Preço do Amanhã escrita por Cristabel Fraser, Sany


Capítulo 9
Bring Me To Life


Notas iniciais do capítulo

Boa noite... A espera foi um pouquinho maior dessa vez, mas acho que o capitulo vale a pena a espera.
Sem mais delongas vamos ao capitulo.



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Como pode você ver dentro dos meus olhos,

Como se fossem portas abertas?

Levando-o até meu interior,

Onde eu me tornei tão entorpecida?

Sem uma alma, meu espírito está dormindo em algum lugar frio,

Até que você o encontre lá e o leve de volta pra casa,

(Acorde-me) Acorde meu interior,

(Não consigo acordar) Acorde meu interior,

(Salve-me) Chame meu nome e salve-me da escuridão,

(Acorde-me) Faça meu sangue correr,

(Não consigo acordar) Antes que eu me desfaça,

(Salve-me) Salve-me desse nada que me tornei,

Agora que sei o que me falta,

Você não pode simplesmente me deixar,

Respire dentro de mim e torne-me real...

...Traga-me para a vida (Eu tenho vivido uma mentira)

(Não há nada lá dentro)...

...Todo este tempo,

Eu não posso acreditar que não podia ver,

Continuei na escuridão, mas você estava ali, na minha frente...

 

(Bring Me To Life – Evanescence)

 

 

O tempo parece ter dado um salto e os meses passaram mais rápido do que poderia imaginar. O inverno, como previsto chegou com força total, trazendo com ele uma das piores tempestades de neve dos últimos anos. Em consequência disso muitas pessoas na Costura acabaram doentes. As minas não haviam parado seu funcionamento e em consequência disso muitos operários também adoeceram.

Não era segredo para ninguém que o Distrito 12 tinha desprovimento em medicamentos – assim como muitas outras coisas – então a população precisava dar seu próprio jeito. Minha mãe e Prim ajudavam, cuidando e oferecendo medicamentos naturais a todos que nos procuravam. Minha irmã visitava a Costura com frequência para verificar os mais necessitados. Peeta, realmente começou a distribuição de pães, o que sem dúvida ajudou muitas famílias que estavam com a dispensa vazia. Ele fazia isso com satisfação e recebia em troca agradecimentos de pessoas das quais nem imaginávamos.

Mas sabíamos que não era suficiente. Não havia como ajudar a todos, ainda assim, em meio ao inverno miserável que estávamos vivendo, tivemos que nos reunir em frente ao Edifício da Justiça para ver o vitorioso da 75º edição dos Jogos Vorazes.

Assim como na colheita, tínhamos que ir ver o vitorioso. A Turnê da Vitória, era um evento obrigatório para população. Naquela tarde desejei acordar doente apenas para não ter que ir até lá. Embora duvidasse que isso seria motivo suficiente para que pudesse ficar em casa. Provavelmente eu teria que estar lá de qualquer forma mesmo que em meu último suspiro. Então sem outra alternativa fiquei parada na lateral do palco montado, segurando a mão de Peeta enquanto aquele garoto discursava sem nem ao menos olhar para as duas famílias na primeira fileira. Aliás, ao citar rapidamente as baixas, fez pouco caso de Johan e Narah. Uma raiva maior da que eu vinha sentindo quis me consumir por dentro. Acabei apertando mais do que devia a mão de Peeta, que me encarou com o cenho franzido. Mas logo entendeu o porquê da pressão em sua mão.

Não compreendia como esse desalmado conseguia fazer algo assim. Na minha turnê, no ano anterior olhar para as famílias dos tributos era o mínimo que poderia fazer. Quando estive naquele palco, desejei desesperadamente que entendessem o quanto eu lamentava estar ali – quando eles desejam ver seus filhos - o quanto sentia muito por tudo aquilo. Contudo, o vitorioso daquele ano demonstrava orgulho em cada elogio a Capital – que não foram poucos, aliás – o que me fez pensar no quanto o presidente estava investindo na boa imagem do próprio governo.

Meu olhar encontrou-se com o da Sra. Kess e desejei que ela entendesse o quanto sentia muito, mesmo sabendo que não mudaria o fato de que tinha falhado com ela. Recordo que, quando chegamos dos Jogos, Peeta e eu fomos até a casa do Johan e da Narah oferecer nossas condolências. Nenhuma das duas famílias parecia nos culpar. Ainda assim, sentia a culpa me atormentar dia após dia.

De tal modo que fomos cumprimentar o vitorioso que estava acompanhado de sua mentora. Tentei parecer simpática, mas assim que o vi, a cena dele matando Narah passou como um flash em minha cabeça. Peeta tomou a frente da situação e fez as honras parabenizando o rapaz. Quando o trem partiu levando todos rumo ao Distrito 11 senti um alívio imenso.     

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Quando os primeiros sinais da primavera chegaram, as coisas pareciam ligeiramente melhores ou pelo menos dentro dos padrões do nosso Distrito.  A convivência com Peeta era cada vez mais natural. Trocávamos afetos como, abraços espontâneos e até um beijo no rosto tanto na chegada ou despedida, contudo duas coisas não saiam da minha cabeça. As palavras usadas pela mãe dele e a conversa que ouvi entre os irmãos naquela noite. Não conseguia entender o que poderia levar uma mãe pensar daquela forma.

“Peeta devia ter ficado lá.”

Era surreal demais pensar que o certo seria ter deixado ele morrer, até porque de todas as pessoas que conhecia, Peeta era uma das melhores. Não se vê uma bondade como a dele em cada esquina. E, ouvir da pessoa que deveria amá-lo mais do que qualquer outra pessoa que, ele deveria ter morrido, me deixava péssima. Ainda assim, a pior parte é que no fundo eu tinha ciência que ele sabia a opinião dela sobre o assunto.

 No último ano vi muitos olhares de familiares que perderam entes queridos na arena durante minha turnê. E quando voltamos sem Johan e Narah, ver a tristeza dos familiares era horrível. Mas o olhar nos rostos das mães eram os mais sofridos. A dor ali ia além de qualquer outra dor, era profundo. Não pude deixar de pensar se ¹Amália Mellark teria aquele mesmo olhar, se realmente tivesse matado o filho dela na arena.  Esse pensamento era perturbador demais.

Sobre a conversa que ouvi entre os irmãos na cozinha, confesso que no início me incomodei com aquilo, mas depois compreendi em partes o que Esdras queria dizer. Devo admitir que, a cada beijo que troquei com Peeta nos últimos meses vem trazendo algumas sensações que não senti quando Gale me beijou. Vivíamos quase que completamente como um casal de verdade. E gostava muito dele de uma forma estranha. Sentia que Peeta me conhecia bem demais. Não era preciso palavras para que ele entendesse como me sentia. Era como se ele visse através dos meus olhos como estava me sentindo.

Isso e o fato de termos vivido o inferno naquela arena nos aproximou muito. Quando se é um “vitorioso” dos Jogos é possível ver as coisas de uma forma diferente dos demais. Para a maioria quase absoluta. Haymitch, por exemplo, era apenas um bêbado, cheio de dinheiro. Atualmente pra mim ele era alguém assombrado por um passado infernal. Alguém que viu e cometeu atos hediondos para sobreviver. Alguém que de certa forma se sente culpado pela morte de tantos outros tributos. Meu mentor encontrou na bebida uma saída para os pesadelos.

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O som do tordo é a única coisa que consigo distinguir de imediato, mas logo ao lago, próximo a Cornucópia fica mais nítido. Estou novamente nos Jogos. Repentinamente Peeta surge na minha frente. A perna ferida, com o torniquete improvisado. O arco está na minha mão, assim como a última flecha. O anúncio de que os Jogos continuam é dado. Não tenho escolha. Tenho que matá-lo. Ele voltou a ser meu inimigo e não mais aliado. Miro em seu coração no momento em que ele joga a faca no lago.

— Não! – diz ele assim que abaixo meu arco. – Vai em frente. - seus olhos estão pedindo para que termine com aquilo. Para que eu saia da arena. Naquele momento entendo que ele nunca teve a intenção de sair com vida dali. Ele não era meu inimigo, nunca foi.

— Não consigo... – minha voz sai falha.

— Você precisa me matar, Katniss. Faça agora antes que eles voltem. Não quero morrer como o Cato, por favor. – implora dando alguns míseros passos à frente.

— Não posso, precisa haver outro jeito.

— Não tem outro jeito. Acaba com isso e seja feliz.

— Temos que sair daqui juntos, Peeta. Temos que dar um jeito. – Ele dá mais um passo à frente. A ponta da flecha encosta em sua pele, bem na direção do coração.

— Ele não pode voltar. - a voz da Sra. Mellark me pega de surpresa e posso vê-la a alguns passos atrás dele. Não há nenhum sinal de que aquilo irá afeta-la. – Mate-o Katniss, agora! Ele tem que ser morto.

— É seu filho!

— Vai ser melhor assim...

— Atira Katniss, por favor... – olho novamente em seus olhos e acabo soltando a flecha que o atinge em cheio no peito. Uma lágrima solitária percorre seu rosto no momento em que cai no chão.

— Não! Peeta não... fala comigo... – me jogo de joelhos ao lado dele, mas não há mais o que fazer. O estrago está feito. Ele está morto.

— Era preciso, vai ser melhor assim. – mais uma vez a voz de sua mãe soa em meus ouvidos.

— Não!!! – Sinto meu coração acelerado no instante que acordei. O quarto está escuro, minhas mãos agarradas ao lençol da cama e o suor escorria por minha testa. A única iluminação vem da lua, pois a janela se encontra aberta. Olho imediatamente para o outro lado da cama buscando por ele, mas não há ninguém. Um calafrio fez meu corpo petrificar-se e estranhei a princípio, já que Peeta raramente me deixava sozinha durante a noite. Sabia que ele não estava dormindo bem nos últimos dias, pois vinha cuidando de mim. Ironias a parte, a gripe me derrubou bem depois dos demais e mesmo no auge da primavera ela atacou forte me deixando de cama por quase uma semana. – Foi apenas um sonho – tento o velho truque de dizer em voz alta aquelas palavras, mas não adianta. Preciso dele.

Saio rapidamente do quarto em busca da única coisa que vai me acalmar de verdade. A casa é grande, mas sei exatamente onde encontra-lo.  A última porta no fim do corredor nunca fica trancada. Embora nunca tenha ido até lá. Assim que abro vejo a escada que leva ao sótão, que atualmente servia de ateliê para ele. Assim que chego à ponta da escada posso ver o cômodo amplo.  Uma claraboia de vidro ocupa boa parte do telhado proporcionando uma bela visão do céu estrelado.

— Katniss aconteceu alguma coisa? Você está bem? Sente algo? - Peeta parece preocupado com o pincel ainda em mãos. Olho o quadro no cavalete e vejo meus traços em um belo desenho. Meus olhos percorrem os demais quadros espalhados e me surpreendo ao ver que meu rosto está estampado em muitos. – Katniss, teve um pesadelo, foi isso? – Sua proximidade causou certa tremulação em minhas pernas e o único ato que faço é me lançar para frente e abraça-lo. Ele retribui me apertando tão forte quanto eu o aperto.

— Peeta... – minha voz sai baixa quando me afasto apenas para olhar em seu rosto que aparenta cansaço. Ele me encara e quando abre a boca para falar algo o impeço de fazer isso colando nossos lábios. Ele entreabre a boca e a invado de uma maneira que nunca ousei desde que nos beijamos pela primeira vez.

Me sinto tão absorta enquanto nossos lábios se beijam tão sincronizado. Que só percebo que estou o empurrando para trás quando ele é barrado por algo. Me afasto de seus lábios para ver o sofá de estampa clara.

— Quer conversar...? – nego com a cabeça e volto a beija-lo intensamente.

Acabo por empurrar seu corpo, fazendo com que caia sentado sobre o estofado. Sento em seu colo ficando de frente e jogo uma perna de cada lado de seu quadril. Aperto meu corpo contra o seu e o sinto murmurar. Não sei o que está acontecendo comigo, mas algo despertou dentro do meu ser. Uma ânsia que somente os beijos não irão saciar. Seguro seu rosto entre minhas mãos ainda o beijando e quando o ar se faz falta em meus pulmões, abandono seus lábios e corro minhas narinas pelo seu pescoço absorvendo todo seu cheiro.

Ele está vivo e bem.

Agora sei o que estou sentindo. Jamais poderia ter acertado aquela flecha nele, nem se eu quisesse. O meu garoto com pão não poderia estar morto agora e nem nunca. Eu não conseguiria sobreviver se ele não estivesse respirando. A Sra. Mellark está errada se acha que eu tinha que ter o matado na arena. Nem em um milhão de anos eu poderia ter feito isso. Se tudo o que vivemos até agora foi encenação, garanto que isso que está me corroendo por dentro não é.

Desço minhas mãos até a bainha de sua camisa e infiltro minhas mãos por baixo e ele dá um pequeno e inesperado impulso para cima. Nos encaramos por um instante e seus olhos perguntam silenciosamente o que significa tudo isso. 

— Peeta, quero que você me faça sua mulher. – sinto meu rosto pegar fogo, mas não ligo, pelo menos não agora.

— Kat...

— Shhh... Por favor... eu preciso de você. – choramingo e seus olhos tomam um brilho diferente, talvez tendo a mesma sensação que eu. – Peeta, eu preciso de você. – repito mais convicta e desta vez, é ele que avança me beijando como nunca o fez antes. Meus lábios já estão dormentes quando enfim me deixa puxar sua camiseta para cima depois de erguer os braços.

— Sempre. – fala quando eu mesma levanto meus braços para que retire minha blusa que faz par com a calça do pijama. A luz não é tão forte, mas quando seus olhos param em meus seios ainda cobertos pela malha do sutiã sinto um rubor se formar em meu rosto. Mas necessito tanto dele que eu mesma levo meus braços para trás e abro o colchete da peça, deixando meu tronco totalmente nu. – Você é perfeita, Katniss. – Ele me lança um sorriso tão sensacional que o quero o mais que depressa.

Volto a beija-lo e quando percebi já não tínhamos peça alguma pelo corpo. Ele me ergueu e deitou meu corpo sobre o sofá. Senti seus olhos varrerem meu corpo, mas não tive a mesma coragem de fazer isso com ele. Peeta pareceu pensativo quando se encontrava em cima de mim, mas sem pôr peso.

— O que foi? – Eu queria que isso acontecesse logo, estava sentindo uma ansiedade inexplicável.

— Pode ser desconfortável pra você e não quero que sinta dor... – o calei com um beijo.

— Confio em você. Não tem outro jeito se não for assim. – Mal conhecia minha voz de tanta excitação. Ele bem sabe que nunca estive dessa maneira com ninguém, afinal ele foi o primeiro garoto que beijei na vida.

Depositei minha confiança nele e não tive decepção alguma. Seu amor por mim teve toda a calma para me adaptar com aquilo. Mas quando começamos de verdade eu não queria parar. Sempre me chamaram de a garota em chamas, mas isso parecia ir além das chamas. Em um momento senti que explodiria em mil pedacinhos. Minhas mãos que se encontravam entre os fios de cabelo loiros e suado de Peeta desceram até suas costas molhada somente para apertar sua pele. Trinquei meus dentes e exprimi fechando os olhos por um instante. Sons ininteligíveis saíram dos meus lábios quando enfim tudo colidiu. Peeta pareceu ter chego ao mesmo lugar, pois desabou sobre mim. Ambos tínhamos a respiração pra lá de acelerada. Ao abrir os olhos vi as estrelas acima de nós através da claraboia.

Por incrível que pareça as imagens de Peeta sendo alvejado por mim não significaram nada. Meu garoto com o pão estava com vida e a salvo em meus braços.

— Eu amo você, Katniss. – escuto sua voz em um sussurro próximo ao meu ouvido. Sinto algo se apertar dentro do peito e instintivamente beijo levemente seu ombro e acaricio suas costas.

Seu coração pulsava acelerado e com vida. No que depender de mim a mortalidade não chegará nem sequer perto dele.

 

 

¹Amália - Aquela que não se preocupa demais, não gosta de ter o espaço invadido, não dando abertura à opinião dos outros. Pode ter atitudes inesperadas, extremadas e sem lógica. Não aprecia o que é convencional.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam?
Bom a Bel e eu estamos adorando escrever e acho que posso falar em nome das duas o quanto estávamos ansiosas por esse momento, assim como muitos outros que estão em nossos planos.
Espero que vocês tenham gostado do capitulo. Vamos adorar saber a opinião de vocês então fiquem a vontade para falar com a gente, por comentário, MP.
Uma ótima semana a todos.
Beijos



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