Psi-Cullen (Sunset - pôr-do-sol) escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 26
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

~o julgamento pt 1



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11 de novembro de 2007

Hoje foi marcada a audiência de julgamento de meu pai. Todos estavam lá, quando digo todos quero dizer que todos da minha família humana estavam lá. Queria ter podido apresentar Esme de outra forma para minha mãe, mas as duas se conheceram por causa daquele incidente. Todos estavam lá, minha mãe e meus irmãos vieram, eles logo desviaram o olhar assim que me viram entrar ao lado de meus pais adotivos, que são para mim muito mais do que apenas adotivos. Eles sim me querem e por isso os considero como meus pais de verdade.

Esme e Carlisle pareciam estar mesmo muito calmos com toda a situação, é claro essa não é a primeira vez que ficam perante um juiz. Eles já estiveram em um tribunal antes, um tribunal muito mais solene do que o tribunal humano. E quando os Volturi foram julgá-los já os tinham quase que condenado de antemão mesmo sem ouvir o que eles teriam a dizer em sua defesa. Lá eles eram os réus e aqui não são. Isso também deve contribuir muito para a postura relaxada dos dois. Não tão relaxada, mas calma sem faltar com o devido respeito à situação.

O advogado nos instruiu antes de irmos ao julgamento, mas é claro que isso não foi o suficiente para me deixar tranquila. Meus pais podem já ter participado, mas eu nunca antes na vida passei por uma ocasião assim tão solene. A atmosfera é tão densa que a tensão é quase palpável.

— Fique calma, sweetie— Esme segura a minha mão. – Ninguém vai lhe fazer mal, querida. Vai dar tudo certo.

— Diga apenas o que lhe perguntarem, não precisa ter medo – diz Carlisle tentando ajudar a esposa a me acalmar.

Primeiro foi escolhido o corpo de jurados para julgarem esse caso e depois meus pais adotivos e minha mãe humana depuseram.

Carlisle mostrou as fotografias de meu corpo machucado:

— Esses foram os ferimentos com que a garota chegou no hospital quando foi atendida por mim. Tirei fotos obviamente porque os hematomas iriam desaparecer com o processo natural de recuperação da pele...

Minha mãe sabe que ela também poderia estar sendo julgada agora e só não está porque precisa cuidar de meus irmãos. Fico imaginando como estão as coisas lá em casa agora que eu não estou mais lá. Quem faz as coisas agora, como lavar a louça e a roupa? Provavelmente deixam tudo para minha mãe. Os meninos nunca ajudaram em nada. Ou será que agora eles ajudam e fazem alguma coisa? Devem fazer porque minha mãe tem de trabalhar fora também, provavelmente como diarista, agora que meu pai está preso e não os sustenta mais com seu salário.

Ele nunca gostou disso, nós, os filhos eram sempre ‘seus filhos’ ele falava para ela, filhos da mãe apenas, não deles dois. Como se ela apenas nos criou do nada sem ajuda dele. Se a mulher pudesse ter um filho apenas por vontade própria e não precisasse da outra metade do homem não precisava casar...

Por isso eu sempre me senti mutilada, não fisicamente, mas mentalmente. Como se eu fosse apenas ‘querida’ pela minha mãe e odiada pelo meu pai. Como se ela pudesse gostar de mim para compensar o fato de meu pai me desprezar. Não podia. Ela mal podia compensar por si mesma. O afeto não pode ser transferido. Ou os dois pais gostam ou não. Apenas um, não é suficiente.

Acho que para ela, ter perdido a minha guarda já é uma punição suficiente e com razão. Às vezes, eu, Esme e Carlisle vamos visitá-la. Mas apenas a perda da guarda é suficiente. Meu pai nunca bateu nos meus irmãos, alias, só batia em mim por que sabia que eu ia apanhar e ficar quieta e jamais iria poder revidar de alguma forma. Agora eu estou revidando, ele não esperava que eu fosse capaz, mas estou mostrando para ele que mexeu com a pessoa errada.

Meus irmãos também faziam de propósito para me ferrar. Sabiam que eu iria apanhar e faziam ou não faziam as coisas mais precisamente, de propósito para me prejudicar. Eles também não são inocentes do meu sangue derramado. Éramos crianças, eu sei, mas a crueldade de fazer outra pessoa sofrer não é perdoável. Criança ou não a crueldade foi tão vil quanto. Isso não os redime.

Acho que meu pai não batia em meus irmãos porque sabia que eles iriam crescer e poderiam retribuir e eu não. Ele era tão mesquinho e covarde e injusto! Não gosto de ser tratada injustamente, e eu sei o que é justiça e o que eu mereço por ser como eu sou. Esme e Carlisle me tratam assim como eu sempre imaginei que merecia, não sou uma moleca, sou uma garota bem-comportada. Era injusto a forma como meus pais me tratavam antes.

Mas se eu me tornar uma vampira, o que provavelmente acontecerá, eu não vou desistir nem me acovardar, eu poderia retornar todo o mal que ele me fez pensando estar fazendo bem para mim, tudo em nome da educação. Eu fui destruída, isso sim, e isso eu jamais vou esquecer. As surras que ele me dava jamais poderiam ser consideradas um gesto de afeto, nunca. Se ele tinha afeto era somente para si mesmo e nada para os outros. Ele sim era uma pedra. Pois quem ama não agride o outro fisicamente.

Eu penso que isso só comprova quanta raiva ele tinha de mim. Não sei exatamente o motivo. Ele nunca gostou de mim um pouquinho que fosse, sempre me insultava de ‘estrume’, ‘monte de merda’, ‘estropício’, ‘cabeça-de-bagre’, nunca me chamava pelo nome, eu me sentia horrível. Ao menos ele sempre deixou bem claro quanto me desprezava, que eu não deveria ter nascido. Eu sempre me esforcei para agradar, mas nunca consegui. Ele já havia decidido e nada do que eu fizesse seria capaz de fazê-lo mudar de ideia. Eu jamais vou perdoá-lo por ter roubado de mim não apenas minha infância, mas o direito de eu ter um pai.

Isso também é um pouco culpa da minha mãe que fez uma péssima escolha e agora nós três, os filhos, vamos ter essa marca para sempre em nossa alma. Talvez para mim seja mais forte do que para meus irmãos, eles nem parecem sentir essa falta, esse vazio no peito. É um buraco, uma cicatriz aberta e sangrando que dói como um machucado no corpo. Não é visível, mas dói.

Se ele gostasse de mim não me batia como fazia, pois eu sou parte dele. É como se ele não gostasse de si mesmo. Ele me mandava parar de chorar mas eu não podia e ele me batia ainda mais. Nunca vou perdoá-lo, as marcas do que ele me fez vão ficar em mim para sempre. As marcas físicas podem desaparecer, mas as cicatrizes espirituais não são tão fáceis de curar como aquelas no corpo. Vou dar muito trabalho para meus novos pais, não queria e sinto muito por isso, mas eu sou assim ainda. Depois que eles me consertarem tenho certeza que poderei ser a melhor filha que eles poderiam ter.

Eu vou me esforçar para superar isso e separar muito bem o que eu vivi com o que está acontecendo agora. Embora o passado vá sempre estar presente nos assombrando. Principalmente a mim. Sou quem eu sou, desse jeito, em grande medida devido ao que aconteceu em meu passado.

O passado não pode ser mudado, mas o presente e o futuro estão em nossas mãos. 

...XXX...


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