Os dias passaram mais rápido que o normal, era nosso último ensaio até o dia da dança, eu tentei ao máximo me manter afastada de Lucas, o que não foi possível. Estávamos todos na quadra esperando Belloto, Manuela reclamava alguma coisa comigo, sobre Fabio.

 — Seu irmão é um mala.

— Vocês dois ainda vão se acertar – disse e ela revirou os olhos.

— Nunca – ela negou. – Eu prefiro ter aulas de matemática por todo ano, durante todos os dias e todas as horas.

— ela disse e eu ri.

Paramos de falar quando Belloto adentrou a quadra, ele disse que aquele era nosso último ensaio e por isso teríamos que ser perfeitos. Lucas chegou um tempo depois acompanhado de Juliana, pareciam ter brigado, a ruiva estava de cara fechada e o grafiteiro mau olhou pra minha cara. Começamos a dançar e a toda hora Belloto chamava a atenção de Lucas, era visível que ele não estava bem, só no meu pé ele tinha pisado mais de dez vezes.

— Lucas e Luíza, vocês podem se sentar na arquibancada um pouco, nosso amigo precisa descansar né! – Belloto disse apontando pro grafiteiro que apenas concordou.

Nos afastamos do restante do pessoal e sentamos em uma das arquibancadas, Lucas estava sério, calado, resolvi perguntar o que tinha acontecido.

— Tá tudo bem?

—Está sim – ele disse.

— Você está calado, sei lá...achei que tinha acontecido algu...

— Não aconteceu nada – ele disse rude.

Fiquei em silêncio e não nos falamos mais, ele nunca tinha falado comigo daquele jeito, sempre foi gentil e carinhoso, fechei minha cara e minutos depois o professor chamou a gente, voltamos pro ensaio e dessa vez ele parecia melhor, dançou bem e não pisou no meu pé. Terminamos e já havia dado a hora de ir embora, arrumei minhas coisas rapidamente e fui a primeira a entrar no carro onde Ricardo estava estacionado, algum tempo depois Fábio, Manu e Juliana também vieram. Chegamos em casa e eu subi direto pro meu quarto, troquei de roupa e escuto minha mãe chamando pra almoçar, desço e encontro todos na mesa, exceto Bárbara.

— Tudo bem filha? – minha mãe pergunta.

— Tudo mãe – falo me sentando ao lado de Fabio.

Juliana que está na minha frente me encara seria, olho pra ela e desvio em seguida, não sei o motivo pelo qual ela não gosta de mim, e se for por Lucas, ela não precisaria se preocupar.

— E como andam os ensaios? – Ricardo pergunta.

— Hoje foi o último dia, a dança será no sábado – Fábio diz enquanto come sua comida.

— A festa vai ser bem legal – Manuela disse sorrindo.

— Pelo jeito vai mesmo, pra Manuela estar tão animada assim – Ricardo diz e todos sorriem.

Após terminamos o almoço ajudei minha mãe com a louça e fiquei na sala um pouco, ela foi pra academia junto de Ricardo,  Fábio subiu pro seu quarto, Juliana saiu e Manuela também foi para seu quarto. Peguei meu caderno de desenhos e pensei em algo para fazer, comecei a desenhar sobre a festa da escola quando a campainha toca me interrompendo, abro a porta e dou de cara com Lucas, ele segurava uma rosa na mão e parceria envergonhado.

— Oi – ele disse.

— A Juliana não está – falei séria.

— Na verdade...eu vim falar com você – ele disse coçando a nuca e me lançando um sorriso.

— Comigo? – perguntei confusa.

— Sim, posso entrar? – ele perguntou.

— Claro.

Lucas adentrou ao local e eu fechei a porta, vi ele olhando meus desenhos.

— Estão ficando ótimos – ele disse e eu dei um risinho.

— Obrigada – falei. – Você queria...?

— Te pedir desculpas. Eu fui um grosso com você hoje na aula, eu só estava nervoso porque eu briguei com a juliana...enfim – ele deu um suspiro. – É pra você – ele me entregou a rosa.

Peguei a rosa de sua mão e cheirei, eu nunca havia ganhado flores, abri um longo sorriso pra ele e agradeci.

— obrigada.

— É o mínimo, depois do jeito que eu te tratei – ele disse. – Estou desculpado? – ele fez uma cara fofa.

— Claro – sorri. – eu adorei a rosa – disse.

— Agora eu vou indo, não quero encontrar a Juliana hoje.

Levei Lucas até a porta e me despedi dele, guardei meus desenhos e subi pro meu quarto, ainda estava boba com tudo que acabara de acontecer, sorri pra mim mesma me jogando na cama, peguei a rosa e cheirei mais uma vez antes de pegar no sono.

[...]

Acordei por volta de umas sete horas com gritarias vindo da sala, desci correndo e dessa vez Juliana brigava com Ricardo.

— Eu já tenho 18 anos, você não pode me impedir de nada – a ruiva disse gritando.

— Enquanto você morar na minha casa, eu posso sim – meu padrasto disse firme.

— Eu não te aguento mais pai, eu vou embora daqui.

Juliana saiu feito um foguete batendo a porta atras de si, nesse momento Fabio e Manuela também apareceram, e a mais nova questionou.

— Porque vocês estavam brigando?

— A sua irmã estava faltando as aulas pra ir beber com os amigos, a Juliana acha que manda nela – disse Ricardo.

Manuela ficou em silêncio e voltou pro quarto, Fabio fez o mesmo, resolvi descer e comer algo, então deveria ser por isso que Lucas estava nervoso, ele tinha descoberto que Juliana não ia às aulas pra ficar bebendo por aí, tomei apenas um copo de suco e voltei pro meu quarto, antes passei no quarto de minha mãe, ela estava deitada, parecia cansada.

— Mãe, tudo bem? – perguntei.

— Tudo sim filhota – ela disse.

— A senhora parece cansada – falo.

— Trabalhei muito hoje, só isso – fala. – Vai dormir vai, amanhã a senhorita tem aula cedo.

Dei boa noite a ela e fui pro meu quarto, eu sabia que as brigas de Ricardo com as filhas afetavam muito minha mãe, eles se amavam mas não era fácil. Deitei novamente em minha cama e peguei a rosa que Lucas me deu, sorri e pensei no quanto aquilo estava se tornando perigoso.