Precisamos um do outro escrita por Moon


Capítulo 47
Semana Hospitalar - Parte 3




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POV Cory

Fui ao hospital ver a Riley e buscar o Liam para uma carona até a escola. Ela estava mais leve desde a última vez que eu a tinha visto. Parecia mais descansada. Disse ter dormido e pelo modo como estava tomando seu café da manhã, com certeza tinha mais apetite. Me despedi aliviado por vê-la sorrir como se nada tivesse acontecido com um beijo em sua testa enquanto Liam acenava já na porta.

Caminhamos em silêncio até o estacionamento, e até encontrar o carro. Não é um silêncio constrangedor, como se não tivéssemos intimidade, mas um silêncio calmo de quem tem muita coisa na cabeça. Eu sabia que ele havia ficado preocupado com a Riley - embora não tivesse tido cabeça antes para me preocupar com isso - e sabia também que ele havia inclusive se colocado em risco para tentar impedir o que aconteceu. Ele e Lucas haviam tentado agir.

Estávamos no carro. O trânsito estava tranquilo. E eu decidi quebrar o silêncio.

— Você sabe que somos muito gratos pelo que você tem feito pela Riley, né?! - O silêncio pairou por um instante e eu dei prosseguimento. - Por ter sido um bom amigo pra ela. Por ajudar ela com toda a coisa de descobrir uma nova família. Por ter ficado ao lado dela quando ela teve problemas com o Lucas. E agora por ter tentado impedir o que aconteceu, por ter ficado ao nosso lado o tempo todo, por ter ficado com ela essa noite. A sua companhia, com certeza, faz muito bem a Riley!

— A companhia dela também me faz muito bem. - Ele sorriu de lado encarando a janela. - Eu também sou muito grato por ter encontrado a Riley, por ela ter me acolhido na vida dela. Por vocês terem me acolhido. Eu não sei como eu estaria agora se eu não tivesse a Riley, sabe?!

Ele estava sendo sincero, e havia quase um tom de desespero em sua voz quando ele falava sobre a possibilidade de não tê-la em sua vida e eu apreciava isso. Riley tem a sorte de ter amizades como a Maya e o Farkle, que são fiéis e constantes em sua vida - e eu sempre fui grato por isso -, mas era especial saber que ela continua a construir lindas relações enquanto cresce, como sua amizade com o Liam.

— Tem sido um prazer te ter em casa, Liam. - Eu comentei avistando a rua da escola.- E eu mal espero para ter a Riley de volta.

— Vai ser difícil pra ela. - Liam comentou meio que num sussurro para si mesmo.

— Por que você acha isso?

Ele hesitou ao perceber que tinha falado em voz alta algo que ele - provavelmente - só intencionava a falar dentro da própria cabeça. 

— A Riley ainda está assustada. É normal, sabe?! Ela passou por uma experiência traumatizante. - Ele falava com receio, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. - E apesar de ter pesadelos, e estar constantemente ansiosa, o hospital a dá uma sensação de segurança. Ela sabe que sempre vai ter alguém ao lado dela, que as pessoas vão passar pela segurança para entrar no prédio, que o Argent está constantemente observando o que se passa. Ela vai sentir essa diferença quando voltar pra casa. Mas ela só vai notar quando estiver em casa.

— Eu não havia pensado nisso. - Comentei pensando em como poderíamos melhor receber a Riley depois que ela tivesse alta. - Mas a gente vai fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que ela tenha um retorno tranquilo.

Eu estacionei na única vaga que estava disponível e descemos juntos do carro. Ele foi para os corredores dos armários e eu segui para a sala de professores. Eu estava inspirado para a próxima aula após refletir na conversa com Liam sobre como último episódio marcante teria ainda tantas consequências que não previmos.

A influência do passado. Escrevi no quadro e me virei para a turma em que minha filha deveria ser uma das alunas. 

— Por que estudamos história? - Perguntei para a turma e observei-os refletir sobre a pergunta.

— Ao estudar a história nos deparamos com o que os homens foram e fizeram, e isso nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer. - Zay respondeu.

— Muito bom, senhor Babineaux. - O elogiei surpreso por sua participação.

— Então quando estudamos história estamos olhando para o passado como se fosse o microscópio para o presente e o futuro. E o que o passado de vocês determinou sobre o presente?

Era possível ver as cabeças raciocinando tentando criar essa linha.

— As últimas eleições determinaram quem é o atual presidente do país, e isso influencia em como as decisões estão sendo tomadas nas arenas decisórias. - Smackle respondeu.

— Mas isso é a história do país. Eu quero saber o que, no seu passado, está repercutindo no presente. - Respondi enfatizando que eu queria saber da vida deles.

— O anuário do penúltimo ano no ensino fundamental determinou como eu me porto atualmente. - O Farkle respondeu.

— De que modo?

— Fizeram bullying comigo e com a Riley naquele anuário, e nós dois decidimos que não queríamos mais ser daquele modo que nos gerava críticas. A Riley é muito mais discreta hoje em dia, ela contém a própria empolgação, e eu mudei completamente. Eu me visto diferente, eu falo diferente, eu até penso diferente.

— E por quê, senhor Minkus?

— Inicialmente, foi só para evitar os valentões. Agora, é porque eu quero determinar a maneira como eu sou visto, eu quero moldar a imagem que eu quero passar. Porque isso me dá controle sobre quem eu sou ou quero ser, e me dá controle sobre como eu quero ser visto. Como escolher quem serão as pessoas que vão me conhecer por completo e quem vai conhecer apenas aquilo que eu quero mostrar.

— Então se esse episódio no seu passado não tivesse acontecido você seria diferente de quem você é?

— Eu duvido. Se não fosse o anuário, seria algum outro acontecimento. Eu teria que crescer em alguma hora.

— Muito bom. - Eu ando entre as cadeiras. - Então foi a sua decisão que mudou o seu futuro. Uma decisão impulsionada por um acontecimento. E que tipo de decisão muda o futuro?

— Grandes decisões. - Respondeu o Lucas.

— Qualquer decisão. - Rebateu a Maya.

— Por que grandes decisões, Friar? - Perguntei

— Porque a gente faz milhões de decisões. Eu decidi usar calça jeans hoje de manhã, e duvido que isso vá mudar alguma coisa.

— Mas se tivesse um incêndio aqui na escola hoje, você se queimaria menos porque está de calça jeans, e o quanto o fogo consegue te atingir pode determinar sua sobrevivência.

— Quem concorda com a senhorita Hunter? - Ela sorriu ao ouvir o sobrenome.

Algumas mãos se levantaram, mas outras - poucas - permaneceram abaixadas.

— Então vou trazer um situação aqui, e quem achar que isso poderia mudar a história e até o mundo, levanta a mão. Está bem. - Os alunos assentiram e eu continuei. - Em 1955, um homem italiano toma uma grande decisão. Ele era vendedor, e decidiu ter o próprio negócio, vendendo roupas coloridas. Ele então investe nessa decisão. Ele compra um máquina de costura, faz pesquisa de mercado e começa a vender o próprio produto. Isso mudou a história? 

Várias mãos se levantaram.

— Isso mudou a história dele. Mas essa decisão não mudou a história. - Alguns soaram decepcionados. - Então, vamos continuar na Itália e na mesma família, mas dez anos depois. Em 1965 a irmã daquele homem decide tricotar uma blusa colorida. Isso mudou a história?

Poucas pessoas levantaram as mãos novamente. Maya, Farkle e mais quatro alunos. Eu os observei, ansiosos, esperando a resposta. Peguei o tablet que eu havia deixado sobre a mesa, o desbloqueei na página que eu havia deixado preparada e sentei na mesa para ler o texto.

— Em 1965, Giuliana Benetton decidiu tricotar uma blusa de cores fortes para o pequeno negócio de seu irmão, a peça fez sucesso e a tornou sócia de seu irmão na Benetton. Na época a empresa influenciou fortemente a moda, por suas cores vibrantes e linhas caseiras. Hoje a empresa influencia fortemente a economia. A Benetton é uma cadeira mundial de varejo com 5 mil lojas em 120 países. A empresa emprega mais de 10 mil pessoas e fatura cerca de um bilhão de euros por ano.

Os alunos soaram decepcionados por não terem acertado. 

— Quais decisões do passado te colocaram onde estão hoje? Quais decisões precisam tomar para mudar isso? Quais decisão vocês estão evitando tomar por medo das consequências? Quais pessoas estão influenciando as suas decisões? Ou o que está influenciando as suas decisões? - Era possível ver que estavam refletindo sobre aquelas perguntas. - Vocês pensam nas consequências antes de tomar decisões? Ou então… O que vocês estão esperando acontecer para tomar as decisões que já sabem que terão de tomar?

Eu poderia continuar propondo reflexões, mas olhei meu relógio e vi que estava perto do sinal tocar, então decidi passar a atividade para a semana seguinte. Caminhei até o quadro e apontei para o que eu tinha escrito ali.

— Eu quero que façam uma redação sobre a influência do passado no presente. Identifiquem um evento histórico que ainda tenha repercussões nos dias atuais. Dissertem a respeito. Me convençam que o acontecimento escolhido influencia o presente e até o futuro. Me mostrem como seria diferente o presente se não tivesse acontecido. E sejam criativo na escolha do evento histórico. Não sejam óbvios escolhendo as grandes guerras ou revoluções. As pequenas decisões também mudam a história.

O sinal tocou. Eles começaram a se levantar, alguns ainda anotavam a atividade.

— É para a próxima aula. Em cima da minha mesa antes de começarmos a aula. Não vou estabelecer padrões - se é para ser manual ou impresso, nem quantas linhas ou páginas. - E aumentei o volume da voz para falar a última parte - E vai valer nota.

Alguns murmúrios foram ouvidos antes que começassem a deixar a sala.

 

POV Lucas

A aula do Matthews tinha esse poder de me fazer refletir sobre a minha própria vida, mas a de hoje tinha me atingido de um modo especial. Deixei a sala depois de anotar sobre a redação. Caminhei pelos corredores pensando nas perguntas que Cory havia nos feito. Quais decisões do passado te colocaram onde estão hoje? 

Eu continuei resto do dia pensando sobre aquilo. Quais decisões me colocaram onde eu estou? Eu pensei sobre elas? Ou simplesmente agi impulsivamente? Durante todas as aulas do dia, durante o treino, durante o almoço, eu só pensava naquilo.

Depois da aula fui com Farkle e Zay ao Topanga’s, precisávamos trabalhar numa atividade em grupo de biologia. Pedimos sucos e nos sentamos onde sempre sentávamos. Mas acabamos falando sobre a aula de história antes de começarmos a atividade.

— Caras, a aula hoje me pegou em cheio. - Confessei aos meus amigos. - Eu não consigo parar de pensar nas minhas decisões.

— Que bom. - Farkle disse sem emoção. - Você tá precisando mesmo pensar nas suas atitudes.

Ele estava certo. Eu sabia que ele estava certo. E eu concordei com ele.

— É, eu precisava mesmo. Eu preciso crescer. Parar de ser levado pelas situações e emoções. Tomar o controle. Me redimir com vocês. Com as meninas. Me reposicionar.

O assunto evoluiu. Continuamos falando disso. Farkle falou sobre as próprias decisões. Zay falou sobre as próprias decisões.

— Eu me arrependo de ter dado em cima da Maya, quando você estava com a Riley. - Meu amigo confessou enquanto falava das próprias decisões do passado.

— Vocês nunca seriam um casal. A Maya não teria te escolhido. - Farkle disse meio rindo tentando amenizar a dor da sinceridade.

Eu pensei um pouco a respeito. Eu sempre imaginei que Maya acabaria comigo. Mesmo que eu nunca tivesse admitido em voz alta. Continuei a falar, no espírito de transparência que estava fluindo ali.

— Eu sempre achei que Maya precisava estar com alguém que fosse… - Antes de terminar a frase eu fui interrompido.

— Eu! - A voz de Josh soou atrás de mim e eu me arrependi de ter continuado o assunto.

Antes que eu respondesse, ou até mesmo me virasse Maya entrou na lanchonete. Escutei a porta antes de me virar. 

Josh estava visivelmente irritado e Maya, ao seu lado, completamente natural não havia escutado o que o namorado escutou. 

— Você pegou o assunto pela metade, Josh. - Eu disse querendo me justificar.

Ele não se deu ao trabalho de responder. Saiu pela porta, sendo seguido pela Maya.

— Comecei bem o meu reposicionamento. - Disse lamentando o que se passara e Farkle apenas assentiu dizendo que tudo ficaria bem logo.

POV Josh

Eu fiquei bravo com o que havia escutado. Mas não contei para Maya. Disse que conversaria com ela depois que eu me acalmasse. A deixei em casa antes de ir para o hospital. Era a minha noite de ficar com a Riley.

Fui caminhando ao hospital, cheguei em alguns minutos. Shawn estava com ela, Katy já havia ido pra casa. Disse que Maya estava em casa com Katy e ele pareceu satisfeito. Disse ainda que passaria no hospital de manhã para me dar carona para a faculdade. Agradeci e ele se despediu de Riley e foi embora.

— E aí, sobrinha? - Eu perguntei assim que ele deixou o quarto. - O que tem de bom para fazer por aqui?

Ela riu sem achar graça e me apontou a televisão.

— A sua vida anda bem difícil, hein?! - Eu disse e sentei ao seu lado.

Riley repousou a cabeça em meu ombro e assistimos juntos à um filme. Era um suspense sobre escalada que a deixou bem ansiosa. Ela respirava fundo e apertava meu braço quando ficava mais tensa. 

— Eu odeio esses filmes. - Ela declarou quando as propagandas começaram.

— Podemos desligar a televisão, ou colocar outra coisa para assistirmos. 

— De jeito nenhum! - Ela protestou. - Eu quero saber como termina.

Eu ri de sua insistência. Combinava com a Riley. A persistência, a força, o sacrifício caiam bem sobre seus ombros.

A noite com ela foi tranquila e divertida, quase terapêutica. Era tudo o que eu precisava. A Riley tinha esse poder de deixar todos bem ao seu redor. Ela era essa luz brilhante. Sempre havia sido.

POV Topanga

A manhã de sexta-feira começou ensolarada e animada. Auggie me acordou entrando no quarto saltitante.

— Acorda, mamãe. Acorda! - Ele gritava enquanto pulava na cama.

Cory ria enquanto se levantava.

— Hoje é dia de visitar a Riley. - Ele estava animado, eu havia prometido que ele poderia faltar para visitar a irmã no hospital. - Vamos, mamãe, levante! Vamos visitar a Riley.

Me sentei na cama ainda acordando.

— Vá tomar banho, querido. - Disse para Auggie e ele saiu correndo do quarto.

Tomei um banho rápido e fui preparar o café da manhã, estava tirando os mistos quentes da sanduicheira quando Auggie entrou animado na cozinha. Cory já devia ter saído do banho também, já que eu não ouvia o chuveiro ligado. 

Auggie estava terminando de comer seu misto, quando Cory chegou na cozinha. Ele estava prestes a apressar o pai, quando eu o interrompi.

— Querido, por que não pega algumas coisas para levarmos pra Riley. 

Auggie então saiu em disparada para o quarto da irmã enquanto, Cory se sentava para tomar o café da manhã. 

— Vou ajudá-lo. - Disse avisando ao meu marido antes fazer o mesmo caminho que meu filho havia feito.

Peguei a mochila da minha filha e a abri entrando no quarto. Auggie colecionava ursos de pelúcia em cima da cama. 

— Meu bem, ela precisa de coisas mais urgentes. - Disse-lhe achando graça. - Escolha um livro ao alguns quadrinhos para ela. 

Enquanto Auggie vasculhava entre os livros da Riley, fui ao closet para pegar algumas roupas para ela. Roupas íntimas e roupas confortáveis. Ela teria alta em breve, provavelmente no sábado, então peguei poucas roupas. Coloquei tudo na mochila. Coloquei ainda sua bota favorita para quando ela deixasse o hospital. Guardei uns quadrinhos que Auggie havia escolhido para a irmã. 

Mandei Auggie guardar a bagunça que havia feito mexendo entre os quadrinhos e livros da irmã. Aproveitei o tempo em que ele estava ocupado para pegar guloseimas para Riley - peguei bolinhos, biscoitos e salgadinhos nos armários - e guardei em outra mochila, que tinha o notebook dela com carregador e fones de ouvido.

Rapidamente Auggie surgiu empolgado e deixamos a casa, junto com Cory. Ele nos deixou no hospital, mas não desceu do carro - pois daria aula no primeiro horário e estava com o horário apertado. Josh, que já havia sido avisado estava esperando pelo irmão do lado de fora. O beijei na testa antes que ele entrasse no carro e me despedi deles, seguindo meu filho que correu para a recepção.


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