Contos Hiccstrid escrita por LauraClarimond


Capítulo 4
O nascer de uma nova vida




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O nascer de uma nova vida

Parte um - A vingança de uma guerreira

Há alguns anos atrás, eu me encontrava fugindo para dentro de uma floresta, sem saber qual rumo iria tomar. Atrás de mim um pouco distante, a fumaça que emanava do meu pequeno vilarejo, alcançava o céu, escura e assustadora.

O local onde nasci e cresci fora completamente destruído a mando do governador, um homem sem um pingo de piedade dentro de seu corpo, acabamos perdendo tudo pois não podíamos pagar os altos tributos que nos eram cobrados, na hora do ataque, eu fui a única que consegui escapar, era para escaparmos todos juntos como eu e meus pais havíamos planejado, naquele momento não poderíamos ser expulsos do reino. Não teríamos para onde ir e minha mãe grávida, não conseguiria passar dias viajando para outro reino.

Mas o governador chegou com o dobro sua tropa habitual e atacou a todos, ele não os expulsou como era para ser, ele os matou, inclusive meus pais e meu futuro irmão ou irmã, eu não consegui me despedir deles, quinze anos se dedicando a me criar da melhor maneira que eles conseguiram, e em pouquíssimo tempo, tiveram suas vidas tiradas da pior forma possível, mas eu retribuiria de alguma forma, eu os vingaria.

O ódio que sentia por aquele homem, me alimentaram durante muito tempo e agora depois de quatro anos planejando cada mínimo detalhe, estava me dirigindo ao castelo do rei, onde todos inclusive o governador, estariam comemorando o vigésimo aniversário do príncipe. Era uma grande festa, e com certeza estaria lotada já que assim como os nobres foram convidados os plebeus também estariam presentes.

Minha vida ao longo desse tempo não foi nada fácil, por estar crescendo sozinha, tive que aprender a me defender, trabalhei duro cada dia para conseguir um pouco de dinheiro porque sabia que iria precisar dele, não gastei quase nada na época, passei dias com fome, mas tudo fazia parte do meu plano, eu sabia que para conseguir chegar perto do governador, não poderia parecer uma simples plebeia, então investi tudo que pude para não parecer com uma no grande dia.

Trabalhei por mais de um ano no vestido que iria usar essa noite, costurando ele pouco a pouco as escondidas na casa da senhoria em que eu trabalhava, muitas vezes escolhi ficar com fome para poder comprar uma peça de tecido, mas tudo o que fiz por todo esse tempo foi para me preparar para hoje, Finalmente tinha chegado a esperada hora.

Agora me encontrava nas escadarias do castelo, dele emana uma linda música, alguns altamente vestidos o que pareciam ser os nobres e outros com vestes inferiores aparentavam ser os plebeus, porém todos se encaminhavam para o grande castelo. Assim que entrei não pude evitar ficar de boca aberta para tudo que estava na minha frente. Era lindo, até hoje ainda moro na floresta e ver todo este luxo presente na minha frente é completamente hipnotizante. Algumas pessoas me olhavam, deveriam pensar que eu era uma duquesa talvez, Já que o vestido que estou usando, foi inspirado no da Duquesa de Halldor. Quando ela veio ao reino cerca de três anos atrás a vi descendo o navio com um majestoso vestido, então fiz o que pude para deixar o mais parecido possível.

Depois da minha pequena distração com aquele lugar, comecei a procurar pelo governador. Era para isto que eu estava lá. Tinha que ficar focada. Percorri alguns corredores, até chegar ao grande salão onde estava localizado o centro da festa. As pessoas dançavam em sincronia, minha mãe me ensinou um pouco de dança quando era mais nova, nada parecido com o que estou presenciando, foram apenas alguns simples passos, mas já me esqueci da última vez que dancei.

Fiquei perto de onde se servem as comidas feitas, o cheiro me deixava louca, não sabia o que era uma boa refeição a anos atrás. Escolhi ficar naquele lugar propositalmente, pois sabia que o governador era um homem que via a gula antes de tudo em sua vida e sabia que em algum momento ele iria aparecer. E assim poderia colocar o que tinha planejado em prática

Quando eu menos espero sinto uma respiração atrás de mim, e logo depois uma voz falou ao meu ouvido.

— Milady, me concede está dança? - Perguntou

Quando me virei para ver quem era, me deparei com lindos olhos verdes, que com certeza tiraram o ar que estava dentro dos meus pulmões. Ele sorriu para mim, senti minhas mãos ficarem suadas em poucos segundos '' O que está acontecendo comigo ? '' Pensei. Eu não posso me distrair.

—Obrigada pelo convite, mas eu terei que recursar – Fiquei impressionada ao responder com a voz mais delicada que já falei em toda minha vida, eu geralmente era grossa com todos que cruzavam meu caminho.

Voltei a ficar de costa para o estranho, que rapidamente se dirigiu para ficar na minha frente.

—Por que recusou ? - Perguntou, parecendo estar surpreso com minha resposta

Fiquei surpresa por ele estar insistindo quando eu claramente já tinha recusado

—Nunca lhe disseram um não em sua vida ?

—Na verdade não. E você tecnicamente não me disse ''Não'' - Respondeu com o sorriso um pouco malicioso em seu rosto.

—Então, este é o seu primeiro não! - Respondi elevando um pouco minha voz

—Tudo bem. Aproveite bem a festa milady – Disse gesticulando com a cabeça

Assim que ele saiu, percebi estava prendendo a respiração, acho que em todos estes anos, nunca foi tão difícil dizer a palavra ''não''. Se tudo fosse diferente eu com certeza diria sim, mas tenho certeza que se ele soubesse que eu era apenas uma simples plebeia, nem teria olhado para mim.

—Iria tentar chama-la para dançar, mas você recusou dançar com o príncipe, imagina dançar comigo.

Reconheci aquela voz. Uma rajada de vento frio parecia que havia passado por mim, todo meu corpo se arrepiou. Me virei já sabendo quem eu encontraria, tive que me conter o máximo que pude para não mata-lo naquele instante. E depois de quatros anos, eu estava cara a cara com o homem que acabou com a minha vida. Quando notei que ele olhava para mim, parecendo esperar uma resposta, voltei a lembrar do que tinha me falado, e percebi segundos depois, que eu tinha recusado o ''príncipe''. Tentei não pensar no fato de que o príncipe tinha me chamado para dançar e o quão ele era bonito e o quanto eu queria ter dito sim e voltei a me focar na coisa que estava na minha frente.

—O príncipe é só um filhinho mimado, não lutou para ter tudo o que tem hoje. Não como o senhor governador, que luta tão bravamente para sempre conseguir o que quer. - Falei me aproximando dele. Não poderia deixar a única chance que tive até agora escapar.

Ele sorriu para mim, sabia que ele gostaria do que eu falasse se fosse algo ruim sobre o príncipe. Muitas pessoas sabiam do desentendimento entre o governador e a realeza, mas ninguém nunca soube o motivo e nem o porque dele ainda ser o governador.

—Então, Gostaria de dançar comigo senhorita ? - Perguntou ficando mais próximo a mim e estendendo sua mão.

—Não sou uma boa dançarina, mas será um prazer – Respondi segurando sua mão e fazendo uma reverência a ele

Seguimos para a pista de dança, as pessoas começaram a nos olhar e logo os baixos sussurros percorreram por todo o salão. Estava sentindo raiva e nojo ao mesmo tempo por estar dançando com ele, mas não poderia deixar transparecer absolutamente nada. Precisava demostrar que estava completamente interessada nele. Depois de começarmos a dançar percebi que o governador conseguia ser um pior dançarino que eu.

Em questão de segundos depois, fomos parados por uma pessoa repentinamente

—Irei dançar com a milady agora governador – Falou o príncipe ao meu lado

O governador com a cara de poucos amigos, saiu deixando nós dois, o príncipe fez uma reverencia a mim, e eu em educação também fiz e logo depois ele começou a nos conduzir na dança. O agradeci e o odiei internamente por me ajudar e atrapalhar ao mesmo tempo.

—Preferiu dançar com aquele homem desprezível a dançar comigo – Falou ao meu ouvido enquanto ele me guiava.

—Desculpe por telo recusado alteza, não o conhecia - Respondi

—Agora sabe quem eu sou. - Olhou para mim e completou – Desculpe ter insistido, apenas fiquei surpreso por ter recusado, nenhuma tinha dito ''não ainda'' e meu pai me abrigou a dançar com todas as senhoritas presente hoje.

Saber que ele apenas estava dançando comigo por obrigação me deixou triste.

—Bom, então é melhor vossa alteza dançar com outra, a muitas aqui esta noite- Falei parando a dança e me afastando dele novamente.

—Não quero parar de dançar - Disse me puxando voltando a me conduzir - Me responda uma coisa ? Por que me disse não, sou tão feio assim – Concluiu com um tom sarcástico

—Não, vossa alteza não é feio. Apenas... - Nesse momento ele me girou fazendo com que atrapalhasse o que estava falando – não queria aceitar – Terminei

—Por que não ? - Insistiu

—Por que disse que o governador é um homem desprezível ? - Perguntei de volta tentando mudar o assunto e também porque estava curiosa

—Eu perguntei primeiro milady - Respondeu

Eu revirei os olhos com sua resposta.

—Não dançaria com você, simplesmente por não querer dançar com você, não é assim tão irresistível quanto pensa vossa majestade - Retruquei

—Não sou, não é ? - Perguntou e logo depois disse - Mas não parece que realmente acha isso.

—Por que, vossa majestade ? - Perguntei

—Está corada. - Respondeu ao meu ouvido

Eu desviei meu olhar do dele, ''Droga'' pensei. Quando ele me girou novamente pude ver o governador ao longe nos encarando, talvez esperando o fim da música para assim dançar comigo. Eu estava deixando ser distraída e logo pelo príncipe ''Burra, ele só está dançando com você por obrigação'' lembrei. Tinha que voltar ao meu plano.

—Com todo o respeito, mas Vossa alteza não me respondeu, por que o governador é um homem desprezível ? Ele é amado e idolatrado pelo povo do reino

''Não pelo povo dos vilarejos'' Pensei. Quando voltamos a olhar um nos olhos do outro percebi que sua feição parecia ter mudado, o sorriso tinha saído de seu lábio.

—Apenas não se aproxime do governador, sei o quão ruim aquele homem pode ser com uma mulher. Não a gostaria de ver machucada. E acredite que se dependesse apenas de mim, este homem já teria sido expulso a muito tempo ou poderia estar morto.

Fiquei surpresa com sua resposta. Não sabia exatamente ao que ele se referia sobre o governador, mas pelo visto, a lista de ruindade dele é maior do que pensava.

—Não me conhece alteza, mas saiba que sei cuidar de mim mesma, mas agradeço pelo alerta que está me dando. Mas sei o que estou fazendo – O agradeci.

Mais uma vez pude ver se sorriso, estava ficando cada vez mais hipnotizada por ele.

—Ai está. Então tem um verdadeiro motivo por não querer dançar comigo. Estou certo ? - Perguntou

Percebendo que a música já estava acabando. Fiquei ainda mais vermelha ao perceber que todos estavam olhando para o príncipe dançando comigo, uma salva de palmas se seguiu enquanto agradecíamos. Fiz uma pequena revência a ele e respondi

—Foi um prazer dançar com vossa majestade – Falei me virando para voltar ao primeiro local onde havia encontrado o governador

E quando já estava me afastando senti uma mão me puxando de leve e perguntando

—Não me disse qual é o seu nome milady ? - Disse o príncipe enquanto segurava minha mão

—Você não me perguntou, mas já lhe respondendo meu nome é Astrid, Astrid Hofferson. - Respondi – E príncipe, Feliz Aniversário - Disse e logo depois ele levantou minha mão até seu lábio e a beijou levemente.

—O prazer foi meu, Astrid Hofferson. Espero nos vermos até o fim da festa – Falou dando um beijo em minha bochecha e saindo em seguida para cumprimentar outras pessoas.

Sai daquele lugar o mais rápido que pude '' Ele me beijou'' ''Na Bochecha, mas beijou'' Pensava. ''Droga, fui me distrair logo pelo príncipe '' Olhei para trás e vi um sorriso em seus lábios, aquilo me deixou envergonhada ''será que ele gostou de mim ? '' continuei a pensar, mas a lembrança do motivo pelo qual eu estava naquela festa regressou a minha memória.

Voltei a procurar pelo governador, tentei novamente a mesa em que o banquete estava, mas ele não se encontrava lá, andei por todo o salão, porém nenhuma sombra dele. Estava cansada de tanto andar, e o saltos que estou usando só pioram o cansaço.

Andei pelo corredor que levava ao jardim e ouvi uma voz atrás de mim

—O príncipe parece que gostou de você, bom mas quem não gostaria. - Disse se aproximando

—Nem acredito que tive de aturar ele, e ainda atrapalhou nossa dança – Depois que falei um sorriso se formou no rosto do governador

—É minha querida, tenho sempre que aturar aquele ''mimado'' como você mesma disse – Falou se aproximando de ao ponto de meu corpo está colado com o dele e segurando na minha cintura acrescentou – Quer andar um pouco pelo jardim comigo ?

—Será um prazer compartilhar da sua companhia governador– Respondi com o sorriso mais falso que pude extrair de mim naquele momento

Começamos então a caminhar, durante o percurso, o governador ficou falando por um bom tempo o quão era um bom soldado, de quando ele defendeu o reino dos invasores, das honras que tinha recebido por seu trabalho e que agora como o grande governador não merecia o pouco reconhecimento que tinha por parte da realeza, falava deles com nojo, quase que cuspindo.

Paramos em frente a uma pequena fonte localiza no meio do jardim, a água parada refletia o belo céu que estava sobre nossa cabeça. Era uma noite perfeita, era a noite perfeita. Continuei a ouvir as lamurias do governador sobre a família real e eu já estava me cansando daquilo, estava perto de concluir os quatros anos de planejamento que havia feito, essa era a hora.

—Você deveria ser o rei, digo não nascido daquela família, mas pense governador todos do reino o idolatram, eu embora não pertença a este lugar o admiro muito. Imagine o quão prazeroso seria tomar aquilo que na verdade lhe pertence – Falei me aproximando ainda mais dele

—Você aparenta ser bem jovem querida, mas bastante inteligente. E muito linda, na realidade uma verdadeira tentação, seus olhos azuis a fazem parece ser tão inocente. Gosto disso – Falou ao meu ouvido – De que reino você veio e qual seu nome querida ? - Perguntou acariciando meu rosto

—Astrid Hofferson – Respondi com um sorriso no rosto

—Hofferson, esse nome não me é estranho -Respondeu

—Não, não é - Falei em forma de sussurro chegando bem perto de seus lábios, quase o beijando -Sou do vilarejo de Slevik. A quatro anos você destruiu meu vilarejo e matou meus pais e meu futuro irmão ou irmã– disse em seus ouvidos, logo em seguida enfiando a faca que tinha retirado do compartimento secreto que havia colocado em meu vestido

—Isso foi por tudo que você tirou de mim – Falei olhando agora dentro dos seus olhos enquanto cravava a faca ainda mais fundo dentro dele.

O sangue começou a escorrer do corpo que caia ao chão, rubro e espesso, meu vestido que trabalhei por tanto tempo, agora estava completamente manchado, não sei como definir qual sentimento exatamente estava vivenciando naquele momento. Mas não parecia com alivio ou felicidade por o ter matado.

Enquanto fiquei ao seu lado assistindo sua morte, da mesma forma em que ele fez com meus pais, pude ouvir gritos ao fundo e uma voz ao longe gritava

—Prendam-na, ela matou o governador!

Continua... 


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