu pai reagiria a isso?! Meu filho, leve isso que está em seu sangue com muita honra, — aconselhou — não é porque seu pai foi atacado por um vampiro, que você também será! Renesmee e sua família estão pelo mundo dando exemplo a todos que possam ver! Eles socorreram seu pai, mas não havia mais o que se fazer, o veneno havia se alastrado... Você não precisa ouvir tudo novamente, estava lá também e sei o que você acha sobre a decisão que ele tomou. — raspou a ponta dos seus talheres no prato. Esse foi o único som no ambiente. 

 

 — Como ainda consegue viver sem ele? — a perguntei depois de absorver tudo o que me falou. Seu olhar de mãe não havia sumido, mesmo que estivesse frustrada com minhas decisões — Como consegue morar na mesma casa e ajudar a qualquer pessoa que precise de você mãe; como? 

 

— Você sabe como os lobos se sentem quando têm um imprinting. Sabe porque conviveu com os pensamentos deles meu filho. E esse sentimento jamais mudará. E isso também é gerado em seu alvo, mesmo que a intensidade seja menor, pela fragilidade humana, eu suponho..., mas o vínculo é mútuo meu amor e intenso em ambos os corações independentemente do tipo de relação que desenvolvem. Eu pensei que não suportaria, mas eu tenho você. Sangue do meu sangue, ossos dos meus ossos, meu e de seu pai; nossa semente. Tenho muito para viver, mesmo que uma parte dessa minha vida tenha sido levada de mim. 

 

— Acha que poderá viver para ver meu imprinting chegar? — tive curiosidade em saber. 

 

— Meu filho, logo chegarei ao setenta; não deve demorar. — confortou — E não se esqueça de que você irá lavar a louça, mocinho. 

 

— Eu sei mãe. — concordei soltando uma risada. 

 

— Seus avós ligaram logo pela manhã. — anunciou — Estão sentindo muito a sua falta, você tem que ver um dia para visitá-los. 

 

— Tenho mesmo, — concordei tomando um gole da bebida nativa que minha mãe ama — aposto que a vovó Emily continuava auxiliando a comunidade no curso de tecelagem. 

 

 — E como! Minha mãe e ela vivem lá, sempre que podem elas dão instruções para a Isabella repassar aos alunos. Você lembra da Isabella, não é? 

 

— Claro, ela é a nova professora que substituiu a Amber, você me falou disso. Ela estava grávida né? 

 

— Sim, teve um menino lindo; se chama Lucian. Mas acredito que sua tia manterá Isabella junto da Amber, porque a sala já está quase cheia! — comentou animada. Minha tia Olívia, irmã mais velha do meu pai era a coordenadora do centro de cursos da reserva — Quem diria que teríamos mais de quarenta alunos interessados na arte mágica de um tear?! Ainda mais nos dias de hoje, há tanta tecnologia, mas pouco desenvolvimento humano. 

 

— Isso é verdade. —concordei ouvindo tudo que ela tinha a me falar. 

 

— Ai meu filho, há tantas coisas que você perdeu... Tantos almoços e jantares sem você... — deu-me um sorriso entristecido, mas logo tratou de continuar a me contar com detalhe cada ocasião que perdi — Você sabia que a Rebecca está tentando engravidar novamente? 

 

— Hãn... Eu deveria mesmo saber sobre isso? Da minha prima? — franzi minhas sobrancelhas. 

 

 — Sim, Embry trabalha para você! — disse como se apenas isso bastasse. 

 

— Bem, se eles estão preparados para terem mais um bebê, — ergui meus ombros — Kaylee é tão nova, mal nasceu... — comentei. 

 

— Filho, a menina já tem seis anos! Ela não é mais um bebê. — me contradisse movendo os talheres sobre o prato, nós ainda nem começamos a almoçar — É nisso que dá ficar tanto tempo longe da família, mal acompanha as fases da sua afilhada! Sua filhada Cole! — brigou comigo — Agora mesmo que eu quero que você esteja em cada oportunidade! Está ouvindo bem o que estou te ordenando?! Isso não é nem um pedido, é uma ordem mesmo! 

 

— Mãe, eu mal cheguei e você já está brigando comigo, daqui a pouco vai me colocar de castigo? — tentei não rir. 

 

— Eu deveria mesmo te castigar pela ausência desavergonhada que sofri sem você! — ameaçou. Não consegui mais prender o riso — Está rindo do quê agora?! — perguntou azeda. 

 

— É que eu te amo, mãe. — sorri puxando sua mão para mim e beijei — Prometo viver o máximo possível em Forks. 

 

— Eu também te amo muito e espero por isso meu filho, o lugar de toda nossa família é aqui. — trouxe minhas mãos para a sua direção e as beijou; assim como ela e meu pai faziam — Agora vamos fazer uma oração, antes que nosso almoço fique sem sabor. Não vou alongar, mas eu tenho muito a agradecer por você estar aqui. — estendeu suas mãos sobre a mesa disposta a segurar as minhas. Fechou os olhos, preparando-se para iniciar a oração, fechei meus olhos também e esperei que ela começasse a orar. — Os céus proclamam a glória Celeste de Deus, que nos presenteou com os queridos espíritos guerreiros quileute! Somos gratos... 

 

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[Seis meses depois...] 

 

 

Eu não me sentia pronto. Talvez nunca estaria pronto para deixar o lobo imergir sobre mim outra vez. Ao contrário de Jake, nosso alfa, ter vivido por meses sob controle do lobo pelas florestas do Canadá, num passado distante; eu construí uma facilidade contrária em contê-lo dentro de mim. Estive o reprimindo por tanto tempo no meu interior, que agora depois de seis meses imerso em La Push trabalhando com lobos, eu já não estava confiando de que poderia o conter, eu precisava libertá-lo, deixar que viesse à tona e sentisse a terra húmida e salgada ao seu redor e correr pela floresta até que se cansasse, em liberdade. O problema era que eu não estava conseguindo libertá-lo e isso estava sendo doloroso. Eu sentia as garras lupinas afiadas arranharem meu crânio chorando baixinho, a opressão que está sentindo é tanta que começou me afetar no modo físico, deixando-me à flor da pele, encolerizado e estressado em níveis perigosos no trabalho. Os outros lobos que trabalham para mim sentiam, sabiam o motivo da minha irritabilidade com eles por pouca coisa; então mesmo que me obedecessem, eles observavam de longe, comunicando-vos uns aos outros que eu não aguentaria por muito mais tempo. 

O lobo estava mais desesperado que eu, pois reconhecia que ele não tinha domínio sobre mim para que achasse a saída por si contra a minha vontade. E dessa vez eu temia por não saber conduzi-lo para lugar algum. 

 Passei o início dessa semana no meu limite. Sentia que a qualquer momento minha cabeça explodiria com todo o meu corpo. Estive evitando contato direto com a minha mãe para que ela não se preocupasse, mas para que ela não viesse a me procurar, eu mantinha uma constante conversa com ela através de mensagens. A minha desculpa perfeita era de que meu tempo para comandar dois pontos de pescas estava restrito e exigindo muito de mim; o que não é uma mentira. Mas privá-la dessas informações fizeram com que a situação comigo mesmo ficasse ainda pior, derrubando todas as minhas vãs expectativas de que não havia como piorar. 

Ledo engano! Me vi obrigado a correr para longe de casa, se eu não quisesse destruí-la; me surpreendo com o modo de levar-me ao limite quando não estava tão confiante da estabilidade do lobo dentro de mim, eu queria provar-me que conseguiria domar o meu Eu lobo até aos últimos instantes da noite, mas eu não contava que este pensamento estava sendo idealizado pelo lobo também. Nos obrigamos a partir o mais longe que pudéssemos em nossa briga por território. A temperatura abrasadora que antecedia uma transformação se propagava das entranhas mais profundas da minha carne chegando a arder pela minha pele, como labaredas de fogo surgindo de dentro para fora, meu corpo já estava pingando de suor. Me abriguei na escuridão das árvores indo o mais longe que minha escassa lucidez compartilhada conseguia me encaminhar, e por sorte consegui percorrer algumas milhas. Era o suficiente para que nenhum humano conseguisse ouvir meus gritos incontidos, parecia mesmo que eu estava sendo dominado pelas chamas. O calor que pela primeira vez em tantos anos eu estava sendo capaz de sentir, fez com que a hipótese de me manter em roupas fosse estupidez; me vi obrigado a rasgar tudo que me envolvia, a calça, cueca e a blusa que vestia. Sequer vi importância em me importar com as peças desfeitas. Os únicos pensamentos que me rondavam eram a dominância e liberdade. Nisso eu e o lobo concordávamos, e esse era o motivo do nosso embate. 

  Colidi com o tronco de uma árvore, quando um espasmo violento tomou meu corpo mais de uma vez, me desequilibrando. A batida do meu ombro fez com que uma parte da casca fibrosa fosse arremessada para longe, envolvi minhas mãos no tronco da árvore esguia sentindo cada parte do meu corpo em chamas, o tremor descontrolado e toda a frustração em andar sem rumo pela mata em plena madrugada; minha sorte era que dessa vez eu estava na minha casa, distante o suficiente para não haver motivos de preocupar minha mãe. 

 

— ARGH! Mas que porra! — nosso grito animalesco repercutiu entre as árvores estreitas. Ambos profundamente encobertos de fúria.  

 

Soltei lufadas de ar, sentindo uma compressão em meus pulmões. Apertei minhas mãos sobre o tronco restante da árvore, rompendo cada ligação da madeira, ocasionando sua derrubada, assustando os pequenos animaizinhos que residiam por ali. Em meio a cólera e não satisfeito em apenas derrubar o tronco com as mãos, eu tentei caminhar até o pedaço de madeira caído a minha frente para destruí-lo por completo pelas minhas unhas, mas fui parado por uma mão masculina numa temperatura febril similar a minha, mas que ainda assim não inflamava. Inalei o ar antes de me virar para o homem. Era Jacob. 

 

— Tente deixar que o lobo assuma daqui pra frente Cole. — tentou aconselhar — Seu corpo não aguentará guiá-lo sozinho. 

 

 — Me deixe! — minha voz alterada pela constante alternância entre meu eu humano e lobo bradou, batendo em sua mão para que não tocasse nosso corpo. Não estávamos dispostos a tentar ouvir alguém naquela altura. 

 

— Você não conseguirá sozinho! — insistiu. 

 

— Você não é aquele vampiro bonzinho que sabe ler mentes para saber o que está passando dentro da minha cabeça Jacob! — ralhei virando-me na direção do tronco outra vez. Sentindo mais raiva ainda por me lembrar da existência de um sanguessuga. Se é que ainda poderia existir um nível colérico mais alto. 

 

 — Mas sou seu alfa, e sinto que algo está em conflito entre vocês! — pontuou caminhando atrás de mim — Não conseguirão sozinhos, precisa deixar que eu o chame. — apresentou uma opção: Emitir um chamado de socorro para que meu lobo pudesse se desprender pela necessidade protetiva com a matilha. 

 

 — Me deixe, que inferno! — grunhi negando sua ajuda. Eu ainda poderia controlá-lo, só precisava me concentrar. Senti meus lábios se levantarem e pude ouvir um rosnado ameaçador sair, e não havia sido para Jacob. Senti outro espasmo tremelicante mover meu corpo. Minha respiração saía em fortes bufas, como de um touro. 

 

 — Cole... — insistiu outra vez tentando não se irritar com minha recusa. Ouvi seu suspiro renitente — Já chega! — seu timbre duplo de alfa soou mais claro que todo o barulho a nossa volta em meus ouvidos. Senti os pelos do meu corpo se levantarem atento as ordens do alfa e minhas pernas travaram contra minha vontade — O lobo irá liderar para que consiga se libertar, você irá ouvir o chamado e se juntará aos outros. Não pode mais segurá-lo! — ordenou com a autoridade pesando sobre mim, se afastando para se transformar no lobo marrom avermelhado. 

 

A algumas milhas dali eu pude ouvir um uivo reverberar pela floresta, continha a urgência incapaz de ser recusada. Senti minhas pernas se moverem com dificuldade para a direção do uivo comprido que ecoava como um sopro ruidoso em minha mente deixando minhas ações desconcertadas. Trombei com diversas árvores pelo caminho, sentindo meu corpo se agitar de agonia pela premência angustiante que o lobo sentia por eu ainda estar sobre pernas humanas, eu não conseguia calar-nos, ouvia perfeitamente os resmungos e lamúrias que escapam dos meus lábios, até mesmo meus olhos pareciam queixar-se pelo sofrimento, ardendo em lágrimas. Continuei a mover meus pés de modo desesperado na direção do chamado mesmo ao sentir os indícios de uma transformação que a muito tempo não se apoderava de mim; já não havia como eu relutar, além do anseio de liberdade, havia a imposição do alfa sobre mim. Eu sei o quanto Jacob detesta dar ordens tão implícitas, mas também não hesitava quando era necessário. 

 

  Estar sobre o domínio e liberdade lupina era como emergir à superfície depois de muito tempo debaixo d’água. O desespero pelo ar e o alívio de enfim respirar, deixava-nos ciente da cumplicidade que eu e o lobo sentíamos. Parecia que eu estava completamente cego por me submeter a essa exclusão de uma parte de mim, me sentia maravilhado e mais vivo, como se estivesse andando e vendo pela primeira vez. Meu lobo afundou as patas dianteiras no solo e estendeu o pescoço para cima e uivou respondendo ao chamado e pôs-se a correr desenfreadamente em direção aos demais que estavam fazendo ronda. Ouvi o leve impacto de patas grandes contra o chão, a presença do Alfa me acompanhando a poucos metros atrás do meu lado direito, seus pensamentos estavam silenciosos e focados em me vigiar. Eu conseguia ver através de seus olhos, assim como ele podia ver através dos meus. Não tardou para que eu começasse a ouvir as vozes dos demais dentro da minha mente, estavam nos aguardando mais algumas milhas a frente em uma clareira no meio das montanhas, para ser mais exato, doze milhas. 

 

 — Tá brincando comigo? — pude ouvir a voz de Thomas rir — Tão rápido? Pensei que ainda haveria mais dor e ranger de dentes! 

 

— Você não está ajudando! — Martim o calou — Jake, precisa de mais um uivo?! — perguntou ansioso. 

 

 Não precisa, estamos chegando. — a voz profunda do Alfa soou clara para todos — Continue. — se direcionou a mim, correndo ao meu lado. 

 

Impulsionei minhas pernas para que eu fosse mais rápido ainda, mas não o bastante para deixar Jacob pra trás.  

 

 

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[Dois meses depois...] 

 

 

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Trinta e quatro dias. Meu lobo me fez refém por trinta e quatro dias! Os primeiros quinze dias se passaram sem misericórdia alguma, foram os mais difíceis; nada de aproximação dos meus irmãos, nenhuma oportunidade de conversar, apenas um lobo raivoso por causa da sua metade humana, aproveitando a liberdade negada por tanto tempo. Dormindo entre raízes espaçosas e retorcidas, caçando animais como um típico predador e dormindo sob as copas das árvores e um céu sempre carregado de chuva. Se bem que eu não estava em condições de requerer misericórdia do lobo, eu também não tive dele quando consegui mantê-lo aprisionado por quase cinco anos! 

 Grasnei baixinho me perguntando: “por mais quantos dias eu ainda tenho que dormir entre as raízes com grande quantidade de musgos e líquens?” ... Levantei meu corpo peludo, estendendo minhas patas dianteiras contra o solo para alongar minha lombar. A grande boca do lobo se abriu num bocejo e após ter se fechado, sacudi a cabeça, balançando os pelos de um lado para o outro para tentar me manter desperto e sentei, esperando que Collin ou Brady acordassem e fizesse o imenso favor de me fazer companhia. Eram os únicos que foram bem aceitos pelo lobo a estarem em nossa companhia além do alfa. temos uma amizade a muito tempo; Collin e Brady se conhecem desde a infância e nunca tiveram dificuldades em incluir os mais novos da alcateia para os deveres de um lobo protetor da tribo, Jacob os concedeu a incumbência de serem os conciliadores da matilha. Eles exerceram essa tarefa ao meu pai e pela segunda vez, estavam me ajudando a me encaixar na matilha. A presença deles em determinado momento do dia me ajudava a manter um autocontrole dosado sobre mim e meu lobo, eu ainda não poderia chamar a situação de domínio ou muito menos um equilíbrio, mas tanto eu quando meu lobo cooperávamos para que nosso dia findasse o mais pacífico o possível. Tê-los presente ali facilitava as coisas. 

  Não que eu estivesse me sentindo solitário, mas a presença de outro lobo-homem fazia com que viéssemos a relaxar a guarda por alguns momentos. Não é a primeira e não seria a última vez que algum quileute, após a sua primeira transformação, não conseguisse voltar ao estado humano. Infelizmente eu nunca estive presente nos momentos em que os mais novos encontravam um equilíbrio entre si e seu lobo, para que estivesse sobre duas pernas, então eu teria que encontrar um ponto neutro entre nós para que tudo voltasse a fluir bem como há anos atrás. É tão absurdo perceber o quão natural surgia as transformações, que agora o fato de estar entre uma encruzilhada entre minhas duas partes essenciais me assustava. Era como enfrentar o primeiro medo bobo de pular das rochas para o mar, depois que a coragem repentina aparecia e me impulsionava a realizar o salto, a desilusão do fracasso parecia nunca ter realmente existido. Porém, agora com quarenta e quatro anos vividos, encontrar essa coragem está demorando mais do que quando precisei de uma aos oito anos! 

 

— Já está acordado?! — ouvi a voz de Collin surgir em minha mente. Minhas orelhas lupinas se movimentaram pelo perímetro procurando sua presença, mas ainda estava longe, deveria ter acabado de se transformar. 

 

— Desde quando estou conseguindo dormir durante toda a madrugada? — perguntei mal-humorado para ele — Parece que já estou me acostumando com esses breves cochilos. 

 

— Nada de se conciliar com seu lobo? — foi cauteloso na pergunta. Vi através de seus olhos que estava na estreita trilha cruzada que nos direciona para as montanhas. Não demoraria a chegar. 

 

 — Nada! — o lobo rosnou batendo minha pata direita contra o chão — Ele deve achar que eu tenho tempo para brincar de casinha! Eu necessito trabalhar! 

 

 É Cole, — sua risada soou na minha mente — Você terá que brincar de casinha com ele, se quiser voltar a ter duas pernas! 

 

— Se isso me garantisse que estaríamos bem, eu faria... — comentei cansado, ajeitando meu corpo para acomodar minha barriga sobre o solo. Cruzei as patas dianteiras aguardando sua presença. — Será que Embry conseguiria convencer Kaylee a ceder alguns brinquedos de cozinha que ela tem no quarto? — ri. O som que saiu da minha boca lupina foi estranho. 

 

 

— Talvez Brady consiga, a garotinha o adora! — sugeriu na brincadeira. 

 

— Isso porque eu sou o padrinho. — rimos. 

 

 — Mas não esteve tão presente... — foi cauteloso ao fazer o comentário. 

 Ficamos em silêncio. 

 

Ouvi quando a movimentação atrás da grande árvore que estivemos usando como casa tornou–se mais próxima; em menos de dois minutos, as passadas de uma pata pesada surgiu no contorno à minha esquerda do tronco. Collin trotou um caminho até que parasse a minha frente com os olhos lupinos azuis curiosos. Ou pelo menos eu acho que é curiosidade... 

 

— O que é? — perguntei inclinando meu focinho para o chão terroso, bufei. 

 

 Há uma ideia para conciliar-vos. — notificou — Vamos tentar, mas nem eu e muito menos você, garantirá a vitória. Você e o lobo precisam agir em unidade, se não todo o esforço será em vão, cara. 

 

— Manda! — quis saber sua ideia. 

 

Pelos seus pensamentos, Collin me passou sua linha de raciocínio, estava fresco em sua memória. Minha mãe. Nos pertencemos, sangue do meu sangue, e a pessoa mais importante da minha vida. E ela estava aflita por não me ver por tantos dias, e por saber que eu estava irreconciliável com meu lobo e que precisava de mim. Ver pelos olhos de Collin, a visão que nenhum dos meus irmãos ousaram me mostrar estava me angustiando, seus olhos puxados estavam vermelhos pelo choro, após meu desaparecimento. Ela sabia que eu ainda estava em La Push, mas não tinha coragem de saber a fundo como estava minha ligação sobrenatural. Collin me segredou a respeito do dia em que minha mãe foi até ao hospital de Forks para pagar por um favor à Carlisle Cullen; não que ele fosse aceitar o pagamento pelo trabalho antiético que ele estaria fazendo a ela. Ela dirigiu até lá para que o doutor falsificasse atestados e receitas médicas; assim seria registrado o meu afastamento temporário na empresa. Não quis saber a possível enfermidade burlada, mas teria que ir agradecê-lo pessoalmente pelo favor, não apenas minha situação, mas sim por minha mãe, ela não precisava ter feito isso! Todas as tardes, um deles a visitavam para informá-la sobre mim, e todos afirmavam uns aos outros quando se reuniam: minha mãe estava em constante oração com os espíritos guerreiros para que eles apresentassem a solução ao seu filho. Durante todos esses dias, as benditas botinhas de crochê sequer saíram de seus pés. Os últimos acontecidos que Collin me passou, foi que ao contrário dos dias anteriores que eles a visitavam após estarem comigo, hoje ele foi intimado pela minha mãe a estar na varanda de casa antes de se transformar e ele foi. 

 

 — O que isso quer dizer? — perguntei curioso quando ele parou de repassar os acontecidos, como se tivesse pausado a imagem. Minha mãe, vestida com seu penhoar e a pequena manta branca sobre os ombros, em seus pés, assim como nos dias anteriores, estavam calçados com a botinha vermelha. Sua expressão estava séria, determinada a conversar com Collin. 

 

— Ela falou sobre algo, a respeito de um prazo, — ele me respondeu. Minha mãe falando exatamente essas palavras surgiu entre nossas mentes compartilhadas — Tia Franchesca disse que os espíritos te guiarão, mas você precisa fazer sua parte também. E que isso não será delicado... — a voz dela era como um som de fundo sobre a voz dele — precisa se encontrar, lembrar dos momentos anteriores de quando estava na forma de lobo e se desprender dos acontecimentos que definem o presságio da sua vida. — todas as palavras da minha mãe soou em nossa cabeça — É isso cara. — seu rabo se agitou — Agora isso é com você... Ela me pediu para que nenhum de nós estivéssemos presentes quando o momento chegasse, então precisaremos que você uive, se por um acaso precisar de nós. — ajeitou a postura para partir — Mantenha-se em alerta Cole! — pediu tocando a ponta do seu nariz em meu ombro esquerdo e praticamente voou para longe. 

 

Levantei meu corpo quando eu já não ouvia mais a voz de Collin, ele havia me feito o favor de cantarolar uma música blues pelo seu retrocesso. Senti a disposição de seguirmos o prazo estabelecido pela imposição matriarcal da minha mãe, sabíamos quais eram os grilhões do passado que não me deixava viver em liberdade com meu lobo. Suspirei, a lembrança surgiu carregando um pesar no meu coração. 

 Meu pai foi assassinado por um vampiro em nossas terras, justamente no último dia em que ele prometeu à minha mãe que ele abdicaria de vez sua transformação. Ele já não aparentava estar na faixa etária dos dezenove anos por ter deixado de seguir sua missão na alcateia quando se casou com ela, mas todos os anos ele se transformava para que a essência do lobo ainda percorresse quente em suas veias. Meu pensamento sobre sua última decisão não passava de ter sido a decisão mais suicida que meu pai já teve na vida, para mim, não havia nenhuma necessidade dele ter deixado seu lobo correr para onde bem entendesse pela última vez. Aquele foi o último passeio que eles realizaram. Eu estava fazendo ronda naquela manhã, observei de longe minha mãe sentada na varanda o esperando com um semblante descaído, ela não tinha certeza se algum lobo estaria por perto para ouvi-la, mas mesmo assim ela externou a aflição que sentia em seu coração pela vida do marido. Não bastou poucos minutos para que um chamado estremecesse meus ossos; um lobo estava sendo atacado, teve fraturas fechadas e o pior estaria prestes a acontecer. A desgraça daquele sanguessuga além de ter literalmente quebrado os ossos do meu pai, manteve-o em agonia por um longo período em que corremos o mais rápido que podíamos para socorrê-lo; Carlisle foi chamado para auxiliar-nos com a cura dos ossos que naquela altura estavam se curando nos lugares errados, mas não contávamos com a ação hedionda do vampiro em mordê-lo, contaminando seu corpo com o veneno. Foi um choque para todos nós, até mesmo para Carlisle, o maldito vampiro fugiu pelo mar e sequer se importou em deixar todo o seu fedor pela floresta. 

 Ali jazia o corpo do meu pai de volta ao estado humano, nu e morto. 

 Eu o culpava por sua morte, se ele não tivesse se entregado ao desejo se transformar naquele dia, ele ainda estaria celebrando os anos de casamento com sua imprinting, estaria presente nas terras consagradas de La Push sendo um ancião no lugar da minha mãe e participando de cada celebração às conquistas que nosso povo conseguia. Ainda estaria sendo meu pai e meu maior exemplo atual de como ser um lobo... 

O lobo choramingou com toda a lembrança, cobrindo os olhos com a pata esquerda como se isso fosse capaz de fazer desaparecer a última recordação do meu pai. Esse foi o motivo de reprimi-lo tanto dentro de mim e agora conseguia me arrepender de tê-lo feito. O silvo lamurioso escapado por entre os dentes expressou o desconforto do lobo em tornar a presenciar nossas memórias dolorosa como essa; e me senti apaziguado quando percebemos que o melhor a se fazer era superar o acontecido. Jamais esqueceríamos a atrocidade acometida ao meu pai e a falta que sinto dele desde aquele dia. 

 No nascer do sol encoberto pelas nuvens, para mais uma manhã, eu e meu lobo choramos na mata em meios às montanhas impregnadas de samambaias e musgos, nosso choro tornou-se uma reconciliação mútua de um pacto íntimo onde nunca mais voltaríamos a nos prender. Nunca mais. Elevamos o focinho para cima, estendendo o pescoço emitindo um uivo poderoso e conciliativo. Sentíamos nosso elo natural se reconstruindo intimamente, nos unindo de maneira poderosa e especial percorrendo nossos corpos, não apenas no corpo de lobo, mas no de homem também, a união mágica de nosso sangue que foi passado pelas gerações e permanecido nos DNA, minha mãe jamais se enganou, é realmente uma benção. A conexão foi reestabelecida com uma sensação enigmática de furor; feroz e apaziguador. Quando abri os olhos, me espantei por estar apenas sobre duas pernas e de volta ao corpo humano. Olhei para as nuvens cinzentas que apresentavam a claridade de um novo dia; arregalei meus olhos quando me lembrei de que havíamos uivado, soado um alerta inexistente, mas mantive a calma que meu corpo apresentava, havia uma emergência ali sim, eu precisaria de roupas novas para vestir. 

 

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[Um mês depois...] 

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Passei pelas divisórias automáticas do hospital com o ar condicionado frio impregnado de medicamentos, caminhei entre as fileiras de cadeiras da recepção, como dos dias anteriores ao acontecido, a recepcionista Bexley estava com seus olhos atentos ao monitor e a enfermeira, Tessa que trabalha ao seu lado por toda a noite não estava. Parei a frente do balcão notificando minha chegada. Os olhos verdes da recepcionista se levantaram sobre o fundo das lentes de seu óculos vermelho para ver quem havia chegado, quando soube quem era, logo tratou de movimentar seus dedos ágeis pelo teclado. Movimentei meus lábios, parando para pensar em que momento eu consegui memorizar o nome delas, num raciocínio rápido me lembrei de sempre estar lendo o cartão de reconhecimento com letras legíveis que está sobre o pescoço de todos os funcionários do hospital. 

 

— Boa noite, senhor Cole Uley. — me cumprimentou concentrada ao que estava no monitor. Era estranho que ela não achasse incomum esse horário de consulta, eu nem sabia que existiam consultas realizadas às onze horas da noite... Não sabia até precisar me consultar nesse horário. 

 

— Boa noite, Bexley Jackson. — fingi ler seu nome no crachá. 

 

— Consulta com Doutor Carlisle Cullen... —murmurou arrumando o óculos sobre o nariz gordinho — Já deve saber o caminho, mas é sempre eficaz relembrar, segundo corredor a sua esquerda, depois siga pela direita ao corredor sete, há placas indicando a sala. — me estendeu um papel com minhas credenciais e protocolo de atendimento do hospital, apontando com a ponta da unha longa o local onde eu deveria assinar. Para mim isso era uma burocracia absurda só para pegar receituários falsos. Não que ela soubesse disso, é claro. Peguei a caneta que ela me ofereceu e assinei o papel. Logo puxou a folha para que ela pudesse dar entrada no sistema e carimbasse — Pode ir, o doutor já deve estar te esperando. — passou-me o papel novamente. Agradeci e segui pelos corredores que eu já estava acostumado a passar. 

 

 Bati na porta da sala de Carlisle, esperando seu consentimento para entrar. Não me sentia nenhum pouco tranquilo quando estava no mesmo ambiente que qualquer vampiro, sendo ele um Cullen ou não, então era um custo quase insuportável passar uns cinco minutos com ele num espaço tão limitado quanto esse, mas havia outros motivos que me motivavam a engolir qualquer inquietação natural do meu corpo que incitavam analisá-lo com cautela e desconfiança devido ao seu fedor; eu tenho uma empresa, um nome e meu legado para manter e essas papeladas assinadas por um dos melhores médicos do estado é tudo que eu preciso para comprovar que eu possivelmente estive mesmo doente e que ainda era necessário realizar uma porrada de exames antes de voltar a estar presencialmente ativo nos barracões portuários de La Push. 

 

 — Que bom que veio para a sua última consulta Cole. — não hesitou em querer me cumprimentar com um aperto de mãos como se eu realmente estivesse ali para aquilo. Contive meus impulsos em ser rude com ele, me sentiria mal se o fizesse. 

 

— Realmente, isso é uma boa notícia. — apertei sua mão dura e gelada o suficiente para que eu sentisse um frio cortante. — Obrigado por esse imenso favor doutor, seria bem complicado de explicar todos os meus dias ausentes de qualquer comunicação que pudessem ter comigo. — o agradeci mais uma vez e estendi o papel que a recepcionista havia me entregado — As perguntas têm me dado dores de cabeça, não devem ser na mesma proporção pulsante ao de uma pessoa normal, mas incomoda bastante. 

 

— Imagino. — concordou me olhando nos olhos ao pegar o papel de minhas mãos. Antes que o ambiente ficasse ainda mais desconfortante, Carlisle moveu-se pelo espaço separando as últimas receitas, exames e quaisquer outras papeladas necessárias para mim. — Por favor, sente-se. 

 

Não neguei seu pedido, indo sentar em uma das cadeiras de frente para sua mesa e aguardei por poucos minutos que ele recolhesse o que era necessário. Parei de enrolar minha atenção nos objetos e diplomas que havia nas paredes brancas da sua sala quando percebi que ele pouco se movia com os papéis brancos em suas mãos pálidas. 

 

— Algum problema doutor? — perguntei atento a sua imobilidade, parecia uma estátua. Sinistro. 

 

— Não, nenhum. — negou — Preciso que venha comigo para que possa pegar alguns exames que ousei realizar em seu nome. — notificou, enfim se movendo. Me coloquei em pé — Na verdade não será os exames em si, apenas uns papéis protocolados que confirmam sua presença na realização dos exames, depois eu só terei que rubricá-los e poderá levar ao escritório que gerencia sua empresa. — esclareceu. 

 

— Podemos ir então. — anunciei já indo abrir a porta de sua sala. 

 

Caminhamos a certa distância um do outro no corredor retrocedendo o caminho na direção da recepção, quando já estávamos próximos do corredor três, pudemos ouvir exclamações vindas da recepção, a voz da enfermeira Tessa repreendia a alguma paciente que estava no local, não tardou para que o nome de Carlisle fosse proferido entre o possível bate-boca entre as duas mulheres, algo como sobre precisar vê-lo pois era uma urgência. Desviei meus olhos do corredor olhando para Carlisle por cima dos ombros. Seu semblante estava confuso pelo desenrolar que ouvia. Parei de caminhar esperando que ele estivesse ao meu lado. 

 

— Me desculpe Cole, mas será que você poderia pegar os exames sem mim? — perguntou sem olhar-me, continuando a ouvir o que estava acontecendo — Preciso saber quem é essa paciente, antes que possam expulsá-la. Creio que já consiga percorrer os corredores sem que se perca... — me explicou como chegar ao local usando o corredor três. — Depois retorne à minha sala e então estará livre. 

 

— Espero por isso! — exclamei em despedida caminhando pelo corredor três. E mesmo dessa distância, ainda consegui ouvir o desenrolar da mulher que esperava por Carlisle na recepção. 

 

 Quando eu cheguei na pequena ala, que fica praticamente do outro lado do prédio, eu tive que aguardar bons minutos no balcão de acrílico do local para ser atendido e após entregar o papel que recebi da Bexley para o homem responsável pelo lugar, fui obrigado a esperar que ele retornasse para me entregar um envelope branco com o emblema do hospital e o papel com mais um carimbo, pensei que ele esteve fabricando os papéis naquele momento de tanto que demorou.  

 Percorri metade do caminho de volta para a sala do doutor Cullen e mudei minha rota para que eu saísse diretamente no corredor sete, onde fica sua sala. Passando pelo trajeto, eu divagava sobre os dias em que eu estaria fazendo ronda com meus irmãos, agora que eu e meu lobo estávamos alinhados novamente eu tentava manter minha vida dupla nos eixos agora. Durante o dia eu trabalhava no portuário, Embry mantinha minha rota de pesquisas de campo e documentações em ordem entre La Push e Ilwaco, em alguns dias ele se prontificava a ir pessoalmente analisar as pendências entre os barcos cadastrados com Greg, por aqui havia algumas pendências com a prefeitura de Forks para serem resolvidas, uma papelada extensa com os fiscais da cidade e a guarda marítima; todas as noite eu jantava com a minha mãe e nas quatro horas seguintes eu realizava as escalas do turno, Jacob manteve os horários flexíveis devido aos meus demais afazeres que eu tinha por La Push e em Ilwaco, os horários extensos eram direcionados aos mais novos, ou a quem tinha mais tempo livre para se dedicar à alcateia. Durante essa semana, Seth estava no comando, por ser o Beta, Jake saiu em viagem com a Nessie. Para onde eles iriam? Eu não tive a intensão de saber; se precisassem de algo eles decidiriam nos contatar. 

 Enquanto eu caminhava pelos corredores gélidos do hospital, com leitos ocupados e acompanhantes ansiosos, o som de um choro infantil surgiu no ambiente. Desacelerei meus passos estranhando o som repentino que surgia, a criança chorava a plenos pulmões tão alto num timbre fino, que parecia agulhas furando o centro dos meus tímpanos. Fechei meus olhos, levando meus dedos para tapar meus ouvidos. A criança chorava e gritava ao mesmo tempo, parecia inconsolável e isso me preocupou. Destampei meus ouvidos sondando cuidadosamente com minha audição os leitos ao meu redor, mas nessa parte do corredor a maioria dos quartos estavam vazios e sequer me parecia um corredor onde crianças ou bebês ficam internadas. 

Desviei meu rumo para saber de onde a criança chorava desesperada desse jeito, passando a atravessar os corredores seguindo o pranto infantil, mas quanto mais eu andava, mais distante eu percebia que o som estava ficando, e assim eu percebi que ela não estava em um leito, ou muito menos perdida por algum corredor; a criança estava sendo carregada por uma pessoa, que agora falava algo com ela. Diminuí meus passos intensificando minha concentração no choro da criança, que agora estava mais calmo, a pessoa que estava com ele possivelmente havia conseguido acalmá-lo. Virei o corredor a esquerda seguindo o leve rastro da essência da pessoa que estava com o bebê nos braços, achando a criança chorosa. Era uma menina nos braços de sua mãe, nossos olhares se cruzaram quando ela mexeu sua cabecinha cheia de cabelos para descansar sobre o ombro de sua mãe, de sua pequena boca escapava soluços e ela resmungava algumas palavras difíceis de entender, mas parecia que a moça sabia do que ela estava falando. 

 

 — Onde já se viu a mamãe deixar a bebê dela? Jamais meu amor! Shii, shii... — ela sussurrava para a menina, seguindo seu caminho pelo longo corredor, equilibrando uma bolsa enorme no outro ombro. 

 

Ela não me parecia saber muito bem onde estava. Sua cabeça sempre se erguia como se procurasse pelas placas de indicação, mas devido esses corredores já serem numerados em cada ponta, não havia mais como ela saber em qual estava e era obvio que ela sequer prestou a atenção no caminho que seguiu... Se bem que, com a filha chorando como estava, era justificável. Apertei meus passos tentando sentir seu cheiro melhor pois sua essência natural exalava algo diferente que ficava difícil de identificar pelo tanto de medicamentos que poluem o lugar. Caminhei mais rápido para poder alcançá-la, afim de prestar alguma ajuda e senti-la mais de perto, queria saber quem era a moradora de Forks, mas uma enfermeira saiu dos quartos a frente para auxiliar o caminho para ela. 

 A mulher estava tão desnorteada com a filha nos braços que mesmo de costas para a mim o tempo todo, percebi que apenas respondeu com um aceno de cabeça para a enfermeira e juntas seguiram o percurso. Ali, sozinho, fiquei indeciso em continuar pelo mesmo corredor que elas para bisbilhotar... Revirei meus olhos dispensando a curiosidade idiota e passei a pensar nas rotas que já fiz pelos corredores do hospital, traçando um caminho alternativo mais ágil para estar o mais rápido o possível na sala de Carlisle. Segui até a metade do mesmo corredor e inesperadamente cortei caminho por uma sala com duas entradas, cortando dois corredores através dela e seguindo por mais três corredores eu consegui voltar ao corredor sete da esquerda mais rápido. Carlisle estava em sua sala carimbando os últimos papéis que eu precisaria, alguém esteve aqui junto com ele, um cheiro atrativo estava quase disperso pelo forte cheiro do vampiro. Por um momento eu havia me esquecido do motivo de estar naquela sala ao me distrair com o aroma. Quando o envelope esteve em suas mãos, ele sequer o abriu, apenas assinou e usou três carimbos diferentes para marcar o papel. 

 

— Está pronto Cole. Se precisar de alguma coisa, não hesite em me contatar. — me entregou todas as papeladas dentro de um envelope grande e estendeu a mão para o cumprimento de despedida. 

 

— Obrigado Carlisle. — apertamos as mãos, e tão rápido quanto entrei, eu saí. 

 

No corredor eu topei com o pai da Nessie, Edward; e foi impossível que eu não me lembrasse do dia em que o ofendi na floresta. Mas em minha defesa, eu estava num grande conflito entre mim e o lobo, então... 

 

— Estou sabendo do acontecido... — ele falou baixo ainda caminhando pelo corredor — É bom te ver pela cidade, depois de todo esse tempo. — me cumprimentou com um aceno de cabeça. O correspondi. 

 

 Nos cruzamos e continuei em direção a recepção para Bexley dar baixa na minha falsa consulta de hoje. Ela comentava sobre o bate-boca que havia acontecido ali com a enfermeira Tessa. Bexley estava aliviada de não ter participado da discussão ocasionada pela falta de comunicação da sua colega de trabalho. 

 

— Como eu iria saber que o desespero daquela mulher em exigir a presença do Doutor, era verdadeira?! O doutor Cullen realmente a conhece... — a enfermeira comentava surpresa. 

 

 

Essas foram as últimas coisas que eu ouvi quando saí pelas portas automáticas do hospital. Quando entrei no meu carro jogando o envelope sobre o banco ao lado, descansei minhas mãos sobre o volante pensando a respeito do cheiro que senti da humana. Não me lembrava de tê-lo sentido antes, mas também não era como se eu me lembrasse a fragrância de cada morador da reserva ou de Forks. Mas sentia que não era apenas por isso... 

Ponderei tanto a respeito disso que quando a muitos metros dali meus ouvidos sensíveis conseguiram distinguir o som de ambulâncias dirigindo com urgência a caminho do hospital, eu me assustei. Não tardou para que as ambulâncias chegassem uma atrás da outra, exigindo atenção dos socorristas, a noite por ali seria agitada. Com a chegada dos transportes, eu percebi que perdi muitos minutos dentro do carro pensando no aroma da moça, parei de perder meu tempo com essa bobagem, preciso chegar em casa e tomar um bom banho para tirar todo esse fedor de vampiro e remédios que impregnou nas minhas roupas e agora estava contaminando todo o meu carro, ainda tenho que fazer ronda com os gêmeos, Seth já deve estar me esperando para intercalar o turno. Dei partida para sair do estacionamento e olhando no retrovisor interno do carro, vi através da película escura tanto do meu vidro, quanto do vidro blindado do carro de luxo que eu nunca tinha visto, que Bella estava lá, aguardando o marido. 

 

— Oi Bella! — cumprimentei educadamente. Se eu estava percebendo sua presença agora, ela já poderia ter me visto a algum tempo. Seu rosto pálido se virou na direção exata do meu carro e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. 

 

— Oi Cole! — cumprimentou de volta acenando brevemente a sua mão. 

  

Logo após, eu manobrei o carro para fora do local. 

 

 

➳ 

 

 

 — Nunca senti também. — confirmou Thomas juntamente com seu irmão— Mas não é como se já tivéssemos entrado em cada casa em Forks— refletiu pensando nas diversas garotas que já havia trocado alguns flertes — E procurando por Carlisle? Ninguém precisa procurar por ele, todos da cidade sabem onde ele trabalha e mora. 

 

— O cheiro pode estar diferente para ele, Thomas. Misturado com todas as coisas que se deve ter em um hospital, fica difícil de identificar, mas você está certo, a mulher não deve ser da cidade. — Isaac opinou. 

 

— Ela estava desesperada para saber do doutor. Dizia que era urgência, parecia mesmo precisar de ajuda... — adicionei mais uma parte do meu relato aos gêmeos.  

 

Tive que compartilhar com eles a insistência que eu tinha em identificar a moça, com isso, outras questões foram se abrindo, já que nem eles sabiam quem era. O fato de ter uma menina com ela, era outro ponto, a essência suave que havia na bebê, pelo seu pouco tempo de vida também nunca foi captada, até por que a natalidade em Forks não é corriqueira. Isso só poderia nos direcionar a um fato: a desconhecida era nova na cidade e buscava por Carlisle. Eu nem havia me tocado disso, apenas queria sair logo daquele hospital, até porque ele falou que era uma paciente... 

 

— Por favor! — Thomas ladrou interrompendo minha linha de raciocínio. Senti uma vontade imensa de revirar meus olhos — Ele não iria se abrir pra você sobre uma desconhecida, que conhece ele. São melhores amigos agora é? — me alfinetou. 

 

— A questão em si não é apenas essa, seu cabeção. Há uma nova humana na cidade, o que ela quer justamente com Carlisle? — o perguntei. Ambos se silenciaram, seus pensamentos estavam se enchendo de possíveis causas daquele encontro. 

 

— Talvez a filha dela esteja doente. — Isaac comentou — Você nos mostrou o quanto ela chorava. Dói meus ouvidos só de lembrar. 

 

— Devíamos perguntar... — Thomas pensou — Nessie saberia, e Jake não iria demorar a saber também. Ele não esconde nada da gente. 

 

— Fique à vontade então. — desdenhei apressando minhas passadas contra o terreno mais rochoso do início do relevo montanhoso da floresta — Por que agora eu tenho que ir embora. 

 

— Se descobrirmos sobre a mulher, nós iremos te avisar Cole. — Isaac apoiou. 

 

— Isso se o Collin não te contar primeiro. Agora ele está parecendo um fofoqueiro. — Thomas reclamou antes mesmo do seu irmão terminar de falar.  

 

— Você diz isso porque acabamos com o seu plano ridículo... — alfinetei. 

 

— Eu queria ver o lado mimado dela surtar! — contrapôs irritado — Deve ser tão legal!... 

 

— Aham! É claro que é legal, até por que não é você que ela esteve detestando. — fiz questão de lembrar tão irritado quanto ele. Tentei acalmar o lobo — Isso já passou, assim como a minha hora de cair fora daqui! 

 

— Eu já pedi desculpas a ela, pare de choramingar. — Thomas replicou com escárnio — Ela sabe que você não tinha nada a ver com aquilo, ela mesmo me disse. 

 

— Como sempre, ela está um passo à frente de você. — respondi — Agora eu tenho mesmo que ir. 

 

— Vai lá cara, bom trabalho! — ambos desejaram. 

 

— Obrigado. — agradeci descendo um montículo seguindo na direção contrária a eles para encontrar uma trilha encoberta que me faria chegar nas proximidades do meu terreno. Quando eu estava próximo o suficiente do meu terreno para andar sobre duas pernas, a mente de Seth surgiu em meus pensamentos — Eaí Seth! — o cumprimentei. 

 

— Eaí Cole! — respondeu num fôlego só — Vocês perceberam? Há uma humana em Forks— sua voz soou apreensiva — Ontem de manhã um carro adentrou na cidade e está no hotel de Forks. Martim estava comigo, foi o primeiro a perceber... — interrompeu sua fala para alongar o robusto corpo do lobo — Andei pela cidade para saber e fui na loja de conveniência do posto, o garoto que está trabalhando lá disse que uma mulher de fora parou para perguntar sobre alguma hospedaria na cidade. — vimos o acontecimento em nossas mentes através de seus olhos enquanto Seth corria velozmente até se aproximar das árvores que cercavam a rodovia principal. 

 

— Você está atrasado, só pode ser a mesma que Cole viu no hospital. — Thomas respondeu — Houve o maior auê lá. 

 

— Ela estava procurando pelo doutor. — resumi parando minha caminhada. Isaac me fez o favor de esclarecer as partes mais importantes do momento, nem fiz questão de acrescentar algumas coisas que ele não achou tão importante. 

 

— É sério? — Seth perguntou intrigado.  

 

 Através de seus olhos lupinos vimos que ele estava perto do acesso à rodovia. Seth sentou sua traseira peluda num espaço escuro de onde ele veria o movimento sem chamar a atenção e passou a analisar tudo que Isaac repassava com calma. Depois de algum tempo seus olhos se atentaram a dois carros haviam passado por ali, um SUV Jeep antigo e o mesmo carro de luxo em que Bella Cullen estava agora a pouco. Os pensamentos de Seth se tornaram uma página em branco por quase um minuto — Eu acabei de ver Edward e Bella com uma mulher!... Não!, — se corrigiu — Edward estava dirigindo o carro dela indo para a casa do doutor quase agora! — os carros passaram por nossas mentes outra vez. Dessa vez Seth fez questão de focalizar nas pessoas que ele havia visto no interior de cada carro — Eu não consegui ver bem a moça, ela estava deitada nos bancos traseiros. 

 

— Por que os Cullen levariam alguém a uma hora dessas para lá? — Isaac inquiriu. 

 

— Você está fazendo a pergunta errada! — Thomas cortou seu irmão — Porque uma humana está escondida no banco de trás e procurando por vampiros?! 

 

— Procurando por alguém que pudesse transformá-la sem o risco de acabar como um corpo seco?! — Isaac completou a sintonia de pensamento do seu irmão com desdém — Isso é ridículo! Os Cullen não são assim! 

 

— E porquê?  Já não aconteceu algo parecido a tantos anos atrás? — defendi o ponto de Thomas. Meus pelos se eriçaram em antecipação. A missão da existência do lobo nublando meus pensamentos me deixando por um momento confuso... Ainda é difícil dialogar com meus irmãos sem que meu eu lobo se manifestasse. 

 

— Calma, isso não quer dizer muita coisa, talvez eu tenha me precipitado... — Seth ficou amuado, não queria incriminar a família de Edward. 

 

— Talvez eles estejam mesmo ajudando... Você mesmo falou que ela pedia por Carlisle, Cole! — Isaac apoiou Seth, mostrando a ele o que havíamos conversado. 

 

— Posso também ter me precipitado com o tipo de ajuda que ela queria! — o respondi com acidez. 

 

 — Opiniões mudam, não é? — a voz de Thomas soou entre nós. 

 

— Mudam, mas nada será decidido antes do Jake nos informar de alguma coisa. Se os Cullen estão nisso, Nessie também está... — Seth se posicionou como Beta. 

 

— Claro que sim... — murmurei. 

 

— ...Então não vamos pôr lenha na fogueira. — ele continuou fingindo não me ouvir — Cole, volte para a sua casa e descanse. — ordenou — Quando tivermos notícias verdadeiras a respeito disso, nos reuniremos. Não quero ouvir nenhuma suposição e muito menos ‘e se’ por aqui. — deixou bem claro. 

 

 — Tudo bem. — concordei sem vontade. O lobo sentia-se mais contrariado do que eu — Qualquer coisa, me liguem. — pedi me despedindo.  

 

Corri mais alguns metros à frente encurtando a distância que antes eu queria ter percorrido sossegado. Relaxei estabilizando o equilíbrio físico entre mim e o lobo para que eu pudesse me transformar em humano novamente. Quando dois pés estavam no lugar das patas do lobo, eu retirei a bermuda amarrada ao tornozelo apertando o laço na circunferência humana e andei um bom tanto até pegar meu tênis esportivo entre uma moita de mato e calçá-los; era um bom disfarce fazer uma caminhada noturna entre as trilhas de um bosque. Como os turno que faço não são tão tarde, até que dava para enganar os vizinhos que de vez em quando me viam sair para uma possível caminhada e as vezes até me observavam voltar para minha casa. Gosto de morar ali, mesmo que minha mãe prefira que eu fique debaixo de suas asas...  

A casa é antiga, como a maioria das casas da reserva, algumas ruas foram acrescentadas, mas grande parte dos filhos e netos preferiam morar nas casas herdadas dos entes queridos. A minha não fazia parte de uma herança familiar direta, mas meus pais desejaram comprá-la logo depois de se casarem, mas minha mãe acabou se apegando sentimentalmente à aquela casa e nunca mais saíram e acabei realizando esse desejo por eles. A última família que morou aqui durante a minha infância a colocou à venda, pois estavam partindo do condado e aproveitei a oportunidade na época e concedi o desejo de Renesmee em usar o restante das minhas economias para a reforma e decoração da casa. Fiquei sem reservas por alguns meses, fora ter que ficar longe da casa por conta do fedor das demais vampiras, mas sobrevivi. 

 Hoje em dia minha mãe fala que não gosta mais dessa casa como antes já chegou a gostar, mesmo com a grande reforma que a esposa do doutor tenha feito no interior, ela diz que não há nada melhor do que viver no lugar em que pôde ver seu filho brincando na varanda da casa onde gerou uma família melhor do que já quis e é lá que ela tem as todas essas lembranças realizadas com o meu pai; por isso não desaprovo de suas decisões, mas também não quero viver grudado em sua saia, preciso de um espaço só para mim. 

Parei a frente da porta de entrada da minha casa procurando a chave entre a haste de instalação da luz da arandela ao meu lado esquerdo da porta. Quando desenganchei a argola da chave e destravei a porta, eu entrei para desativar o sistema de segurança encoberto por um quadro ao lado da escada e só depois eu fechei a porta da entrada e a tranquei. Subi as escadas pulando dois degraus a cada passada e quando cheguei ao primeiro andar me lembrei de que deixei meu celular sobre a mesa de centro estofada. Desci a escada no mesmo ritmo e virei a minha direita para entrar na primeira sala da casa, pegando o celular, na volta eu percebi que a luz da arandela estava acesa e desliguei a luz externa, assim os vizinhos saberiam que eu já estava em casa pronto para dormir. Desbloqueei o aparelho retornando para cima, escrevendo uma mensagem para minha mãe, avisando que eu já estava em casa; dona Franchesca ficaria uma fera se eu não fizesse isso. Aproveitei o falso pique de ter acabado de vir de uma caminhada, ou corrida noturna e tomei um banho me livrando de quaisquer resquícios de suor que havia em meu corpo, talvez a água quente me relaxasse o suficiente para acordar hoje de manhã bem disposto, isso se eu conseguisse dormir o suficiente. 

 Quando descansei minha cabeça sobre o travesseiro, os questionamentos pareceram ganhar vida dentro da minha mente. Grunhi apertando meus punhos contra as pálpebras num gesto irritado, desejando que essas perguntas se dissolvessem em alguma outra merda incoerente que surgisse nos meus pensamentos, mas parecia impossível e incontrolável, e eu não sou muito fã dessas palavras. Minha mente parecia um vento turbulento lançando os últimos acontecimentos com violência para cima de mim. O que mais me estressava com toda essa novidade era não poder fazer nada a respeito! Que caralho! O que essa moça tinha que fazer por aqui? Não é possível que ela tenha procurado Carlisle apenas para ser vampira, ela tem uma filha, eu vi a menininha nos braços dela, ouvi muito bem quando ela chorou... Ela não abriria mão da filha apenas para se tornar... Aquilo?... Lembrei-me com amargura de que sequer havíamos tocado no ponto em que ela tem uma filha; talvez Seth nem teria ficado tão preocupado. E se toda essa comoção for à toa? E se ela estava mesmo procurando Carlisle para ajudar em algo com a sua filha, ou até mesmo com ela... Ninguém chega num hospital gritando por um médico em específico por nada. E se ela nem souber que aquela família é na verdade sanguessugas, vampiros? Claro que diferentes de muitos outros pelo mundo, mas ainda são sugadores de sangue! Há veneno em seus dentes!  

Não quero ouvir nenhuma suposição e muito menos ‘e se’ por aqui!”  a voz de Seth soprou em meus pensamentos me recriminando. Me remexi sobre o colchão resmungando um xingamento. A noite não seria agitada apenas no hospital. 


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Notas finais do capítulo

Aguardo-lhes ♥



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