Embriagues escrita por LucianaQuero


Capítulo 4
Gratidão




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Estava sol e o chão queimava os meus pés. Ignorei esse fato e continuei seguindo rumo à casa de minha mãe ainda sem perceber a gravidade da situação: eu estava conversando com Michael Jackson. Em sua casa!

Agora, chegando ao meu destino, avistei a minha mãe em frente de casa, toda desesperada.

— Mas o que foi aquilo ontem à noite? Você deveria estar fora de si! Ah, como é terrível saber das vergonhas da própria filha pelos vizinhos! Jesus!

— Você sabe que esse tipo de comportamento causa rugas, mãe? Cuidado.

Continuei andando no mesmo ritmo.

— Quando te chamei para passar um tempo aqui, era pra aproveitar as férias comigo! E não na rua, bêbada, louca!

— Porque não foi lá me ajudar então? Onde você estava? — mantive-me calma.

— Agora é assim? Você é uma mulher de 23 anos! Eu não tenho que ficar lhe seguindo para ver se você está esmurrando portões alheios!

— Pára de gritar aqui fora. Os vizinhos podem ver e comentar por aí.

— Certo.

 Adentramos a casa. Greg estava por perto ao telefone. Assim que me viu, acenou e logo sumiu pela casa.

— Agora me explique o que aconteceu. Por que agiu dessa forma?

Aquela frase ecoou insistentemente pela minha cabeça.

— O Corey me ligou ontem.

— O seu namorado.

— Sim.

— Continue.

Passei a mão pela testa. De repente a alegria de ter conhecido Michael se dissipara completamente.

— Diga! – insistiu minha mãe.

— Ele terminou comigo.

— Por telefone?

Fiz que sim com a cabeça.

— Resolvi sair. Pra tentar esquecer o fato de que o cara que eu namorava há oito meses estava terminando comigo e a única razão era: “conheci outra pessoa”.

E toda aquela história de “não é você, sou eu”. Eu insisti, tentei entender o por quê daquela canalhice. Eu disse que iria até ele no mesmo dia. Juro que tentei ao máximo entendê-lo. E de repente estávamos discutindo e apontando os defeitos um do outro. Gritei, chorei, quando ele me disse que me traía com outra garota há quase um mês.

— Sozinha, fui à primeira boate e me acabei. Não sei como cheguei até aqui...

Minha mãe me abraçou — um momento raro, mas sincero. Então, uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu fiz questão de enxugá-la antes que a coroa a visse.

— De qualquer forma, temos que agradecer ao Michael.

— Você já sabe? As notícias correm rápido por aqui!

Ela deu um risinho e continuou.

— Quem me contou foi o próprio. Ele ligou para cá ontem pra avisar. Ele é precavido... Ao contrário de certas pessoinhas.

— Wow! Ele não me disse isso.

Ou teria sido eu que não dera chances? Saí de lá como uma doida.

— Ah... Vou falar com o Gregzinho agora! A gente tem que mostrar nossa gratidão, né querida?

— Claro. Mas como...

— Um instante!

Sabia que aquela conversa não demoraria um instante. Não mesmo. Subi as escadas e fui até o meu quarto – o quarto de hóspedes.

Soltei meu corpo na cama. Engoli em seco e chorei como uma criança.

Não merecia aquilo. Ou merecia? Enxuguei as lágrimas, fui até o banheiro para lavar o rosto. Peguei uma roupa limpa e tomei um banho relaxante e demorado na banheira. Não era tão magnífica quanto a de Michael. Mas banheira é banheira.

Vesti-me com um misto de melancolia e revolta. Eu ainda amava aquele infeliz, mas estava disposta a esquecê-lo e seguir a vida.

“Tem que haver um disco do Michael aqui”. Fui até à sala onde sabia que Greg guardava seus milhares de discos. Esses, aliás, todos organizados em ordem alfabética pelo nome do artista.

Lá estava: Michael Jackson. Off The Wall, Thriller e Bad.

Coloquei o primeiro no toca discos. Apaixonei-me! Obviamente conhecia as músicas de Michael Jackson, mas haviam aquelas desconhecidas, tão boas quanto às de trabalho.

Estava sentada no chão quando Greg apareceu na porta.

— Olá.

— Desculpe-me Greg.

— Pelo o que? — perguntou se aproximando, as mãos no bolso da calça social.

— Eu deveria ter pedido antes de entrar aqui.

— Sim. — disse ele muito sério — Mas eu diria que poderia vir!

Rimos.

— Obrigada.

— De nada... — ele então se sentou ao meu lado — Então você gosta da música do Michael?

— Na verdade eu não conhecia muito bem. Conheci muitas hoje.

— Ah, sim.

Mal havia se sentado, ele se levantou. Pensativo, andou deslizando os dedos pelas estantes.

— Aqui! — puxou um disco colorido e o estendeu para mim — Você vai gostar desse.

Era um disco dos Jackson 5. Dava para ver pela capa o quão Michael ainda era pequeno.

— Poxa, obrigada! Quantos discos você tem aqui?

— Cerca de 3000 nacionais e 1500 internacionais.

Arregalei os olhos. Aquele homem magro e bem vestido a minha frente, agora estava com o ego à flor da pele e um sorriso bobo no rosto. Mas mesmo assim, dos caras que minha mãe namorou, ele era o mais legal. Nenhum conseguira conquistar meu respeito como ele.

— Amanhã teremos um jantar em Montecito. É próximo de Santa Bárbara.

— Preciso ir?

— Eu peço que vá. Terá música, pessoas da sua idade... — ele fez uma pausa dramática — e esse cara aí.

Disse apontando para o disco que estava em minhas mãos.

— O Michael! — não pude esconder minha animação.

— Pois é! Por favor, vá. Temos que mostrar nossa gratidão a ele. Inclusive, ele confirmou a presença, então...

— Claro.

— E é difícil ele confirmar presença em algum evento nosso.

O meu padrasto piscou para mim e se retirou. Estava começando a me animar! Padrasto bacana, 4500 discos, Michael Jackson...

Enfim, escutei mais um pouco de música e voltei para o meu quarto de hóspedes. Peguei o telefone e liguei para Rachel.

Rachel é minha amiga mais íntima. Assim como eu, cresceu em Atlanta, vive com o pai e trabalha no mesmo lugar que eu.

Contei a ela sobre toda a confusão, a embriagues, Neverland, os discos e o jantar do dia seguinte. A princípio não acreditou. Mas logo já estava rindo feito boba. Como eu.

Senti que ela tinha algo para me contar, mas preferiu abafar. Conheço a minha amiga e sei que quando faz isso é porque algo ruim aconteceu. Se estivesse em meus dias comuns, teria insistido até ela finalmente contar. Mas como não queria estragar meu bom humor por nada...

— Se você quer desabafar, pode falar.

— Não! Está tudo ótimo. Quando você voltar, a gente conversa melhor. Ok?

— Ok! Depois a gente se fala.

Despedimos-nos. Fiquei olhando para o teto por um tempo. “Não posso ficar assim pelo resto do dia!”.

Ainda era cedo, estava quente e o sol maravilhoso. Tinha eu outra escolha além de ir para a piscina? Não. 

 


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