Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 32
Capítulo 29 – Can’t Help Falling In Love.


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Eu sei que andei sumida, então tenho alguns recados para dar.
Primeiramente, mil desculpas pelo sumiço. Mas ele tem justificativa: eu fiquei muito doente há algumas semanas. Peguei uma doença chamada mononucleose, causada por um vírus, e que ataca principalmente a garganta. Com isso, eu não conseguia comer direito, tinha muita febre, e fiquei nessa umas duas semanas. Consequentemente, não conseguia escrever, e acabei me ausentando daqui porque estava totalmente atrasada com os capítulos.
O segundo recado é que eu PASSEI NA USP (eeeeee), coisa que eu batalhei tanto ano passado. E a faculdade é em outra cidade, então eu ando totalmente enrolada com os detalhes da mudança, matrícula, comprar coisas pro apartamento, etc. Essa é minha última semana em casa, então mesmo no meio do caos, eu tentei me dedicar um pouco à escrita, e deixei mais dois capítulos além desse prontos. Eu me mudo sábado agora (24/02) e minhas aulas começam segunda (26/02), e não faço ideia como vai ser minha nova rotina, e se vou conseguir arrumar tempo para escrever. Peço que sejam pacientes então, caso eu desapareça mais do que o normal. Eu não quero e nem pretendo abandonar a história, mas as coisas vão ficar complicadas a partir de agora.
E em terceiro, gostaria de agradecer pois chegamos às 4000 leituras na fic. Eu amo vocês, obrigada por estarem comigo nessa jornada! Espero que continuem comigo até o fim.
Bom, acho que era isso que tinha de recados. Agora, vou falar um pouco sobre o capítulo. Ele é um pouco baseado em um certo episódio da segunda temporada da série, que vocês logo vão descobrir qual é. Sem contar que ele ficou meio que um tributo ao Elvis, então se vocês gostam do cantor, dou a vocês essa "homenagem" (não é para tanto, mas...). E uma curiosidade desse capítulo, é que ele não estava planejado originalmente na fic, acabei colocando-o de intruso depois de ler a notícia na qual ele é baseado (sim, ele é baseado em fatos reais). Aqui está o link da notícia, caso se interessem: https://estilo.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2017/11/13/menina-se-casa-com-melhor-amigo-como-pedido-antes-de-4-cirurgia-cardiaca.htm
A música de hoje é uma das minhas favoritas do Elvis Presley (se não for A favorita), muuuuito linda, por sinal. Recomendo muito. Link: https://www.youtube.com/watch?v=vGJTaP6anOU
Acho que já chega, né? Espero que gostem do capítulo. E se leram até aqui, parabéns e boa leitura!



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Sempre tem algo em nossas vidas, que simplesmente não conseguimos nos desapegar. Seja esse uma pessoa, uma coisa, uma ideia, até mesmo um sonho. Às vezes, ficamos tão fixados em algumas coisas, que pode nos fazer mal. E acabamos perdendo o controle sobre esse desejo compulsivo.

— Eu quero saber tudo. – afirmou Rebecca, desviando os olhos do trânsito para mim rapidamente.

— O quê? – fiz-me de desentendida, franzindo o cenho para ela.

— Olha, você dispensou minha carona ontem e deixou o hospital com o Erick. Você me deve explicações. – falou erguendo os ombros, com sua atenção voltada ao caminho.

— Okay. – revirei os olhos, cedendo – Eu saí com o Erick de novo.

— Disso eu sei. E o que mais? Como andam as coisas aí? Vocês já...? – interrogou e finalizou olhando-me de maneira sacana.

— Não! – exclamei constrangida, rindo fraco – Nós nem nos beijamos ainda. – encarei minhas mãos em meu colo, envergonhada.

— Não creio! – arregalou os olhos – E ele ainda não te deu um bolo? Esse aí é empenhado...

— Eu só não me sinto pronta, okay? – suspirei – Meu psicólogo disse para eu esperar meu tempo e não sentir-me pressionada a dar um passo à frente.

— Bom, eu entendo um pouco seu lado... – assentiu levemente – Mas quando sentir-se pronta e chegar no pote de ouro, tome cuidado! Use camisinha, tome anticoncepcional, enfim, você conhece os métodos contraceptivos. Afinal de contas, você não quer ter gêmeos de todos os namorados que você tiver, certo? – aconselhou, de forma descontraída, mas parecendo bem séria.

— Rebecca! Eu sei! – disse inconformada, ficando vermelha – Obrigada, mamãe. – sorri ironicamente.

— Eu estou falando sério, Claire! Nada de mais bebês por enquanto. Outro coma também não cairia bem. – virou-se para mim e disse firmemente.

Neguei com a cabeça e soltei um riso leve, voltando-me para a janela do carro, observando assim a paisagem de sempre.

Alguns minutos depois, já estávamos no vestiário dos residentes, e eu calçava meu All Star cinza em silêncio. Estava pensativa sobre Erick. Eu gostava dele, mas não sabia muito bem se via um futuro ali. Sem contar que Ronan ainda predominava em meu coração, mesmo evitando-o o máximo que podia.

— Vejo vocês mais tarde. – despediu-se Anastasia, saindo do cômodo.

— Vou nessa também. Até mais. – Rebecca seguiu para fora também, deixando-me sozinha com Diego.

— Tchau, Scofield. – acenou e saiu.

Respirei fundo para espantar os pensamentos em minha mente e também deixei o local, procurando por minha Atendente do dia: Cristina Yang. Não seria um dia fácil. Encontrei-a na ala pediátrica e bipei meus internos lá, um pouco hesitante em falar com a médica.

— Bom dia, Dra. Yang. – cumprimentei, sorrindo simpática.

— Bom dia... – olhou meu crachá – Dra. Scofield. Por favor, siga-me. – pediu e começou a caminhar pelo corredor. Meus internos foram aos poucos juntando-se a nós, e quando chegamos em nosso destino, todos os cinco estavam presentes.

— Olá, Yang. – falou Alex Karev, que encontrava-se dentro do quarto da paciente – Essa é a Lisa, nossa queridíssima paciente, e sua mãe Ophelia. – apontou para uma garotinha, que estava internada, e para uma mulher – Meninas, essa é uma de nossas melhores cardiologistas, Dra. Yang, e sua residente, Dra. Scofield. Os outros não são muito importantes. – deu de ombros na última frase.

— É um prazer. – a asiática sorriu educadamente – Bom, vamos começar. Quem vai apresentar o caso? – virou-se para mim, e eu passei os olhos por meus internos, decidindo.

— Dr. Hughes, por favor. – pedi, e o mesmo olhou-me com seu típico ódio, pegando o prontuário da mão de Alex.

— Lisa Bennett, 5 anos, nasceu com uma má formação do lado esquerdo do coração, a Síndrome de Hipoplasia de Coração Esquerdo. A paciente foi submetida às três etapas do tratamento, mas vem apresentando problemas cardíacos há alguns meses. Foi decidido então fazer um transplante de coração, e ela encontra-se na fila, como caso urgente. – o interno apresentou, alternando olhares entre os dois Atendentes e eu após terminar.

— Ela pode receber um coração a qualquer momento, então é bom estarem preparados. Continuaremos na cola da UNOS. – afirmou Yang, parecendo querer encurtar o assunto.

— Eu quero me casar. – disse a menina de repente, deixando todos confusos.

— E você vai se casar algum dia, Lisa. A Dra. Yang vai fazer um ótimo trabalho e conseguir um coração, e assim você vai viver muito tempo. – Karev aproximou-se dela, falando atenciosamente.

— Eu quero me casar antes da cirurgia. Quero me casar já! – rebateu a paciente, e ficamos perplexos.

— Querida, você é muito nova para se casar... – sua mãe colocou uma mão em seu ombro, tentando acalmá-la.

— Mas eu quero! – retrucou, e nós nos entreolhamos sem jeito – E se eu morrer? Aí nunca terei me casado. É o meu sonho, mamãe. – encarou a mulher com emoção, e isso deixou-me comovida.

— Filha, para ter um casamento, precisa de pelo menos um noivo. – Ophelia ergueu as sobrancelhas, na tentativa de fazer a menina mudar de ideia.

— Eu já pensei nisso, mamãe. – ajeitou-se na cama – Meu melhor amigo, Dylan. Ele não recusaria. – falou com convicção, parecendo até mais madura do que sua idade.

— Meu amor, isso está fora de cogitação... Primeiramente, você não pode sair do hospital, então não tem como darmos uma festa. E segundo, você ainda é muito jovem para isso. Tenha fé, um dia, quando você for mais velha, você irá se casar. – a mãe da paciente segurou a mão dela, aparentemente querendo ser convincente.

— Eu quero agora! Eu não quero esperar mais! – Lisa insistiu, e o clima ficou tenso, pois ninguém sabia muito bem o que fazer.

— Se é realmente o que você quer, nós podemos ligar para a Make-A-Wish e vermos se ela providencia o casamento. – sugeriu Alex, quebrando um silêncio que havia sido estabelecido.

— Dr. Karev, não será necessário... Sem contar que ela não pode deixar o hospital, então não tem como ter festa. – a mulher negou com a cabeça, parecendo sem jeito.

— Nós poderíamos dar a festa no hospital. – Cristina pareceu dizer sem pensar – Quero dizer, já tivemos um baile de formatura aqui para uma paciente, por que não um casamento? – deu de ombros, deixando meus internos e eu confusos.

— Sim, mas era para a sobrinha do Chefe. – o pediatra falou, aparentemente inseguro com a ideia.

— Owen não vai recusar. Eu tenho certeza. – a asiática pareceu convicta – Se você quiser, podemos ver com o Chefe da Cirurgia se ele aprova realizar o casamento aqui. Você será completamente monitorada por vários médicos, e qualquer problema, já estará aqui, então o socorro será rápido. – encarou a menina seriamente.

— Sim! É o que eu quero! Obrigada, Dra. Yang. – Lisa abriu um sorriso que iluminou o quarto, fazendo a decisão parecer certa mesmo.

— Sra. Bennett, acompanhe-me, por favor. – pediu a cardiologista, chamando a Karev, meus internos e a mim com a cabeça, antes de caminhar para fora do quarto. Todos a seguimos, deixando a paciente sozinha dentro do quarto – Você está de acordo com isso?

— Se for possível, estou sim. O que não faço por minha filhinha? – riu fraco.

— Eu conversarei pessoalmente com o Chefe, e acertarei os detalhes com você. Manterei contato. – afirmou Cristina, e a mulher assentiu.

— Muitíssimo obrigada, Dra. Yang. – agradeceu sorridente.

— O que não faço por minhas pacientes? – brincou a cirurgiã, fazendo-me estranhá-la.

Despedimo-nos de Ophelia e continuamos o caminho pelo corredor, todos um pouco apreensivos.

— Você perdeu a cabeça? – indagou Alex, franzindo o cenho.

— Qual é a surpresa? – Yang brecou, olhando-o desafiadoramente – A garota pode sim morrer a qualquer momento, e tem um sonho de se casar. Por que não ajuda-la, se está em nosso alcance? – questionou, com sua comum leve hostilidade – Eu conversarei com o Owen, não se preocupe quanto a isso. Agora, eu tenho um casamento para arranjar. – finalizou e virou-se para mim – Scofield e figurantes, tomem conta do meu pós-operatório. Eu os biparei quando precisar. – ordenou e deu as costas, partindo em direção ao elevador mais próximo.

— Ela perdeu a cabeça. – o médico suspirou, negando com a cabeça e tomando seu caminho também, deixando-me com meus internos.

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— Então, eu conversei com o Chefe, e ele aprovou a festa ser realizada aqui, no entanto, precisamos da ajuda da Make-A-Wish, então teremos que ligar lá para sabermos se conseguiremos seu apoio. – afirmou Cristina – Não quero precipitar nada, mas seria bom já começarmos a planejar, mesmo que pelas costas da Lisa. Para não criarmos expectativas nela. Então poderíamos começar com uma lista de convidados.

— Lisa não tem muitos amigos. Na verdade, seu único amigo é Dylan, que vai ser o noivo, no caso. Ela nunca pôde sair muito de casa, então o único contato que teve foi com esse garoto, que é nosso vizinho. Quanto à família, também não temos, então não teremos convidados. – explicou Ophelia, tristemente – Por isso que estava pensando em abrir a festa à equipe do hospital, inclusive aos pacientes da ala pediátrica. Assim ela teria a oportunidade de fazer novos amigos.

— Falando em Dylan, temos que conversar com o garoto, vai que ele não topa. – disse Karev.

— Então nossa lista de convidados serão os médicos, enfermeiros e pacientes da ala pediátrica? – questionou a asiática – Okay, então... Você. – apontou para Sud – Faça a lista, e já exija confirmação.

— Mas quando será a festa? – indagou a indiana, confusa.

— Faça a lista, depois de ligarmos na Make-A-Wish nós vemos a data e exigimos as confirmações. – revirou os olhos – Você. – agora apontou para Daniel – Cuide da fundação, explique o caso para eles e tente convencê-los a ajudar. E você, Sra. Bennett, fale com o noivo. O resto, teremos que esperar para ver após uma resposta concreta. Alguma pergunta? – todos negaram com a cabeça – Agora vamos nos mover.

Todos tomaram rumos diferentes, inclusive meus três internos que sobraram e eu, que fomos terminar de checar os pós-operatórios de Yang. Pude ouvir meus alunos conversando sobre a festa, e todos pareciam empolgados. Confesso que também estava, afinal eu amava casamentos, e aquele seria especial. Cristina tomara uma bela iniciativa, e bastante incomum vindo da médica. Mas ela parecia diferente desde que voltara de Minnesota.

Algum tempo depois, todos fomos bipados novamente, agora em frente ao quarto da paciente. Fomos chegando aos poucos, até que finalmente todos estavam no ponto de encontro.

— Okay, então primeiramente, garoto da Make-A-Wish, conseguiu? – perguntou a asiática, olhando para meu interno.

— A fundação topou ajudar integralmente com o casamento, e irão mandar uma representante ainda hoje, para começarmos a combinar os detalhes. Eu disse que era urgente e teria que ser feito o mais rápido possível, então assim será feito. Nós conversamos de marcar para daqui uma semana. – explicou Daniel.

— Ótimo! Agora, Ophelia, você conseguiu a confirmação do noivo? – virou-se para a mãe da paciente.

— Sim. Ele aceitou na hora, e parece muitíssimo animado. – a mulher respondeu sorridente.

— E quanto à lista de convidados? – voltou-se para Sud, que segurava uma prancheta.

— A maioria não pôde dar certeza, porque ainda não tínhamos um dia definido. Quase todo mundo deu o nome, mesmo não sabendo se viria. – disse a indiana, folheando as várias folhas cheias de nomes.

— Então procure esse pessoal novamente, agora exigindo confirmação. – ordenou, e a jovem revirou os olhos e saiu dali rapidamente – Eu acho melhor conversarmos com a Lisa junto com a moça da Make-A-Wish, então vamos aguardar. – Yang assentiu, e todos a imitamos.

Enquanto esperávamos, comecei a imaginar um milhão de cenários naquela festa. Eu queria participar de tudo, decoração, buffet, música, vestido... Seria a melhor brincadeira de boneca da minha vida. Afinal, um de meus maiores sonhos era ter o casamento clichê de sempre, comigo vestida de branco, caminhando ao som de uma marcha nupcial até meu belíssimo noivo, que estaria vestido de terno e gravata, e quando eu chegasse no altar, entregaria meu buquê para minha melhor amiga, que estaria vestida da mesma cor que as outras madrinhas e se acabando em choro. Eu sei que parece bobo, mas era meu sonho de infância, então eu compreendia aquela garotinha.

Vários minutos se passaram, e nada da representante da fundação chegar. Todos já apresentavam cara de tédio, e revezavam para olhar em seus relógios de punho. Eu encontrava-me sentada no chão, com as costas encostadas no balcão das enfermeiras, e encarava o teto, imaginando toda a festa. Eu nem vira o tempo passar, e tampouco estava entediada. Na verdade, estava bastante animada.

— Bom dia, eu sou Cindy, voluntária da Make-A-Wish, e vim para ajudar no casamento de uma de suas pacientes. – aproximou-se e apresentou-se uma moça, e todos suspiraram aliviados.

— Até que enfim... – murmurou Daniel, levantando-se do chão à minha frente – Olá, eu sou o Daniel, eu conversei com você por telefone. – estendeu a mão para ela apertar.

— Ah sim, então é você... – sorriu e apertou sua mão.

— E eu sou Cristina Yang, a cirurgiã cardiotorácica dessa paciente, esse é Alex Karev, seu cirurgião pediátrico, e essa é Ophelia Bennet, a mãe. – disse a médica, e apontou para seu colega e para a mulher – Vamos conversar logo de uma vez com a noiva, que tal? – sorriu um pouco forçado e adentrou o quarto, onde Lisa via algum desenho na TV – Lisa, podemos falar com você um minutinho?

— É sobre meu casamento? – indagou a garotinha, arregalando os olhos em expectativa.

— Sim. – a cirurgiã concordou com a cabeça, com um sorriso no rosto – Essa é a Cindy, da fundação Make-A-Wish, ela vai ajudar a planejar tudo. Divirtam-se. Agora, se vocês me dão licença, eu tenho algumas coisas para fazer. Mantenham-me informada. – pediu e deixou o quarto.

— É um prazer, Lisa. – disse a voluntária – Agora vamos ao que interessa. Você tem alguma ideia? Diga-me o que pensa. – pegou um bloco de anotações e uma caneta em sua bolsa, e preparou-se para anotar.

— Bom, eu penso em usar um vestido branco e longo, é claro, e quero que a gravata do Dylan seja rosa, combinando com as flores. – explicou a menina, parecendo realmente entender do assunto – E eu quero muitas flores, e um tapete rosa até no altar. Quero que minhas madrinhas também usem rosa.

— Você não acha que é muito rosa não? – Cindy ergueu uma sobrancelha.

— Eu não acho. – negou com a cabeça, fazendo um biquinho.

— Aqui é o que eu acho: colocamos um tapete rosa bebê até o altar; as flores mesclamos rosa com branco, predominando o branco; e a gravata do noivo um rosa mais forte, enquanto as dos padrinhos rosa mais claro, assim como os vestidos das madrinhas. O que você acha? – sugeriu a mulher, olhando para a garota depois para nós. Eu assenti empolgada, imaginando como ficaria lindo.

— Gostei! – concordou sorridente.

— Okay... – escreveu algumas coisas no bloco de notas, voltando sua atenção para a paciente logo em seguida – Qual é sua comida favorita?

— Pizza! – respondeu na lata, fazendo-nos rir fraco.

— Não podemos servir pizza no casamento, eu lamento... – a mulher fez que não com a cabeça – Que tal... – ficou um pouco pensativa, batendo a caneta em seu queixo – Torradas com patê e tábua de frios como aperitivo; salada verde como entrada; depois, como prato principal, batata gratinada, salmão grelhado com legumes e costeletas de porco ao molho madeira; e a sobremesa o tradicional bolo de algum sabor de sua preferência. Você gosta dessas coisas?

— Sim! E bolo de chocolate! – exclamou animadamente.

— Bolo de chocolate será. – assentiu e anotou tudo – Agora temos que discutir o que serviremos no bar. Mãe, você prefere com bebidas alcoólicas ou sem? – virou-se para a mulher, que até então observava tudo calada.

— Bem, eu não tenho nada contra bebidas alcoólicas, mas acho que nessa ocasião seria melhor evitar. É o casamento de duas crianças. – deu de ombros.

— Tudo bem, então serviremos refrigerante e suco, pode ser Coca-Cola, Fanta, Sprite, suco de laranja, uva e abacaxi?

— Suco de maracujá também, por favor. É o favorito da Lisa. – pediu Ophelia, e a organizadora concordou com a cabeça enquanto escrevia.

— Música: DJ ou banda?

— Lisa ama o Elvis, então, se possível, poderíamos trazer algo relacionado.

— Sósia do Elvis é o que mais tem por aí, principalmente em Las Vegas. Poderíamos mesclar com um DJ também, para não ficar só um tipo de música a festa toda.

— Eu quero que o Elvis cante na minha festa! – exigiu a menina.

— Bem, docinho, vai ser quase isso. – a representante falou um pouco hesitante – Como não vai ser um casamento oficializado pela constituição, vocês têm preferência em alguém para realiza-lo?

— O pastor de nossa igreja, por favor. Tenho certeza que ele não vai recusar. – respondeu Bennett.

— E as madrinhas e padrinhos? Lembrando que normalmente a noiva escolhe as madrinhas e o noivo os padrinhos, mas não é regra. E uns três de cada é o suficiente.

— Eu não tenho amigas para serem minhas madrinhas. – Lisa disse tristemente, deixando o clima um pouco tenso.

— Nós poderíamos ser suas madrinhas. – afirmei, sem pensar muito – Quero dizer, você pode escolher entre nós médicas. Ficaríamos honradas. – dei de ombros.

— É uma excelente ideia! – a garotinha soltou um sorriso largo – Eu quero você, a Dra. Yang, e aquelas ali, inclusive a outra que não está aqui. – apontou primeiramente para mim e depois para minhas duas internas.

— Mas aí são cinco, querida. A moça disse para serem três. – sua mãe interviu, erguendo as sobrancelhas.

— Sem problemas, se é o que ela quer, teremos cinco madrinhas. – Cindy assentiu, e anotou mais algumas coisas – Traga o noivo, precisamos combinar algumas coisas com ele. Enquanto isso, vamos distribuir tarefas. Daniel, você corre atrás das bebidas; garotas, vocês cuidam da decoração; Claire, você e Ophelia vão escolher o vestido; e vou atrás do buffet e da música. Fiquei sabendo que já tem alguém fazendo a lista de convidados, então digam a essa pessoa que quanto mais cedo obtivermos todas as confirmações, melhor. Obrigada a todos, podem ir fazer o que precisam. – ordenou, e cada um tomou um rumo, sobrando apenas ela, a paciente, sua mãe e eu.

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As notícias sobre a festa de casamento já haviam se espalhado pelo hospital, e todos estavam comentando sobre. Cada médico podia levar um convidado extra, no entanto, era possível ver que vários estavam convidando uns aos outros, e os casais iam aparecendo cada vez mais. Eu ainda não sabia o que fazer com meu +1, então apenas observava, pensativa.

Encontrava-me no quarto da paciente, cercada de vestidos que foram levados especialmente para ela. Enquanto ela experimentava o milionésimo, ouvi meu bipe e peguei-o para ver o que era, revirando os olhos ao descobrir. Bailey me bipava no quarto de Ronan, provavelmente para apenas mais uma consulta de rotina. Normalmente, eu fingiria estar ocupada e mandaria algum interno, mas naquele dia todos estavam ocupados com os preparativos do casório, então eu seria forçada a encará-lo mais uma vez. Respirei fundo e guardei o aparelho de volta no uniforme, levantando-me da poltrona em que estava sentada.

— Tenho que ir. O dever me chama. Volto logo, eu acho. – falei à Ophelia, que apenas assentiu.

Deixei o cômodo e caminhei lentamente até meu destino, sem a mínima vontade de chegar. Entretanto, acabei finalmente chegando, e encontrei Owen e Bailey checando-o.

— Com licença, boa tarde. – cumprimentei e adentrei o local, sentindo o olhar intenso do paciente em mim.

— Finalmente. – Miranda disse de forma levemente repreensiva – Pegue o prontuário e vá anotando o que observarmos.

— Desculpe-me, eu estava ocupada com os preparativos para o casamento. – afirmei e peguei o fichário, querendo de certa forma assustar o homem pelo qual não deveria estar apaixonada.

— O quê?! Que casamento? – exclamou O’Kelleher, arregalando os olhos. Sorri satisfeita e ergui uma sobrancelha para ele, ironizando seu choque.

— Uma garotinha que está na fila do transplante de coração exigiu que quer se casar antes da operação, e o hospital se ofereceu para dar a festa, já que ela não pode sair daqui. – explicou a cirurgiã, tranquilizando-o não intencionalmente.

— As enfermeiras disseram que você anda deprimido. Talvez você pudesse ir ao casamento também. Será bom para distrair, e não seria necessário nem deixar o hospital, então terá monitoramento o tempo todo. O que acha? – sugeriu Hunt, erguendo os ombros. O moreno olhou-me sugestivamente e sorriu de canto, parecendo interessar-se.

— Eu acho uma ótima ideia. Que dia vai ser? Não que faça muita diferença, mas é para eu me preparar... – virou-se para o ruivo.

— Daqui uma semana. – respondi, querendo chamar sua atenção para mim novamente. Sorri sarcasticamente e comecei a anotar algumas coisas que Bailey cochichou para mim, voltando minha atenção para o prontuário.

— Todos os convidados daqui do hospital podem trazer uma pessoa extra, então Katlheen pode vir também. – falou o traumatologista, fazendo-me arregalar os olhos, com minha ficha finalmente caindo. Fitei o paciente por cima do prontuário, esperando sua resposta com os olhos fixos nos seus.

— Isso é... ótimo. – concordou hesitante, parecendo sem jeito. Notou meu olhar e então encarou-me, enquanto eu tentava esconder meu desapontamento.

— Ótimo. – o médico sorriu fraco e assentiu levemente.

— Tudo parece bem aqui. – Bailey tirou-me de meu transe, afastando-se da maca – Voltaremos amanhã. Passar bem. – jogou as luvas fora e saiu dali, sendo seguida primeiramente por Owen. Desviei o olhar do dele e também deixei o quarto, entregando o prontuário para uma enfermeira do balcão.

Avistei Erick mais para frente naquele mesmo corredor, conversando com uma enfermeira, e tive a mais brilhante ideia. Meu +1 estava decidido. Se Ronan pensava que sairia por cima nessa, ele estava enganado. Apressei-me na direção do cirurgião, que dispensou a moça com que conversava ao me ver, e veio ao meu encontro.

— Hey. – cumprimentei, sorrindo simpática.

— Hey. – imitou-me, parecendo um pouco surpreso.

— Você ouviu falar no casamento que vai ter aqui no hospital? – perguntei, como quem não queria nada.

— Sim, claro. Achei uma atitude bem interessante. – concordou com a cabeça.

— Então, você já sabe quem vai trazer no seu +1? – indaguei, começando a ficar sugestiva.

— Não, na verdade. – negou com a cabeça.

— Quer vir comigo? – questionei na lata, sem pensar demais para não desistir.

— Claro! – sorriu, aparentemente já prevendo que isso aconteceria – Eu te busco na sua casa?

— Sim, às 19:00. – concordei, também sorridente.

— Escuta, nós temos que comprar presentes? Porque se sim, eu não faço ideia do que dar. – cochichou e riu fraco.

— Acho que não. Afinal, um jogo de panelas não seria muito útil para os noivos, por exemplo. – fiz que não com a cabeça, dando de ombros.

— Só se forem de brinquedo. – fez uma cara de deboche, e ambos rimos de seu comentário.

 

1 semana depois.

 

Estava sentada em meu quarto, encarando meu reflexo no espelho da penteadeira. Eu acabara minha maquiagem havia poucos segundos, e estava analisando-a. Nunca fui muito boa nessas coisas, então não era a maior obra de arte do mundo, mas já quebrava um galho. Usara cores mais claras na sombra, dando mais destaque aos meus lábios, que estava num vinho mais escuro. Não arrisquei muito no cabelo também, deixando-o solto como sempre, levemente cacheado com o babyliss.

Levantei-me e fui dar uma última olhada no espelho de corpo inteiro pregado na porta do meu guarda-roupas. Eu usava um vestido rosa bebê, assim como o combinado, que possuía alças um pouco caídas nos ombros, feitas de pedrinhas brilhantes, assim como uma faixa na cintura. O resto era bastante simples, sendo o busto com o tecido franzido, e o resto todo liso até os pés. Era muito bonito, e ressaltava minhas curvas que estava conseguindo com esforço na academia. Dei uma viradinha e analisei as costas, que ficavam metade à mostra, tendo algumas fitas cruzadas para amarrar já na reta da cintura. Aquele modelo valorizava minha bunda, o que deixou-me ainda mais satisfeita. Eu poderia dizer que estava sentindo-me linda naquela noite, e não podia negar que queria me mostrar para certas pessoas.

Escutei o barulho da campainha e apressei-me para pegar minha bolsa de mão, que também era feita de pedrinhas brilhantes, combinando com as do vestido. Desci rapidamente, encontrando Erick conversando com minha mãe, ainda próximos da porta. Ao me ver, o homem ergueu as sobrancelhas, parecendo impressionado, e acompanhou-me com o olhar enquanto eu me aproximava.

— Minha filha, você está linda! – minha mãe sorriu e colocou a mão na boca, enquanto meu pai assoviou como elogio.

— Gente, menos. – ri sem graça – Vamos, Erick. Tenho que estar lá antes da noiva.

— Vamos. Foi um prazer conhece-los, e prometo cuidar bem da filha de vocês. – o loiro sorriu simpático.

— Qualquer problema com os gêmeos, me liguem na hora. – pedi, indo até as cadeirinhas de balanço dos dois, que estavam no meio da sala. Dei um beijo na testa de cada um e na bochecha de meus pais.

— Pode ficar tranquila, filha. Divirta-se! – minha mãe assentiu, e eu imitei-a.

— Okay, tchau. – acenei e deixei a casa junto com Erick. O mesmo apressou-se na minha frente e abriu a porta de seu moderno carro preto para que eu entrasse, fazendo-me rir fraco e sorrir agradecida. Seguimos o resto do caminho em silêncio, tendo apenas a rádio de fundo.

Chegamos no hospital depois de longos minutos, e subimos para o local onde aconteceria o casamento, que era um andar que fora esvaziado exatamente para isso. As coisas já estavam todas prontas, e alguns convidados já estavam ali.

— Como sempre atrasada, Scofield. – disse Karev, passando por mim. Foi quando notei que todos os padrinhos e madrinhas já estavam a postos, inclusive o noivo, que conversava com outros dois meninos de aparentemente sua mesma idade.

— A noiva está quase chegando. Pode tomar seu lugar. – falou Cindy, surgido do nada.

— Okay... – concordei e virei-me para Erick – Eu vou lá para o altar. Até mais. – apontei para frente e sorri fraco.

— Tudo bem. Você é a madrinha mais linda, se quer saber. – elogiou, fazendo-me corar.

— Obrigada... – abri um sorriso envergonhado.

— Agora vá lá, que eu vou sentar-me. – deu uma piscadinha para mim e saiu em busca de um lugar vazio.

Respirei fundo e subi no altar, sendo a madrinha que ficaria mais próxima da noiva. Estava de frente para Steve e ao lado de Yang, que ficara de frente para ninguém. O noivo tinha apenas dois amigos, então completou os padrinhos com Alex e meus dois internos, portanto estranhei a ausência do pediatra.

Alguns minutos se passaram e finalmente foi anunciado que a noiva chegara, então todos tomaram postos. Os convidados levantaram-se, e a música “Love Me Tender” do Elvis Presley começou a tocar, servindo de fundo para a entrada de Lisa, que caminhava lentamente em direção do altar, sendo acompanhada por Karev, o que justificou sua ausência como padrinho. A menina usava um vestido branco longo e cavado, tendo uma faixa rosa com uma flor na lateral em sua cintura, e na barra, por dentro do tule, era forrado por pétalas de flores que combinavam com a faixa, também usadas no buquê mescladas com algumas brancas. Ela apaixonara-se à primeira vista por aquele vestido, e nada tirou-o da cabeça dela. E ela realmente tinha bom gosto, pois ela parecia uma princesa, e seu sorriso de iluminar o mundo deixava-a ainda mais bela.

Quando os dois finalmente chegaram no altar, Alex sorriu e deu um beijo no topo de sua cabeça, tomando cuidado para não desmanchar o coque que prendia seus cabelos loiros. Tomou seu posto ao lado dos padrinhos e em frente de Yang, e a noiva entregou-me o buquê e posicionou-se de frente para o noivo, que também sorria um pouco abobalhado.

O pastor deu uma bela pregação, que falava – obviamente – sobre amor, juventude e sonhos. Confesso que foi tocante, e fiquei ainda mais emotiva quando visualizei Ronan em meio aos convidados. Ele conseguia ficar ainda mais perfeito vestido em roupas formais, usando um smoking preto com uma gravata borboleta azul escura, que combinava perfeitamente com seus olhos. O homem finalmente notou que eu encarava-o, e fixou seu olhar no meu, também parecendo comer-me com os olhos. Nosso momento foi interrompido por sua esposa, que cochichou algo em seu ouvido, tirando sua atenção de mim. Ela também estava um espetáculo de linda, com seus cabelos parcialmente presos em um penteado e um vestido longo que combinava com a gravata de seu marido. Eles sem dúvidas formavam um casal estupendo, mesmo que me doesse admitir.

A cerimônia foi um pouco demorada, mas nada muito maçante. Pelo menos não para mim, que amava aquele universo. A parte mais torturante foi ver Ronan trocando olhares apaixonados com sua mulher, conforme o pastor falava algo romântico. Na verdade, tais olhares vinham mais dela, ele apenas esboçava alguns sorrisos para disfarçar.

Quando a pregação acabou, todos foram para a parte reservada para a recepção, e começaram a comer os petiscos como se não houvesse amanhã. Nós já havíamos previsto tal coisa, pois como não teria bebidas alcoólicas, os convidados descontariam na comida, principalmente nos aperitivos. Então nesse sentido, ninguém passaria fome.

Estava numa mesa cheia de casais: Rebecca e Roger, Anastasia e Eli, Diego e seu namorado Mariano, que eu conhecera naquela noite, e, é claro, Erick ao meu lado. Todos tagarelavam animadamente, enquanto eu apenas observava o movimento. Na verdade, mesmo inconscientemente, eu procurava por Ronan, porque não queria perde-lo de vista por nenhum segundo sequer.

O sósia do Elvis cantava várias músicas do cantor, até que começou a cantar “Jailhouse Rock”, que é consideravelmente animada. De repente, Erick levantou-se da mesa e começou a fazer uma dancinha um pouco ridícula, tentando inutilmente imitar os movimentos de Presley. Começamos todos a rir, e aquilo chamava a atenção de algumas outras pessoas, que também riam.

— Eu amo essa música. – afirmou, ainda dançando. Começou a puxar uma corda imaginária que me arrastaria até ele, como se me convidasse para juntar-me a ele, e eu neguei com a cabeça, envergonhada – Vamos lá, Claire. Divirta-se um pouco. – continuou puxando-me imaginariamente, e decidi ignorar o fato de que não estava com álcool no sangue para justificar tal ato, levantando-me e indo com ele até a pista de dança, onde outras pessoas também dançavam.

Enfiamo-nos no meio da multidão e continuamos a dancinha que ele fazia antes, gargalhando conforme a música tocava. Fazia muito tempo que eu não agia de forma tão descontraída, e aquilo apagou meus problemas de certa forma, deixando-me bastante relaxada. E por alguns minutos, eu me senti genuinamente feliz. Experimentei de certa diversão que achei que nunca mais teria. E não queria que aquele momento acabasse mais.

Uma música lenta – que eu reconheci ser “Can’t Help Falling In Love”, também do cantor favorito da noiva – começou a tocar no lugar da anterior, deixando-me um pouco sem graça. Encarei o homem e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, rindo fraco. Eu não sabia muito bem o que fazer, afinal músicas lentas são para casais, e nós éramos um casal?

— Você me daria a honra dessa dança, senhorita? – estendeu sua mão em minha direção, com um sorriso galanteador no rosto.

Não respondi nada, apenas sorri de volta e peguei sua mão, sendo puxada por ele para mais perto de seu corpo. Pousou uma mão no meio de minhas costas, enquanto segurava a minha com a outra, com nossos braços dobrados e levemente erguidos. Passei os dedos por seu ombro e os parei ali, sem coragem de olhar seus olhos. Começamos a nos movimentarmos no ritmo da música, enquanto eu observava as outras pessoas à nossa volta. Todos estavam em casais, fazendo o mesmo que nós.

Foi quando avistei o casal que menos queria ver: Ronan e Katlheen. Em meio aos lentos rodopios, o homem que tirava minha paz finalmente também me notou ali, e nossos olhos fixaram-se uns nos outros. E por alguns momentos, só existiam nós dois ali, olhando-nos por cima dos ombros de nossos parceiros, sem que eles notassem. Era como se dançássemos um com o outro, evitando perdermo-nos de vista.

Take my hand, take my whole life too

For I can't help falling in love with you

Aquela música não poderia fazer mais sentido. Eu estava tentando, droga! Eu tentava me contentar com quem eu podia ter, no caso, Erick. Ele era um cara tão bacana, e que parecia estar tão interessado em mim. Com ele, a felicidade de um relacionamento sem preocupações parecia possível. Mas eu tinha que gostar do proibido! Daquele que eu não podia ter. Daquele que já tinha outra pessoa. Ah, como eu queria me desapegar e seguir em frente! Mas como dizia a música, eu não podia evitar apaixonar-me por ele.

De repente, fui interrompida daquela imensidão azul, quando Katlheen desencostou sua cabeça do ombro de seu marido e beijou-o, fazendo-o fechar os olhos por alguns segundos, no entanto voltou a abri-los e fitou-me por uma última vez, antes de ser chamado a atenção pela loira, que começou a conversar com ele. Foi só quando Erick tirou a mão de minhas costas e afastou-se um pouco que notei que a música acabara, e todos os pares estavam separando-se e deixando a pista de dança.

— Você está bem? – indagou o loiro, olhando-me preocupado.

— Sim. – menti e finalmente tirei meus olhos de Ronan e pousei-os em Erick – Só preciso de um pouco de ar. Já volto, okay? – forcei um sorriso e soltei sua mão, dando as costas para ele.

Passei rapidamente por O’Kelleher, e senti seus olhos seguindo-me, até que virei na primeira curva do corredor, procurando o elevador mais próximo. Entrei no elevador e apertei o botão do heliporto, esperando ansiosamente para ficar longe de todas aquelas pessoas. Entretanto, quando as portas estavam prestes a se fecharem, vi uma mão impedi-las, então elas voltaram a se arreganhar, revelando a figura do moreno. Ficamos nos encarando em silêncio por um tempo, e senti meu coração disparar com a imagem.

— Ronan, eu… – comecei a falar, mas fui interrompida.

— Pare de desculpas. – adentrou o local, aproximando-se de mim – Você sabe que não tem como fugir. Não importa quantos caras você namorar, uma coisa é certa: nenhum deles vai ser eu. Podem até ser príncipes encantados saídos direto de um maldito filme da Disney, mas não serão eu, logo não vão dar certo com você. – a cada passo que ele dava em minha direção, eu dava outro para trás – Eu sei que é complicado por causa da Kathleen e do bebê, mas assim que ele nascer, eu vou largá-la. Só quero poupá-la do estresse. Eu juro. – finalmente trombei com o fundo do elevador, sendo encurralada por seu corpo – O que me diz?

— Eu... – aquilo era muita tentação. Aquele homem maravilhoso com seu corpo colado no meu, dizendo aquelas coisas com seu sotaque irlandês extremamente sexy, era muito difícil de resistir. Mas eu precisava – ... não posso. Por favor saia, Ronan. Eu preciso ficar sozinha. – respirei fundo e retomei minha consciência, falando seriamente.

— Eu não vou te obrigar a nada. Mas mais cedo ou mais tarde, você fará tudo por conta própria. Pare de fugir e encare os fatos: seu coração pertence a mim. – sorriu sarcasticamente, ainda muito próximo.

— Vá. Embora. – ordenei pausadamente, começando a perder a paciência.

— Como quiser, madame. – curvou-se em minha direção como se me reverenciasse e soltou mais um de seus sorrisos antes de deixar-me sozinha no elevador.

Apertei o botão para o heliporto mais algumas vezes desesperadamente, sentindo a respiração descompassada. Escorei-me na parede suspirando aliviada ao sentir o movimento do elevador, esfregando as mãos no rosto para tentar me acalmar. Ao chegar em meu destino, saí do cubículo rapidamente e senti a brisa fresca atingir minha pele, fazendo um arrepio percorrer por todo meu corpo. Cruzei meus braços numa tentativa de aquecer-me, tremendo um pouco devido à desproteção ao frio. Fiquei ali parada observando a vista por não sei quanto tempo, totalmente perdida em pensamentos. Minhas preocupações estavam me esmagando e me sufocando, e, como sempre, eu não sabia o que fazer.

De repente ouvi o som do elevador chegando ali, e virei-me em sua direção em um ato reflexo, surpresa por ter alguém indo àquele lugar àquela hora. As portas se abriram e revelaram a figura de Erick, que parecia preocupado.

— Claire, você deve estar congelando! – exclamou e apressou-se até mim, tirando seu paletó e jogando-o sobre meus ombros.

— Está tudo bem. – sorri fraco em agradecimento e segurei a peça de roupa – Como você me achou aqui?

— Rebecca me disse que provavelmente estaria aqui. – respondeu, voltando-se para a paisagem – Uau. Nunca tinha vindo aqui.

— Sim, é um ótimo lugar para ficar sozinho e pôr os pensamentos em ordem. – também voltei a observar a vista.

— Funciona mesmo? – questionou com uma pitada de ironia, olhando-me com o canto dos olhos.

— Até hoje não consegui organizar tudo, mas estamos aí na tentativa. – ri fraco e dei de ombros.

— Eu estou nesses pensamentos desorganizados? – perguntou sugestivamente, fazendo-me olhá-lo sem graça.

— Talvez. – tentei fazer a misteriosa, mas não obtive muito sucesso, pois o homem soltou uma gargalhada.

— Você não é uma boa mentirosa. – fez que não com a cabeça, ainda rindo.

— E quem disse que eu queria mentir? – ergui uma sobrancelha, sorrindo sarcasticamente.

— Você me pegou. – rimos e negamos com a cabeça, ficando em silêncio – Eu só queria dizer que... eu sei que você passou por poucas e boas na vida, e mesmo não sabendo detalhes, eu entendo que você quer ir devagar...

— Desculpe-me por te enrolar tanto. E só que... é complicado. Tudo é complicado. Às vezes tenho vontade de enfiar minha cabeça em um buraco. – interrompi-o, sentindo-me um pouco culpada por deixa-lo esperando tanto.

— Você não precisa se desculpar. Eu entendo, de verdade. – ele colocou uma mão em meu ombro, compreensivo. Ficamos nos encarando calados novamente, até que senti vontade de falar.

— Você ouviu falar o tiroteio que aconteceu aqui? – indaguei, quebrando o silêncio.

— Sim, foi terrível. – assentiu tristemente.

— Você tem razão, foi terrível. Meu namorado morreu nele. O atirador mirou na Rebecca, mas ele entrou na frente e tomou o tiro por ela. Pegou na cabeça, e ele morreu na hora. – finalmente contei, sentindo meu coração apertar-se com as lembranças – Só depois eu descobri que estava grávida e que era de gêmeos. – suspirei e olhei para o céu, prendendo as lágrimas.

— Eu... sinto muito. Eu não sabia. – olhou-me com a famigerada pena, agora fazendo carinho em meu ombro com sua mão que ainda estava ali.

Não respondi nada, apenas continuei olhando para cima, relembrando algumas coisas. Até que meus olhos se encontraram com os dele, e um olhar carregado de pena passou a ser carregado de desejo, bastante convidativo. Encarei sua boca e, depois de tanto tempo, senti vontade de beijá-la. Ele definitivamente não era Ronan, e nem passava perto de ser. Mas isso não tirava o fato de ele ser um homem maravilhoso, e que estava ali, disponível para mim.

Aproximei-me lentamente e fechei meus olhos, finalmente unindo nossos lábios, depois de tanta espera. Erick colocou uma mão em minha cintura e colou nossos corpos, enquanto eu agarrava seus cabelos, sentindo a euforia do momento. Ah, quanto tempo fazia que eu não dava um beijo? Há quanto tempo eu não sentia aquelas borboletas no estômago? Ele poderia até não ser Ronan, mas a sensação era maravilhosa.

O beijo foi ficando mais intenso, e comecei a sentir um certo volume nas calças do homem, o que deixou o clima ainda mais quente. De repente, todo o frio havia ido embora, e aquilo parecia coisa mais certa a se fazer. Abaixei minhas mãos lentamente e passei sobre sua virilha, deixando-o ainda mais animado.

— Você tem certeza? – descolou seus lábios dos meus e olhou-me incerto.

— Sim. Eu tenho certeza. Estou pronta. – afirmei, querendo mais convencer a mim mesma do que a ele.

O mesmo assentiu e voltou a beijar-me, agarrando minha bunda e colando-me ainda mais a ele.

— Nós deveríamos procurar um lugar mais... reservado. – sussurrou sensualmente em meu ouvido, dando uma mordidinha nele.

— Sem dúvidas. – respondi e continuei imóvel, totalmente entregue a seus toques.

— Então vamos. – disse antes de puxar-me em direção ao elevador.

Descemos ainda grudados, e procuramos a primeira Sala de Descanso vazia. Adentramos o cômodo e ele trancou a porta, virando-se para mim.

— Luz? – apontou para cima, deixando-me indecisa.

— Apagadas. – dei de ombros, um pouco insegura com meu corpo.

Ele concordou com a cabeça e apertou o interruptor, deixando o quarto num total breu. Senti sua aproximação e voltamos a beijarmo-nos, agora ainda mais profundamente. Eu realmente estava me sentindo pronta para minha primeira vez depois de Akira. E Erick parecia a pessoa certa, então entreguei-me totalmente a ele, voltando a sentir coisas que não achei que sentiria novamente. E por algum tempo, eu me senti completa.

Algumas vezes, essa fixação por algo pode nos levar à ruína. Perdemos totalmente a noção, e acabamos nos deixando dominar por tal desejo. Então temos que saber qual é a hora de deixa-lo ir. Temos que desapegar das coisas que nos fazem mal, dando chance para outras que podem nos fazer bem entrarem em seu lugar. Isso serve tanto para relacionamentos, como para coisas no geral. Por outro lado, quando temos certeza que algo nos fará bem, quando temos certeza que é um sonho, aí devemos lutar por tal coisa. Pense em si mesmo às vezes. Faça o que é melhor para você em sua concepção. O resto vem com o tempo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo? Deu para sacar a qual episódio eu me referi nas notas iniciais, né? E o que acharam do casamento? E do passo adiante que Claire deu com Erick?
Obrigada pela leitura, e espero que tenham gostado! Beijos!