Diva escrita por Palas Silvermist


Capítulo 10
Capítulo 10 - Minimus brilharum




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Mais uma vez, Lily havia acordado antes do nascer do sol para pintar. Terminava o terceiro cenário de Mistério no Caribe. Dessa vez era a praia onde Miss Marple e Mr. Rafiel, agora conhecidos como Olivia Grant e James Potter, trocavam informações.

A garota assistira a um dos ensaios. Era engraçado vê-los andando, gesticulando e falando como velhinhos. Era engraçado ver James dando ordens a Sirius, que interpretava Jackson, o empregado de Mr. Rafiel, e ver Sirius carregando James, já que Mr. Rafiel quase não andava.

Lily fechou os olhos sorrindo por um dos cantos da boca… Sem pensar duas vezes, deixou aquela tela de lado e pegou um pergaminho e um pedaço de carvão. Com traços firmes esboçava o esqueleto de um novo desenho que nada tinha a ver com a peça de Alex. Ou quase nada… Onde ficaria o rosto, os ombros, os olhos, o sorriso…

Trabalhou naqueles traços monocromáticos até depois de o sol nascer, até os primeiros grifinórios acordarem e cruzarem o Salão Comunal para irem tomar café, até ela não ter mais a reserva necessária para criar…

… … … … … … … … …

Depois de uma aula de revisão de História da Magia particularmente chata, os setimanistas da Grifinória foram dispensados para o almoço. Uma vez sentados à mesa do Salão Principal, Alex perguntou:

—Achou seu sax, Peter?

James e Remus olharam apreensivos. Sirius lançou a ela um olhar assassino, e pelo sorriso que ela dirigiu a este, eles entenderam que Alex só perguntara para provocá-lo.

—Não. – Peter respondeu – Mas eu acabei desistindo, não estava dando certo, não ia dar tempo até o sarau… - ele disse chateado

—Mas você estava tão animado. – ela continuou

Sirius pularia para o outro lado da mesa e tamparia a boca dela se pudesse.

—Frank me contou a história do irmão dele com o violino, e eu achei melhor parar mesmo.

—Que pena. – fez Alex

Lice olhou diretamente para Frank e sorriu. Sirius viu isso pelo canto do olho e guardou a informação.

—Falando nisso, algum de vocês vai se inscrever no Sarau? – Bela perguntou

—Eu vou. – Lily respondeu prontamente

—No que, Lily? – Lice perguntou

—Nada demais, tenho um poema guardado.

—Alguém mais? – perguntou Rach

—Talvez eu vá. – falou subitamente James

—Com o quê? – Frank perguntou

—Uma música. – foi a resposta – Moony, pode me passar as batatas?

—Aqui, Prongs.

Quando todos se levantaram para ir às masmorras, Sirius puxou Frank para um lado.

—Foi você que sumiu com o sax de Peter, não foi?

—Por que acha isso, Sirius? – disse tranquilo o rapaz

—Porque, por mais que eu inveje a ideia, não fui eu, nem James, nem Remus.

—Inveja a ideia?

—Quem quer que tenha sido, meus ouvidos são muito gratos. E pelo sorrisinho que Lice lançou pra você agora há pouco, ela sabe de alguma coisa. Como você fez?

—Foi simples, na verdade.  Eu reduzi o sax para ninguém me ver saindo com ele do dormitório e pedi para Lice guardar no dormitório das meninas e não contar pra ninguém.

—Só isso?

—Só. Sinceramente, Sirius, tantos anos fazendo planos mirabolantes com os Marotos o cegaram para as coisas simples da vida.

—E como você o convenceu a desistir?

—Bom, isso foi um pouco mais complicado. Eu contei a história de uma apresentação de violino que meu irmão participou sem treinar o quanto devia… com um pouco mais de drama do que realmente aconteceu. Posso até devolver o sax agora, mas achei mais seguro esperar as inscrições passarem. O que você acha?

—Espera! – Sirius disse rápido

Frank riu, e os dois continuaram seguindo para a aula de Poções. Chegaram à sala ainda a tempo de ouvir novamente Slughorn dizer a Lily que ela deveria estar na Sonserina.

—Ora, professor, - falou ela com seu sorriso e seu olhar únicos – não confia no julgamento do Chapéu Seletor?

O professor riu como sempre.

—A senhorita é encantadora, mas às vezes me dá respostas um tanto petulantes.

—O senhor me faz afirmações capciosas, tento responder à altura.

—O-ho. – fez Slughorn e foi para sua mesa

—Lily! – fez Alice perto dela – Se não fosse Slughorn…

—Se não fosse Slughorn, - a ruiva respondeu – eu não teria dito isso. Vem, vamos sentar, a aula já vai começar.

… … … … … … … … …

No fim daquela tarde, Alex estava andando no corredor em direção à sala dos Monitores para falar com Gustavo sobre a Feira de Profissões. Ao virar à esquerda no sexto andar, encontrou um sonserino no quinto ano azarando um quartanista da Lufa-Lufa.

—Brown! – disse ela indignada – Pare com isso. Agora!

O sonserino obedeceu com cara de poucos amigos, e o menino mais novo caiu no chão.

—Detenção. – disse a monitora da Grifinória

Alex se abaixou para ver como estava o quartanista.

—Você está bem? – perguntou estendendo a mão a ele

Expelliarmus!— disse uma voz atrás dela

A garota virou-se com o susto ainda a tempo de ver a varinha de Brown voar para a mão de Gustavo.

—Azarando a monitora pelas costas, Brown? Quanta covardia. – falou Gustavo

—Chase, devolve a minha varinha. – exigiu o sonserino

—Sua varinha será entregue ao professor Slughorn, a quem tudo o que fez será relatado também. Agora volte para o seu Salão Comunal.

Não tendo outra escolha, o sonserino foi.

Uma vez certificado que o garoto da Lufa-Lufa estava bem, os dois monitores seguiram para as masmorras. Quando estavam sozinhos, Alex começou:

—Eu tinha tudo sob controle.

—Não do meu ponto de vista.

—Então abra os olhos.

Gustavo abriu a boca para rebater, porém acabou falando:

—Eu vou deixar passar, porque você está louca da vida por quase ter sido atingida pelas costas.

—Como ele se atreveu?!

—Da próxima vez, não dê as costas para um aluno a quem acabou de dar uma detenção.

—Eu aprendi a lição, obrigada. – disse ela azeda

… … … … … … … … …

No dia seguinte, Lily acordou cedo de novo para dar retoques em mais um cenário. O pincel descansava sobre a mesa ao lado da tela. Seus olhos verdes estavam parados em direção à lareira. Ela estava alguns andares abaixo, mais de seis anos antes. Lembrava-se de quando falara com James pela primeira vez.

A aula já estava para começar, e ela esquecera um livro no dormitório. Fazendo todo esforço que podia para lembrar o caminho de volta até a Torre da Grifinória, correu. Ao virar um corredor, bateu com tudo em um menino de cabelos espetados e óculos redondos fazendo os dois caírem no chão.

Sem perceber, ela sorriu.

Na época, Lily não podia imaginar quem ele se tornaria para ela nos anos seguintes. Do mero colega de casa ao cara impertinente que simplesmente não aceita um  “não”, por mais sonoro que fosse pronunciado…

Mais recentemente, em uma tentativa desesperada de ter paz, ele fora promovido a um amigo…

E se…

E se ele a convidasse para sair de novo? O que ela responderia dessa vez? Pela primeira vez considerava o assunto…

Ele parecia diferente… E Lily também não podia dizer que continuava exatamente a mesma…

Não, era melhor tudo ficar como estava.

Cansada das cores quentes que precisava usar nos cenários, pegou uma tela sua inacabada e mergulhou a ponta de um pincel fino em tinta azul marinho para dar os últimos retoques em um céu noturno.

A firmeza da mão… traços tão delicados…

Eventualmente, Lily gostava de ouvir opiniões sobre suas pinturas. Ultimamente, porém, havia a opinião de alguém que ela queria ouvir mais do que qualquer outra…

Sempre gostou das horas solitárias que passava desenhando e pintando no Salão Comunal enquanto todos estavam dormindo. Continuavam sendo agradáveis, mas tinha de admitir, ficavam mais completas quando, por acaso, James também estava ali.

Terminando aquele quadro, a ruiva limpou os pinceis e guardou as tintas que não iria mais usar naquele dia.

Parou e analisou a imagem. Faltava alguma coisa…

Apagou três dos quatro brotos de cardo que pairavam sobre sua cabeça como luminárias. A iluminação diminuiu consideravelmente. A moça abaixou a cabeça ficando com o rosto muito próximo da pintura.

Que espécie de força era essa que sentia agora? Percorria seu sangue, transbordava por seus olhos…

Vida… Se sentia viva. Por algum motivo, conseguir expressar alguma coisa que andava dentro dela tinha esse efeito. Já sabia o que faltava.

Com o queixo quase encostando na mesa, posicionou a varinha sobre a parte superior da tela e sussurrou:

Minimus brilharum.

Uma gota prateada minúscula escorreu da ponta da varinha e caiu sobre o céu escuro. Parecia líquida, mas não era. A meia luz, a gota cintilava.

Por um momento, Lily apenas observou. Depois, muito de leve, ela assoprou, e aquele pó se espalhou pelo céu brilhando como estrelas verdadeiras.

Agora sim… estava pronto.

… … … … … … … … …

O início de abril trouxe, além de um clima mais quente, as inscrições para o Sarau e para o Atelier. Em uma quinta-feira, após as aulas da tarde, Lily, Bela, Rach e Remus entraram em uma sala vazia no segundo andar.

Remus e Lily enfeitiçaram as carteiras para que fossem para o fundo da sala. Bela e Rach arrumaram duas mesas um pouco separadas de frente para a porta. Lily havia preparado uma ficha para constar o nome da pessoa e das obras que iria expor. Algo semelhante tinha sido feito por Bela para o Sarau.

Tudo pronto, as pessoas começaram a chegar.

Na mesa do Atelier, Remus cuidava do formulário, Lily das obras. Depois de conferir cada uma, ela as identificava, embalava, reduzia e colocava em uma caixa. De cara, apareceram umas seis pessoas ao mesmo tempo formando uma pequena fila. Depois, os dois ficaram um tempo sem fazer quase nada por falta de pessoas para se inscreverem. O mesmo acontecia com Rach e Bela.

Após uma hora, em um desses períodos de calmaria, Bela comentou:

—As pessoas aparecem em ondas. Vem um bando, aí não vem ninguém, aí vem outro bando de novo…

—É assim mesmo, Bela. – falou Lily – Nas férias do ano passado, ajudei nas inscrições de um Show de Talentos na cidadezinha onde meus avós moram, e foi a mesma coisa. Aliás, aproveitando que não tem ninguém, Rach, pode me dar uma ficha de inscrição?

—Claro, Lily. – ela estendeu o pergaminho para a amiga

Pela Lei de Murphy, quando a ruiva se abaixou para preencher o papel, chegaram duas pessoas para o Atelier, e ela teve de deixar o pergaminho de lado e preencher depois.

Quando as duas pessoas foram embora, Lily comentou com o amigo:

—Já estamos com trinta peças e falta uma hora ainda. – disse animada

—É mais do que eu estava esperando. – ele sorriu

—Eu também!

—Ah, Lily, eu vou precisar sair meia hora antes. Olívia e Victor marcaram uma reunião de monitoria em cima da hora.

—Tudo bem.

—Eu pedi a James pra me substituir.

—Não precisa. – ela falou – Não tem tanta coisa pra fazer.

—Pelo menos você não fica sobrecarregada caso venha uma onda no último minuto.

—Tudo bem. – e virando-se para a amiga, falou – Bela, quantos vocês têm até agora?

—Vinte e seis. – a garota respondeu feliz

Na hora marcada, James chegou, fez sua inscrição no Sarau e tomou o lugar de Remus, que saiu para sua reunião.

Vendo pelo canto dos olhos Lily concentrada em organizar as peças, ele se lembrou de uma cena na festa de comemoração da Taça de Quadribol no sexto ano.

—Evans! – ele chamou ao encontrá-la no meio no tumulto do Salão Comunal

—Potter. – ela respondeu mecanicamente – Vejo que finalmente aprendeu meu sobrenome. Não é um caso perdido afinal. – ela disse em uma altivez que não chegava a arrogância

—Dança comigo?

—Não, obrigada. – ela disse no mesmo tom

—Só uma música. – ele insistiu

—Não, obrigada, Potter. – ela repetiu

—Gostaria que o Salão Comunal estivesse completamente vazio agora para que pudesse pintar?

Ela sorriu, mas não respondeu. Ele repetiu a pergunta um tanto surpreso pelo silêncio dela.

—Ah, eu o ouvi antes, mas não consegui pensar imediatamente no que lhe responder. Você gostaria, eu sei, que eu dissesse “sim” para que tivesse o prazer de desprezar o meu gosto, mas eu sempre me divirto um frustrar opiniões premeditadas. Então decidi lhe responder que não gostaria que o Salão Comunal estivesse completamente vazio. E agora me despreze, se se atrever.

—Com certeza não me atrevo. – ele respondeu com um meio sorriso

Ela pareceu espantada com sua delicadeza mesmo tendo tentado ofendê-lo. O fato era que emanava dela uma mistura de doçura e vivacidade que tornava difícil para ela ofender alguém.

James voltou a si quando duas meninas entraram afobadas perguntando se ainda dava tempo de se inscreverem no Sarau.

Quando as inscrições fecharam, Lily fechou a caixa com as obras e a tirou do chão. Vendo isso, James se adiantou.

—Pode deixar que eu levo para a Torre.

A moça sentiu um nó no estômago quando a mão dele encontrou em seu braço ao pegar a caixa.

—Obrigada.

Os quatro fecharam a sala e voltaram para a Torre da Grifinória.

 


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Notas finais do capítulo

N/A: Oii!

Antes que eu me esqueça, créditos:
— As falas “-Eu tinha tudo sob controle./-Não do meu ponto de vista./-Então abra os olhos.” Vieram do desenho O Rei Leão II (fãs Disney, toquem aqui! :D)
— A cena que James lembra vem do livro Orgulho e Preconceito da Jane Austen. (A-DO-RO esse livro, precisava fazer a referência).

Falando em referência a cena de uns capítulo atrás quando Lile e James de encontram pela primeira vez, Lily tem o cabelo dividido em duas tranças em referência ao livro "Diva" de José de Alencar. Olha que coincidência o nome... hehehehe

Espero que tenham gostado. Particularmente, gosto da cena da Lily colocando brilho nas estrelas.
Beijos e até o próximo capítulo.
Palas



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