Embriagues escrita por LucianaQuero
Estava sol e o chão queimava os meus pés. Ignorei esse fato e continuei seguindo rumo à casa de minha mãe ainda sem perceber a gravidade da situação: eu estava conversando com Michael Jackson. Em sua casa!
Agora, chegando ao meu destino, avistei a minha mãe em frente de casa, toda desesperada.
— Mas o que foi aquilo ontem à noite? Você deveria estar fora de si! Ah, como é terrível saber das vergonhas da própria filha pelos vizinhos! Jesus!
— Você sabe que esse tipo de comportamento causa rugas, mãe? Cuidado.
Continuei andando no mesmo ritmo.
— Quando te chamei para passar um tempo aqui, era pra aproveitar as férias comigo! E não na rua, bêbada, louca!
— Porque não foi lá me ajudar então? Onde você estava? — mantive-me calma.
— Agora é assim? Você é uma mulher de 23 anos! Eu não tenho que ficar lhe seguindo para ver se você está esmurrando portões alheios!
— Pára de gritar aqui fora. Os vizinhos podem ver e comentar por aí.
— Certo.
Adentramos a casa. Greg estava por perto ao telefone. Assim que me viu, acenou e logo sumiu pela casa.
— Agora me explique o que aconteceu. Por que agiu dessa forma?
Aquela frase ecoou insistentemente pela minha cabeça.
— O Corey me ligou ontem.
— O seu namorado.
— Sim.
— Continue.
Passei a mão pela testa. De repente a alegria de ter conhecido Michael se dissipara completamente.
— Diga! – insistiu minha mãe.
— Ele terminou comigo.
— Por telefone?
Fiz que sim com a cabeça.
— Resolvi sair. Pra tentar esquecer o fato de que o cara que eu namorava há oito meses estava terminando comigo e a única razão era: “conheci outra pessoa”.
E toda aquela história de “não é você, sou eu”. Eu insisti, tentei entender o por quê daquela canalhice. Eu disse que iria até ele no mesmo dia. Juro que tentei ao máximo entendê-lo. E de repente estávamos discutindo e apontando os defeitos um do outro. Gritei, chorei, quando ele me disse que me traía com outra garota há quase um mês.
— Sozinha, fui à primeira boate e me acabei. Não sei como cheguei até aqui...
Minha mãe me abraçou — um momento raro, mas sincero. Então, uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu fiz questão de enxugá-la antes que a coroa a visse.
— De qualquer forma, temos que agradecer ao Michael.
— Você já sabe? As notícias correm rápido por aqui!
Ela deu um risinho e continuou.
— Quem me contou foi o próprio. Ele ligou para cá ontem pra avisar. Ele é precavido... Ao contrário de certas pessoinhas.
— Wow! Ele não me disse isso.
Ou teria sido eu que não dera chances? Saí de lá como uma doida.
— Ah... Vou falar com o Gregzinho agora! A gente tem que mostrar nossa gratidão, né querida?
— Claro. Mas como...
— Um instante!
Sabia que aquela conversa não demoraria um instante. Não mesmo. Subi as escadas e fui até o meu quarto – o quarto de hóspedes.
Soltei meu corpo na cama. Engoli em seco e chorei como uma criança.
Não merecia aquilo. Ou merecia? Enxuguei as lágrimas, fui até o banheiro para lavar o rosto. Peguei uma roupa limpa e tomei um banho relaxante e demorado na banheira. Não era tão magnífica quanto a de Michael. Mas banheira é banheira.
Vesti-me com um misto de melancolia e revolta. Eu ainda amava aquele infeliz, mas estava disposta a esquecê-lo e seguir a vida.
“Tem que haver um disco do Michael aqui”. Fui até à sala onde sabia que Greg guardava seus milhares de discos. Esses, aliás, todos organizados em ordem alfabética pelo nome do artista.
Lá estava: Michael Jackson. Off The Wall, Thriller e Bad.
Coloquei o primeiro no toca discos. Apaixonei-me! Obviamente conhecia as músicas de Michael Jackson, mas haviam aquelas desconhecidas, tão boas quanto às de trabalho.
Estava sentada no chão quando Greg apareceu na porta.
— Olá.
— Desculpe-me Greg.
— Pelo o que? — perguntou se aproximando, as mãos no bolso da calça social.
— Eu deveria ter pedido antes de entrar aqui.
— Sim. — disse ele muito sério — Mas eu diria que poderia vir!
Rimos.
— Obrigada.
— De nada... — ele então se sentou ao meu lado — Então você gosta da música do Michael?
— Na verdade eu não conhecia muito bem. Conheci muitas hoje.
— Ah, sim.
Mal havia se sentado, ele se levantou. Pensativo, andou deslizando os dedos pelas estantes.
— Aqui! — puxou um disco colorido e o estendeu para mim — Você vai gostar desse.
Era um disco dos Jackson 5. Dava para ver pela capa o quão Michael ainda era pequeno.
— Poxa, obrigada! Quantos discos você tem aqui?
— Cerca de 3000 nacionais e 1500 internacionais.
Arregalei os olhos. Aquele homem magro e bem vestido a minha frente, agora estava com o ego à flor da pele e um sorriso bobo no rosto. Mas mesmo assim, dos caras que minha mãe namorou, ele era o mais legal. Nenhum conseguira conquistar meu respeito como ele.
— Amanhã teremos um jantar em Montecito. É próximo de Santa Bárbara.
— Preciso ir?
— Eu peço que vá. Terá música, pessoas da sua idade... — ele fez uma pausa dramática — e esse cara aí.
Disse apontando para o disco que estava em minhas mãos.
— O Michael! — não pude esconder minha animação.
— Pois é! Por favor, vá. Temos que mostrar nossa gratidão a ele. Inclusive, ele confirmou a presença, então...
— Claro.
— E é difícil ele confirmar presença em algum evento nosso.
O meu padrasto piscou para mim e se retirou. Estava começando a me animar! Padrasto bacana, 4500 discos, Michael Jackson...
Enfim, escutei mais um pouco de música e voltei para o meu quarto de hóspedes. Peguei o telefone e liguei para Rachel.
Rachel é minha amiga mais íntima. Assim como eu, cresceu em Atlanta, vive com o pai e trabalha no mesmo lugar que eu.
Contei a ela sobre toda a confusão, a embriagues, Neverland, os discos e o jantar do dia seguinte. A princípio não acreditou. Mas logo já estava rindo feito boba. Como eu.
Senti que ela tinha algo para me contar, mas preferiu abafar. Conheço a minha amiga e sei que quando faz isso é porque algo ruim aconteceu. Se estivesse em meus dias comuns, teria insistido até ela finalmente contar. Mas como não queria estragar meu bom humor por nada...
— Se você quer desabafar, pode falar.
— Não! Está tudo ótimo. Quando você voltar, a gente conversa melhor. Ok?
— Ok! Depois a gente se fala.
Despedimos-nos. Fiquei olhando para o teto por um tempo. “Não posso ficar assim pelo resto do dia!”.
Ainda era cedo, estava quente e o sol maravilhoso. Tinha eu outra escolha além de ir para a piscina? Não.
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