Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 28
25 e 26 de Julho ➶


Notas iniciais do capítulo

Depois de dores de cabeça (não reais, graças a Deus!) e o lookdown Total da minha região (nada aberto, nem supermercados/mercados, nem farmácias) aqui estou eu ainda sã para mais um capítulo! Gente não estava com paciência de dividir o capítulo como os dois anteriores, então vocês que lutem para ler tá?! Acabei ele agora mesmo!
Aproveito para deixar meus sinceros agradecimentos por você que adicionou a história nos acompanhamentos, a você que esteve/está comentando (meus xodós) a você que favorita♥ a você que recomenda ou pensa em recomendar ♥ gente, isso me deixa emocionada real, e não é só na maneira de escrever nas notas não viu?! Eu dou o maior chilique aqui dentro do meu quarto kkkkk Aproveitem muuuito este capítulo tá?! Beijão!



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Sempre ao Seu Lado 

Capítulo 27 

  

 

 —  Sim, vamos — Assenti deixando que ele nos guiasse de volta para a mansão, mesmo que no fundo eu desejasse passar muito mais tempo na sua companhia, mas meus pés já estavam começando a ficar doloridos pelo longo tempo em que fiquei de pé. 

 

Retrocedemos em silêncio pela trilha apenas ouvindo o som dos residentes naturais da extensão florestal que margeava a mansão da família Cullen, na maioria das vezes eram pássaros. Quando nos aproximamos da mansão eu me vi obrigada a desfazer o aperto fervoroso que nossas mãos mantinham, ele pareceu pensar da mesma forma que eu, pois demorou para desfazer o enlace das nossas mãos para que eu caminhasse até a mesa para pegar a caixa e os álbuns que havia deixado por lá e a bolsa de Hilary. Mas nenhum dos itens estavam no local, eu deveria ter imaginado que alguém já tivesse os recolhido. Muxoxei enquanto reclamava internamente do desperdício de tempo que me causou, eu teria mais alguns segundos para sentir a mão grande e quente de Cole sobre a minha e possivelmente o tempo em que eu levei para chegar até aqui sobressaía ao tempo de estarmos dentro da mansão. Como não havia mais nada a fazer no local, dei meia volta para estar ao lado de Cole novamente. 

 

 — Já levaram tudo para dentro... — esclareci quando estava próxima o suficiente dele para explicar a ausência dos objetos em meus braços. 

 

 — Imaginei que fosse isso. — considerou movendo seus braços para deitar Hilary sobre eles. Seus lindos olhos claros emanavam algo místico que sempre me atraí — Você já está carregando o bastante por si. — fez referência ao que carrego no ventre. 

 

 — Só por mais alguns dias. — lembrei e continuamos a caminhar. 

 

— Quantos? — perguntou interessado. Senti algumas gotas d’água pingarem sobre mim, Cole pareceu ter sentido nele também por que olhou para as nuvens. Trocamos um olhar e decidimos entrar logo na mansão. 

 

— Acho que mais uns sete ou oito dias. — explanei — Estou começando a perceber as leves mudanças de como meu corpo está se preparando para o que seria o último trimestre, mas não tenho certeza do mês diário em que estou. 

 

 — Deve ser bem confuso. — franziu suas sobrancelhas. 

 

 — É só fingir que não. Fica mais fácil de não surtar. — “As vezes nem eu sei como eu consigo fazer isso...” pensei ao puxar a saia do vestido para cima e segurei no corrimão da escada do primeiro deck subindo os degraus ao seu lado — Jasper esteve me fazendo companhia durante as últimas noites desde aquele dia. Ele consegue transmitir uma paz absurda só de estar lá comigo, sem trocarmos uma palavra, não que ele me pareça ser introvertido... — comentei ao atravessarmos a extremidade do lugar para acessar a escadaria do segundo deck, que nos levaria para a cozinha — Tenho que agradecê-lo por estar me ajudando a descansar, pensei que não conseguiria mais dormir, graças a ele eu consigo dormir sossegada. 

 

— Tenho que agradecê-lo por estar te ajudando. Fiquei muito preocupado com você, é claro que não apenas eu, mas nunca pensei que eles fossem tão benevolentes assim. — admitiu. 

 

— Estou tendo sorte. — começamos a atravessar o deck em direção a enorme porta de vidro. 

 

 — Não é apenas sorte, Lee. — discordou chamando minha atenção para que nossos olhos se encontrassem. Cole não precisava exigir muito para que eu o correspondesse, era como se meu eu ansiasse por isso a todo momento — Tudo o que está vivendo, foi o destino que preparou para você. — respondeu-me convicto. 

 

Aceitei suas palavras, movendo minha cabeça em concordância e abri a porta para que pudéssemos entrar. Cole adentou na mansão com minha filha entregue ao sono, entrei logo atrás. Da distância em que estávamos eu pude ver Renesmee sentada em uma das banquetas de frente a pedra da bancada da ilha, ocupada com seu celular, ao seu lado Jacob estava debruçado sobre os ombros dela, lendo o que ela estava escrevendo. Alguns temperos estavam sobre a bancada da pia e a tábua de madeira continha diversos ingredientes picados. Fechei a porta e percorremos o espaço nos aproximando deles; quando estávamos próximos o suficiente para ouvirem nossos passos, levantaram a cabeça simultaneamente. 

 

 — Ah, ela dormiu!... — Renesmee largou o celular sobre a pedra e saltou da banqueta parando na frente de Cole tentando olhar para o rosto sereno de Hilary que ressonava muito confortável nos braços dele. Jacob acompanhou seus passos, cumprimentando a mim e ao Cole e iniciando uma conversa paralela entre eles — Será que ela acordará a tempo da hora do banho? — perguntou a mim. 

 

 — Se ela for para o berço, acho que sim. Se ela continuar nos braços dele, duvido muito que acordará logo. — movi minha mão na direção dos fios de cabelos da minha filha, espalhado pela extensão do braço forte de Cole e retirei a presilha que estava desprendendo de seus cabelos — Ela nem deve passar muito tempo assim. — me referi a estar dormindo no colo. 

 

 — Quer que eu a leve para o quarto? — ofereceu ajuda. 

 

— Vou querer sim. — aceitei — Já aproveito e subo com você, preciso de um banho novamente, meus músculos precisam relaxar na água quente. — movi meus pés, dosando meu peso de um lado para o outro. 

 

— Está tudo bem? — ela perguntou franzindo as sobrancelhas em preocupação ao analisar meu corpo com seus olhos. 

 

— Sim, é apenas os meus pés que estão doloridos. Nada tão preocupante. O banho poderá ajudar — esclareci. 

 

 — Menos mal, talvez ajude mesmo. — concordou e virou-se para Cole — Ei, — o chamou, fazendo com que o diálogo dele com Jacob ficasse em segundo plano — dá ela para mim, nós voltaremos logo. — estendeu suas mãos. 

 

— Vão para onde? — Cole quis saber perguntando a mim, quando se inclinou para que Renesmee pudesse pegar Hilary de seus braços. 

 

— Para o quarto. — foi ela que o respondeu acomodando a cabecinha de Hilary sobre seu ombro — Já vai se despedir? — perguntou sugestiva. 

 

 — Mas não íamos...? — Jacob inquiriu confuso desviando seus olhos do amigo para olhá-la, mas calou-se quando recebeu um olhar zangado de advertência dela — Você disse que... 

 

— Jake. — frisou o apelido com o olhar incontestável, que parecia perturbador já que seus lábios estendia um belo sorriso. 

 

— Tá legal, não está mais aqui quem falou. — ergueu suas mãos rendido. 

 

— O que foi? Qual era o plano? — eu quis saber — Hein? — olhei de Renesmee para Jacob em curiosidade. Cole e eu aguardamos um deles começar a explicar, mas apenas se olharam e continuaram em silêncio. 

 

 — Tudo bem então, não estávamos incluídos e não querem nos incluir. Sem problemas. — Cole alegou com seriedade, mas pude notar que havia uma dramatização no arquear de suas sobrancelhas. 

 

— Não é isso... — Jacob contradisse desviando seu olhar de nós; parecia sem graça. No mesmo momento houve uma troca de olhares entre mim e Cole, ele não percebeu o exagero — Nessie, dá pra me ajudar a esclarecer?! — pediu ajuda. 

 

— Eu quero que o Jake também prove a torta que eu fiz naquele dia. — ela expôs aninando minha filha em seu colo — Mesmo que ela seja uma réplica feita por alguém sem o sangue quileute. — alfinetou olhando aborrecida para Cole. 

 

 — É sério que você ficou chateada apenas por que eu disse a verdade?! — Cole ultrajou soltando um riso anasalado. — Pois nem deveria, nós te consideramos parte da família. 

 

 — Como é? Você acabou de jogar isso na minha cara! — Renesmee controlou a altura de sua voz para que não atrapalhasse o sono da minha filha em seus braços. Soltou um suspiro dramático — Como eu sou muito legal, faço questão de te convidar para jantar com a gente a torta que eu tive a honra, dada pela tia Franchesca, de reproduzir. — enfatizou — A Amberli eu não preciso nem convidar, ela está hospedada aqui, mas se você não quiser, se despeça educadamente, não saía correndo como um cachorro do mato. — revirou seus olhos amuada. Cole bufou. Jacob me olhou apreensivo e eu correspondi do seu olhar, mesmo não entendendo a linha atemporal dos trocadilhos. 

 

— Então, nós esperamos as duas aqui? — Jacob perguntou com cautela. 

 

— Sim. — ela confirmou após tocá-lo, balançando os belos cachos de sua cabeça indicando-me que já poderíamos nos direcionar para a escada. Olhei para Cole, sua expressão parecia refletir o sentimento saudoso que surgiu no meu coração. Acenei com a cabeça um até logo ao nos afastarmos — Jake, pode colocar o frango para cozinhar? — perguntou caminhando a minha frente. 

 

 — Claro Nessie. —  concordou de imediato — Pode colocar aipo? — ele perguntou caminhando para a bancada da pia no mesmo instante. 

 

 — Pode sim, e alguns dentes de alho também é uma boa. — aprovou nos primeiros degraus da escada acima de mim. Ergui o tecido do vestido para subir a escada. Um passo de cada vez. 

 

 — Está bem! — concordou se movendo para fazer o que Renesmee lhe instruiu — Anda Cole, vem me ajudar!... — foram as últimas palavras de Jacob que ouvi na escadaria. 

 

Quando chegamos no corredor dos quartos, a chuva se iniciou lá fora, eu adiantei meus passos para que Renesmee não precisasse abrir a porta, assim, ela apenas adentrou no cômodo e deitou Hilary sobre o colchão do berço, a pequena nem pareceu sentir a diferença. 

 Quando tivemos certeza de que ela não acordaria, entramos no closet para que eu separasse as peças de roupa que iremos usar ao sair do banho. Renesmee e Alice haviam disponibilizado um espaço nas araras, prateleiras e gavetas para armazenarem as roupas e os demais pertences que eu trouxe na mala para que eu não precisasse sempre me abaixar para procurar algum item dentro da bagagem. Sendo assim, eu agradeci, já que elas não se sentem confortáveis em me ouvir agradecer sempre que me sentisse na obrigação de externar verbalmente minha gratidão. Era muito difícil não expressar, quando eu realmente me sinto extremamente grata por cada pequena ação que a família dispõe a me oferecer. 

 Caminhei para o lado onde minhas coisas agora estavam e procurei um espaço entre os acessórios, colocando a presilha de laço junto das outras que já eram da minha filha, que se misturava entre muitas outras faixas e presilhas novas que estavam na gaveta. Dei uma olhadela para o canto paralelo a mim, vendo um volume reduzido das caixas que haviam sido retiradas do meu carro e a caixa dos álbuns estavam amontoadas ali. Deixei que minha atenção fosse para a minha tarefa atual e procurando entre gavetas e cabides, eu separei um pijama para Hilary, sua pomada contra assaduras, o talco, a colônia e a fralda, para mim eu peguei uma blusinha de alças trançadas que eu não tinha certeza se conseguiria cobrir minha barriga e a calça moletom mais larga que pude achar entre minhas roupas. Ela terá que servir. Fiquei tentada a pegar uma pantufa, mas desisti da ideia, eu não estou indo dormir ainda, não quero parecer tão largada. 

 

 — Será que estou esquecendo alguma coisa? — perguntei alto olhando para as roupas dispostas no pufe. 

 

— Acho que não. — Renesmee respondeu enquanto vasculhava os produtos que haviam na gaveta da penteadeira — Ah, — pareceu ouvir alguma coisa — Hilary acordou... — olhou para mim e se levantou — Quer que eu a traga aqui? 

 

— Tão rápido?! — fiquei surpresa — Pelo menos não terá nenhum atraso, ela tomará banho comigo e jantaremos no mesmo horário. Pode trazer sim, eu já vou para o banheiro, leve-a direto para lá. — instruí. 

 

— Está bem! — exclamou fechando a porta do closet. 

 

Caminhei na direção da porta que dá acesso ao banheiro para tentar preparar meu banho na banheira sem que Renesmee precisasse fazê-lo. Separei os pentes, as loções de banho, os sais perfumados que usarei na água e as toalhas. Quando eu estava curvada para a pia, enxaguando minha boca após escovar meus dentes, Renesmee entrou no banheiro com Hilary desperta em seus braços. Minha menininha estava com seus olhinhos bem abertos, mal parecia que a poucos minutos atrás ela estava toda largada num sono gostoso nos braços de Cole, mas seu rostinho mostrava claramente que ela havia dormido muito bem, mesmo que por quase uma hora. Pelo menos foi um bom cochilo. 

 

— Oi mamãe! — exclamou assim que me viu. Mal completou sua fala e sua boca se abriu num grande bocejo.  

 

— Oi meu amor. — me aproximei delas — Dormiu bem, não é? 

 

— Dormi. — assentiu erguendo sua mãozinha esquerda para enganchar nos cachos de Renesmee — Olha mamãe. — ergueu um cacho em sua direção, encantada com a mecha de cabelo. 

 

— É lindo não acha? 

 

— Sim. É o meu, não é mamãe?! — perguntou apertando o cacho em sua mãozinha. Renesmee soltou um breve riso. 

 

— Sim, — entendi o que quis dizer — É lindo como o seu. — confirmei — Quem vai tomar um banho bem gostoso com a mamãe hoje? — instiguei. 

 

— Hilary! — sorriu para mim e inclinou seu corpinho na minha direção para que eu a pegasse. — A bebê da mamãe! — exclamou entusiasmada. 

 

— Isso mesmo, meu amor! — a abracei em meu colo virando-nos para que eu a deixasse em pé sobre a tampa da privada, começando a tirar a seu vestidinho, a calcinha e a fralda descartável. 

 

— Xixi, mamãe! — Hilary exclamou quando se pendurou nos meus braços querendo descer da tampa da privada. 

 

— O que foi? — perguntei ajudando-a a ficar em pé no chão — Acabei de jogar a fralda no lixo, Hilary. 

 

— Xixi! — indicou a privada, batendo suas mãozinhas sobre a tampa, tentando abrir. 

 

— Ah, sim!... — exclamei entendendo o que ela estava querendo dizer. Depressa eu ergui a tampa e puxei-a para que se sentasse no assento estofado do vaso. Inclinei para continuar com minhas mãos a segurando, e perguntei: — Vai fazer xixi sem a fralda agora? — indaguei com entusiasmo. 

 

A rotina para os métodos de desfraldá-la já haviam se iniciado a bastante tempo até. Lauren e as educadoras da creche me ajudavam com o feito, mas assim como a fala dela, Hilary só fazia xixi no vaso sanitário quando bem queria, independente do horário que o pedido viesse, eu sempre a levava; até porquê, a contradição poderia retardá-la no aprendizado e também, eu sabia que forçá-la a cooperar com sua própria desenvoltura seria um retrocesso trabalhoso, do qual poderia gerar um bloqueio no aprendizado, com a minha filha, não era surpresa alguma em saber que os resultados eram a longo prazo, sejam quaisquer que fossem. Então eu não poderia me culpar de que todos esses últimos dias haviam me feito esquecer completamente da tarefa diária em incentivá-la a usar tanto no penico, quanto no vaso em si. Estava muito orgulhosa do desenvolvimento que ela está expondo já ser capaz de realizar. Meu coração de mãe sempre se mostra capaz de suportar cada emoção em relação a minha filha, parecia me doer no peito todo o amor que eu sentia. 

 

 — Como você conseguiu fazer uma menininha tão fofa desse jeito?! — Renesmee perguntou retoricamente — Me dá uma vontade enorme de apertá-la! — sua voz soou melodiosa. Virei meu rosto para olhar sua expressão e ri. Renesmee tinha a maneira peculiar de sempre apertar suas próprias bochechas quando se admirava com alguma atitude fofa que a minha filha fazia. 

 

Pedi para que Renesmee tomasse a frente com o banho dela para que eu retirasse sozinha minhas peças de roupa, não foi tão difícil quanto as outras tentativas anteriores, mas executei as retiradas o mais calma possível para que nada se enroscasse em algum lugar que não deveria, como na sonda e nos tubinhos que ainda estavam na minha mão. Sorri satisfeita comigo mesma por ter conseguido executar esse feito sem nenhuma ajuda, ultimamente isso tornou-se algo grandioso a se comemorar. 

 Renesmee me ajudou a entrar na banheira e quando ela estava com o nível da água na metade, compactuamos em não deixarmos que estivesse cheia, pois eu não estaria sozinha dentro do espaço, Hilary estaria comigo e quero que ela não fique com medo de tanta água a cobrindo. Encaixei-a entre minha barriga e pernas e com a vistoria de Renesmee eu conhecei a banhá-la com atenção para que os esparadrapos que mantinham os tubinhos na minha mão esquerda não molhassem. Lavei seus fios castanhos que quando molhados tocavam abaixo de seus ombros com calma, massageando o couro cabeludo sem pressa alguma. Renesmee me estendeu a esponja no momento em que precisei lavar seu corpinho para limpar qualquer resíduo de sujeira que possa estar em sua pele, percorrendo toda a extensão desde seu pescocinho até aos seus pequenos pés; passei meus dedos molhados da mão direita atrás de suas orelhas, lavei seu rostinho tomando cuidado com seus olhos e condicionei seus cabelos deixando que o produto agisse. Hilary aproveitou o momento com alguns brinquedos próprios para banho, Renesmee era muito espontânea nas brincadeiras e conseguia entretê-la muito bem, assim eu tive um tempo para lavar meu corpo. Nosso banho foi repleto de conversas, sorrisos e risadas. Era tudo mais satisfatório quando minha filha estava comigo. 

Permiti que meu corpo relaxasse, mesmo que a tensão que eu sentia nos ossos da bacia não se dissipasse totalmente. Não que eu estivesse surpresa com isso, eu sei que a tensão indica o encaixe do bebê, mas não custava nada pensar que a dilatação poderia ser amenizada, ela mal havia começado mesmo. Eu bem sei. 

 

 — Olha mamãe! Olha! — Hilary exclamou agitada ao bater suas mãos na água. Vi Renesmee se encolher quando muitas gotas foram lançadas em sua direção e riu. Atentei-me para o que minha filha fazia, em sua pequena mão esquerda ela segurava uma tartaruga lilás e na outra o típico patinho amarelo, atrás dela, muitos outros boiavam. O sorriso de quatro ou cinco dentinhos de leite resplandecia seu rostinho molhado e toda feliz ela os colocou sobre a água — Olha! — bateu suas mãozinhas nos dois brinquedos, sua ação fez com que eles fossem empurrados para a minha direção. Hilary soltou um gritinho animado — Eles amam a mamãe! Ama! — soltou uma gargalhada gostosa de se ouvir e empurrou eles na minha direção novamente. 

 

 — Eles gostam da mamãe, também? — perguntei com entusiasmo analisando os brinquedos boiarem oscilante para mais perto de mim. Hilary levantou seus lindos olhinhos castanhos para os meus, o sorriso ainda estava perfeito em seus lábios, ela assentiu balançando a cabeça num sim e soltou uma risadinha. 

 

 — Eles amam a mamãe! — pontuou esticando seus bracinhos horizontalmente — Muito assim! Como a bebê da mamãe! — me respondeu com convicção tornando a empurrar os brinquedos sobre a água. 

 

— Eu também te amo muito assim, amor. — lhe falei com carinho estendendo minha mão para que pudesse tocá-la. 

 

— Ah, como ela é fofa! — ouvi Renesmee ameigar. 

 

Hilary levantou seu rostinho para acomodar melhor minha mão em sua bochecha. Não havia mais sorrisos em sua feição, com o semblante sério ela passou a analisar meu corpo, os olhinhos castanhos se concentraram sobre a redoma encoberta pela água; Hilary passou a me olhar nos olhos outra vez e agitou a água ao seu redor com suas mãozinhas; movendo suas perninhas ela se aproximou de mim e grudou no meu corpo, passando seus braços miúdos sobre meu pescoço. Puxei-a novamente para o meu colo, seus pezinhos se balançavam nas laterais do meu corpo agitando a água perfumada ao nosso redor. 

 

— Hilary a bebê, e o outro bebê da mamãe, amam a mamãe! Muito, muito assim! — exclamou como se soubesse bem do que estava falando.  

 

Seu rostinho tocou o meu e um beijinho estalado foi dado na minha bochecha livre. Me derreti toda por ela. Não saberia dizer se meu amor por ela poderia tornar-se ainda maior, talvez estivesse se intensificado em meu coração. Apertei mais seu corpinho contra o meu e correspondi ao seu beijo, estralando um em sua bochecha molhada também, distribuí beijinhos por toda a sua face, ocasionando risos nela. Como eu amo a Hilary; minha filha! 

 

— Eu também mamãe! — pediu afastando seu rostinho dos meus lábios, levando suas mãos para a lateral do meu rosto— Beijinhos na mamãe! — sorriu.  

 

— Tudo bem, só tome cuidado com a sonda da mamãe. — assentiu um sim e afastou sua mãozinha esquerda do meu rosto para poder fechar meus olhos. 

 

Não demorei a sentir sua respiração calma soprar contra meu rosto, gelando os lugares mais húmidos, logo seus pequenos lábios estralavam beijos leves pela minha testa, bochechas, na ponte do meu nariz, queixo e sobre meus lábios. Quando ela terminou, eu tornei a abrir meus olhos para vê-la olhando para Renesmee em expectativas. Renesmee por outro lado, havia aproveitado nosso momento para usar seu celular para gravar-nos, seu rosto emoldurava um sorriso brilhante. 

 

— Eu também receberei beijos lindos desse aí? — perguntou animada na borda da banheira. Hilary riu e se agitou em meus braços para que pudesse chegar até ela. Deixei que fosse. — Oba! — Renesmee comemorou aproximando seu rosto para que minha filha pudesse beijá-la — Que linda! Vai dar mesmo um beijo na Ness?! — exclamou fingindo estar surpresa. Seus olhos se desviaram de Hilary, para a minha direção — Posso ensiná-la a me chamar de tia Ness? — perguntou-me acanhada e me surpreendi com o pedido. Nunca havia pensado em uma maneira simples para que Hilary cognomine cada um. Mas considerá-la sua tia, não parecia ultrajante para mim; então apenas anuí positivamente. — Obrigada! Hilary, venha dar um beijo bem lindo na tia Ness! —  apompou seu novo status ajustando o celular para que pudesse gravar seu momento também. Hilary segurou na borda para dar um beijo estralado na bochecha dela — Há, que beijo gostoso! — sorriram uma pra outra. E Renesmee pôde concluir sua gravação, guardando o celular no bolso. 

 

— Acho que agora podemos terminar nosso banho. — peguei o pente — Hilary, vamos enxaguar seu cabelo bebê.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

— Tem certeza de que eu não estou ridícula nessa roupa? — perguntei para Renesmee após termos saído do quarto interrompendo meus passos antes mesmo de pisar no primeiro degrau da escada. 

 

— Deveria estar? — perguntou a dois degraus abaixo de mim, com minha filha nos braços. Fiz uma careta ao encarar a escadaria; apenas em saber que terei que descê-la, já me dava vontade de voltar para o quarto — Mas você acabou de dispensar o conjunto anterior. — argumentou — Não está se sentindo bem com esse? Pois eu acho que está linda. — opinou — O que você acha, bebê? A mamãe não está uma gata nesse vestido? — perguntou para minha filha. Hilary apenas olhou para nós duas e sorriu. 

 

 Olhei para a extensão do meu corpo no vestido mais uma vez, agora de um ângulo diferente do que o espelho proporciona, é claro. Eu já havia usado o vestido antes aqui, assim como eu o vestia bastante nas minhas gestações anteriores. O vestido cinza com xadrez preto e branco, agora estava pouco mais curto que antes, por conta do volume que eu carregava, mas continuava a me favorecer. A disposição que o xadrez percorria a saia do vestido fazia com que minha cintura conseguisse demarcação, mas em compensação, a minha barriga ficava visivelmente maior, eu apenas não tinha muita convicção de ser apenas uma ilusão do tecido no meu corpo, ou se minha barriga havia mesmo aumentado. Embora eu já tenha trocado duas vezes minhas opções de vestimenta pelo fato de achá-las muito inadequadas para um jantar em que Cole também estará, eu não poderia estar na presença dele parecendo não ver a hora de estar aconchegada sobre o colchão macio, enrolada nos cobertores. Quero estar tão apresentável quanto Renesmee se dispôs a estar. Fiquei surpresa quando ela me indicou a opção de usá-lo, não era tanto do meu feitio usar vestidos durante a noite para ficar dentro de casa, mas me senti confortável em me apresentar ao jantar com ele. É meu vestido favorito, mesmo que eu não o intitulasse como tal, já que minhas únicas razões de o vestir, é por conta da gravidez. 

  

— Não, vocês têm razão. — desconsiderei — Eu me sinto bonita com ele. Mesmo com essa sonda grudada na minha cara. — muxoxei em descontentamento. 

 

— Ah, Amberli. — ela soltou um breve riso — Isso não faz com que sua beleza seja anulada, Cole pode concordar mais d emil vezes com o que eu digo. Pare com besteiras. — me consolou descendo mais um degrau, me incitando a fazer o mesmo. Me senti sem jeito pela constatação que ela jogou sobre Cole. Apertei meus lábios entre os dentes para que eu não perguntasse a veracidade daquelas palavras. 

 

— Está bem, vamos logo para a cozinha, preciso tomar água. — tratei de mover meus pés. Eu não resisti a tentação de calçá-los com uma pantufa novinha que ela ofereceu para mim. Meus pés inchados estavam pisando fofo agora. 

 

— Por favor! — concordou — Ainda tenho que preparar a massa e o recheio da torta... Você irá me ajudar né? 

 

— Se você quiser, sim. — concordei. 

 

 

 

 

 

 

➶ 

 

 

 

 

 

— Olhem só que obra culinária esplêndida! — Renesmee acomodou a torta sobre o centro da mesa, soltando um gritinho animado. Ela estava mais agitada com sua segunda reprodução da receita do que quando a fez pela primeira vez — Eu não quero ouvir nenhuma palavra contrária a isso vindo da sua boca Cole Uley! — o repreendeu antes mesmo que ele falasse alguma coisa. Cole apenas riu. 

 

A mesa já estava organizada para que pudéssemos jantar. Nós quatro trabalhamos na cozinha pra auxiliar no jantar, com Hilary sendo nossa supervisora mirim. Jacob havia trazido uma garrafa de vinho tinto para o jantar, mas por termos feito suco, ele sugeriu que a bebida se tornasse um acompanhamento para a sobremesa; diz ele que a bebida não era forte o bastante para que pudesse me fazer mal, mesmo que eu tenha ciência de que uma taça de vinho não me faria mal algum. Ele e Renesmee se concentraram no preparo da torta que a tia Franchesca confidenciou para ela, e mesmo que eu nunca chegasse a revelar, eu já estava sabendo o passo a passo de cada ingrediente. Preparei também o cardápio para o jantar de Hilary, para que minha filha não ingerisse apenas a torta, após isso, Cole decidiu fazer uma salada de espargos; aproveitei que Renesmee não quis utilizar as sobras da massa para trançá-las, e estiquei o restante da massa pra fazer uma pequena torta de limão para comermos de sobremesa seguindo a sugestão de Jacob. É a sobremesa que eu mais gosto de fazer, isso é, quando eu arrumava um tempo para isso. 

 Sentamo-nos em nossos respectivos assentos, Cole ao meu lado, com Renesmee e Jacob na nossa minha frente e minha filha na cabeceira à minha esquerda. 

 

 — Beleza! — Jacob exclamou olhando desejoso para a torta colocada a nossa frente. Dependendo do momento em que nossos olhos focalizavam na massa, ainda era possível ver uma fina fumacinha sair dos pequenos retalhos feitos na massa assada, exalando o cheiro maravilhoso do nosso jantar. A salada de espargos e a torta, eram algo bonito de se olhar sobre a mesa, todos nós estávamos comendo com os olhos primeiro. Logo a atenção de Jacob foi direcionada para uma pessoa que surgia pela escadaria da sala — Precisamos de um pouco mais de emoção. — ergueu suas sobrancelhas de modo sugestivo — Ei! — exigiu atenção — Loira psicopata! 

 

— Não tenho um minuto de paz, quando você está por aqui hein, cachorro?! — Rosalie reclamou atrás de mim. Seus passos faziam barulho enquanto cruzava o local. Atentei-me a Hilary e estendi sua colherzinha para que pudesse se entreter um pouco com ela em suas mãozinhas. 

 

— Não vai me perguntar o que eu quero contigo, loira? — Jacob perguntou arqueando sua sobrancelha enquanto movia sua cabeça na direção em que Rosalie andava. Hilary colocou a colher na boca, e assim como eu, apenas observava. 

 

— Desde quando eu quero saber das coisas ao seu respeito?! — retrucou zangada. 

 

— Como sempre, uma loira psicopata... — Jacob riu. 

 

— Jake, pare de agir como um boboca com minha tia! — interviu Renesmee com um riso contido. 

 

— Vamos Rosalie! — instigou Jacob com um sorriso largo para ela. Rosalie parou já próxima a bancada e revirou seus olhos dando atenção a ele — Só mais uma!... 

 

— Você diz isso a muitos anos, cachorro! Me poupe! — quase rosnou para ele do outro lado. 

 

— Vai, deixa de ser psicótica!... — se animou sobre o assento quando Rosalie continuou parada com uma expressão colérica — Uma loira foi no mercado e comprou uma caixa fechada com doze garrafas de azeite dentro, pagando vinte e cinco dólares. Quando chegou em casa, a loira ficou indignada e jogou todos os vidros de azeite pela janela! Sabe por que? 

 

— Não, eu não sei. — devolveu sem vontade alguma. Realmente, não parecia ser a primeira vez que Jacob atazanava ela com esses tipos de piadas. 

 

— Tem certeza? — Jacob insistiu. 

 

— Eu. Não. Sei! — ela grunhiu pausadamente. 

 

— Era porque no rótulo das garrafas estava escrito: “Produzido desde 1935”! — caiu na gargalhada. Jacob ria tanto que seu corpo se chacoalhava sobre a cadeira e de seus olhos puxados começaram a sair lágrimas. Assim ficou difícil de nós que estávamos à mesa, não rirmos também. Até mesmo Hilary soltou uma gargalhada gostosa, o que nos fez rir ainda mais. 

 

— Incrível. — murmurou Rosalie, tornando a caminhar em direção à escadaria. 

 

— Agora sim meu dia ficou perfeito! — Jacob anunciou com um sorriso largo e bonito nos lábios. Seus olhos se apertavam acima das bochechas altas ficando mais miúdos ainda e continha indícios das lágrimas causadas pelas suas gargalhadas. 

 

— Ela deveria ser premiada por nunca ter quebrado um osso seu, Jake. — Cole comentou divertido, desviando seus olhos claros da escadaria em que Rosalie havia subido. 

 

— No fundo, num lugar imaginariamente quase inexistente dentro de uma coisa como ela, eu sei que ela consegue gostar de mim. — limpou os resquícios de lágrimas dos olhos. 

 

— Muito convencido, é isso que você é Jacob Black! — ralhou Renesmee cutucando a lateral das costelas dele. Jacob se encolheu pelas investidas dela contra seu corpo — Deveríamos apostar! —propôs animada — Quantos anos a mais minha tia suportará não quebrar nenhum dedo sequer do Jake?! — sua oferta soou tentadora para os dois homens presentes. Me espantei com todo o direcionamento que a conversa estava tendo, logo imaginei Emmett surgindo do nada, louco para participar disso também! 

 

— Eu acho que deveríamos comer agora. — me senti na obrigação de intervir. Cole concordou comigo, ajeitando seu corpo sobre o assento — Ou nosso jantar acabará esfriando. — gesticulei para a mesa. Para que minha intervenção tivesse mais peso, Hilary atirou a colher babada contra a madeira escura e lustrada sobre a mesa, exclamando audivelmente seu descontentamento sobre a demora do jantar — E não é só eu que acho isso. — me referi a minha filha, recolhendo a colher, passando o guardanapo sobre o local. 

 

— Beleza, então vamos comer! — Jacob declarou ainda risonho. 

 

 Renesmee tomou o prato dele em suas mãos e começou a fatiar a torta, servindo-o primeiro. Enquanto ela o fazia, Jacob se encarregou de servir-nos o suco de melão com morango, que já estava pronto na geladeira. Possivelmente Esme havia preparado. Puxei as pequenas travessas onde eu coloquei o jantar de Hilary na direção dela. Quando seus pequenos olhinhos viram, sua expressão séria se dissipou e logo ergueu sua mãozinha esquerda, pedindo pela colher que ela havia jogado. Devolvi o pequeno talher para ela, que sem perca de tempo, se afobou para mergulhá-la sobre os grãos de ervilha e os cubinhos de rabanetes. Não que ela conseguisse manter mais de um alimento sobre a colher, mas isso era a resposta clara de que Hilary estava mesmo se zangando com a demora do nosso jantar. 

 Voltei a me atentar aos outros ao meu redor, quando um prato foi empurrado até a mim. Estavam me esperando para que pudéssemos enfim comer. Acolhi os talheres em ambas as mãos e olhei para os três que me aguardavam, movendo a cabeça concordando de que finalmente poderíamos iniciar. 

 

— Bom apetite para nós! — Renesmee apeteceu afundando seu garfo sobre a massa dourada. 

 

 

 

 

 

 

 — Mamãe! — Hilary exigiu minha atenção depois de uns bons minutos em que estava conseguindo comer sozinha. 

 

— Oi meu amor. — atentei-me a ela deixando a conversa atrelada aos outros três, inclinando-me na sua direção. 

 

— Quero comer! — pediu estendendo os bracinhos para mim, ela ainda continuava segurando a colherzinha firme em seus dedinhos. 

 

— Está aqui bebê. — desviei de seu pedido indicando a segunda travessinha que estava a sua frente. Hilary abaixou seus braços um pouco decepcionada — A comida aqui amor. — bati a ponta do meu dedo na borda, indicando para ela. 

 

— Não mamãe! — negou com a cabecinha — Com a mamãe! A neném da mamãe quer a mamãe! — tornou a estender os bracinhos para mim, mexendo-se no assento elevado da cadeira onde está. 

 

 Suspirei indecisa entre pegá-la ou insistir que comesse sozinha. 

 

— Como essa menina é fofa! — ouvi a voz de Renesmee soar, enquanto eu ainda continuava a encarar minha filha, considerando em pegá-la. 

 

— Vem aqui com a mamãe. — me rendi, puxando a alavanca que liberava uma parte da abertura do assento para que eu pudesse tirá-la dali. — Você irá comer tudinho agora, não é? — perguntei a ela quando a ajeitei sobre minha perna. Puxei a travessa de volta. 

 

— Sim mamãe. — ergueu o rostinho redondo para me olhar. 

 

 Comecei a tratar dela enquanto voltava a comer meu segundo pedaço de torta e tentar me encaixar na conversa outra vez, o que não foi muito difícil já que o assunto era voltado à jogos. Ora eu me alimentava, ora eu mantinha o ritmo da alimentação da Hilary, ora eu respondia as perguntas que me faziam, ora eu inquiria também. Uma decorrência leve e contínua. Era fácil me apegar a um fato inexistente de que eu já os conhecia a muito mais tempo do que meros dias. A ligação que eu sentia, especialmente com Cole e Renesmee, que me ligava indiretamente ao Jacob, era assustadora, não desconsiderando o convívio com os demais irmãos quileutes, que eu gostei desde a primeira vez que os vi. Se eu não soubesse de onde vim, poderia falar que já havia sido vizinha deles na infância. A conversa nunca parecia ter fim; não apresentávamos outro assunto por causa de um silêncio incômodo ou alguma ocorrência desagradável, mas sim porquê entre uma conversa e outra, mais assuntos surgiam, o que nos dava ainda mais motivos para estarmos descontraídos com um sorriso sutil nos lábios. 

 

— Mamãe, quero descer! — Hilary exigiu minha atenção exclusiva, afastando seu copo de bico dos lábios, mexendo suas pernas com impaciência. Já havíamos terminado de jantar. 

 

— Quer descer para ir aonde? — perguntei segurando seu corpinho no lugar. 

 

Hilary pareceu pensar no que eu a havia perguntado. A maneira como ela olhou ao redor pensativa fez com que eu risse da situação, o que atraiu a atenção momentânea dos demais para nós. Hilary moveu sua cabeça na direção de Cole e a ergueu para olhá-lo. Quando soube quem ele era, ela moveu seus lábios num sorrisinho lindo. 

 

— Oi! — piscou seus olhinhos olhando atentadamente para Cole. 

 

— Oi, pequena Hilary! — Cole a saudou movendo sua mão na direção dos fios de cabelo dela, fazendo carinho — Pra onde você quer ir? — perguntou. 

 

Hilary desviou seus olhos dos dele, erguendo a cabeça para focar-se nos meus. Não manteve o contato visual por mais de dois segundos, logo ela olhava com interesse para mim e Cole, tanto que ainda fazendo esse ziguezague com os olhos, ela tornou a sugar o suco do seu copo com bico, olhando com bastante relevância para Cole. 

 

— Oi! — tornou a cumprimentá-lo movendo suas perninhas de maneira ágil sobre as minhas, inclinando seu corpo na direção dele. Seu movimento acelerou meu coração num susto, pois se Cole não tivesse sustentando-a nos braços e puxado ela para o seu colo, Hilary poderia ter tido uma queda feia. Meu corpo tremeu, só de pensar. 

 

— Hilary! Não pode fazer isso! — exclamei brava pela sua atitude. A criaturinha pareceu nem ligar para a minha repreensão. Estava muito ocupada analisando o rosto do homem. 

 

Minha repreensão chamou a atenção dos outros dois à nossa frente; Cole por outro lado, parecia sem graça com a investida da minha filha em querer estar confortável em seus braços quentes. 

 

— Acho que ela familiarizou fácil comigo. — comentou olhando para Hilary, que envolveu sua mãozinha sobre dois dedos de sua mão esquerda tentando apertá-los. 

 

— Foi muito fácil com você! — Renesmee jogou alguns cachos acobreados para trás dos ombros — Jake até agora mal conseguiu um “oi” vindo dela, quem dirá dois seguidos. — deu uma olhada de esguelha para ele. 

 

— Eu mal tenho vindo para cá, como que ela vai se acostumar comigo assim? — justificou. E era verdade, nem mesmo eu estava familiarizada com a presença dele. 

 

— Desculpa, chefe Jacob! — ela gracejou tocando em seu ombro. 

 

— Há-há, muito engraçado. — queixou-se pendendo seus lábios. 

 

— Deixe de choramingar Jake! — Cole riu — Ainda temos uma sobremesa para mais tarde. E o vinho! — acrescentou. 

 

— Isso mesmo! Ainda há muito o que conversarmos! Está estendendo a hora de irem embora, né? Não se esqueçam de que vocês dois precisam trabalhar amanhã bem cedo. — Renesmee arqueou uma sobrancelha em divertimento. 

 

— Nessie você não consegue ser mais óbvia do que já aparenta... Estaria errado, se dissesse que sim?! — Cole soltou um breve riso — Ainda bem que você está aqui para não me esquecer do meu serviço integral. — soou irônico.  

 

 — De nada! — piscou um olho — Por que não nos conta sobre ele? 

 

— Não há muito a se contar sobre pescas. — tentou desvencilhar. 

 

— Você trabalha com pesca?! — perguntei intrigada desfazendo todos os seus planos sobre não falar sobre isso — Uau, eu nunca pesquei... E olha que em Casper há muito pontos de pescaria. — comentei para eles. 

 

— Pescar é fácil, você apenas precisar estar disposta a conseguir fisgar um peixe, e ter muita paciência para esperar que um apareça. — Cole comentou segurando o copo de suco para a minha filha — Muita paciência. 

 

— Eu posso ter paciência para muitas coisas, — Renesmee falou — mas para os peixes — riu — nenhum pouco! É melhor entrar no mar e pegá-lo com as mãos, é mais divertido! 

 

— Cole pesca em mar aberto. — Jacob me informou passando o copo de uma mão à outra — Uma das pescas mais valiosas e perigosas de se fazer. Quando ele quer, até enfrenta grandes ondas com pouca tripulação. 

 

— Mas esse método é apenas um hobby, uma iniciação das temporadas. — pontuou. Já não parecia contrariado a relatar sobre seu trabalho para mim, estava muito bem disposto — Eu gerencio o portuário de pesca, as entradas e saídas, não apenas de peixes, como o atum de albacora, mas também de caranguejos. Depende do mês. 

 

— Não é o capitão dos barcos? — perguntei interessada mexendo meus pés inchados dentro das pantufas. 

 

— Gerencio meus barcos em terra. — explicou concentrado. Sempre que seus olhos se moviam na minha direção traziam consigo um peso arrebatador. Fazia meu corpo vibrar dentro de mim — Tenho meus métodos de gerencia e monitoramento pelos meus barcos. Preciso sempre estar a passos adiantes dos meus co-capitães, tenho total autoridade sobre eles. 

 

— Caramba, isso é muito interessante. —  sorri — E você deve ter todas as rotas fixas de La Push. — me admirei. Molhei meus lábios com a ponta da língua, me perguntando se estou o olhando como uma idiota. Era difícil de saber, os nossos olhares eram intensos de ambas as partes.  

 

— Não. — negou desviando seus olhos dos meus quando precisou segurar Hilary pelos bracinhos ao querer ficar em pé. Aproveitei sua desatenção para tirar os pés das pantufas e colocá-los sobre o piso de madeira. Dei uma olhada discreta para os meus pés e me espantei com o inchaço. Renesmee me pegou no flagra e franziu a testa querendo saber o que estava me acontecendo, movi minhas sobrancelhas e agitei minha cabeça, passando através do gesto que não havia nada de mais. Ela insistiu silenciosamente mais uma vez, não estando convencida — La Push é meu segundo ponto de pescaria. — Cole continuou a falar, alheio a minha conversa silenciosa com Renesmee. Prestei atenção no que ele dizia — Comecei as primeiras temporadas em Ilwaco que é perto da divisa entre Washington e Oregon; passei cinco anos em pesca lá. Voltei pela minha mãe e desde então mantenho ambos os portos ativos.  

 

— Nossa, você comanda em duas cidades?! — minha voz saiu levemente surpresa — Não é à toa que trabalha em tempo integral! — estendi o assunto vendo pelo canto dos olhos Renesmee abaixando seu rosto para debaixo da mesa — E-e como surgiu essa ideia de investir em pescas?! — perguntei tentando não soar nervosa. Ajeitei algumas mechas do cabelo para atrás da orelha. 

 

— Essa história é bem longa... — deu-me um sorriso lindo, equilibrando Hilary em suas coxas. Jacob olhava para Renesmee tentando saber o que estava acontecendo, a criatura ainda não havia voltado a sentar direito no assento — Carrego isso desde criança. Como nossa descendência sempre esteve envolvida em pesca e afins, eu sempre me via como um pescador que protegeria a reserva... 

 

— Como Neal, não é? — emendei ao assunto — Ele era de uma família rica com as pescarias. — lembrei imediatamente de um dos antepassados quileute que ele havia me contado. 

 

— Sim. — assentiu erguendo as sobrancelhas, sua feição se iluminou — Caramba, você lembra? 

 

— Claro que sim, foi a nossa primeira conversa. — pressionei meus lábios um no outro sem saber mais o que dizer ou fazer. 

 

 Ficamos assim, um olhando para o outro sem saber o que dizer; ou pelo menos eu dizia isso para me convencer de que eu não estava o secando de todos os ângulos que sua posição sobre o assento poderia me proporcionar. Seus olhos se desviaram dos meus quando Hilary pediu por atenção; a pequena estava disposta a conversar com ele também. Algumas palavras escapavam embaralhadas dos seus lábios, Cole trocava um olhar comigo, perguntando através do gesto o que ela queria dizer, em algumas frases eu conseguia interpretar, mas em muitas outras apenas conseguíamos rir, pois não dava para compreender. Não detive os diversos suspiros que dei por pensamentos. 

 Caramba, Thomas estava enganado... Ao meu ver, ele não é o único quileute mais bonito, apesar de realmente eu não ter visto nenhum feio. Pois eu consigo concluir isso muito bem, apenas em analisar o atributo completo ao meu lado, segurando com tanto cuidado o serzinho mais precioso do meu mundo, da minha vida. Tão lindo de se ver!... Estavam entregues um ao outro, num conforto palpável e seguro; Cole passava segurança a mim e isso refletia na maneira que Hilary o aceitava, era algo bonito de eu, como sua mãe, ver. Soaria muito devasso se eu afirmasse que ele é o homem mais lindo que eu já vi pessoalmente na minha vida? Não apenas seus traços e porte físicos, havia muito mais; a maneira como ele sempre se mostrava disposto a ouvir todas as palavras que alguém tinha para lhe dizer, o jeitinho peculiar de como seus belos olhos se moviam sobre suas pálpebras puxadas, a intensidade encantadora que irradia de dentro dele de modo que esteja se tornando impossível não corresponder e de como a cor de sua pele fazia jus a temperatura absurda que seu corpo naturalmente se mantinha, isso e todas as demais mínimas coisas, tendo sido apresentadas como boas ou não. Para mim, isso soaria como um pensamento refletido pela minha consciência de algo totalmente verdadeiro, puro do meu íntimo e havia liberdade; sim, eu adquiri total liberdade em pensar sobre ele, de pensar nele. Eu não sabia explicar, mas estar passando todos esses segundos, anteriores e atuais ao seu lado, sozinhos na sala de Esme ou com minha filha entre nós, me dá a sensação de pertencimento imprescindível. É decepcionante que em meio a tudo isso, o mas possa coexistir com a incerteza, criando uma lacuna enorme em toda a liberdade que passou a existir dentro de mim. 

 

— Vocês estão em silêncio porquê? — a voz de Renesmee surgiu por debaixo da mesa. 

 

Desviamos nossa atenção com olhares confusos tentando saber o que ela estava fazendo ali embaixo; deveria ser nesses momentos que ela era comparada à Alice. 

 

 — Ness, o que você está fazendo aí? Está trocando seus neurônios pelos da sua tia psicótica? — Jacob perguntou com estranheza. 

 

— Claro que não! — exclamou na hora — E pare de nos ofender assim, Jake; cara, olha o tamanho dos pés dela! 

 

— Ui! — exclamei quando senti suas mãos super quentes tocarem o peito do meu pé direito e moveu-o na sua direção. Seu movimento inesperado fez com que meus pés se arremessassem para desvencilhar do seu toque, sua mão parecia estar espinhosa sobre a pele sensível — Quê isso! — exclamei tentando olhá-la ali embaixo. 

 

— Ai, você quase me chutou! — ela riu parando o movimento dos meus pés com firmeza — Parecem dois pães! 

 

— Você se enfiou debaixo de uma mesa para ver os pés dela? — Cole perguntou sem acreditar. Eu teria rido, se o aperto das mãos dela nos meus pés não tivesse me feito soltar um gemido lancinante, mexi meus pés tentando me soltar. 

 

 — Nessie, — gemi seu nome de maneira impaciente, tentei mexê-los novamente para longe de suas mãos. Minha testa se franziu descaída pela dor. 

 

— Ness, acho que não pode apertar! — Jacob alertou-a. 

 

— Minha nossa, me desculpa? — suas mãos livraram meus pés do seu aperto. Em menos de dois segundos, a mesma estava de pé ao meu lado, tocando-me com o semblante culpado — Por favor Amberli, me desculpe. 

 

— Tome mais cuidado Ness; Pode machucá-la. — Jacob soou preocupado, eu só não consegui saber por qual de nós ele direcionava a preocupação. 

 

— Que força você tem nessas mãos hein? — franzi minhas sobrancelhas, resistindo as pontadas de dormência que ambos os pés estavam sofrendo. 

 

— Juro que não foi minha intensão! — justificou olhando brevemente para suas mãos com o semblante descaído pela vergonha que possivelmente estava sentindo. O meio de sua testa estava avermelhado quando seus olhos castanhos olharam nos meus — É nesses momentos que suas pernas devem descansar em alguma coisa? 

 

— Você viu bebê? Nessie estava lá embaixo... — ouvi Cole cochichar para Hilary. 

 

 — Na maioria das vezes era... — divaguei a respeito movimentando os dedos do meu pé contra as tábuas — Quando eu ficava em casa, meu molho era deitar no sofá com a pernas sobre o braço do móvel e as vezes até com alguma almofada para que ficasse mais alto. 

 

— Hmm... Quer ir para a sala? — Renesmee me perguntou. 

 

— E fazer o quê lá? Nós ainda nem comemos a sobremesa. — perguntei ouvindo em segundo plano todo o diálogo que Hilary mantinha com Cole. 

 

— Descansar seus pés! — constatou o óbvio — É sério, olha como eles estão enormes! — apontou a mão — Isso por que eu achei que o inchado do dia em que nos conhecemos estava grave. 

 

— Não precisa Renesmee, daqui a pouco eles melhoram. — dispensei sua ideia, se já estava inchando assim comigo sentada, imagine se eu andar até lá. 

 

 — Então se não vamos a lugar algum, e a loira psicopata não apareceu mais, já podemos partir para a sobremesa? — Jacob perguntou olhando para todos nós. 

 

— Por nós sim. — Cole foi o primeiro a concordar. Hilary estava sentadinha novamente e esfregava a ponta siliconada do seu copo nas gengivas aparentes, pelo jeito logo os demais dentes nasceriam. Movi meus olhos para Jacob e consenti também. 

 

— Então vamos Jake, — Renesmee o solicitou — eu vou pegar a torta e o jogo de sobremesa, então você poderia me ajudar, tirando os utensílios de jantar da mesa para colocá-los na lava-louças. — instruiu indo para a outra extremidade, onde fica a cozinha. 

 

— Cara, eu nunca sei quais botões apertar naquela coisa... — ele murmurou empilhando os pratos, deixando os talheres sobre o primeiro e recolheu os copos levando para a parte do balcão em que a lava-louças está embutida. 

 

— Então, Lee. — a voz de Cole soou ao meu lado, me chamando. Movi meu corpo para sua direção novamente tornando a descansar meus pés sobre as tábuas do chão — Você não acha que alguma massagem possa diminuir o inchaço dos teus pés? 

 

 — Deve diminuir... — ponderei sobre o assunto ainda sentindo a dormência dos pés — Ajuda na circulação do sangue, não é? 

 

— Sim, ajuda bastante. — confirmou — Se quiser, posso ajudar a diminuir todo esse inchaço, fazendo uma massagem nos teus pés. — propôs. Meus lábios se entreabriram em surpresa. Senti minha sobrancelha se arquear enquanto meus pensamentos borbulhavam em situações caóticas, minhas pálpebras piscaram diversas vezes e apenas um pensamento era coesivo o suficiente: “Ai caramba, ele realmente pediu para fazer massagens nos meus pés imensamente inchados?!” — Mas se achar que isso é uma maneira baixa de tocar em você ou de te fazer algum mal, é só falar que nunca mais toco no assunto! — tratou de desconsiderar suas palavras quando analisou minha expressão, ficando defensivo — Lee, você está bem? — soou preocupado. 

 

 Franzi minhas sobrancelhas, forçando minhas pálpebras a piscarem firme contra meus olhos para que eu retornasse a pensar direito. Respirei fundo tornando a nos contatar visualmente pensando em como respondê-lo... Passei minhas mãos pela minha barriga sentindo o bebê. Expirei o ar para fora dos pulmões e movimentei um lado dos lábios, um indício de sorriso. 

 

— Você está mesmo me oferecendo uma massagem nos pés?! — abri mais o sorriso mínimo que estava em meu rosto. Comecei a sentir minha pele se aquecer. 

 

— Eu estou sim Lee!... — afirmou. Percebi sua postura se relaxar e um pequeno sorriso começou a surgir em seus lábios também. Me pareceu instantâneo instigar um sorriso mais amplo em meus lábios, nossos sorrisos foram se abrindo cada vez mais, até estarmos sorrindo um para o outro. Como o sorriso dele é lindo — Então? Você aceita? 

 

 Nem deu tempo de respondê-lo. Hilary exigiu nossa atenção, resmungou algumas frases incompreensíveis para Cole e agitou a mãozinha direita num tchau para ele. Rimos de sua interação. Após seu gesto de despedida, suas mãos se estenderam para mim e abrindo e fechando ambas as mãozinhas ela pediu para voltar aos meus braços. Cole não a manteve em seu colo depois disso, logo ela tentava dialogar com a gente estando no meu colo soltando risinhos. Incrível como ela economiza suas palavras para me pedir ou falar algo, sem dúvida alguma ela tem convicção de que sempre consigo entendê-la, bom, pelo menos na maior parte das vezes... 

 

— Ouvi a palavra, “massagem” rolar por aqui! — Renesmee retornou para a área de jantar com a travessa de porcelana menor nas mãos. A torta de limão estava divina sobre a louça — Se for do Cole eu também quero! — sua voz soou em divertimento — Olha só que obra dos deuses! — pôs a travessa sobre a mesa — Estou brincando, é obra da Amberli mesmo! 

 

— Quem que vai aliviar a tensão de quem, por aqui? — Jacob perguntou no mesmo tom brincalhão de Renesmee, suas mãos estavam ocupadas pelos pratos e talheres de sobremesa que trazia e duas taças — Ness pegue as outras duas lá na ilha. — pediu acomodando os itens que trouxe sobre a madeira. 

 

— Cole vai aliviar minha tensão. Ando vivendo situações o suficiente para isso. — deixei que soubesse — Mas na verdade ele tentará diminuir o inchaço dos meus pés mesmo. 

 

— Estranho... — Jacob franziu as sobrancelhas, despertando nossa curiosidade. 

 

— O que? — Renesmee perguntou. 

 

— Pensei que havia rolado algum pedido de casamento não respondido... Não foi isso que você perguntou? — Jacob instigou. 

 

 — Oh, é mesmo! — Renesmee emendou pondo as taças que trouxe a frente do assento deles — Você aceita Amberli? — tentou fazer sua voz soar mais gutural, similar a uma falha tentativa máscula.  

 

— Calma aí gente! — intervi soltando uma risada — O pedido foi para a massagem, — esclareci e me direcionei para Cole — que a propósito, eu aceito sim! Mas não vamos nos precipitar! 

 

— Estão ouvindo hein?! O pedido para o casamento ainda está de pé! — Jacob balançou as sobrancelhas rindo mais alto do que eu — Vamos adoçar mais essa noite vai... — encerrou o assunto por si, entregando o pratinho e talheres — Amberli, faça as honras. — me estendeu a espátula para o corte da torta. Envolvi minha mão direita na peça prata puríssima sentindo seu peso. 

 

 Puxei a travessa mais para mim e mudei minha filha para o lado esquerdo do meu colo, assim ela não conseguiria me atrapalhar no corte. Analisei a posição da espátula sobre a consistência lisinha do recheio e cortei o primeiro pedaço. Todos estavam em silêncio, concentrados no meu trabalho de separar as fatias do doce. Decidi servir de acordo com a posição deles à mesa, primeiro a mim, depois Renesmee, Cole e Jacob; Hilary comeria comigo.  

 

— Xíi... Espera aí, eu me esqueci do vinho! — Renesmee largou os talheres sobre seu prato e levantou-se para pegar a garrafa de dentro do refrigerador.  

 

 

 

 

 

 

 Por fim, acabamos mesmo na sala. 

 Renesmee insistiu durante a sobremesa em reprisar o filme que ela havia perdido no dia em que nos reunimos com os garotos quileutes para assisti-lo, eu não poderia negar seu pedido, até porquê havia sido eu a dar-lhe a ideia. Minha sorte foi que as pontadas de dormência nos pés haviam cessado, então não foi tão pior do que o habitual em descer os tantos degraus da escadaria que nos direcionava para os cômodos abaixo. Livrei-me da inconveniência de ser carregada por algum deles; não que a ideia de estar nos braços de Cole fosse desagradável, é claro, mas ainda assim, humilhante... 

 Hilary foi levada para o quarto por Esme e Alice, a menor estava ansiosa para criar digitalmente uma pequena coleção de roupas da próxima estação; não que o clima de Forks ajudasse, já que estamos no verão e mesmo assim a chuva continua a cair diariamente. Emmett e Rosalie não voltaram a aparecer desde então. Cole não esteve blefando ao dizer que sabia massagear pés. Eu nunca havia pagado uma sessão em alguma massagista ou sequer ter recebido alguma massagem em qualquer local do meu corpo antes, então eu parabenizava de boca cheia as mãos habilidosas que o homem possui. Nem sei como eles conseguiram se concentrar no filme pelo tanto de suspiros que escaparam dos meus lábios sem que eu pudesse evitar, louvado seja os santos pela mão maravilhosa que ele possui! Mas Jacob não perdeu a oportunidade de lançar umas piadinhas sujas num momento ou outro, ele estava mais relaxado com o vocabulário agora que não havia nenhuma criança devidamente presente no recinto.  

 Acho que o vínculo entre nós foi fortificado nesta noite, até porque, não é todo o dia que alguém se prontifica a me proporcionar a melhor massagem que eu poderia receber na vida. Em meios às piadinhas e conversa fiada entre nós quatro naquela sala, eu estava tremendamente satisfeita com o resultado, até me senti na liberdade de brincar com ele, solicitando as massagens mais vezes. Estava me sentindo uma pedinte hoje, mas ao contrário do que esperei, não pude voltar atrás com minhas palavras; a resposta de Cole não foi evasiva. Soando extremamente carinhoso e comprometido, com seus olhos claros pesando em adoração sublime sobre mim, ele realmente me prometeu mais, quantas eu quisesse. 

 Uma parte minha permaneceu derretida ali naquele sofá depois disso. 

A despedida dele com Jacob foi o que mais me fez sentir. Era algo melancólico e saudoso. Eu nunca tive grandes problemas com despedidas, uma hora a pessoa não estaria me fazendo companhia e nem eu à ela, mas vê-lo ali, parado a minha frente aos pés da escada que o encaminharia para fora da mansão, fez com que meus olhos pinicassem dando-me uma vontade absurda de agarra-me ao seu corpo enorme para que ele não ficasse nenhum minuto sequer longe de mim. Estanquei meus pés relaxados a sua frente e me enrolei nas minhas próprias palavras quando a minha voz se tornou necessária para a sua partida. Não consegui dizer nada além do seu nome, e ele entendeu, senti que ele compactuava com alguma parte e intensidade dos meus anseios. Não houve a necessidade de palavras, suas mãos encobriram as minhas, levando-as aos seus ombros e apenas me envolveu em seus braços enormes e quentes num abraço tão acolhedor que me pareceu ferir ainda mais, não sentia vontade alguma em me desfazer do contato. Me atrevi em tentar apertá-lo contra meus braços, para que seu perfume pudesse cheirar no meu vestido, se isso acontecesse eu daria um jeito de dormir com a peça. Quando nos sentimos obrigados a desfazer o abraço, Cole envolveu minhas mãos gentilmente e as levou de encontro aos lábios beijando demoradamente cada uma, minha mente girou entorpecida por seus gestos, percebi que meus braços se movimentavam também, aproximando suas mãos do meu queixo. Firmei o contato de nossos olhos, tentando transmitir a essência, a sensação mística que sentia ao nosso redor através da troca de olhar, seu rosto másculo aguardava expectante, os olhos tranquilos me mostravam uma certeza que nunca cheguei a identificar em ninguém, ele parecia mais ciente da áurea que nos envolvia do que eu permitia identificar, pois eu posso sentir, não era a primeira vez, isso emanava do seu interior. Toquei meu queixo em suas mãos fervorosas, desfazendo nosso vínculo visual para fechar meus olhos; entre meus dentes deixei que um leve suspiro escapasse suavemente, contendo-me em beijar-lhe as mãos. Minha consciência parecia me avisar de que esse ainda não era o momento, sendo assim, tornei a abrir meus olhos levando-os em sua direção, seu rosto continuava sereno, apenas a me observava. Devagar eu abaixei nossas mãos e o aperto foi lentamente se afrouxando até que nada nos unia fisicamente. Dei um passo para trás e movi meus lábios num sorriso fechado, assim ele e Jacob, que o aguardava com Renesmee, puderam partir.  

 

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— Eu simplesmente quero que ele esteja presente! — gemi levando a ponta da minha unha aos dentes tentando conter a vontade de roê-la. Meus olhos ainda continuavam a pinicar, mas não havia sinais de acumulo de lágrima — E eu estou sentindo a falta dele, minhas entranhas se reviram dentro de mim sempre quando eu percebo que ele não está aqui, que não está ao meu lado. — me remexi no colchão da maca — Será que eu estou ficando louca, ou a gravidez esteja me fazendo sentir uma carência extrema? — segredei me sentindo estúpida pelas minhas últimas palavras. 

 

 — Eu não sei... — Rosalie desviou seus olhos das árvores quase invisíveis pelo breu a frente da parede de vidro para poder olhar-me nos olhos — Acho que independente do que seja, te aconselho a seguir em frente. — deu-me uma resposta vaga. 

 

— Mas eu não estou seguindo em frente nem mesmo com essa gravidez. — contrapus inquieta — Minha vida está estagnada, não posso desenvolver qualquer mínima coisa que seja enquanto eu não passar do pós-parto. 

 

— Não precisa desenvolver nada enquanto isso. —revirou os olhos aproximando-se da borda da cama — Apenas deixe tudo, isso, fluir. — suspirou resignada — Pare de pensar e confie, eu já te falei isso antes Amberli, deixe o rio que os ligam seguir seu curso, quem sabe depois do pós-parto, tudo dê certo? — ergueu suas sobrancelhas de modo sugestivo. 

 

 Desviei meus olhos dos teus, passando a olhar para o teto. Encostei meu tronco contra a maca me sentindo um pouco perdida, ergui minhas mãos na direção da barriga sentindo os leves movimentos do bebê e aspirei o cheiro dele no tecido do vestido. Consegui me sentir um pouco melhor. 

 

— É, eu acho que estou carente. — tentei convencer — Deve ser porque ele se mostrou ser alguém bem melhor do que eu vi na primeira vez... E... Lindo. — senti meu rosto esquentar — Muito, de muitas maneiras. — admiti ouvindo Rosalie rir. Aspirei seu perfume mais uma vez — Eu ainda sinto as mãos dele pelos meus pés... — segredei para ela analisando a melhora significativa do feito que Cole havia se disposto a realizar — Sinto o calor absurdo de suas mãos na minha... Eu não consigo parar de pensar nele! — sussurrei com urgência. Estava sentindo sua falta antes mesmo que ele se fosse. Gemi — Deve ser carência, uma que eu nunca pensei que pudesse sentir... — não soei convincente nem para mim. 

 

 — Pode ser tudo isso, mas mergulhe, aproveite. — me incentivou usando o assunto do rio novamente. 

 

— Para uma mulher que odeia declaradamente cada quileute que eu já conheci, é quase um delírio ouvi-la me encorajar a me envolver com um deles, sabia? — ergui minha sobrancelha e procurei pelo seu olhar, quando seus olhos dourados estavam sobre os meus, ela os revirou. 

 

— Eu sei! — admitiu — Acho que estou vivendo a lei do retorno, mas isso não diminui o que eu sinto por eles serem quem são. Agora você é minha segunda exceção.  

 

 — E por quem é a primeira? — quis saber abrindo um sorriso. 

 

 — Nessie. — me respondeu voltando para a frente da parede de vidro. 

 

 — O que está tentando enxergar nesse breu, Rose? — quis saber — Mal consigo ver os troncos mais próximos. — forcei minha vista para tentar ver alguma coisa interessante por ali. 

 

 — Eu enxergo tudo, só que em tons diferentes. — esclareceu alisando uma mecha de cabelo — Os olhos humanos não possuem essa capacidade, por isso não consegue ver muita coisa. 

 

 — Nem precisam de luzes então? — perguntei com interesse. 

 

— Não. — virou seu corpo para a minha direção novamente e olhou para a porta — Carlisle e Jasper estão vindo. 

 

 Olhei para a porta a tempo de ver o trinco da porta pesada ser movido e ambos entrarem no escritório. Como sempre as mãos de Carlisle estavam ocupadas por uma bandeja , ele não estava com nenhuma peça de roupa branca, seus cabelos loiros estavam húmidos, evidenciando que ele havia tomado banho antes de se direcionar para o quarto, seus olhos dourados passaram por Rosalie antes de olhar para mim e puxar um lado de seus lábios num sorriso fino. Jasper acompanhava seus passos de maneira silenciosa com um sorriso calmo nos lábios, parecia bem disposto a me fazer companhia por mais uma noite. Sorri para eles. 

 

— Boa noite Amberli! — Jasper saudou — É bom vê-la mais... Animada. 

 

— Boa noite Jasper! — o cumprimentei — Pois é, hoje o dia foi bem proveitoso. — consenti.  

 

 — Boa noite, é bom vê-las me aguardando. — Carlisle olhou para nós duas — Me desculpe pelo horário Amberli, já passam da uma hora da manhã; mas tenho novidades Amberli. — notificou. 

 

 — O que é? — perguntei ansiosa, passando a mão pelo volume da barriga por cima das faixas dos sensores. 

 

 — Estive calculando os gráficos das cardiotocografias anteriores. — deixou a bandeja entre um espaço dos monitores e puxou uma caderneta cheia dos papéis de risquinhos — E acrescentei o cálculo base da estatística que iremos realizar agora para poder ter convicção no que vou te apresentar. — sorriu. 

 

— Se é algo bom, por favor me conte logo! — implorei em expectativa. 

 

—Não precisa de mais nenhuma palavra. Ouça com atenção: —  atendeu ao meu pedido abrindo a caderneta — Você já está na meia fase do sexto mês de gestação. — declarou — O bebê já está medindo por volta de trinta e três centímetros e já alcançou o peso de um quilo e seiscentos gramas. Ou mais!... — notificou contendo sua alegria. Jasper ao seu lado parecia compactuar com o estado de espírito de seu jovem pai. 

 

 Ofeguei de alívio levando minhas mãos ao rosto, tomando cuidado com o lado esquerdo para não puxar a sonda, sentindo que minha felicidade ampliava ainda mais neste dia. Sorri para Carlisle guardando as únicas informações sobre o bebê que ele conseguia me passar. 

 

—  Trinta e três centímetros? Mais de um quilo e meio?! — repeti suas conclusões desfazendo o contato visual com ele para olhar minha barriga exposta, acrescentando as informações com carinho no meu coração. Senti meus lábios trêmulos se elevarem num sorriso mal feito e meus olhos acumularem um pouco mais de lágrimas contidas evidenciando meu estado emocional — Como cresce rápido, não é? — perguntei retoricamente. Movi meus olhos para Rosalie quando percebi que ela estava se aproximando da maca, seus olhos também reluziam de lágrimas que nunca pareciam sair. 

 

 — Cada vez mais saudável e desenvolvido! — Rosalie enalteceu envolvendo meus ombros num abraço gelado — Será tão linda, ou lindo! — estimou. 

 

 — O mais importante é que nasça com saúde e fiquemos bem. — desejei com fé, mantendo meus olhos focados nos dourados dela. 

 

 Desejei do fundo do meu coração que isso acontecesse. Já me bastava não saber de todas as evidências necessárias que uma gravidez totalmente humana já me disponibilizou. Rosalie assentiu levantando sua mão direita para acariciar meus cabelos e logo cedi um espaço no colchão para que ela pudesse deitar ali comigo. Mesmo fazendo uma careta enojada, ela tomou seu lugar ao meu lado no mesmo momento. Ouvi Jasper gargalhar, olhei para ele curiosa, mas com um aceno da mão ele dispensou o possível motivo do riso, deveria ser algum assunto interno. Carlisle não perdeu tempo em começar a apetrechar os sensores e todos os fios possíveis em minha pele, para mais uma vistoria. Dessa vez tínhamos a certeza de que eu voltaria para o meu quarto, onde Hilary já está, comigo lúcida e acordada o suficiente para saber aonde estava, sem mal-estar ou precisando de máscara de oxigênio para me ajudar. Ontem o dia foi perfeito, mas eu não colocava expectativa alguma nesse que estava por vir... É como dizem, “já basta cada dia o seu mal”. 

 


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Notas finais do capítulo

Aguardo-lhe no próximo capítulo! ♥



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