Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 9
Capítulo 9 – How Can I Go On?


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! E aí, como foi o Carnaval de vocês? O meu, particularmente, foi tedioso. Não fiz absolutamente nada (como todo ano). Mas mesmo assim, queria que o feriado durasse mais ;-;
Enfim, vamos ao capítulo. Prontos para saberem como a vida da Claire está indo, depois do que aconteceu no capítulo anterior?
A música de hoje é do meu amor Freddie Mercury, e uma das minhas preferidas da vida ♥ https://www.youtube.com/watch?v=akdAvg8SO1A
Boa leitura!



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Recomeçar. É difícil, quase impossível, eu diria. A princípio a gente acha que nunca mais será capaz de levantar da cama. Tornamo-nos extremamente dependentes das pessoas à nossa volta. E a possibilidade de tudo voltar ao normal parece remota. Bem, na verdade, nunca mais seremos os mesmos. A perca de alguém é um trauma insuperável. Mas não podemos nos deixar ficar eternamente abatidos, então acabamos sendo obrigados a levantarmos e, no máximo, nos acostumarmos com nossa nova situação.

O gatilho sendo puxado. O disparo. A felicidade de estar viva. O rosto de Akira com uma bala na testa. Fugindo do atirador. Ligando para a Emergência. Sendo escoltadas pela SWAT. O corpo dentro do saco. A poça de sangue. As ambulâncias, a imprensa, a polícia. A sensação de solidão e medo. Tudo isso se passava repetidamente em minha cabeça, enquanto encarava a parte de baixo da mesa de madeira da cozinha.

— Claire? – chamou uma voz conhecida, e logo soube que era Rebecca – Sua mãe disse que você surtou de novo. Você está bem? – disse, e virei minha cabeça, vendo suas pernas paradas perto da mesa. Não respondi nada, até que num piscar de olhos ela se abaixou para me olhar – Ficar embaixo dessa mesa para sempre não vai ajudar. – afirmou, e eu apenas fiquei a encarando, sem reação – Saia daí, vamos. – ordenou, e eu continuei imóvel, fazendo-a suspirar – O que você quer que eu faça? – perguntou, rendida. Ao notar que eu não respondia, a mesma se enfiou debaixo da mesa e deitou-se ao meu lado, me olhando nos olhos – Nós temos que ir... O hospital precisa da gente. Temos que salvar vidas, é o que fazemos, lembra? Ou você não quer evitar que pessoas se sintam como você está agora? – concordei com a cabeça em resposta, fazendo-a sorrir – Que bom... Agora nós vamos sair daqui no três, e você vai se arrumar para o trabalho, e rapidinho porque já estamos nos atrasando. Eu sei que você já é acostumada com isso, mas eu não gosto de chegar tarde. – riu fraco, tentando aliviar o clima – Vamos no três... 1... 2... 3! – segurou meu braço e me puxou para fora da mesa.

Fiquei sentada no chão por mais um tempo, até que finalmente tomei coragem e fui tomar um banho. Rebecca ficou comigo o tempo todo, falando sobre qualquer bobeira, apenas para me distrair. Saí do banheiro e fui até meu antigo quarto na casa da minha mãe me trocar, e quando estava finalmente pronta, partimos para o hospital, não antes de Cooper garantir à minha mãe que eu estava bem e que ela manteria os olhos em mim.

3 meses haviam se passado desde o acontecido, e depois de um trauma tão grande, minha mãe decidiu que eu tinha que morar com ela e meu pai, por tempo indefinido. Eles moravam em Seattle mesmo, porém numa casa um pouco longe do hospital. Quanto ao meu relacionamento com Rebecca, depois de tudo que passamos juntas, estávamos bem próximas. Acabei descobrindo que ela podia ser uma boa pessoa, apesar de aparentar ser uma completa cretina. Não sabíamos muito da vida uma da outra, mas acabamos sendo o suporte para a outra, e minha mãe confiava muito nela.

Chegamos no hospital depois de um tempo, e Cooper estacionou em uma das vagas próximas à entrada do prédio. Virou-se para mim ao desligar o motor, me estudando com o olhar.

— Está pronta? – questionou, e eu assenti com a cabeça, olhando para baixo e depois para a fachada do prédio.

A jovem saiu do carro e poucos segundos depois eu fiz a mesma coisa, levando minha bolsa comigo. Fomos até o vestiário em silêncio, e quando entrei no local, todos os internos olharam para mim, como todos os dias. Todo mundo estava sabendo da interna que havia perdido o namorado para o atirador, e todos me olhavam com pena o tempo todo, o que estava me deixando extremamente desconfortável.

Ignorei os olhares e fui até meu armário, e ao abri-lo dei de cara com uma foto minha com Akira, que tiramos no refeitório do hospital. Suspirei me perdendo em memórias, e Rebecca, ao notar que eu estava prestes a surtar novamente, tocou meu ombro, fazendo-me olhá-la.

— Hey, pare de se torturar. Isso só torna as coisas piores, e você sabe disso. – afirmou, erguendo as sobrancelhas. Concordei com a cabeça e peguei meu uniforme, vestindo-o rapidamente. Deixei meu cabelo solto mesmo, pois ele estava um pouco acima do ombro, recém-cortado. Fechei o armário e calcei os tênis, e quando vi, a morena me aguardava.

— Vamos? – disse me analisando, e eu assenti.

Caminhamos até o ponto que normalmente encontrávamos com Lexie, mas a mesma não se encontrava lá. Esperamos pelos outros internos, e estranhamos sua ausência, então decidimos perguntar a uma enfermeira.

— Vocês não ficaram sabendo? Dra. Grey surtou hoje e foi internada na ala psiquiátrica por Mark Sloan. – afirmou a moça, rindo fraco.

— Uau, Lexie surtou? Deve ter sido hilário. – riu-se Diego, recebendo um olhar torto dos outros internos.

— E o que nós deveríamos fazer, então? – questionou Rebecca, olhando a enfermeira com dúvida.

— Eu é que sei? – retrucou, franzindo o cenho – Converse com o Chefe, sei lá. – deu de ombros, voltando a fazer alguma coisa atrás do balcão.

— Okay, vamos procurar o Shepherd. – disse Anastasia.

— Shepherd? Em que mundo vocês vivem? – rebateu a enfermeira, olhando-nos surpresa – Ele deixou o cargo hoje mesmo, e Dr. Webber reassumiu.

— O que?! Deus, o Bêbado Webber de novo? – Diego revirou os olhos – Vamos atrás dele então.

Concordamos com a cabeça e agradecemos a enfermeira, seguindo para a sala do Chefe. Batemos na porta e o mesmo disse para entrarmos, e assim o fizemos, ficando todos de pé encarando o homem.

— Nós somos os internos da Lexie Grey, e ela foi internada na psiquiatria, então não sabemos o que fazer. – falou Rebecca.

— Droga... Vão ajudar na Emergência, aposto que Hunt vai adorar alguma ajuda. – ordenou, parecendo irritado.

— Okay... – concordou Cooper, virando-se para nós – Com licença, Chefe. – destacou o novo cargo do médico, e saiu da sala, acompanhada de todos nós.

Seguimos até a Emergência, que estava bem parada. Aproximamo-nos de Owen Hunt, que conversava com um enfermeiro, mas nós logo ficamos sozinhos com o médico.

— Com licença, Dr. Hunt, nós somos os internos da Dra. Lexie Grey, e ela foi internada na ala psiquiátrica hoje, então estamos sem residente... E o Chefe nos enviou para ajudar aqui. – explicou Diego, encarando o ruivo.

— Internos, uhn? – disse, virando-se para nós – Vocês podem ajudar com algum paciente que não for muito grave, pode ter certeza que sempre tem alguém precisando de ajuda. – afirmou, assentindo – Venham comigo. – começou a caminhar até os leitos de alguns pacientes, que aparentemente aguardavam para serem atendidos – É a chance de vocês, vamos lá. Os pacientes dos leitos 14 a 20 estão esperando atendimento, divirtam-se! – apontou para as pessoas – Qualquer coisa me bipem. – finalizou saindo dali.

— Vamos por ordem alfabética, o primeiro fica com o 14, o segundo com o 15, e assim vai... – sugeriu o único rapaz de nosso grupo.

— Eu fico com o 14. – Anastasia falou, seguindo até seu respectivo paciente.

— Akira seria o primeiro, se estivesse aqui. – sussurrei, tristemente. Era incrível como absolutamente tudo me lembrava dele.

Vi Rebecca e Diego suspirando, e um clima constrangedor se formou.

— Bom, Claire, o 15 é seu, eu fico com o 16 e Rebecca com o 17. Vamos praticar medicina? – indagou o jovem, sorrindo forçado, provavelmente tentando quebrar o clima. Assenti e caminhei até meu paciente.

— Bom dia, como o senhor está se sentindo? – perguntei, colocando as luvas.

— Diga a ela, diga! Seu estúpido! – exclamou uma mulher, provavelmente a acompanhante.

— Eu já disse que foi um acidente! – disse o paciente, revirando os olhos.

— Eu te disse para não comprar aquela porcaria, mas você nunca me escuta! Nunca! – reclamou a mulher, aparentemente irada.

— Hey, acalmem-se, por favor. – pedi, aproximando-me da maca – O que aconteceu?

— Essa mula decidiu comprar um monociclo, porque pensou que era legal vendo os vídeos da internet, mas quando decidiu andar, se arrebentou inteiro! – respondeu a acompanhante, irritada.

— Foi divertido... nos primeiros 5 segundos. – falou o paciente – Eu só preciso praticar mais, logo eu estarei dominando a arte do monociclo. – terminou a frase num tom provocativo, olhando a moça ao seu lado.

— Okay... Então vamos ver... – analisei seu corpo, que possuía alguns arranhões e o que parecia um braço quebrado – Deixe-me ver esse braço. – peguei gentilmente no membro do homem, que grunhiu de dor – Está quebrado, vou pedir uma consulta com a ortopedista. – afirmei – Agora vou examinar sua barriga, para ver se não temos nenhuma hemorragia. – expliquei, e comecei a apertar seu abdômen, que me pareceu normal ao toque – Nenhuma dor? – o paciente negou com a cabeça, então parti para exames neurológicos. Peguei uma lanterninha no bolso do meu jaleco e apontei para os olhos do homem, e suas pupilas não responderam muito bem ao estímulo, me deixando preocupada – O senhor pode seguir a luz com os olhos, por favor? – pedi, movimentando a lanterna para o lado. Ele seguiu a luz com um pouco de dificuldade, preocupando-me mais ainda – Você se lembra de bater a cabeça?

— Talvez... Não tenho certeza, foi tudo muito rápido. – respondeu, parecendo um pouco confuso.

— Eu vou leva-lo para uma CT, Ressonância Magnética, ECG e Raio-X. – afirmei, virando-me para preencher um formulário.

— A doutora acha que é grave? – questionou, preocupado.

— Não vamos nos precipitar, só saberemos após a chegada dos exames. – disse, tentando esconder minhas preocupações – Antes de te mandar para os exames, gostaria que a ortopedista desse uma olhada aqui, então aguarde mais um pouquinho, tudo bem? – sorri simpática, guardando a caneta no bolso do jaleco na altura de meu peito, bipando Dra. Callie Torres logo em seguida.

Aguardamos por alguns minutos, a mulher ainda reclamando sobre o acontecido, enquanto eu apenas tentava me distrair de toda a merda que estava acontecendo no momento. Até que finalmente a médica chegou, colocando as luvas rapidamente.

— O que temos aqui? – perguntou, aproximando-se.

— Robert Walker, 40, caiu de um monociclo. Meu diagnóstico inicial foi que o braço está quebrado. – falei, observando-a enquanto ela analisava a fratura.

— É, só um Raio-X pode me dizer a gravidade... – afirmou, segurando o braço do homem delicadamente – O senhor sentiu dor nas costas no momento da queda? – perguntou, encarando o paciente.

— Não... – deu de ombros.

— Está conseguindo mover-se normalmente? – indagou a médica, checando o formulário que eu acabara de preencher.

— Estou com um pouco de dificuldade, mas acho que é só por causa do susto, não é? – respondeu, e pareceu começar a se preocupar.

— Vamos esperar o resultado dos exames. – afirmou Torres, provavelmente compreendendo a situação ao ler minhas anotações – Me bipe quando os resultados saírem. – ordenou virando-se para mim, e depois para o paciente novamente – Não se preocupe, está em ótimas mãos aqui. – sorriu largo para o homem, que também sorriu como resposta. Callie tinha esse efeito sobre as pessoas, seu sorriso era contagiante, chegava a ser admirável.

A médica deixou o local, e então finalmente voltei a falar.

— Vamos levá-lo para os exames então. – disse e chamei a equipe de enfermeiros, contudo ouvi o barulho do meu bipe enquanto os acompanhava até a Sala de Exames – Droga, é do Dr. Perkins... – bufei, e olhei uma enfermeira – Me bipe quando estiverem prontos, eu tenho que ir à consulta. – pedi, e tomei o caminho do elevador.

Desde o acontecido, todos tiveram que ir a consultas com esse psicólogo especialista em traumas, o Dr. Perkins. Ele estava liberando um por um para cirurgia, e, como já esperado, eu não havia sido liberada ainda. Não pisava em uma Sala de Operações há meses, e não parecia estar próxima de conseguir voltar a uma tão cedo.

Apertei o botão do elevador e fiquei aguardando, até que o mesmo chegou até mim. Quando as portas se abriram, não consegui evitar e acabei me lembrando da minha interação com o atirador, dentro daquele lugar. Só o pensamento de estar presa num elevador com aquele homem me embrulhava o estômago, e por alguns segundos eu desejava voltar no tempo e mata-lo eu mesma, antes que ele fizesse tantas barbaridades. Finalmente acordei do transe ao ouvir o barulho das portas se fechando em minha frente, e segurei-as antes que ele partisse, adentrando-o rapidamente.

Ao chegar à sala destinada às consultas, respirei fundo antes de bater na porta, e pouco depois ouvi a voz do homem autorizando-me a entrar. Entrei na sala e fechei a porta atrás de mim, encarando o psicólogo com hesitação.

— Sente-se, Dra. Scofield. – apontou uma cadeira próxima dele, que estava sentado na cabeceira da mesa.

Aproximei-me e sentei na cadeira indicada. Suspirei enquanto olhava em volta, evitando contato visual com o homem.

— Então, como andam as coisas, Claire? – perguntou, encarando-me.

— Na mesma. – respondi, parando meu olhar nele – Não consigo parar de pensar no que aconteceu nem por um minuto sequer.

— E como você se sente quanto a isso? – questionou, assim como todo psicólogo pergunta.

— Você pergunta isso toda vez, saco! – retruquei, irritada – Eu me sinto triste, brava, às vezes tenho até vontade de voltar no tempo e mata-lo antes que ele matasse todo mundo!

— Então você tem vontade de mata-lo? Mesmo tendo feito um juramento como médica?

— O que é você, um advogado de acusação? – rebati, sentindo-me insultada – Está dizendo que não sou uma boa médica?

— Hey, esse não é para ser um ambiente hostil, lembra? Eu só estou tentando ajuda-la. – disse, calmamente – Eu não estou julgando-a, só que na minha opinião toda essa sua raiva te atrapalharia na SO. Já imaginou se você pensasse que o paciente na mesa é o Sr. Clarke, e num surto o mata?

— Eu sei manter meus problemas pessoais separados da minha profissão, doutor. – respondi, cruzando os braços.

— E se o Sr. Clarke ainda estivesse vivo, e viesse até o hospital procurando ajuda? Você o atenderia assim como jurou que o faria?

— Ainda bem que não preciso me pôr nessa situação, porque ele está morto, não é? – falei, encarando-o desafiadoramente.

— Olha, eu sei que você passou por muita coisa, mas precisa aprender a lidar com essa raiva... E enquanto isso não acontecer, não posso liberá-la para cirurgia.

— O quê?! Eu sou uma cirurgiã, droga! Se eu não for participar de cirurgias, qual é o ponto? – reclamei, descruzando os braços – Diga-me um jeito mágico para lidar com minha raiva, já que é tão bom.

— Tem alguma coisa te perturbando sobre aquele dia. Comece por aí.

— Tudo sobre aquele dia me perturba! Meu namorado foi morto com um tiro na cabeça, bem na minha frente. Se isso não for perturbante o suficiente, eu não sei o que é.

— Eu sei que foi horrível, mas ainda assim, tem alguma ponta solta sobre o que aconteceu lá, que você precisa lidar.

— Quer saber, eu tenho pacientes para ver. – perdi a paciência e levantei-me – Você é um péssimo psicólogo. – falei antes de dar as costas e sair dali, furiosa.

De repente me senti um pouco zonza, e meu estômago revirou de uma vez, fazendo tudo que eu havia comido no café da manhã antes de meu pequeno surto voltar até minha boca. Corri até o banheiro mais próximo tapando minha boca, e adentrei um box rapidamente, deixando o vômito sair no vaso sanitário. Fiquei abraçada com a bacia até meus sentidos começarem a voltar ao normal, e amaldiçoei aquele terapeuta por ser tão chato que me embrulhara o estômago. Por um segundo me ocorreu algo, mas o pensamento foi interrompido pelo som do meu bipe. Olhei para o aparelho, que indicava emergência, e xinguei qualquer palavrão baixinho, dando descarga e lavando o rosto antes de disparar pelo corredor, chegando na Sala de Exames em pouco tempo.

— O que aconteceu? – questionei adentrando o local, e as enfermeiras cercavam o paciente.

— Ele teve uma convulsão. – respondeu uma das mulheres, que segurava o homem firmemente.

— Droga, já biparam o Shepherd? – perguntei, indo até a pequena sala que controla as máquinas.

— Já. – afirmou alguma delas, e eu me aproximei do computador que comandava as imagens.

— O exame está pronto? – olhei o moço que tomava conta dali, e depois a tela do computador.

— Sim. – disse pegando algumas chapas com as imagens.

Dei uma olhada e neguei com a cabeça, suspirando.

— Ele está com uma hemorragia no cérebro, tem que ir para uma SO agora. – afirmei ainda estudando os exames – Bipe Shepherd de novo! – ordenei e saí no corredor, olhando para o Quadro de Cirurgias – Avise a SO 6 que estamos indo, hemorragia cerebral. – falei a uma enfermeira que ficava no balcão, e a mesma concordou com a cabeça, já pegando o telefone.

— O que houve? – perguntou Derek, olhando-me rapidamente antes de entrar na sala.

— O paciente caiu de um monociclo, estava fazendo os exames e começou a ter uma convulsão. Minhas anotações iniciais já mostravam preocupação, e pelas imagens eu diria que é hemorragia. Já pedi para prepararem uma Sala de Operações. – respondi, enquanto o homem analisava os exames.

— Está certa, muito bem. – assentiu, e virou-se para mim – Você é aquela interna que...

— Sim, a que perdeu o namorado no tiroteio. – cortei-o, impaciente.

— Eu sinto muito. – fez que “sim” com a cabeça.

— Todos sentimos. – falei, friamente.

— Já está liberada para cirurgia? – questionou, lançando-me aquele olhar de piedade que todos faziam ultimamente.

— Não. – suspirei, fechando os olhos.

— É uma pena, mas foi uma boa sacada. Quem sabe na próxima, não é? – disse e partiu em direção ao paciente, saindo dali rapidamente.

— Pois é, quem sabe... – murmurei para mim mesma, e segui para a galeria, apenas porque não tinha mais nada para fazer. Fiquei ali esperando até que a cirurgia começasse, e finalmente Derek Shepherd aproximou-se da mesa.

— Okay pessoal, é um belo dia para salvar vidas. – disse, e pareceu notar minha presença na galeria, pois olhou diretamente para mim, aparentemente sorrindo com o olhar – Vamos começar, bisturi. – esticou a mão para a equipe, ainda me encarando.

—-

Depois de ter assistido a toda a cirurgia do meu paciente, que foi um sucesso, chequei seu estado no pós-operatório e fui à procura de Rebecca. Enquanto caminhava pelo corredor, senti um forte enjoo novamente, e apressei-me para o banheiro, vomitando o que ainda restava em meu estômago. Foi quando aquele pensamento voltou a aparecer, e eu levei a mão à minha boca, chocada. E se eu estivesse grávida? Eu havia vomitado algumas vezes antes, mas pensei que fosse apenas stress. Minha menstruação estava atrasada, mas ela nunca foi regular de todo jeito. Não tomava anticoncepcional, e andei fazendo sexo com Akira sem proteção. Apesar de não querer aceitar a ideia, fazia muito sentido.

Decidi que não poderia ficar com aquela dúvida nem mais um segundo, então corri até o almoxarifado, pegando um teste de gravidez. Voltei sorrateiramente até o banheiro, porém trombei com ninguém mais ninguém menos do que minha mais nova amiga: Rebecca.

— Hey, eu estive te procurando... – começou a falar, mas parou ao ver minha expressão assustada – Está tudo bem?

— Sim, claro, eu só estava... – respondi, não conseguindo inventar nenhuma desculpa.

— O que está escondendo embaixo do jaleco? – questionou, encarando minha mão, que estava por baixo da vestimenta branca. Não respondi nada, e a mesma partiu para cima de mim, e com pouco esforço conseguiu ver o que eu segurava – Oh... Você acha que...

— Eu não sei, há vários sinais... Você pode me deixar fazer o teste, por favor? – falei, desconfortável.

— Claro, mas nós vamos ver isso juntas. – afirmou, empurrando-me para dentro do banheiro – Vai rápido, por favor, eu estou curiosa.

— Não me apresse. – repreendi-a e entrei em um box. Tirei o jaleco e joguei por cima da porta, abaixei as calças e me sentei no vaso, tentando deixar o nervosismo de lado e conseguir urinar no maldito palitinho.

Nós precisamos de um motivo para recomeçar. Algo para nos agarrarmos. Uma motivação, como eu mesma já disse. Alguma coisa, ou alguém, que nos ajude a seguir em frente. Quando perdemos alguém querido, um pedaço de nós se vai com essa pessoa. O tempo que temos com quem amamos nunca será o suficiente. Sempre iremos querer mais, não tem jeito. Achamos que estamos preparados para o que der e vier, mas não estamos. Porém, quando menos esperamos, algo acontece. Algo que nos mantêm nos trilhos. Que nos ajuda a levantar da cama todos os dias. Alguma coisa para lutar por, e para viver por. Mas, às vezes, não estamos prontos para isso, e nos vemos sem chão novamente. Fazer o que, é a vida. Temos que abrir nossos olhos, pois a vontade de desistir de tudo pode nos vencer, eventualmente. Não a deixe! Agarre-se às pessoas, peça ajuda. E saiba que a qualquer momento, a vida pode te dar outra rasteira.

Finalmente consegui urinar, e encarei o palitinho, tremendo de nervoso.  


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Notas finais do capítulo

Agora mais essa para a Claire, quando a gente acha que não pode piorar... E vocês, acham que o teste vai dar positivo ou negativo? E o Akira fez falta para vocês? Comentem aí, por favorzinho!
Beijos, e até mais!



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