Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 13
Capítulo 13 – Camera.


Notas iniciais do capítulo

[EDIT]: Gente, socorro, eu errei o dia da postagem! Era para ser amanhã, mas eu ando tão perdida que achei que hoje fosse quarta-feira kkkkkkkk mas mesmo assim, agora deixa o capítulo aí no ar. Leiam as notas que estão legais, bjssss
ADIVINHEM QUAL FANFIC ATINGIU 1000 VISUALIZAÇÕES??! ISSO MESMO, CLAIRE'S ANATOMY!!!
Desculpa o grito, mas é que eu estou realmente feliz. Eu sei que não são grandes números, ainda mais levando em conta a quantidade de capítulos que já foram postados e quanto tempo faz que eu estou postando. Mas não deixa de ser uma conquista importante para mim, então tenho que agradecer a todos vocês do fundo do meu coração, que tiram um tempinho para ler essa história que pode não ser perfeita, mas é feita de coração e com bastante dedicação. Obrigada de verdade! ♥♥♥
Bom, agora agradecimentos à parte, vamos ao capítulo. Esse é mais um daqueles capítulos que eu disse que seriam reproduções de um episódio da série. Nesse caso, eu inseri nossos queridos personagens no episódio 07x06 "These Arms of Mine", mais conhecido como o episódio do documentário. Muita gente não gosta desse episódio, e eu também particularmente acho meio entediante, mas decidi dar meu toque especial nele, para ver se gostava mais. Afinal, é algo de certa importância para Claire e seus amigos.
Sobre a música, é mais uma daquelas que eu peguei apenas pelo nome, para ser sincera nunca havia ouvido na minha vida. Link: https://www.youtube.com/watch?v=gsiy1H5tIoM
Agora, finalmente, vamos de vez para o capítulo. Se você leu até aqui (parabéns!), desejo a você uma boa leitura!



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Luz, câmera, ação. Quem nunca sonhou em aparecer na TV? Nem se for simplesmente passando atrás de algum repórter, ou em alguma reportagem de jornal como “figurante”, todo mundo já quis passar na televisão. Só de dar uma entrevista, já faz a gente se sentir a estrela de Hollywood. Nós mandamos todo mundo pôr no canal que vamos passar, e ficamos radiantes com nossa aparição, nem se for por poucos segundos. Bom, mas eu nunca pensei que eu detestaria a ideia de passar na TV.

— Vamos logo Claire, nós estamos atrasadas! – berrou Rebecca, buzinando seu carro em frente à casa dos meus pais.

Peguei a bolsa e o casaco rapidamente, e saí da casa às pressas, com uma maçã na boca. Cada dia mais meu sono estava incontrolável, e minha maior vontade era de ficar o dia todo na cama. Aqueles “só mais cinco minutos” da soneca do despertador se tornavam horas, e eu acabava acordando com os gritos de alguém me dizendo que estava atrasada.

Ao sair de casa, deparei-me com uma equipe de filmagem, que apontava uma câmera bem para minha cara. Paralisei por um segundo, tentando entender o que se passava, olhando tudo em volta.

— O que é isso? – questionei, depois de tirar a maçã da boca.

— Hoje eles vão filmar aquele documentário sobre o hospital, lembra? Eu não acredito que você esqueceu! Eu ainda te mandei um SMS hoje de manhã, te lembrando que eles viriam nos gravar saindo de casa. – respondeu a morena, inconformada.

— Ah, é mesmo! Droga! – bati em minha testa, revirando os olhos – Desculpe. – virei-me para a equipe, sorrindo sem graça.

— Você pode repetir, por favor? Não vai dar para cortar sua cara de susto. – pediu uma moça, provavelmente encarregada das filmagens – Tente parecer o mais natural possível, por favor.

Abri a boca para responder alguma coisa, mas nada me veio à mente, então voltei para dentro, ainda processando o que estava acontecendo.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntou minha mãe, preocupada.

— Não pergunte. – retruquei, negando com a cabeça e um sorriso forçado – Posso ir? – falei alto, na intenção que as pessoas do lado de fora me ouvissem.

— Pode!

Respirei fundo e saí pela porta novamente, tentando parecer apressada.

— Já vou, calma! – exclamei, e Rebecca continuava apertando a buzina freneticamente, provavelmente a pedido do pessoal do documentário.

Entrei no carro e bati a porta, revirando os olhos sutilmente para a motorista, que riu fraco.

— Okay, corta! Esse ficou ótimo, agora nós vamos pôr uma câmera no carro, para pegarmos a conversa de vocês até o trabalho. – afirmou a mesma moça, aproximando-se o automóvel.

— Sem câmeras no carro, por favor. – rebateu a morena ao meu lado, seriamente.

— Tudo bem, não podemos força-la a deixar-nos filmar por dentro de seu carro. – cedeu a jovem – Vejo vocês no hospital. – despediu-se e caminhou até a van da produtora.

— Hoje promete ser um belo dia! – ironizei, escorando-me na abertura da janela do carro.

— E como promete. – riu fraco e acelerou o automóvel.

Seguimos para o hospital conversando sobre o documentário, e fizemos o maior número de piadinhas maldosas possíveis. Chegamos no estacionamento e antes que pudéssemos sair do carro, a mulher veio até nós novamente.

— Esperem meu sinal, que vamos filmar vocês saindo do carro também. – pediu, e gesticulou para o câmera, afastando-se. Bufei, já impaciente, e algum tempo depois ela voltou a falar – Estamos prontos para vocês.

Olhei Rebecca e revirei os olhos novamente, antes de sair do automóvel. Tentei ao máximo parecer uma deusa do cinema, mas podia apostar que nas filmagens eu parecia uma mula manca.

— Corta, muito obrigada. Vamos entrando. – disse a moça novamente.

Caminhamos até a entrada do hospital, que estava lotada de guardas e cheia de protocolos de segurança. Dei meu cartão de acesso a um dos guardas, que assentiu ao passar na máquina e ser aceito, e segui até o da frente, colocando todos os meus pertences de metal numa cesta, como se estivesse embarcando em um avião.

— Eu odeio esse novo sistema de segurança! – reclamei, revirando os olhos.

— Como se outro atirador fosse aparecer nesse maldito hospital de novo! – foi a vez da morena reclamar – Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar não. Aposto que o Bêbado Webber só instalou essas porcarias para ficar bonito no documentário. – continuou, fazendo-me rir alto, negando com a cabeça – Você não está filmando isso não, né? – virou-se para a equipe de filmagem, que estava logo atrás de nós.

— Não. – respondeu o câmera, rindo fraco.

Passei pelo detector de metais e peguei minhas coisas do outro lado, adentrando de vez o hospital. Rebecca e eu seguimos para o vestiário dos internos, e todos pareciam animados e alvoroçados devido à “novidade”.

— Vocês já viram a equipe do documentário? – perguntou Anastasia, animadamente.

— Já, eles foram me receber em casa hoje. – respondi, demonstrando irritação.

— Que legal! – disse a loira, sorrindo largo – Eu passei horas me maquiando hoje, vai que me chamam para entrevistar.

— Nem ferrando! – retrucou Rebecca, franzindo o cenho – Qual é o seu problema?

— Meu pai diz que temos que manter uma boa imagem para a família. – afirmou, dando de ombros.

— Por quê? – questionei, já me trocando em meu armário.

— Porque ele é o Senador Lewis, e os filhos dele têm que ser exemplares em qualquer aparição importante. – respondeu, deixando Cooper e eu chocadas.

— Você é filha do Senador Lewis? – indagou a morena, inconformada – E por que você nunca disse?

— Porque eu odeio ser bajulada por causa disso! – revirou os olhos.

— Okay, pessoal, continuem fazendo o que estão fazendo, nada de olhar para a câmera, vamos filmar vocês rapidinho. – afirmou a mesma moça de mais cedo, e eu bufei ao ouvir sua voz.

— Eu acordei não faz nem 1 hora e já estou estressada. – bati a porta do armário e virei-me, escorando minhas costas nele.

— Corta! Obrigada, gente. – disse a mulher, fazendo um joia.

— Está na hora, gente. – falou Diego, sorrindo maleficamente e apressando-se para fora do vestiário.

Rebecca e eu trocamos um olhar cúmplices e o seguimos, chegando na recepção em pouco tempo. Logo pudemos avistar Lexie, que mais uma vez brigava com os guardas, tendo problemas para entrar no hospital. Todos os dias era a mesma coisa, e nós, é claro, nos reuníamos para assistir àquela cena hilária.  

— Pobre Lexie, vai ser humilhada em rede nacional. – riu-se o rapaz, apontando para a equipe de filmagem, que focava as câmeras em Grey.

Quando a residente finalmente adentrou o hospital, nós a cercamos, tentando disfarçar os risos.

— Bom dia, Dra. Grey. O que temos para hoje? – disse Diego, caminhando ao lado dela conosco.

— Por que vocês ainda estão me cercando? O resultado das provas ainda não saiu? – retrucou Grey, franzindo o cenho.

— Não, os resultados ainda não saíram... – falou Anastasia, com cara de tédio.

— Então é o dia de sorte de vocês. – a residente sorriu, erguendo uma sobrancelha – Vamos participar de um transplante de... rufem os tambores... – fez um suspense, sorrindo – ... dois braços.

— Meu Deus... – sorri largo, animadamente – Obrigada Deus. Pelo menos uma coisa boa nesse dia tão tedioso. – ergui as mãos, em sinal de gratidão.

— Todos nós vamos participar da cirurgia? – perguntou o rapaz, animado.

— Vocês provavelmente só vão ficar assistindo, mas poderão ficar dentro da SO. – respondeu a médica – Presente de finalização de internato.

— Você é a melhor! – exclamou Anastasia, abraçando a mulher.

— De nada? – disse Lexie, rindo – Agora deixem eu me trocar, que vamos atrás do Mark Sloan. Estamos com ele para essa cirurgia.

Assentimos e ela entrou no vestiário dos residentes, enquanto ficamos do lado de fora, conversando sobre como aquela cirurgia seria legal.

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Estávamos preparando o paciente para a cirurgia junto com April Kepner, outra residente, e, é claro, a maldita equipe do documentário estava seguindo-nos.

— Então, você pode contar para a câmera como seu marido perdeu os braços? – pediu a mesma moça, encarando a esposa do paciente.

— Sim, Zack perdeu os braços quatro anos atrás. Em um acidente de trabalho. Ele é... ele era madeireiro. – explicou a mulher, olhando para a câmera – Duas coisas poderiam ter acontecido. Isso poderia ter nos separado, ou nos deixado ainda mais próximos. Acho que nos deixou mais próximos. Literalmente. Tenho que limpar a merda dele.

— É mesmo? É o que quer dizer na frente de todo mundo? – indagou o paciente, enquanto nós ríamos discretamente.

— Verdade. – disse a mulher, rindo fraco.

— Desculpe. Gostaria de cobrir meu rosto, mas não tenho mãos. – brincou o homem, fazendo-nos prender o riso mais uma vez.

— Okay, corta! – ordenou a produtora – Vamos ter que censurar algumas coisas, mas vai ficar bom. Obrigada pela atenção.

— Nós terminamos por aqui pessoal, agora temos que cuidar do doador. – afirmou Lexie, virando-se para nós.

— Ótimo, nós vamos com vocês. – a moça disse, sorrindo simpática.

Revirei os olhos o mais sutilmente que pude, e nós cinco seguimos Grey até o quarto onde o doador dos braços estava, sendo sustentando apenas pelo Suporte à Vida.

— Só para constar, a esposa dele não quer que mostrem o rosto. – disse Callie Torres, que se encontrava também dentro do quarto.

— Nós sabemos, vamos embaçar o rosto dele nas edições. – respondeu a moça – Podem começar a examinar. – finalizou algum tempo depois, checando as câmeras.

Começamos a fazer nosso trabalho, enquanto Callie usava o computador do quarto. Foi quando Lexie ergueu a manga da roupa hospitalar do paciente, que ela e eu pudemos ver algo que talvez atrapalharia no transplante.

— Oh, droga... – murmurei e Grey e eu trocamos olhares preocupados.

— Dra. Torres? – chamou, recebendo um “uhn?” como resposta – Já deve ter visto isso, mas viu mesmo isso? – questionou, encarando o braço, e a ortopedista aproximou-se.

— Oh, meu Deus, não. – reclamou – Não, não. Okay, bipe o Sloan. Agora. – ordenou, e Lexie moveu-se rapidamente.

— Qual é o problema? – perguntou a mulher do documentário.

— Uma tatuagem escrita “Nicole”. – respondi, confirmando com a cabeça.

— Dê um close na tatuagem. – disse ao câmera.

— Acabamos aqui também, hora de preencher alguns prontuários. – disse Grey, e nós saímos do quarto, assim como a equipe de filmagem.

Aproximamo-nos do balcão das enfermeiras, onde April Kepner escrevia em um prontuário.

— Você não vai acreditar no que aconteceu. – falou nossa residente, parando ao lado da outra médica.

— O que? Algum problema com os braços? – questionou, soando preocupada.

— Há uma tatuagem escrita “Nicole” em um dos braços. – respondeu Lexie, colocando o prontuário sobre o balcão.

April abriu a boca para dizer alguma coisa, mas parou ao ver que a câmera estava apontada para nós.

— Podem continuar conversando. – afirmou a moça, gesticulando com as mãos para continuarmos.

— Uma tatuagem? – indagou Kepner, inconformada – É uma injustiça que algo assim possa estragar tudo.

— É verdade? Vocês vão participar do transplante duplo de braços? – perguntou Jackson Avery, aproximando-se de nós. O mesmo ficou rindo e sorrindo para a câmera como um total idiota, enquanto tentava sensualizar comendo uma barrinha de cereal.

— Seu ex-namorado combina certinho com você, dois idiotas a procura de um lugar na frente das câmeras. – Diego sussurrou, fazendo-nos rir e Anastasia revirar os olhos, encarando seu ex com raiva no olhar.

— Qual é o seu problema? – Lexie riu fraco e franziu o cenho, olhando o residente.

— Nenhum. – afirmou o homem, ainda fazendo graça – Qual é o seu problema?

— Corta! – exclamou a moça, encarando o médico com o cenho franzido.

— Que pena, seus 30 segundos de fama acabaram. – brincou Kepner, rindo de Jackson.

— Okay, estão dispensados, vejo vocês na SO. – disse nossa residente a nós, fechando o prontuário e deixando o local.

— Almoço? – sugeri, erguendo uma sobrancelha.

— Sim, por favor. – concordou Anastasia, e partimos em direção ao refeitório.

— Obrigada Deus, pelo menos um segundo do meu dia sem aquela maldita equipe me seguindo! – falei, já sentada em nossa mesa de sempre, erguendo as mãos em sinal de gratidão.

— É irritante, né? Eu sempre quis aparecer na TV, mas isso é chato para porra. – disse Diego, dando uma mordida em um hambúrguer.

— Ainda tenho esperanças de ser entrevistada. – afirmou Anastasia, e reviramos os olhos.

— Grande coisa, daí na edição final eles tiram tudo. – retrucou Rebecca.

Continuamos nosso almoço por mais um tempo tranquilamente, e eu estava aproveitando aquele tempo sem uma câmera apontada para minha cara, pois aparentemente teríamos um longo dia pela frente.

— Finalmente encontrei vocês! – exclamou a moça da equipe de filmagem, aproximando-se junto com seu pessoal.

— Só pode ser brincadeira... – murmurei inconformada, observando eles se aproximarem.

— Gostaria de entrevistar vocês. Para isso, vamos precisar de alguém para conversar com a câmera, explicar quem vocês são, o que fazem, etc. – afirmou a moça, simpaticamente – Você, levante-se e venha nos explicar. – apontou para mim, que franzi o cenho, negando com a cabeça automaticamente.

— Não, eu não... Creio que a Anastasia faria um trabalho bem melhor que eu. – rebati, apontando para a loira.

— Não, nós precisamos de você. – disse com certeza na voz – Você não é a Dra. Claire Scofield, que perdeu o namorado no tiroteio? – finalizou, deixando-me sem palavras. Tentei ao máximo esconder minha expressão de tristeza e engoli em seco, tentando não deixar suas palavras me atingirem.

— É, sou eu. – respondi seca, fazendo uma cara feia.

— Por isso mesmo, é você que queremos. – falou, pela primeira vez encarando-me com pena – Podemos começar, por favor?

— Okay. – concordei com a cabeça e me levantei – O que eu tenho que fazer?

— Nós vamos até ali, você vai explicar o cargo de vocês e vai caminhar lentamente até a mesa, e os outros aqui vão sorrir e acenar para a câmera. Então você apresenta um por e se senta, que depois vamos fazer algumas perguntas. – explicou e eu assenti, seguindo até onde ela indicou.

— Quando você estiver pronta. – afirmou, atrás do câmera.

Respirei fundo e encarei a câmera, pensando no que falar. Depois de ensaiar mentalmente o que diria, concordei com a cabeça e suspirei, tomando coragem.

— Bom, oi. – sorri sem graça, me amaldiçoando por não sair do jeito que eu imaginava – Meu nome é Dra. Claire Scofield, e eu sou uma interna em meu primeiro ano de residência aqui no Seattle Grace Mercy West. – continuei, e a moça fez um sinal para que eu andasse até a mesa, e assim o fiz – Esses são meus colegas de internato, nós éramos em cinco, mas... – engasguei com as palavras, sentindo uma tristeza tomar meu corpo.

— Nós perdemos um de nossos amigos no tiroteio. – completou Anastasia, olhando-me com a famosa pena.

— Sim. – limpei a garganta e retomei a postura, virando-me para os outros – Esses são Rebecca Cooper, Anastasia Lewis e Diego Gomes. – apontei para cada um.

— Okay, corta. – ordenou a mulher – Agora sentem-se todos de frente para a câmera. – continuou, e nós fizemos o que ela disse – Claire, explique melhor o que é o internato, como são as fases da carreira médica, essas coisas. Quando estiver pronta.

— Ótimo... – respirei fundo – Bom, como eu já disse, nós somos internos. O internato é considerado o primeiro ano de residência, contudo temos que fazer uma prova ao completar o ano, que decidirá se continuaremos como residentes ou teremos que repetir o internato. No nosso caso, nós já fizemos a prova, só faltam os resultados. – sorri falsamente, olhando para os outros – Enquanto não sabemos de nosso futuro, temos que seguir nossa residente, que no caso é a Dra. Grey. Tudo o que fazemos com os pacientes, deve ser reportado a ela, sem contar que ela tem que nos ensinar várias coisas que nós acabamos só aprendendo de verdade no hospital. – concordei levemente com a cabeça e olhei para a moça da equipe, sem saber mais o que falar.

— Okay, agora vamos falar sobre o que realmente interessa. O tiroteio. Vocês estavam juntos durante a coisa toda? – perguntou, causando-me mais tristeza.

— Não, aliás, eu estava com a Dra. Cooper e o Dr. Akira Aoki durante o... – o som do disparo ecoou em minha cabeça, e eu engoli em seco – ... acontecido.

— É. – concordou Anastasia, e um silêncio constrangedor formou-se entre nós.

— Acho que já chega, vamos cortar. – disse a moça, provavelmente compreendendo a complexidade do momento – Eu procuro vocês se precisar de mais alguma coisa. Obrigada. – concordou com a cabeça e saiu dali com o resto da equipe.

Bufei e passei as mãos em meu rosto, completamente tensa. Relembrar aquele dia era a pior coisa do mundo, e minhas emoções ficavam à flor da pele.

— Você está bem? – questionou Rebecca, com a preocupação clara na voz.

— Sim. – menti, erguendo a cabeça novamente – Eu vou ao banheiro, vejo vocês na SO. – levantei-me, querendo desesperadamente sair dali.

— Você quer que eu vá com você? – ofereceu-se a morena, se levantando também.

— Não precisa, eu estou bem. – retruquei um pouco hostil, virando as costas e seguindo rapidamente até o banheiro.

—-

Adentrei a Sala de Operações, apenas usando a máscara de proteção, sem esfregar as mãos para a cirurgia, pois eu e a maioria só iríamos assistir.

— Nada melhor do que assistir a um milagre para aliviar o stress. – disse Rebecca, entrando ao meu lado.

— Com certeza! – assenti.

Pouco depois, Callie Torres também chegou na sala, junto, é claro, da maldita equipe de filmagem.

— Espero que o serrote de ossos esteja pronto, pois estou com muita vontade de cortar uns braços hoje. – afirmou a ortopedista.

— Você sabe que essa é uma cirurgia longa, então não tente bancar a heroína, assim que se cansar, saia daqui. – disse a morena ao meu lado, seriamente – Sem contar que você tem uma consulta com o obstetra hoje, então eu vou com você.

— Okay, “mamãe”. – revirei os olhos e ri fraco, voltando minha atenção para a cirurgia.

Algum tempo se passou, e eu já estava me cansando, porém queria aguentar firme. Os cirurgiões já haviam feito algum progresso, mas ainda estavam no início da operação geral, e horas já tinham se passado.

— Atualize-nos do status da operação, por favor. – pediu a moça do documentário.

— Em poucos minutos estaremos prontos para separar totalmente os braços do doador. – afirmou Owen Hunt, encarando a câmera.

— Por que incisões em ziguezague? – perguntou Torres a Kepner, que a auxiliava.

— Para conseguir exposição máxima. – sussurrou Rebecca, como se respondesse para si mesma.

— Para conseguir exposição máxima. – respondeu April.

— Ótimo. – disse Callie, e a morena ao meu lado sorriu orgulhosa – Vê o que estou fazendo aqui? Estou rotulando cada artéria e cada veia, para sabermos exatamente como coloca-las no receptor. É como a parte de trás de uma TV. Quer dizer, você tem que saber que cabo vai para onde, ou acaba com som sem imagem, ou imagem sem som. – explicou a ortopedista.

Depois de mais alguns minutos, finalmente Torres pegou o serrote de ossos e separou completamente os braços, e os médicos já se apressaram para “embalar” os membros rapidamente.

— No instante em que removermos os braços do doador, o tecido começa a morrer. Então temos que ser muito rápidos, muito mesmo. Temos um tempo muito limitado para completar essa parte da cirurgia. – Callie continuou explicando.

— Braços foram retirados e estão a caminho. – falou Hunt, seguindo para fora da SO com os braços do paciente.

Acompanhamos a equipe de médicos até a outra Sala de Operações, onde se encontrava o receptor.

— Muito bem. Vamos começar. – disse Derek Shepherd ao avistar os membros.

— Cadê a Lexie? – perguntei, olhando em volta.

— Ela foi buscar café para o Sloan. – respondeu Diego, de braços cruzados – Aposto que não vai conseguir entrar no hospital nunca mais. – riu-se.

Pouco tempo depois, eu já mal estava aguentando com o peso do meu corpo. Segurei a lombar e suspirei, tentando controlar a dor nas costas que sentia.

— Você está cansada, vamos sair daqui. – falou Cooper, olhando-me preocupada.

— Eu estou bem. – rebati, tentando disfarçar a mentira.

— Não você não está, há dois seres humanos crescendo dentro de você, e você ficou de pé por várias horas, então seu corpo deve estar gritando por socorro. – retrucou, olhando-me acusadoramente – Então nós vamos dar o fora daqui, vamos sentar na galeria e esperar até dar a hora do seu exame, e depois talvez nós voltamos aqui. – finalizou convicta.

— Okay, mandona. – revirei os olhos e deixei a sala com ela.

De repente, enquanto caminhávamos, as sirenes de todo o hospital começaram a apitar, e as portas que separavam os corredores se trancaram, mantendo-nos presas. Senti o desespero correndo em meu corpo, e como um ato reflexo fui até uma porta, forçando-a para abrir.

— Droga, droga, droga! – exclamei, puxando a fechadura com toda a minha força.

— Para com isso, você não pode fazer esse tipo de esforço! – repreendeu-me a morena, tirando minhas mãos da porta – Eu sei que isso é assustador, mas as chances de ser só um treinamento ou sei lá o que são de 99%, então relaxa, respire, e vamos esperar aqui, okay? – afirmou segurando meus ombros e encarando meus olhos – Você consegue fazer isso?

— Acho que sim. – concordei com a cabeça e comecei a respirar fundo, na tentativa de me acalmar.  

Tentei pensar em qualquer coisa que me distraísse. Comecei pensando em filhotinhos de cachorro e gatinhos, o que não adiantou muito, então tentei pensar na cirurgia, mas o fato de eu estar perdendo aquele momento de ouro acabou me irritando mais ainda. Foi quando a imagem de dois bebês, um menino e uma menina, apareceu em minha mente. As duas crianças tinham os olhos puxados, os cabelos negros e lisos, e a pele era branca, um pouco como a minha. Aquele pensamento me acalmou de maneira extraordinária, e senti algo bom, realmente bom. Poderia até chamar de felicidade. Era reconfortante ao extremo, e nem sei por quanto tempo eu fiquei presa naquele transe, mas só saí de meus devaneios quando Rebecca me deu um cutucão.

— As portas se abriram, acabou. – disse, olhando-me nos olhos – Você está bem? – perguntou analisando meu rosto, e eu assenti como resposta – Então vamos lá, não vai dar nem tempo de irmos na galeria, já está no horário da consulta.

Apenas fiz que “sim” com a cabeça e segui com ela até o andar da obstetrícia, caminhando até a Sala de Exames que sempre íamos.

— Boa tarde meninas. – cumprimentou Roger King, sorrindo largo com sua animação de sempre – Como vão? Estou sabendo de um documentário que está sendo gravado no hospital hoje.

— Nem me fale dessa merda! – retrucou Rebecca, revirando os olhos.

— É capaz deles brotarem do chão, se ficarmos falando neles. – bufei.

— Nossa, eu achei que geral ia estar animado com isso. – o médico ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Se não fosse tão irritante... – suspirei e sentei-me na cama – Vamos logo com isso, quero assistir à cirurgia.

— Que cirurgia é essa que está te deixando tão ansiosa? – perguntou, aproximando-se de mim e fazendo alguns exames.

— Transplante duplo de braços. – respondi, sorrindo fraco.

— Parece muito louco. – o homem concordou com a cabeça, arregalando os olhos – Pode deitar-se, vamos dar uma olhadinha nesses bebês. – afirmou, indo até o aparelho de ultrassom – Então, o que vão fazer hoje à noite?

— Ir para casa e ler livros com dicas para lidar com gêmeos. – ri fraco, já deitada.

— Levar essa garota em casa e sei lá, talvez dar uma passadinha no Joe’s. – Rebecca sorriu para o médico com uma pitada de malícia, e o mesmo correspondeu.

— Talvez eu te veja lá. – Roger assentiu, e finalmente espalhou o gel em minha barriga – Como anda se sentindo, Claire?

— Meu sono parece inacabável, e eu me canso muito fácil.

— Isso é normal. – disse o obstetra, obtendo imagens de meu útero em seguida – Olha só os bebês... – apontou para o monitor, sorrindo bobo, e o som dos batimentos cardíacos soaram no quarto – Eles parecem muito bem para mim, seus nenês estão fora de perigo. Batimentos fortes, movimentação normal... Está liberada. – finalizou, parando o ultrassom e entregando-me um papel para limpar a barriga.

— Já temos uma data estimada de quando vai ser o parto? – perguntei, tirando o gel de minha barriga.

— Ainda temos um bom tempo, vamos deixar para discutir isso depois. – respondeu negando com a cabeça enquanto digitava algo no computador – Pode ir ver a cirurgia bacana.

— Obrigada, Dr. King. – sorri agradecida e me levantei.

— Vejo você mais tarde? – falou Rebecca, olhando o homem com malícia.

— Se Deus quiser. – o médico retribuiu o olhar, e eu arrastei a morena para fora dali antes que eles se agarrassem dentro daquela sala mesmo.

— Controlem-se, Jesus. – ri inconformada, seguindo com ela para a galeria.

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A cirurgia finalmente acabara, e estávamos todos no vestiário dos internos. A maioria mostrava o cansaço no rosto, inclusive, claramente, eu. Trocava de roupa lentamente, sem mal me aguentar com o peso do corpo.

— Adivinhem o que eu tenho aqui. – disse Bailey, adentrando o vestiário com uma pilha de envelopes – Exatamente, o resultado da prova. Vou esperar a equipe de filmagem e vou entregar.

— Meu Deus. – falei assustada, fechando meu armário.

— Eu definitivamente passei, então nem sinto o suspense. – Rebecca deu de ombros, apoiando o pé no banco como auxílio para calçar os sapatos.

— Vamos ficar juntos e abrir os envelopes juntos. – afirmou Anastasia, juntando-se a nós.

— Okay. – concordou Diego, também se aproximando.

A tensão era palpável no cômodo. Alguns roíam as unhas, outros estralavam os dedos, caminhavam de um lado para outro... Eu me detive a escorar no armário e ficar batendo o pé no chão freneticamente, descarregando todo o impulso nervoso que sentia, enquanto encarava a porta ansiando pela maldita equipe chegar.

— Só um minuto. – falou a moça do documentário, finalmente surgindo com a equipe. O câmera se posicionou e deu um sinal de “Okay” para Bailey, que virou-se para nós.

— Okay, vamos começar... Anastasia Lewis. – chamou o nome da loira, que caminhou até ela rapidamente, e voltou agarrada com seu envelope.

— Vou esperar. – sussurrou, claramente nervosa, enquanto a cirurgiã geral chamava outros nomes iniciados com A e B.

— Claire Scofield. – chamou-me, e eu senti o nervosismo tomar conta de mim, e aproximei-me dela um pouco atordoada. Voltei com os outros e esperamos ela chamar os outros nomes com C e alguns com D, enquanto alguns comemoravam e outros choravam – Diego Gomes. – o rapaz foi até ela e voltou, parecendo um pouco nervoso, mas nem se comparava a Anastasia e eu. Seguramos nossos envelopes fechados até ela chegar na letra R – Rebecca Cooper.

No minuto que a morena se juntou a nós, calmamente, nós quatro rasgamos o envelope com pressa, revelando o papel por trás dele. De repente um silencio trucidante se formou, cada um lendo seu resultado.

— E aí? – perguntei, subindo meu olhar para eles.

— É claro que eu passei, vadias. – Rebecca sorriu largo, exibindo-se.

— Digam olá para o Dr. Gomes, o novo residente no hospital Seattle Grace Mercy West.— afirmou o jovem, trocando um toque de mãos com Cooper.

— Estou dentro, ufa. – Anastasia suspirou aliviada, também sorridente – E você, Claire? – virou-se para mim, preocupada com minha expressão neutra.

— Eu terei que dizer para meus filhos que... – fiz um suspense, tentando parecer triste – Eu passei de primeira na prova para residência! – deixei minha felicidade transparecer em meu rosto, e nós quatro fizemos high-fives um com o outro.

— Nós temos que comemorar! Nós quatro passamos! Bora para o Joe’s. – disse Diego, animadamente.

— Eu estou cansada... – comecei a falar, mas fui interrompida pela loira.

— Ah, corta essa, você está sempre cansada! Só hoje, fica para um brinde e pode ir embora. – cortou-me, olhando-me com cara de pidona.

— Okay, só um brinde. – cedi, fazendo-os comemorar.

Saímos o mais rápido possível dali e seguimos para o bar em frente ao hospital, que estava lotado de gente. Pegamos a mesma mesa de alguns dias atrás, e Diego logo pediu uma rodada de tequila, é claro que meu refrigerante como exceção.

— Um brinde a nós, que passamos nessa maldita prova com folga! Nós arrasamos! – propôs o rapaz, erguendo seu copo.

— A nós! – exclamamos juntando nossos copos no ar, e os outros viraram suas doses enquanto eu apenas dei um gole em meu refrigerante.

— Eu só queria que ele estivesse aqui. – falei, depois de algum tempo em silêncio – Vocês acham que ele passaria?

— Você está brincando? É claro que ele passaria! Aquele asiático seria uma pedra no nosso sapato, concorrência de primeira! – respondeu Gomes, já animado por causa da bebida.

— É, provavelmente. – assenti e abaixei a cabeça, tristemente.

— Vamos dançar, Ana. – o rapaz puxou a loira para a pista, deixando Rebecca e eu a sós na mesa.

— Você está... – a morena começou a falar, mas foi interrompida pela maldita voz que tanto nos perseguia: a moça da equipe de filmagens.

— Vocês têm um minuto? Gostaríamos de fazer uma entrevista. – disse a mulher, sorrindo simpática.

— Quer saber? Vai para o inferno! – rebati, perdendo a paciência – Você encheu nosso saco o dia todo, e nós fizemos o que você pediu, mesmo que nos matasse por dentro. Agora você vem aqui, no nosso momento de descontração, pedir para te darmos uma entrevista? Ah, faça-me o favor. Dá o fora daqui! Dane-se esse documentário, dane-se o tiroteio! Nós estamos vivos, viu? Agora suma! – finalizei, sentindo um peso saindo dos meus ombros.

— Okay, eu sinto muito... – desculpou-se a moça, aparentemente sem graça – Mesmo assim, parabéns pela prova.

— Obrigada. – agradeci, ainda brava. A mulher apenas virou as costas e perdeu-se na multidão, e eu respirei fundo antes de dar um gole em meu refrigerante, sem acreditar que havia tido coragem de dizer aquilo.

— Uau, os hormônios da gravidez estão te fazendo bem. – brincou Rebecca, rindo-se.

— Hey garotas, eu fiquei sabendo que agora são residentes, meus parabéns! – falou Roger, surgindo do meio de várias pessoas.

— Obrigada, Dr. King. – sorri agradecida.

— Querem tomar um drink? Ah, desculpe Claire... – ofereceu o médico, erguendo uma sobrancelha sugestivamente e depois caindo em si.

— Não, tudo bem, vocês podem ir, eu estou exausta mesmo... Vou pegar um táxi para casa. – acenei com as mãos, em sinal para eles não se preocuparem.

— Você tem certeza? – questionou Cooper, olhando-me com receio.

— Eu tenho certeza, vá se divertir. – apontei para o balcão do bar, sorridente.

— Envie uma mensagem quando chegar, okay? – pediu, levantando-se – Até amanhã.

— Okay, até. Cuide bem dela. – pisquei para Roger, que apenas riu.

— Boa noite, Claire. – despediu-se e partiu em direção ao balcão com Rebecca.

Suspirei e fiquei ali na mesa por mais alguns minutos, dando goles em meu refrigerante enquanto olhava em volta, reflexiva.

Nós todos queremos nos exibir. Mas sempre queremos parecer por cima, numa boa, felizes. Raramente exibimos nossa parte mais sombria, nossos medos, traumas, tristezas... Principalmente para estranhos. Sentimo-nos ameaçados quando precisamos expor nossos problemas. Porque acreditamos que na TV não há sofrimento, só alegrias. Mas a vida é feita dos dois lados, e não precisamos esfregar nossas tristezas na cara dos outros por aí, pois cada um já tem que lidar com a sua. Lide com seus problemas do jeito que achar melhor, e achar que precisa.

Corta!


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Gostaram do estilo mostrando por trás das câmeras?
Comentem, por favorzinho! É legal ter atingido as 1000 leituras, mas é tão triste ter tão poucos comentários :(
Enfim, espero que tenham gostado, beijos e até mais! E obrigada de novo pelas 1000 visualizações, amo vocês ♥



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