E se fosse diferente...? escrita por Klara Valdez


Capítulo 2
Capitulo 2




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Eu estava sentada no meu beliche no chalé de Atena. Eu estava exausta e mil coisas passavam pela minha cabeça ao mesmo tempo. Eu tinha ido acompanhar o chalé de Ares e Afrodite na queima da mortalha de Silena, vi também a queima da mortalha de Ethan Nakamura. Logo depois, vim pra cá. Todos estão comendo nesse momento, mas eu estou sem fome. Eu queria pensar nos meus projetos, na guerra, nas perdas, mas minha cabeça sempre parava em Percy.
Por que ele fez isso? Entendo que sendo um deus você pode fazer mais coisas, você tem mais poder, você é imortal. Mas... Percy? Eu não esperava isso dele. Pensei que o conhecesse, achei que soubesse quem ele era nesses 4 anos convivendo juntos. Mas eu estava enganada. Eu não conhecia o filho de Poseidon, ele não é quem eu pensei que fosse. Ele, no final, só queria ser mais um deles.
Talvez eu esteja sendo egoísta, porque, quem recusaria essa oportunidade única de ser um deus? Eu. Eu recusaria. Sabe porque? Porque eu pensaria nele, saberia que se eu aceitasse eu estaria o deixando pra trás. E eu nunca faria isso! Mas foi o que ele fez comigo. Não ligou para os meus sentimentos.
Queria poder dizer que depois disso o que eu sentia por ele se foi, mas eu sei que é mentira. Porque a verdade é que eu amo esse idiota e agora eu estou sofrendo por ele, e o pior é que eu sei que ele nem liga.
Senti meus olhos marejarem e uma lágrima rolou do meu olho esquerdo.
Eu odeio chorar.
Gritei de raiva, agarrei meu travesseiro e joguei ele contra a parede. As lágrimas não estavam mais sob o meu controle e saiam uma atrás da outra, mas eu não tentei impedir, eu estava sozinha mesmo.
Aos poucos as lágrimas foram parando e eu fui deitando na cama. Quando as lágrimas secaram, enxerguei o bolinho com cobertura azul, que eu e Tyson fizemos ontem, no meu criado-mudo. Eu o peguei e provei a cobertura, tinha gosto de açúcar. Me levantei e sai do chalé com o bolinho na mão. Fui até o chalé 3 e abri a porta. Não tinha ninguém.
Eu jogaria o bolinho fora, mas não era justo com Tyson, ele tinha se esforçado tanto pra fazer. Deixei o bolinho na cama de Percy e escrevi um bilhete com a minha pior letra.
"Para o meu irmão mais velho. ~Tyson"
Sem querer, deixei uma lágrima cair no papel. Deixei o bilhete do lado do bolinho e sai do chalé voltando para o meu.
Tudo que eu queria agora era descansar e não pensar em nada.
***
Eu só queria dormir, mas é óbvio que a minha linda cabecinha tinha que sonhar.
Eu estava num campo aberto com um gramado aparado, o céu estava escuro e a lua brilhava cheia no céu. Um típico cenário de historia grega.
Eu pensei estar sozinha, mas atrás de mim, à alguns metros, havia uma corça. Mas não qualquer corça, ela tinha chifres de ouro e patas de bronze. Eu conhecia essa corça, só não sabia de onde.
Ela olhava pra mim com um jeito curioso, ela corre ate mim numa velocidade incrível. Seu focinho toca a ponta de um dos meus dedos e logo depois ela sai correndo para o outro lado do campo. A corça olha para a lua e uma garotinha ruiva aparece andando até ela. A garota olha pra mim e sorri, depois as duas somem na escuridão da noite.
***
Acordo e percebo que ainda está escuro. Meus irmão estavam em suas camas. Eu não iria conseguir dormir de novo nem tão cedo.
Eu precisava falar com meu pai sobre ficar em Nova York, para supervisionar a reforma no Olimpo, precisava convence-lo de eu poder estudar num internato perto do Olimpo. Seria muito mais fácil pra mim ficar perto dele... Quando quero dizer dele, é o Olimpo, ok? Eu não estava falando de Percy. Até porque, eu o quero bem longe de mim! Não tenho culpa dele morar em Nova York...
Me levantei e fui até a mesa no fundo do chalé. Peguei uns papéis e tudo que eu precisava para começar os projetos.
Não sei quanto tempo passei naquela mesa, uma ou duas horas, só sei que eu acabei dormindo ali mesmo.
...
— Annabeth — uma voz do além me chamou... Espera aí! O que? — Annabeth, acorda!
Levanto a cabeça num pulo e meus olhos doem pela luz que entra pelas janelas.
— O que tá acontecendo? — minha voz sai um pouco rouca, o que me faz tossir.
— Você dormiu aí em cima — minha irmã, Alice, fala rindo — E tá meio... - pausa para risada - tá sujo aqui — ela aponta para minha bochecha e volta a rir.
Passo a mão na minha bochecha e ela suja de grafite. Acho que eu dormi em cima de um desenho.
— Muito engraçado Ally — levanto da cadeira de mal humor e vou até o banheiro lavar o rosto. Me olho no espelho e vejo que estou horrível. Meu cabelo parecia uma juba de leão, meu rosto estava inchado, meus olhos vermelhos e o motivo da risada de Ally, na minha bochecha havia linhas paralelas e perpendiculares com algumas escrituras minhas, tudo meio manchado. Sorrio com o desenho, até que estava mesmo meio engraçado.
— Você está bem Annie? — Ally pergunta quando saio do banheiro depois de lavar o rosto e ajeitar o cabelo. Percebo que só tem nós duas no chalé.
— Cadê todo mundo? — ignoro sua pergunta. Começo a juntar os desenhos que fiz, jogo um ou dois fora. Amanhã depois do almoço temos que sair do acampamento e eu precisava arrumar minhas coisas.
— Tá todo mundo fazendo suas atividades. Você dormiu por um bom tempo. Eu estava vindo aqui para te chamar para comer, tá quase na hora do almoço. E você vai comer! Quando foi a última vez que você comeu?
— Bem... eu não lembro. Teve essa coisa da guerra e... Já é tão tarde assim?! — não imaginava que eu fosse dormir tanto. Eu me sentia bem cansada ontem e as minhas feridas ainda doíam, mas eu não era de dormir tanto.
— Eu estou morrendo de fome! — amarrei meu cabelo num rabo-de-cavalo e calcei meus tênis — Vamos?
— Claro. Mas... — ela põe suas mãos em meus ombros e me faz olhar pra ela — Você está bem?
Fiquei em silêncio e ela fez a mesma pergunta novamente.
— Por que está perguntando isso? Eu estou bem, só estou um pouco machucada, mas não é nada demais — olho pro chão torcendo para ela me largar e irmos comer.
— Eu sobe ontem na hora da janta. Quiron anunciou a recompensa de Percy, todos estão sabendo — ela me olha com pena. É inevitável, toda vez que alguém me olha assim eu sinto raiva e construo um escudo envolta de mim pra mostrar que sou forte e não preciso da compaixão de ninguém.
— Não sei o que eu tenho haver com isso. Ele que virou um deus, e não eu. Pergunta isso pra ele! — eu sei... eu me exaltei.
Me livro das suas mãos e caminho até a porta.
— Tudo bem se você não quer falar Annabeth — ela continua quando estamos do lado de fora andando até o pavilhão — mas saiba que eu estou aqui caso queira desabafar.
Alice sempre foi a minha irmã mais próxima e eu sempre contava para ela como Percy era lerdo e como eu o achava irritante e como eu gostava dos seus olhos e como eu gostava do seu abraço e como eu gostava do seu cheiro de maresia e como eu gostava dele... Sem perceber meus olhos marejam e Alice vem até mim. Ela me para e me dá um abraço. Eu não queria um abraço, até receber um. Eu apertei ela contra o meu corpo e descansei a cabeça no seu ombro. Ela sabia o que eu sentia por ele e sabia o que eu estava sentindo agora.
Eu a solto e enxugo uma lágrima que caiu.
— Eu tô melhor, tô mesmo. Se ele não liga, eu também não vou ligar — volto a caminhar.
— Não é bem assim Annabeth, você nem sabe o que ele pensa!
— Como não? Se ele ligasse para os meus sentimentos ele não teria aceitado! Ele teria recusado e pedido algo melhor! — eu andava com pressa para o pavilhão achando que quando chegássemos o assunto acabaria.
— Talvez ele não tenha pensado direito, pôde ter agido por impulso!
— Não venha defender esse idiota! Ele não foi obrigado, ele aceitou porque quis! E ainda teve a coragem de olhar pra mim antes de aceitar!
— Talvez ele só quisesse...
— ALICE, CHEGA! — percebo que já havíamos chegado no pavilhão, ela me olhava surpresa assim como todos lá presentes.
Respiro fundo e vou até a minha mesa. Me sento ao lado de Malcolm e apoio a cabeça nas minhas mãos.
— Annabeth, o que foi isso?
— Nada Malcolm, nada. Só me deixa em paz.
Algumas pessoas ainda olhavam pra mim, e entre elas, ele. Ele me olhava surpreso e confuso. Apenas lhe lancei um olhar duro e comecei a comer.
...
Eu tinha conversado com meu pai. Ele ficou bem feliz com a notícia de que eu virei uma arquiteta de verdade e deixou que eu estudasse aqui em Nova York. Foi bem mais fácil do que eu pensei.
Eu estava caminhando pelo campo de morangos e, obviamente, roubando alguns para comer. Já era fim de tarde e o céu estava alaranjado pelo pôr do sol.
— Ei Annabeth! — me viro pra trás por instinto. Lá estava ele sorrindo e correndo até mim.
Eu continuo andando como se não tivesse o visto.
— Oi. A gente não se fala desde ontem — ele começa a caminhar do meu lado. Pelo que eu sei dele, o que eu percebi não ser muito, ele não entendeu que eu não quero falar com ele.
— Hmm... É? — finjo indiferença e caminho um pouco mais rápido.
— É... Então, já tem ideias para o Olimpo? — ele não queria saber das minhas ideias, na verdade ele nunca quis. Toda vez que ele perguntava sobre arquitetura eu respondia mesmo sabendo disso, porque eu me empolgava e ele me escutava. Mas agora, eu não queria conversar.
— Aham...
— Tem certeza? Acho que você não sabe o que fazer — ele tenta me provocar. Eu simplesmente não aguentava mais escutar a sua voz.
— Claro que sei, mas sabe o que é? — eu me viro pra ele e ele estava sorrindo, achava que tinha conseguido o que queria.
— O que é então? — ele estava segurando o riso.
Eu sei que eu vou me arrepender disso, mas...
— Eu não quero falar com você! Eu não suporto mais ouvir sua voz, não suporto mais olhar pra você, não suporto mais o seu sorriso, seus olhos e seu jeito lerdo. Eu não quero mais ter que ver você na minha vida! Só... vai embora... — olho pro chão depois de ver seu sorriso murchar.
— Que brincadeira é essa? Desculpa se eu fiz alguma coisa pra você... eu não me lembro de ter feito nada — a voz dele tinha um tom de tristeza.
— Como não lembra o que fez? — eu pergunto quase sussurrando — você aceitou a proposta de Zeus, você é um deus Percy!
Eu não aguentei mais olhar pra ele, então voltei a caminhar, mas ele continuou do meu lado.
— Annie, eu aceitei porque...
— Percy, eu não quero saber! — meus olhos marejaram e eu não via mais nada na minha frente — Eu nunca imaginei que você faria isso! Eu... — eu não consegui controlar as lágrimas e elas já caiam.
— Ei sabidinha — ele segura meu rosto entre as suas mãos e limpa as minhas lágrimas com o dedão — Eu sou o mesmo de sempre, eu não mudei nada, eu...
— Pra mim você mudou. Não! Na verdade eu não sei se mudou — eu tiro suas mãos do meu rosto com força — Eu não sei se você mudou, porque eu nem sei se conheço você!
Eu saio correndo de lá e ignoro todos os gritos que ele dá atrás de mim. Corro até chegar no meu chalé.
Todos estavam ocupados passando o dia com os amigos, se despedindo aos poucos. Isso deixa meu chalé livre.
Tranco a porta e logo depois escuto batida na porta.
— Annabeth! — ele tenta abrir a porta — Annabeth, abre a porta! Eu quero falar com você! Anna... — a voz dele para de repente e consigo ouvi uma voz cochichando. Depois de um tempo, vejo pela janela, Percy ir embora chateado.
Ouço batidas na porta de novo, mas dessa vez, outra voz chama meu nome. Abro a porta e abraço Thalia com força.
— Thalia, eu falei tanta coisa, eu... — as lágrimas voltam a cair e ela me guia pra dentro do chalé. Ela senta na minha cama e me faz deitar a cabeça no seu colo. Ela fica mexendo no meu cabelo até eu me acalmar.
Eu não sabia mais o que eu queria fazer. Não sabia se queria ir atrás dele e pedir desculpa ou se eu continuava a ficar com raiva dele por ele ignorar o que eu sinto por ele. Mas eu ainda não consigo entender porque ele aceitou isso. Ele é um idiota! Agrrr! Por que eu tô chorando de novo?
Me sento ao lado dela e enxugo todas as lágrimas com raiva. Eu me odiava por ter sido tão fraca nessas últimas horas.
— Como você tá? — ela segura minha mão e olha nos meus olhos. Respirei fundo.
— Essa foi a última vez que você me viu chorar!


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Notas finais do capítulo

Um pouquinho cruel? Talvez.
Mas eu sinto em dizer que... Isso é só o começo.
Mds, eu sempre quis dizer isso :v



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