Nunca brinque com magia! escrita por Lyana Lysander


Capítulo 6
Valfenda!


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a bagunça!!! Mas isso só aconteceu aki no Nyah e estou sem entender até agora o motivo!!!



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Senti  meus pés molhados e frios, o cheiro de flores entrava por minhas narinas desobstruindo tudo. Eu conhecia aquele cheiro, eram as flores favoritas de minha avó. Meus olhos se abriram rapidamente, e vi o pequeno córrego ao qual meus pés estavam. Era límpido e brilhava ao sol daquela bela manhã. Ao meu redor um mar de lírios de várias cores. Me levantei e ao longe eu a vi, era ela, minha avó acenava para mim. 

Aura, im Elrond. Telin le thaed. -aquela voz não me era conhecida, mas eu entendia o seu significado. -Lasto beth nîn. Tolo dan na ngalad.

"Aura, eu sou Elrond. Vim ajudar você."

"Ouça minhas palavras. Volte para luz."

Eu queria ir até minha avó, gostaria muito de conversar com ela, mas algo me dizia que eu deveria por agora seguir a voz, que ainda não era o momento certo de ir até ela.

—Este não é seu lugar criança, venha comigo. -um homem com longos cabelos negros se encontrava agora atrás de mim, ele tinha um brilho estranho, quase etéreo, mas senti que deveria segui-lo, então apenas me virei e segurei a mão que ele me estendia. Vi apenas a sombra de um sorriso em seus lábios quando a luz que o rodeava nos engoliu.

Ao acordar, me vi deitada numa cama. Num primeiro momento, pensei simplesmente ter perdido a hora depois de um sonho desagradável que ainda pairava no limiar de minha memória, mas quer não consegui lembrar. Ou, quem sabe, estivera doente? Porém quando olhei para o teto, este parecia estranho, era plano, com vigas esplendidamente entalhadas. Fiquei deitada por mais um tempo, olhando para a luz do sol poente projetada na parede, e escutando o som de uma cachoeira. Não senti medo, apenas a confusão de quem não sabia onde estava, com memórias embaralhadas demais para entender realmente algo.

—Onde estou? -perguntei para mim mesma com a voz frágil.

—Na casa de Elrond. A ultima casa amiga. -virei o rosto para a voz, e ao meu lado haviam duas pessoas. Um senhor de idade com uma longa barba branca que parecia roer o cachimbo velho em sua boca. Seu manto cinza combinava com o chapéu pontudo acima de sua cabeça grisalha,  ele me olhava com um sorriso simpático, como me dizendo que estava tudo bem. Estava sentado na janela, como se contemplasse o mundo a fora. O outro era tudo que eu jamais podia imaginar ver em um homem só. Ele esguio e branco, seu rosto  parecia eterno, nem velho nem jovem, embora nele parecesse que se inscreviam a memória de muitas coisas, alegres e tristes. Os cabelos eram escuros como as sombras da noite, e sobre a cabeça eu via um diadema de prata, os olhos eram cinzentos como uma noite clara, e neles parecia contido a luz das estrelas. Ficava venerável, como um rei coroado com muitos invernos, e ao mesmo tempo vigoroso como um guerreiro experiente, no auge da força. Eu sabia mesmo que não tivessem me dito que aquele era o Senhor de Valfenda, poderoso entre elfos e homens.

Pisquei algumas vezes tentando entender o que faziam ali, o que eu fazia ali. E aos poucos minha memória foi voltando e com ela a preocupação com meus amigos.

—Frodo! Como está Frodo? -vi o senhor grisalho sorrir. -E Passolargo, e os outros? -a aflição que eu sentia parecia não os tocar, pois este trocaram um longo olhar antes de se virarem para mim novamente.

—Não que duvidássemos de sua índole minha jovem, mas se  duas dentre as três primeiras questões que nos faz, apos acordar de um longo sono, são sobre seus amigos. Bom, não há mais o que duvidar. -falou o senhor se aproximando. -Eu sou Gandalf o Cinzento, e este elfo é Elrond o mestre desta casa. Soube que seguiu viagem com meus pequenos amigos a minha procura. -eu apertei com força o lençol. -Bom mas deixemos isso para depois, por agora posso dizer que todos estão bem, ansiosos para lhe ver por assim dizer.

—Encontramos a pouco o jovem Sam tentando se esgueirar aqui no quarto, e todos os outros tentaram algo parecido ao menos uma vez. -me senti extremamente aliviada com as palavras sussurradas daquele majestoso elfo.

—Então estão todos bem?

—Sim criança, graças a você todos chegaram em segurança. -olhei para o mago. -Era com você que estivemos preocupados, quase que o senhor Elrond não a trazia de volta.

—Mas como, eu não entendo o que ouve. -me senti angustiada com a situação.

—Alguns de nós ouviram o seu chamado, o seu clamor de dor por ajuda. E muitos enviaram auxílio. Por sorte Glorfindel meu grande amigo e Arwen minha filha estavam por perto, já procuravam vocês a meu pedido. Eles trouxeram você e Frodo para cá onde pudemos cuidar de você. Frodo acordou primeiro a quatro dias atrás, mas por mais que esteja curado o ferimento nunca realmente sarará. Você que usou quase toda sua energia para ajuda-ló foi nossa maior preocupação. 

—Você pode não lembrar criança mas conversamos longamente durante seu sono. -disse Gandalf suavemente. -Não foi difícil para mim ler sua mente, sua memórias. Não se preocupe! Vi  apenas o que desejou me mostrar Aura, e sei apenas o que me contou. 

—Eu não entendo. -coloquei a mão na cabeça que começava a doer.

—Beba isso, vai aliviar suas dores. -Elrond me estendeu uma taça de cristal com um líquido transparente como água, não tinha gosto, e ao contato com a boca não era nem frio nem quente, mas parecia que força e vigor fluíam para meus  braços e pernas depois que o bebi, e a dor de cabeça se tornou apenas uma lembrança longínqua. -Por muito tempo nos também não. Durantes as duas semanas que esteve aqui enferma procuramos entender quem era você, por isso precisamos entrar em sua mente. -fiz que sim, eu realmente entendia que fizeram aquilo por pura preocupação. -Você nos contou quem era e de onde vinha, nos mostrou parte de sua antiga vida, e mesmo assim não sabíamos de onde vinha o seu poder.

—Poder? -do que ele estava falando.

—Sim, o poder que usou para curar Frodo Bolseiro. -pisquei atordoada. -O mesmo poder que nos chamou.

—Sabemos somente que ao vir para esse mundo você despertou um poder antes adormecido, e que esse é provavelmente o motivo de ter vindo parar na Terra Média. -Gandalf esclareceu.

—Então agora eu posso voltar para casa sem problemas? 

—Você sempre pode voltar Aura, nada nunca lhe impediu de ir se assim realmente desejasse. -ditou Elrond levantando. -Mas será que realmente é isso que quer? Deseja do fundo do seu coração voltar?

Aquela pergunta me pegou desprevenida. Todo esse tempo eu estive pensando em voltar, mas se for sincera nunca realmente o quis. Este não foi o lugar para o qual eu desejei vir, mas não poderia ter ido para outro melhor. Porém, o que eu faria deli em diante, eu não sabia o que fazer, não pertencia aquele mundo.

—Pode ficar em minha casa o quanto quiser. -Elrond me sorriu respondendo a minha batalha interna. -E outros reis e rainhas élficos que ouviram seu clamor também lhe ofereceram abrigo criança. 

—Sua magia é pura, e sabemos que Sauron a viu na colina enquanto tentava ajudar Frodo. -Gandalf bateu com o cajado no chão. -Ele tem agora o controle de Saruman o Branco, e Isengard como você mesma o ouviu dizer. Então enquanto estiver aqui a protegeremos dele.

—Por que me proteger?

—A sua magia é a base contraria da dele, o senhor do escuro sabe que com o tempo você a aprenderá a controlar, e enquanto ele não possuir o anel, ele não pode deixar que tal ameça cresça. -engoli em seco com a dureza das palavras de Elrond. -Se tencionar ficar, podemos lhe ensinar se assim desejar.

—Achei que os elfos não ensinassem sua arte a ninguém. -Gandalf riu pelo nariz e Elrond o olhou avaliativo antes de voltar a mim.

—Três anéis foram forjados sem a ajuda de Sauron, e ao percebermos suas intenções os escondemos para que ele não pusesse suas mãos neles, como aconteceu com os Sete que foram dados aos Reis Anões e os Nove dados aos Reis dos Homens. -ele me olhava firme. -Mesmo assim até o momento não tínhamos nada que fizesse o senhor do escuro nos temer, eramos como ratos em sua casa. Mas agora, Mordor está quieta, Isengard parou com a destruição das árvores e escavação dos orcs. Seu clamor destruiu encantamentos que prendiam homens e animais por toda a Terra Média. O senhor do escuro levará algum tempo para se reorganizar, tempo esse que fará com que outros cheguem aqui para nos ajudar, o conselho se reunirá.

—Meu clamor?

—Há canção. A canção que cantou tentando salvar Frodo, que a consumiu quase por completo, foi ouvida por muitos elfos da Terra Media, e eles cantaram junto com você, mas na língua deles, e isso fez com que a magia deles juntamente com a sua perpassassem as barreiras escuras da mente dos animais e homens que por ali passavam, ou vigiavam. 

—Eu diria que foi um milagre. Mas é algo que você já não pode repetir criança. A não ser que deseje a morte. -a repreensão em sua voz me fez abaixar a cabeça. -E isso é algo que nenhum ser vivo deve desejar.

—Não a desejo, jamais a desejei. -suspirei. -No momento só posso agradecer aos senhores por tudo que fizeram e estão fazendo por mim. -fiz uma pequena reverencia com a cabeça. -E agradeço imensamente a oferta, a aceitarei de bom grado. No momento não desejo voltar para minha casa, meu coração me diz que meu lugar ainda é aqui.

—Que assim seja então. Assim que estiver totalmente recuperada decidiremos os procedimentos. -Elrond e Gandalf sorriram.

—Será que posso ver meus amigos?

—O seu corpo precisa de descanso. E sua mente de paz. -fiz um bico triste. -Mas o seu coração precisa de alegrias. -ele me sorriu quando levantei os olhos. -E estas só os seus amigos podem trazer. -Elrond abriu a porta. -Enquanto estiver em minha casa ela também será sua, pode ir onde desejar. Pedirei a alguém que venham lhe ajudar e lhe acompanhar.

—Obrigada mestre Elrond, e ao senhor também Gandalf. -eles saíram, e antes mesmo que eu pensasse em me levantar ouvi uma batida na porta.

—Pode entrar. -uma jovem elfa, uma mulher bonita de se olhar (não tinha como negar), que era tão parecida com Elrond em suas formas femininas que logo adivinhei que ela era uma parente próxima dele. Era jovem, e ao mesmo tempo não era. As tranças de seu cabelo escuro pareciam nunca ter sido tocadas, os braços brancos e o rosto claro eram perfeitos e suaves, e a luz das estrelas estava em seus olhos brilhantes (assim como em seu pai), cinzentos como uma noite de céu limpo, apesar disso, parecia-se com uma rainha, e seu olhar era cheio de ponderação e sabedoria, como o olhar de alguém que conhece muitas coisas que os anos trazem. Na altura da fronte, a cabeça estava coberta com uma touca de renda prateada, enredada com pequenas pedras, de um brilho branco, mas o traje, de um cinza pálido, não tinha qualquer ornamento, a não ser um cinto de folhas lavradas em prata.  

—Sou Arwen, filha de Elrond. -sua voz era suave e melodiosa. 

Fiquei extremante encantada e quando esta fez uma reverencia, mas senti que aquilo deveria ser errado, eu que deveria faze-lo.

—Me chamo Aura senhora Arwen, peço que perdoe meus maus modos mas pouco conheço de sua cultura. -me levantei e reverencie-a. -No mais, gostaria de agradecer por me trazer até aqui em segurança, por salvar a mim e meu amigo Frodo.

Ela entrou totalmente no quarto e fechou a porta atras de si com um sorriso largo, seu andar era leve e calmo e esta se dirigiu a mim com simpatia.

Não há maus modos algum. E sobre nossa cultura sei que aprenderá rapidamente, vejo olhos curiosos e vorazes em você. -seus olhos brilharam com a certeza de suas palavras. -Não há necessidade de agradecimento sobre seu resgate, fico apenas grata que esteja bem, porém neste momento todos a esperam, há muitos que a querem ver.

Logo Arwen me mostrou o banheiro e não me fiz de rogada na banheira de madeira com perfume delicioso de flores silvestres. Tentei não demorar muito, mas depois de tantos dias sem um banho de verdade era difícil não ceder a tenção de ficar horas ali. No fim ela quem escolheu o que eu deveria vestir, um vestido branco com adornos esverdeados, o tecido era leve  me deixando totalmente confortável. 

—Sua pele é um pouco mais escura, e seus olhos são de um verde muito bonito. -ela começou a ditar, me observando curiosa. -Seus cabelos são longos e enrolados de um castanho quase cobre. -ela e tocou. -Este, com certeza esse lhe caíra muito bem hoje. -o vestido era lindo, não havia como negar, e não era eu, mas ele, que tornaria qualquer pessoa que o vestisse bem, era a roupa de uma princesa.

—Posso trançar seu cabelo? -seu pedido foi tão sincero que negar me pareceria desrespeitoso.

—Obrigada. -agradeci mais uma vez envergonhada. -ela fez uma trança lateral colocando adornos de flores e fios de prata por todo meu cabelo. -Não sei como agradecer por tudo que estão fazendo por mim.

—Tudo aqui foi preparado especialmente para você, é nossa convidada, e seu conforto e felicidade é tudo que nos importa. -não tinha como responder a isso, era demais para alguém como eu. -Imagino que deseje ver seus amigos agora?

—Sim, por favor. -falei tão baixo que mal acreditei que ela tenha me escutado.

—Então me acompanhe que lhe mostrarei o caminho. 

Arwen me conduziu por vários corredores e descemos muitos degraus, chegando a um jardim alto sobre a margem íngreme do rio, estava noite, uma bela noite estrelada. Ela me dirigiu a um alpendre onde se encontravam todos os meus amigos hobbits, e se desculpou por não poder ficar ali conosco, o que eu prontamente neguei. No lado da casa que dava para o Leste eu podia ver que  sombras já cobriam o vale lá embaixo, mas ainda havia luz nas encostas das montanhas acima.O ar estava quente. O som da água correndo e caindo era alto, e a noite se enchia do aroma suave de árvores e flores, como se o verão ainda permanecesse nos jardins de Elrond. Os hobbits não tinham me visto chegar, entretidos em uma conversa sua, mas seus rostos quando me viram ficaram entre o alívio e o encantado, algo que quase me fez chorar. E eu me dirigi a eles com o sorriso nos lábios e o coração cheio de alegria.

—Não acredito em meus olhos. -disse Sam.

—Não acreditamos quando Gandalf nos avisou que tinha acordado. -Completou Merry.

—Estou muito feliz que enfim esteja conosco. -Pippin sorriu, mas foi um Frodo que com um suspiro aliviado se aproximou e me abraçou arrancando vivas e aplausos de todos ao nosso redor.

—Não a palavras que expressem minha felicidade neste momento. Você linda!

—Obrigada, faço minhas as suas palavras meu grande amigo. Estou mais que feliz por ver-te tão bem, é mais do que eu poderia desejar por toda uma vida. -Frodo se afastou e os outros se aproximaram para me abraçar e rimos e pulamos como crianças felizes. -Mas digam-me onde esta Passolargo?

—Bem aqui. -ouvi uma voz atrás de mim e me deparei um com Aragorn vestido como sempre, apenas sem sua capa de viagem, parecia mais alegre e em seus olhos ele demonstrava todo o deleite que aquele momento significava. Fui até ele sem demora e antes que ele tivesse qualquer reação o abracei.

—Obrigada por tudo. 

—Não fiz nada mais do que minha obrigação. E apesar disso... -não o deixei terminar.

—Jamais teríamos conseguido sem sua ajuda Passolargo.

—Aragorn, estamos em uma casa amiga, então me chame apenas de Aragorn, Aura. -me afastei dele e ele se virou e só aí me dei conta da figura atrás de si. -Este é Glofindel líder da Casa da Flor Dourada.

—E meu salvador. -completei o reverenciando. -Agradeço-te imensamente pelo que fez por mim, por nós.

—Agradeço a Eru por está perto o suficiente para lhes ajudar. -ele me reverenciou e seus cabelos cor de ouro brincaram em seus ombros. -Mas por agora vamos apenas comemorar sua melhora. Mestre Elrond lhes preparou uma refeição para comemorar sua melhora.

—Mais que uma refeição! Um banquete! -disse Merry. -O senhor Elrond quis comemorar sua recuperação em grande estilo. -mal ele tinha acabado de falar, e o badalar de muitos sinos chamou a todos para o salão.

O salão da casa de Elrond estava cheio de pessoas: elfos na maioria, embora houvesse alguns convidados diferentes, o que me surpreendeu. Elrond, estava em seu lugar de costume segundo Frodo, sentado na cadeira grande, na cabeceira de uma mesa comprida sobre o tablado, perto dele, de um lado sentou-se Glorfindel, e do outro, Gandalf.

Olhei-os admirada, pois nunca tinha visto um lugar mais belo e alegre. Era engraçado de se ver, Gandalf era mais baixo que os outros dois, mas seus longos cabelos brancos, a vasta barba prateada e os ombros largos conferiam-lhe a aparência de algum rei sábio de antigas lendas me antes contadas. Em seu rosto envelhecido, adornado por grossas sobrancelhas brancas, os olhos escuros pareciam ser feitos de carvão, prontos a se acender em chamas a qualquer momento. Glorfindel por sua vez era alto e ereto, o cabelo de um dourado brilhante, o rosto belo e jovem, temerário e cheio de alegria, os olhos eram brilhantes e agudos, a voz parecia música, em sua fronte se alojava a sabedoria, na mão, a força.

No meio da mesa, diante de tapeçarias tecidas penduradas na parede, havia uma cadeira sob um dossel, e ali se sentava Arwen. A surpresa veio quando me disseram que meu lugar reservado era ao seu lado, me senti um pouco embaraçada, pois ficar entre todas aquelas pessoas importantes e belas parecia-me ser ofensivo demais, me senti um pouco pequena e fora do lugar, mas esse sentimento rapidamente passou quando ela me sorriu e animadamente se levantou para me buscar. Fez questão de conversar comigo, e apresentar-me muitas pessoas.

O banquete foi animado, e a comida era tudo o que minha fome poderia desejar. Demorou um pouco até eu olhar em volta de novo, ou simplesmente se virar para os  meus vizinhos.

Primeiro, procurei meus os amigos. Sam implorara permissão para servir seu patrão Frodo, mas disseram-lhe que dessa vez ele era um convidado de honra, e a mera lembrança de sua cara perturbada me faria rir por dias. Frodo, agora podia vê-lo, sentado com Pippin e Merry na extremidade de uma das mesas laterais, que ficava perto do estrado. Mas não via sinal de Passolargo. À direita de Frodo estava um anão de aparência importante, luxuosamente vestido. A barba, muito comprida e em forma de forquilha, era branca, quase tão branca quanto o branco nível de suas roupas. Usava um cinto de prata, e em volta do pescoço uma corrente de prata com diamantes. Frodo parou de comer para olhá-lo. E eu também, o que chamou sua atenção para nós.

—Bem-vindos sejam! -disse o anã para nós dois. Depois realmente levantou-se da cadeira e fez uma reverência. E ambos fomos compelidos a fazer o mesmo. -Glóin às suas ordens. -disse ele, e fez uma reverência ainda maior.

—Frodo Bolseiro, às suas ordens e de sua família. -disse Frodo corretamente, levantando-se novamente surpreso e espalhando suas almofadas pelo chão. Só nesse instante percebi que ele as usava para ficar a altura da mesa. 

—Aura Lopes, encantada em conhecer uma pessoa tão saudosa. -Glóin se empertigou orgulhoso.

—Estaria eu certo em supor que o senhor é aquele Glóin, um dos doze companheiros do grande Thorin Escudo de Carvalho? 

—Perfeitamente certo. -respondeu o anão, recolhendo as almofadas e educadamente ajudando Frodo a se ajeitar de novo na cadeira. - E eu não pergunto, pois já me disseram que você é o parente e herdeiro adotado de nosso amigo Bilbo, o renomado. Permita-me felicitá-lo por sua recuperação. E a bela senhorita que permeia meus olhos deve ser sua jovem amiga viajante, que comoveu todos os elfos de Valfenda. Felicito-a também por sua melhora. -sorri envergonhada.

—Muito obrigado! -dissemos juntos. 

—Ouvi dizer que passaram por estranhas aventuras. -continuou Glóin. -Tenho pensado muito no motivo que traria quatro hobbits e uma jovem senhorita numa viagem tão longa. Nada assim aconteceu desde que Bilbo veio conosco. Mas talvez eu não deva perguntar tantas coisas, uma vez que Elrond e Gandalf não parecem dispostos a falar sobre o assunto. 

—Acho que não falaremos disso, pelo menos por enquanto. -falou Frodo educadamente. Percebi que, mesmo na casa de Elrond, o assunto do Anel não era objeto de conversas casuais, de qualquer modo, queria esquecer essas coisas ruins por um tempo. -Mas estou igualmente curioso. -acrescentou ele. -Em saber o que traz um anão tão importante a um lugar tão distante da Montanha Solitária.

Glóin olhou para ele perspicaz. 

—Se não ouviu sobre isso, acho que também não falaremos do assunto por enquanto. Mestre Elrond vai nos reunir a todos em breve, eu acredito, e então ouviremos muitas coisas. Mas há muitas outras histórias que podem ser contadas.

Conversaram durante todo o resto do banque te, mas Frodo ouviu mais do que falou, as notícias sobre o Condado, exceto pelo Anel, pareciam pequenas, distantes e sem importância, enquanto Glóin tinha muito a contar sobre os acontecimentos da região Norte das Terras Ermas. 

—E o que tem a contar sobre seu próprio povo? -perguntou Frodo. 

—Há muito o que contar, coisas boas e ruins. -disse Glóin. -Mas a maioria é boa, até agora tivemos sorte, mas não escapamos da sombra desta época. Se realmente deseja escutar sobre nós, terei prazer em contar acontecimentos. Mas me interrompa quando ficar cansado! As línguas dos anões não param quando falam de seus assuntos, como dizem por aí. -e, com isso, Glóin embarcou num longo relato dos feitos do Reinado dos Anões. Ele deliciado por ter encontrado um ouvinte tão educado, Frodo não mostrava sinais de cansaço, e não tentou mudar de assunto, embora parecesse que assim como eu, ele na verdade tenha ficado bastante perdido em meio àqueles nomes estranhos de pessoas e lugares dos quais eu  nunca tinha ouvido falar. 

Finalmente o banquete chegou ao fim. Elrond e Arwen se levantaram e se afastaram pelo salão, e o grupos ao seu redor os seguiram na devida ordem. As portas foram abertas, e todos fomos guiados através de um corredor largo, passando por outras portas, chegando enfim a um outro salão. Nesse lugar não havia mesas, mas uma fogueira bem acesa queimava numa grande lareira, em meio a dois pilares entalhados. E foi só aí que me dei conta de que estava andando ao lado de Gandalf. 

—Este é o Salão do Fogo. -disse-me o mago. -Aqui poderá escutar muitas canções e histórias, se conseguir ficar acordada. -ele riu como se aquela piada fosse muito engraçada. -Mas, a não ser em dias importantes, o salão fica vazio e quieto, e aqui vêm pessoas que desejam ter paz e refletir. O fogo fica sempre aceso, durante todo o ano, mas quase não há outra fonte de luz.

Quando Elrond entrava e se encaminhava para o lugar preparado para ele, os menestréis élficos começaram a executar uma música suave. Lentamente o salão se encheu, e eu olhava com prazer os muitos rostos bonitos que se reuniam, a luz dourada do fogo brincava naquelas faces e dançava em seus cabelos. Mas de repente notei, num ponto não muito distante do lado oposto ao fogo, uma pequena figura escura, sentada num banco, com as costas apoiadas num pilar. Ao seu lado, no chão, estava uma taça de bebida e um pouco de pão.Me perguntei se estaria doente (se é que alguém ficava doente em Valfenda), e por isso não pudera comparecer ao banquete. A cabeça parecia caída sobre o peito, num sono profundo, e uma dobra da capa escura cobria-lhe o rosto. Elrond foi na frente e parou diante da figura silenciosa, e só nesse momento notei que Frodo se encaminhava alegre para lá.

—Acorde pequeno mestre! -disse ele com um sorriso. Então, voltando-se, fez um sinal para que Frodo se aproximasse. 

—Aquele é Bilbo Bolseiro, tio de Frodo. Foi dada a ele a tarefa de escrever um conto para ser cantado esta noite. Ele ficou tão feliz com a tarefa que provavelmente esqueceu-se do jantar. -riu-se Gandalf.

—Fico feliz por Frodo tê-lo reencontrado, parecem muito felizes juntos.

—Estamos todos felizes hoje minha cara jovem, a muito mais do que esperávamos para comemorar esta noite. -senti que havia algo mais por trás de suas palavras, mas a música entorpecia meus sentidos e eu já me via com sono. -Deveria descansar por agora.

—Não, seria um falta de educação da minha parte sair agora. -ele riu e apontou para umas almofadas ao fundo.

—O jovem Sam já dorme a sono solto, ninguém realmente se importa sobre isso. És livre para fazer o que quiser. -ri do pobre Sam que parecia em um sono bom e profundo.

—Então se é assim, acho que vou me retirar, não seria prudente dormir por aí. -ri. -Boa noite senhor Gandalf.

—Não, não seria. Boa noite Aura.


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