Eram três e quinze da tarde e os carros continuavam a percorrer pelas ruas sem parar.

As crianças eram buscadas nas escolas pelos seus pais. Adolescentes andavam em grupo à procura de alguma lanchonete para matar a fome depois dos seus estudos e jovens adultos conversavam vagamente na calçada esperando o ônibus para irem a faculdade.

Tudo que aquela cidade tinha, era o mesmo que as outras cidades normais de todo o mundo tinham; barulhos do trânsito, trabalhadores apressados, desempregados nervosos, gente educada, gente má, mendigos,  artistas de rua e por aí vai mais e mais reflexos espelhados de uma cidade completamente comum.

Era costume os pedestres ao atravessarem na faixa respeitando ou não o sinal, ouvirem o som ensurdecedor das furadeiras e outras jogadas de ferramentas a serem usadas em consertos ou em construções de hotéis.

Era comum alguém tropeçar sem querer na placa amarela no meio do caminho com os dizeres "Bueiro Em Construção", ou serem surpreendidos pelo grande caminhão de lixo pintado com cores vivas que sempre passava às três e dezoito com aqueles lixeiros piadistas.

Porém , naquele dia, algo que acabara de ser feito haveria chamado a atenção dos que passavam por lá.

Algo novo, recém construído, quem sabe até já  inaugurado.

Um prédio super alto que no topo, podia ser tocado e abraçado por nuvens.

"Como seria a vista de uma uma janela bem na altura de uma nuvem?" Perguntava uma criancinha esperta com um pirulito mordido nas mãos.

Com o tempo se passando e os dias avançando na semana, mais e mais pessoas atravessavam a rua só para vislumbrar aquela imensidão.

Tiravam fotos, e alguns adultos perguntavam-se se era um prédio de negócios executivos, ou alguma coisa de louco. Mesmo fazendo suas discussões e teorias, ninguém entrava lá.

As janelas do prédio brilhavam num degradê suave, transparente e colorido sob a luz do sol. Refletia o seu brilho pelos arredores ao pôr do sol e iluminava-se a noite.

Realmente algo muito bem feito e construído.

No topo dele,  estava uma placa de néon escrita PaRaLeLoq. E no último andar, havia um escritório muito estilizado e bem decorado. Uma sala ampla com uma poltrona gigante por trás de uma mesa de carvalho.

— Que horas devem ser agora... 

Rodou na poltrona uma figura com uma máscara negra em formato de mandíbula que ocultava sua boca e um de seus olhos, algo que dava um aspecto obviamente sinistro. E em sua cabeça, prendia uma tiara de pedrinhas brilhantes.

A menina não parava de girar e girar em sua poltrona. Olhava para o relóginho no seu pulso.

Estava frustrada, embora achasse que as pessoas viriam logo para dentro do prédio para descobrir suas intenções sociais e finalmente ela poder dizer o seu verdadeiro motivo com aquela estrutura.

— Aarr...Estou nervosa de tanto esperar! - Bateu com o punho na mesa fazendo cair a plaquinha de metal banhado a ouro do qual estava escrito o seu nome, Legendary.

Legendary começou a andar pelo escritório todo procurando um jeito de atrair o grupo desejado, um grupo de pessoas que realmente mereciam PaRaLeLoq.  Sobretudo como??

Ela começou a mexer nos botões que conectavam os cabos do néon que iluminavam a grande placa do prédio.

Então, ela pôde enfim transmitir a mensagem a cada cidadão que passasse pela rua e refletir-se sobre as letras que passavam rodando na tela da placa.

"Boa tarde a todos que passeiam ou passam à trabalho por aqui.

É com muita felicidade que transmito isto a todos vocês.

Pessoas frustradas, solitárias, vazias, confusas ou que precisam de algum objetivo para continuar vivo , mas também podem ser aceitas pessoas animadas, sorridentes e extrovertidas.  Por favor, visite o último andar.

Ass.: Legendary"