Diving In The Past escrita por YinLua


Capítulo 2
Past


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente!
Como prometido: capítulo sexta sim e sexta não.
Espero que gostem :3
Boa leitura!!

OBS: Capítulo betado pela Lady Lovegood da Liga das Betas.



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— Hm... — Hermione fez, incapaz de abrir seus olhos.

Minha cabeça dói... Ela podia ouvir o barulho das folhas das árvores balançando e conseguia ver o escuro através de suas pálpebras. O que aconteceu? Alguma coisa cutucava suas costas, estava doendo e Hermione se sentia desnorteada. Remexeu-se, sentindo algo incômodo lhe machucar, sentando no mesmo instante.

Pôs a mão em sua cabeça, tirando os cabelos de seu rosto e verificando se possuía algum ferimento, mesmo que nada doesse além de suas costas. Esperou sua visão adaptar-se a escuridão da noite e olhou ao redor. Visualizou o corpo de seus amigos perto de si e preocupou-se. Por Merlin! O que aconteceu? Levantou e limpou a terra de suas roupas, apalpando onde a pedrinha tinha machucado.

Gina era quem estava mais perto, e então parou ao lado dela, cutucando-a.

— Gina — chamou à amiga. Lembro que nosso pai costumava contar que se fizéssemos desejos e jogássemos uma moeda na fonte, esses desejos se realizariam, a voz da ruiva ecoou em sua mente e Hermione lembrou. Aquela fonte... — Gina, acorde! — Sacudiu-a de leve.

— Mione...? — A voz fraca da ruiva lhe deu certo alívio, e Hermione se apressou em abraçá-la. Esperava que os outros estivessem bem também. — O que houve?

— Eu não sei... Mas suspeito que aquela fonte estava realmente encantada. Vem, levante-se, precisamos acordar Ron e Harry. — Deixou com que Gina se apoiasse em seu braço e a ajudou a se levantar.

Deixou que a mais nova corresse até o menino-que-sobreviveu e se caminhou até o Weasley mais velho. Olhou, penosa, para a terra que sujava os fios avermelhados e as roupas do garoto. Tocou seu cabelo levemente, quase como um carinho, mas logo recuou sua mão, levando-a para o ombro de Ron. Precisava se controlar! Hermione Granger!

— Ron! — chamou alto. Sacudiu o ombro do amigo, delicadamente; vai que ele estivesse com algumas pedras embaixo de si também, não queria lhe machucar de jeito nenhum. — Ei, Ron, levante! Acorde! — Deu um toque mais brusco e, então, o outro se mexeu.

— Hm... Já está na hora do almoço? — A fala do Weasley foi acompanhada de uma risada fraca de Hermione. Uma situação daquela e ele pensava em comida... Ronald Weasley era mesmo uma pessoa curiosa.

A morena não conseguiu conter o impulso de abraçá-lo com todas as suas forças, dessa vez, esquecendo-se das possíveis pedras que poderiam estar debaixo dele. Contudo, estava tão preocupada... Aspirou fortemente, sentindo o cheiro de terra e o perfume único de Ronald invadir suas narinas, soltando o ar alguns segundos depois. Seus olhos marejaram por um instante e o ruivo só pôde abraçá-la de volta, ainda deitado no chão.

— Ei... Eu estou bem — disse suavemente, tentando acalmá-la.

Aquele era o contato mais íntimo que tinham desde o beijo durante a destruição do Medalhão da Sonserina e Hermione sequer pensou nisso no momento, só queria abraçá-lo fortemente. Respirou fundo mais uma vez, inebriando-se com o cheiro másculo que o rodeava e forçou a si mesma a voltar a sua consciência. Hermione Granger, controle-se! Você é melhor que isso.

Soltou-se do amigo devagar, já sentindo falta do aconchego que aquele abraço tinha lhe proporcionado, do som das batidas de seu coração, de seu perfume... Mas não podia se deixar levar, sem chances. Aliás, tinha coisas mais importantes para fazer como descobrir o que diabos tinha acontecido com eles. Parecia que tinham perdido o dia inteiro de aulas e isso era um terror para si, precisava tirar notas boas nos exames finais para que pudesse ter um bom cargo, não aceitava que tivesse perdido um dia inteiro de estudos.

— Venha, Harry já acordou. — Hermione apenas assistiu Ronald levantar-se, limpando suas roupas.

Harry sorria para Gina, acalmando-a. Não tem nada de errado, Gina e estamos bem, Gi, vai dar tudo certo eram as coisas que tinham repetido para ela, mas que nem ele mesmo acreditava. Quer dizer, uma hora estavam todos ao redor da fonte no início da tarde, outra eles acordam e a fonte já não está mais lá. Era óbvio que tinha algo errado — mas Gina não precisava saber disso. Queria protegê-la.

— Harry... — Gina chamou, indecisa, porém seu olhar se tornou firme e ela olhou dentro de seus olhos. — Harry, eu sei que tem algo de errado, não quero que me proteja. Eu sei me proteger.

E então Harry sorriu ainda mais e passou a mão por seu rosto levemente. Gina inclinou o rosto, apreciando o contato. Sua namorada era tão corajosa... tão linda... Harry tinha certeza que queria passar o resto de sua vida com ela, queria torná-la a senhora Potter, queria ter uma família com ela. Ele a amava.

— Eu sei.

— Venham, vamos voltar para o castelo. Parece que nada de mais aconteceu, mas temos que investigar os efeitos daquela fonte, que, por sinal, desapareceu — Hermione falou. — Ah, Harry, não esqueça sua capa da invisibilidade.

— Gente, — Ron interrompeu. O ruivo arqueou a sobrancelha e apontou para um espaço vazio. — o túmulo de Dumbledore não deveria estar ali?

— Deveria — Harry respondeu, estranhando. Não era possível... Estava bem ali na noite anterior, ele tinha certeza! — Eu o vi ontem! — Gina apertou sua mão levemente.

— Também passamos por ele quando viemos... — Hermione comentou, pensativa.

Franziu as sobrancelhas, sentindo-se temerosa. Será que tinham sido enfeitiçados por algum bruxo que era contra Dumbledore? Será que foi por isso que desmaiaram? Se sim, por que o tal bruxo não os matou? Por que fazer o túmulo desaparecer? A varinha das varinhas não estava mais lá, tinha sido quebrada por Harry... Aquilo não fazia o menor sentido.

— Melhor irmos falar com a diretora McGonagall — concluiu a morena. — Como estaremos bem encrencados caso alguém nos veja aqui a essa hora, é melhor irmos embaixo da capa.

— Isso está ficando cada vez mais estranho. — Gina apertou novamente a mão de Harry, sem deixar com que algum tipo de medo a abalasse. Tinha visto coisas piores na guerra, passado por coisas piores, aquilo não era suficiente para sentir medo.

— Vai ficar tudo bem — Harry sussurrou para ela.

[...]

— Hm...

O cabelo preto e branco escorria por suas costas, emoldurando o rosto que geralmente exibia uma feição feroz e sábia. Seus olhos que demonstravam um brilho selvagem, naquele momento, estavam voltados para o céu. As estrelas lhe diziam muitas coisas, a adivinhação era muito precisa e natural de sua espécie.

— Humanos... — falou. Sua voz deixava claro o desprezo que Bane sentia por aquela raça. Humanos eram tão odiosos, sempre cruéis, interesseiros, ousavam devastar a natureza e domesticar outras espécies como se fossem superiores. Odiava-os. — Como puderam? Essas estrelas... não estavam aqui antes.

— Senhor? — O outro que estava por perto lhe chamou.

Bane virou-se para ele, batendo seus cascos no chão da floresta enquanto o fazia. Sem dúvidas, Bane estava revoltado. Como ousavam interferir de tal forma? Que direito eles tinham de o fazer?

— Comunique Dumbledore, chame-o aqui. Algo que vai contra as leis do destino está acontecendo.

[...]

— Por que eu acho que tem algo estranho? — Ron questionou, falando com ninguém específico.

Suas sobrancelhas estavam franzidas, observando com atenção tudo ao redor, procurando detalhes que pudessem comprovar que estavam bem, ou talvez um sinal de que algo estivesse muito errado. Sua voz estava fina, lembrava-se de quando estava em seus primeiros anos de Hogwarts e ele ficava com medo de algo. Bem, talvez ele estivesse, sim, sentindo medo naquele momento.

— É só impressão, Ron. — Hermione tentou o acalmar, tocando de leve seu pulso, como se quisesse mostrá-lo que estava ali... que sempre estaria ali. Contudo, em seu coração, ela também sentia aquele temor.

Não fazia sentido: estavam nos terrenos de Hogwarts, então por que temer? Porém, mesmo que estivessem no lugar em que passaram os últimos anos de suas vidas, ainda existia algo de estranho no ar, uma sensação incômoda que fazia suas mentes dispararem sinais para que ficassem alertas; além disso, alguns fatos estranhos ocorreram e era o suficiente para levantar suspeita, Hermione acreditava. Uma fonte não sumia do nada, muito menos não fazia as pessoas ficarem desmaiadas por horas!

A hipótese que tinha considerado antes parecia fazer mais sentido.

— Olhem! — Gina apontou para uma imagem ao longe.

Era uma pessoa, um ser. A nitidez era pouca, uma vez que estavam bem distantes da pessoa, mas as vestes longas e a barba tão longa quanto eram características da figura. O homem caminhava rapidamente para o outro lado, em direção a Floresta Proibida.

— Aquele é... — Hermione ofegou, cobrindo sua boca com a mão.

É só impressão, Ron. — Ron afinou a voz, imitando Hermione. Seu deboche fez a morena lhe olhar feio, irritada.

— Pessoas erram, Ronald! — exclamou. — Mas isso não faz sentido... Dumbledore está morto! Deve haver alguma resposta racional para isso, com certeza. Talvez uma poção ou um feitiço ilusório... — balbuciou, inquieta.

— Isso não pode estar certo — Harry declarou, por fim.

— E agora?

— Vamos segui-lo — Harry respondeu a pergunta de Gina automaticamente, soou firme e determinado, o que fez Hermione olhá-lo no mesmo instante.

— O quê? Ficou louco? — A voz incrédula de Hermione fez com que o moreno a encarasse. — Harry, nós nem sabemos o que está acontecendo.

— Por isso mesmo — argumentou. — Quero saber o que está havendo, e se alguém está usando a imagem de Dumbledore e ousou destruir o túmulo dele, eu vou segui-lo.

Não deixou brechas para Hermione contra-argumentar, pondo-se a seguir na mesma direção que o homem estava indo. Gina e Ron se olharam e encararam Hermione, que ainda estava parada com as sobrancelhas franzidas. Logo depois, correram para alcançar Harry. Isso é perigoso, não está certo, sua mente lhe dizia. Contudo, ela sabia que não podia deixar seus amigos passarem por aquilo sozinhos.

— Espera aí! — Hermione pediu.

Harry parou, virando-se com um sorriso mínimo no rosto.

— Sabia que viria.

— É claro que sabia — ela resmungou em troca, fazendo com que Ron e Gina rissem. — Então, temos um plano?

— A pessoa dos planos é você, Hermione — Ron respondeu.

— Ah, certo, tudo bem. Vou pensar em algo no caminho. Andem, não podemos perder ele de vista.

Harry tirou sua capa do bolso e a estendeu para os amigos; era pequena e deixaria seus pés de fora, mas estava escuro e não havia ninguém ali, então passariam despercebidos. Os amigos se esgueiraram para baixo dela e tentaram correr o máximo que puderam para não tropeçar. Precisavam alcançar o homem, antes que ele adentrasse na Floresta Proibida, senão ficaria muito difícil de segui-lo e não se perder.

Aquilo era tão estranho... Dumbledore estava morto, Harry o viu morrer, todos viram o corpo que tinha atingido o chão. Impossível alguém ter entrado no castelo com a imagem dele e ninguém ter notado! Então como? Primeiro a fonte, depois o túmulo e agora tinha um Dumbledore que parecia ainda mais jovem do que Harry se lembrava.

Então, Harry se questionou se era um sonho. É, fazia mais sentido do que um Dumbledore ressuscitado depois do fim da guerra, ou um intruso se fazendo passar pelo ex-diretor. Minerva o barraria na hora, tinha certeza. Céus, aquilo não fazia o menor sentido!

— Sejam mais rápidos — Hermione sussurrou. — Ele está quase entrando!

— Você é a mais devagar aqui, Hermione. — Ron não perdeu a oportunidade de alfinetá-la e logo depois pôde sentir um beliscão em seu braço em resposta. — Ai! Isso dói!

— Pode deixar que o próximo eu faço mais forte. — A morena revirou os olhos, impaciente.

— Desiste, Ron. — Gina sorriu. — Sempre que você falar alguma besteira perto da Mione, ela vai te punir. — A diversão em sua voz era palpável.

— Calada, Gina. — Ron devolveu, como se estivesse chateado.

— Vamos, gente. — Harry apressou-os. — Não podemos perdê-lo.

[...]

— Queria me ver, Bane?

— Sim. — O centauro deixou claro o desprezo que sentia. — Não posso acreditar em como os humanos são detestáveis. Como podem ter coragem de fazer algo assim? Isso vai contra todas as leis da natureza!

— Ora, Bane. — Os olhinhos azuis brilharam por trás dos óculos de meia-lua. — Por que não me conta o que viu para eu poder concordar com você?

O divertimento era claro, mas sua tensão também. Bane não o convocaria por algo que não fosse relativamente grave, conhecia o centauro, ele não gostava que entrassem em seu terreno e, se o pedia para fazê-lo, não era nada bom. Dumbledore podia dizer até que estava um pouco temeroso, e isso se devia ao fato de estar sentindo uma sensação estranha.

O centauro revirou os olhos, batendo seus cascos dianteiros no chão, demonstrando sua impaciência.

— Não brinque comigo, Dumbledore! — Sua voz soou irritada e ecoou pelos troncos de árvores, mas aquilo não reduziu o brilho nos olhos do bruxo. Bane bufou, porém continuou: — As estrelas... Algumas estrelas não estavam no céu antes. Elas surgiram de ontem para hoje e todas elas estão diferentes.

— Diferentes como?

— Assim como os humanos, as estrelas seguem um curso. Esse curso que seguem determina a vida do ser humano que representam, é assim que podemos fazer suposições sobre a vida de cada um — explicou, andando de um lado para o outro. — Mas as estrelas novas estão contrárias a esse curso. Todas as estrelas apontam para a direita, consegue enxergar? — Apontou para o céu.

Dumbledore seguiu seu dedo com o olhar, observando atentamente todas as estrelas no céu. Não tinha visto diferença alguma nem a direção que as estrelas deveriam apontar, mas não questionou. De alguma forma, estava entendendo o que Bane tentava lhe dizer, então apenas acenou com a cabeça para que o centauro continuasse.

— Então, as quatro estrelas que surgiram apontam para a esquerda, direção oposta. Além disso, as estrelas novas apresentam um brilho fraco quando nascem, mas essas... brilham como as que já tem milhões de anos. Isso me faz crer que algo muito ruim está acontecendo, os humanos não tem o direito de interferir no destino!

— Entendo — Dumbledore respondeu pesaroso.

Embora a possibilidade fosse tentadora, os riscos que assumiram ao realizar tal ato, as consequências... eram inimagináveis. Coisas horríveis acontecem com bruxos que mexem com o tempo. É claro, se ele tivesse esse poder, ele não hesitaria em trazer sua irmã Ariana de volta, desafiaria mil e uma barreiras para que pudesse compensar o erro que tinha cometido, a vida que tinha lhe tirado por culpa de sua ganância e de Grindelwald.

Contudo, não era a sua vida que estava em perigo.

— E onde estão essas pessoas? Consegue saber isso?

— As estrelas pairam sobre o céu de Hogwarts.

[...]

— Vocês ouviram isso? — Hermione guinchou, inquieta. Sua mente tinha raciocinado rapidamente e ligado as pontas que Bane tinham deixado. — Ouviram?

— Ouvimos, Hermione. — Ron esfregou sua orelha com uma careta. Estavam tão próximos sob a capa que a voz dela tinha soado tão alta quanto um grito.

— E entenderam o que aquilo significa? — Olhou os amigos, quase os perfurando com seu olhar.

Todas as teorias que tinham passado por sua cabeça estavam completamente erradas e ela era incapaz de conter sua emoção. Estava surpresa, com medo, emocionada, temerosa, curiosa... Eram tantas que sequer podia descrevê-las com precisão. Não conseguia manter sua mão quieta, ela puxava a manga de Ron incansavelmente, como um meio de descontar a adrenalina que tomava conta de si.

— E o que significa? — Harry perguntou, segurando o riso. Era engraçado ver a amiga tão energética.

— Que os senhores voltaram no tempo. — A voz de Dumbledore chamou a atenção deles.

No mesmo instante, todos ficaram tensos. Hermione tinha capturado a atenção deles antes, sequer tinham notado que Bane tinha ido embora ou que Dumbledore tinha se aproximado deles. Ainda estavam invisíveis sob a capa, mas ele olhava como se soubesse exatamente onde estavam.

— Ouvi três vozes diferentes... Dois meninos e uma menina, estou certo? — Seu sorriso singelo demonstrava que não lhes faria mal.

Era mesmo Dumbledore.

Eles tinham realmente voltado no tempo?

— Não — Gina respondeu, tocando a capa e tirando-a de cima de si. Os outros logo seguiram seus passos. — Somos quatro.

— Oh. — Os olhos azuis brilharam, demonstrando seu interesse. — Eu vejo. E os senhores fazem ideia de como chegaram aqui?

— A fonte — Hermione tomou a palavra, gesticulando. — Hoje à tarde nós fomos procurar Harry e ele estava deitado nas margens do Lago Negro. O acordamos e, quando estávamos indo embora, passamos por uma fonte que nunca esteve lá antes, tenho certeza. Pessoalmente, achei que fosse uma fonte encantada, mas enfim, Gina pediu para fazer um pedido e todos nós fizemos um.

Ela franziu as sobrancelhas.

— Não tem lógica, tenho certeza que nenhum de nós pediu para voltar no tempo nem nada similar, além do que... isso é completamente clichê! Fontes do desejo só funcionam nos filmes trouxas!

— Concordo, minha cara. — Dumbledore passou a mão por sua longa barba, soando pensativo. — Que tal seguirem para meu escritório para que possamos conversar sobre?

— Claro — Ron concordou, seu estômago roncava. Será que poderia pedir comida aos elfos?

— Senhor. — Harry chamou a atenção de Dumbledore.

O moreno olhou dentro dos olhos azuis tão conhecidos e que sabia que guardava tantos segredos quanto os anos que tinha de vida.

Potter tinha uma sensação estranha em seu peito. Ele talvez pudesse descrevê-la como um conflito entre duas emoções: a raiva sutil de ver a pessoa em quem mais tinha confiado e que mais tinha lhe escondido informações importantes contrastava com o sentimento de saudade e felicidade de ver o velho vivo, aquele que tinha sido o mais próximo de um pai para si e que, de certa forma, havia cuidado dele quando seus parentes de sangue não o fizeram.

— Se me permite, mas em que ano estamos?

— Mas é claro. — Dumbledore sorriu por trás dos óculos de meia-lua. — Estamos no ano de 1977.

O caminho foi feito em silêncio. Harry sentia a sensação apertar seu peito cada vez mais. Como aquilo podia ter acontecido? Era impossível, não era? Quer dizer, ele e Hermione tinham voltado no terceiro ano para salvar Bicuço, mas foram apenas horas, lembrava-se de Hermione ter dito que tinha um limite de tempo. Mas aquela fonte... Ele tinha desejado ter uma família, será que estava relacionado à viagem?

1977... Pelas suas contas, era o último ano escolar de seus pais, sorriu triste. Logo depois, em 31 de outubro de 1981, eles eram mortos por Voldemort. Tão jovens... Mal tiveram a chance de viver; nascidos na guerra, foram guerreiros destemidos e ótimas pessoas. Claro, todos possuem defeitos, porém não os faziam menos importantes nem menos amados. Além disso, lembrava-se que Sirius tinha dito que James havia mudado e parado de implicar com Snape.

James e Lilian eram pessoas honradas que não puderam aproveitar tudo que a vida podia os dar.

Harry não conseguia raciocinar direito, estava nervoso. Seus pais estavam a apenas alguns metros de si, vivos... E ainda nem pensavam em tê-lo. Céus, aquilo parecia tão difícil! Passou a mão pelos cabelos bagunçados, tentando se acalmar. Sentiu Gina segurar sua mão e olhou-a. Os olhos castanho-claros, que em momentos podiam brilhar com uma coragem sem igual, agora lhe transmitiam o amor e a força que precisava.

Então Harry entendeu: passaria por tudo aquilo de cabeça erguida, desde que Gina estivesse com ele.

Sorriu-lhe, agradecendo-a silenciosamente. Sentia-se privilegiado de poder ter assistindo as mudanças de menina para mulher, e mais ainda por poder ser o rapaz que ela escolheu para que ficasse ao lado dela para sempre. Harry a amava como ninguém. Nos instantes em que se sentia fraco e imponente, ela lhe fazia recuperar toda sua força e coragem e alcançar seus objetivos. Ao lado dela, ele era uma pessoa melhor.

Passou seu braço pelo ombro dela, trazendo-a para mais perto enquanto caminhavam. De alguma forma, Harry sabia que Hermione estava com sua mente ocupada, pensando em mil coisas que pudesse levar eles de volta para 1998, e Ron preocupava-se com a comida que queria comer. Sorriu com o pensamento, amava seus amigos também.

— Sorvete de limão. — A voz de Dumbledore o tirou de seus pensamentos, o despertando. A estátua se moveu e deu lugar a uma escadaria, esta, por sua vez, levaria até o escritório do diretor. — Entrem, por favor.

Os quatro ficaram em silêncio e subiram. Cada passo parecia levar uma eternidade e Hermione suspirou, nervosa. Esforçou-se para se acalmar, não adiantava ter centenas de teoria se não podia organizá-las ou comprová-las; muito menos naquele momento, em que tudo o que precisava era de calma. Mordeu o lábio e sentou-se em uma das cadeiras que foram oferecidas.

— Então... — Dumbledore apoiou os cotovelos na mesa e enlaçou as próprias mãos, apoiando o rosto nas mesmas. Seus olhos curiosos podiam ser observados por cima dos óculos de meia-lua. — O que pretendem fazer?

Os rostos se viraram para Hermione e a morena corou.

— Eu não sei. — Virou o rosto de lado, preparando-se para a gracinha que Ron provavelmente ia soltar. Mas o ruivo sequer se pronunciou.

— O senhor sabe como podemos voltar, diretor Dumbledore? — Gina perguntou. Ainda não tinha largado a mão de Harry, ela sequer podia imaginar o que poderia estar se passando na mente dele. Ter a chance de ver seus pais vivos, ver Dumbledore que tinha morrido na sua frente respirando...

— Não faço ideia, senhorita — o velho respondeu. — Posso ajudá-los enquanto descobrem um meio de voltar para seu tempo, se me permitirem.

— É claro. — Harry respirou fundo. Ele só não queria esbarrar em seus pais, seria muito doloroso, vê-los e não poder impedir a tragédia que os abateria. — Tem algum lugar que possamos ficar?

— Por que não se disfarçam de alunos transferidos? — O brilho nos olhos azuis aumentou e Dumbledore parecia cheio de expectativa.

— Não sei se seria uma boa deia — Harry declinou. Não aguentaria ver seus pais, tinha certeza que não. Ele não conseguiria...

— Eu acho que pode ser uma boa ideia, Harry — Hermione interferiu.

Ela olhou-o como se dissesse não se preocupe, nós estamos aqui com você e ele se sentiu grato. Se Merlin o tinha privado de pais, ele tinha conseguido uma família que não tinha ligação consigo de sangue.

— Assim podemos adiantar nossos estudos enquanto procuramos por uma solução.

— Você só pensa em estudar, Hermione? — Ron revirou os olhos. A morena lhe cutucou com o cotovelo.

— Você só pensa em comer, Ronald? — revidou, fazendo o diretor sorrir.

Harry olhou para Gina, que lhe sorriu também. Está tudo bem, ela fez com os lábios.

— É uma boa ideia. — Gina virou-se para o diretor.

— Então, senhor...? — O diretor arqueou as sobrancelhas, a espera da resposta.

— Potter. Harry Potter. — Seus lábios formaram um pequeno sorriso.

— Oh! — Dumbledore deu um risinho e bateu palmas discretamente. — Sabia que aqueles dois ficariam juntos.

Os quatro riram discretamente da reação do mais velho. Ele parecia um pouco diferente do diretor que conheceram. Ainda sábio, mas talvez ainda não tivesse sido atingido completamente pelas trevas que Tom Riddle tinha disseminado pelo mundo bruxo. Harry sentiu-se um pouco melhor ao ver aquilo, mesmo que a irritação ainda não estivesse completamente esquecida.

— Senhor Potter, concorda em se disfarçar de aluno transferido?

— Sim, diretor.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a quem leu até aqui :3
Beijos~
Lu-chan :3

OBS: Capítulo se passa no dia 3 de setembro de 1977.



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