Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 6
Popstars


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718296/chapter/6

— Podemos conversar? - meu pai pediu entrando no meu quarto, mesmo que eu estivesse tecnicamente dormindo naquele momento.

— Claro, pai. - levantei meu corpo, tentando arrumar meu cabelo para parecer apresentável.

— Eu não quero que você se sinta como se eu estivesse invadindo sua privacidade, mas eu quero muito falar sobre essa madrugada. - meu pai estava visivelmente constrangido com essa conversa. - Eu sei que você é jovem e tem mais é que se divertir com amigos, mas eu gostaria de ser avisado quando você decidir sair.

— Estava tarde e eu não queria te acordar, pai. - me expliquei. - Mas vou tentar avisar da próxima vez.

Meu pai sorriu e começou a encarar meu quarto com interesse, quase como se procurasse as palavras certas.

— Só isso? - perguntei querendo descobrir o motivo por trás do motivo de meu pai.

Ele me encarou por alguns segundos antes de se sentar perto de mim na cama sorrindo fraco. Eu me lembrei de quando era adolescente e meu pai estava com vergonha de conversar sobre sexo. Ele sempre foi muito tímido para essas coisas.

— Eu não sei. Fico com a impressão de que eu deveria te alertar sobre se envolver com aquele tal Fábio Campana.

— E por que deveria? Aquilo era pura especulação e mentiras para vender para as pessoas, pai. Não tenho nada com o cara. O Bento pode até ter com a irmã dele. Você deveria fazer esse discurso para ele, pai. - brinquei e meu pai me encarou sério.

— Você sabe sobre o que eu quero falar.

— Sei, é? - eu estava achando a situação toda muito engraçada, apesar de eu ainda querer dormir mais umas horas. Talvez alguns dias.

— Ele teve problemas com drogas, filha. Não é o tipo de namorado que um pai deseja para a filha. - ele continuou e eu peguei sua mão esquerda.

— Onde você ficou sabendo disso? - perguntei e ele me olhou envergonhado.

— Internet, ué. Ouvi a Socorro comentar sobre isso por aí e fui verificar. - ele me respondeu e eu quis matar a Socorro para variar. Para alguém que dizia que eu era o pior que existia na Casa Verde, ela gostava mesmo de se envolver na minha vida.

— Vou adivinhar: ela estava comentando para quem quisesse ouvir o quanto Fabinho e eu nos merecíamos porque somos problema para quem estiver perto. - pela expressão de meu pai eu soube que tinha acertado em cheio. - Pai, eu entendo a preocupação, mas eu não tenho nada com ele e não tenho nenhum interesse em ter. Eu te juro.

— Se você diz, minha filha. - meu pai deu de ombros como se ele não quisesse começar uma discussão naquele momento. - Vou confiar em você, porque sei que você tem uma boa cabeça.

— Pai, só não fica ouvindo os venenos da Socorro, porque aquela garota não gosta de mim. - pedi e ele sorriu mais confiante.

— Eu só me preocupo, filha. - ele complementou e eu lhe dei um beijo em cada bochecha.

— Eu sei. Mas lembra que eu sou mais casca grossa que qualquer fraldinha dos Jardins. - pisquei um olho e me levantei da cama, decidindo ir fazer alguma coisa com meu dia de folga apesar do sono. Ou o que tinha do meu dia de folga.

E eu sabia muito bem o que eu faria.

 

Eu tinha ido visitar Malu e, como ela não estava em casa, decidi jogar videogame com Kevin. Eu era praticamente seu irmão mais velho e ele vivia cercado de muita garota para ter papos de moleque que não fossem com os garotos da escola.

E Bárbara estava querendo expôr o garoto como homossexual quando ele não era e eu sabia muito bem dos efeitos de Bárbara Ellen na vida e autoconfiança de um rapaz na puberdade.

— Fabinho, você está mesmo pegando aquele mulherão? - ele perguntou depois de me matar no jogo.

— Qual mulherão, moleque? Tenho tantas mulheres aos meus pés que nem sei de quem você está falando. - zombei e ele riu antes de tomar um golpe meu no jogo.

— Você sabe muito bem! A Giane. - ele respondeu frustrado e eu o encarei, vendo as pontas de suas orelhas ficarem vermelhas.

— Garoto, você está interessado nela? - ri com gosto, vendo Kevin procurando uma resposta mais ou menos espertinha, enquanto eu socava o personagem dele com vontade. - Ela é mais moleque que você. Não tem nada das fotos que você anda vendo na internet.

— Eu só a acho gata demais. Um verdadeiro desperdício ela querer ficar com você. - ele se defendeu enquanto eu fazia um escândalo por ter ganhado de Kevin pela primeira vez naquela tarde.

— E um crime ficar com você. - lembrei e ele bufou irritado. Ele me lembrava a mim mesmo naquela idade: frustrado e irritado porque as garotas ainda não te querem.

Ele ainda não tinha sacado que o problema não era a idade, era a falta de sorte que nossa família tinha em desejar o que não podia ter, mesmo. Malu tinha sua paixão avassaladora por  Maurício, eu tive a minha por Amora e Kevin agora tinha a dele por Giane, guardadas as devidas proporções. Além do mais, todos nós estávamos vivendo perto de Mamãe Bárbara e irmãzinha Amora, o que já colocava toda a nossa família na pista vip da balada do azar.

— Olha só quem apareceu em casa: a filha de Plínio Campana que fica correndo atrás de florista! - exclamei ao ver Malu abrindo a porta da casa dela. - Mamãezinha sumiu e a it-irmã está ciscando por aí. - avisei quando ela me encarou. Bárbara sumida significava homem novo. - Gente, vamos ter casamento duplo nessa casa em breve, hein.

Ouvi a risada de Luz da escada.

— Olha só quem está na minha casa: o filho de Plínio Campana que fica correndo atrás de florista. - Malu debochou e se sentou do meu lado, roubando o controle do videogame da minha mão.

— Vocês dois tem atração por floristas, que coisa sem futuro. - comentou Dorothy, atrás de Luz. Dorothy estava com uma maquiagem pesada.

Provavelmente Luz estava brincando de usar Dorothy como boneca de teste de maquiagem e o teste era de maquiagem muito escura o que deixou a menina parecendo uma zumbi fofinha.

— Vai seguir a carreira da mamãezinha, é? - perguntei e ela me encarou confusa. - Já estou te vendo naquelas séries de TV de monstros que estão na moda.

Malu me deu uma bronca, enquanto surrava Kevin no jogo dele e Dorothy me mostrou a língua se sentando entre Kevin e eu.

— Estávamos testando um dos visuais da nossa cunhadinha. - Luz disse se sentando numa das poltronas com um sorriso maldoso.

— Não sabia que o Kevin está namorando uma gótica trevosa. Daqui a pouco ele vai começar a beber vinho barato em cemitério com ela. - zombei enquanto Luz mantinha o sorriso maldoso e Kevin arreganhava a boca assustado enquanto perdia para Malu.

— Você entendeu muito bem, Fabinho. - Luz disse e eu abri um sorriso debochado para ela, me levantando do sofá, carregando a Dorothy nos ombros como um saco de batatas.

— Eu sei que isso é maus tratos com a criança, Luz. Vou levar a minha irmãzinha para longe de você! - avisei enquanto Dorothy tentava se soltar sem cair.

Depositei Dorothy no chão e logo ela estava roubando o controle das mãos de Malu, que me encarava.

— Assunto de adultos? - ela me perguntou e eu a encarei fingindo estar assustado, procurando alguma coisa ao meu redor.

— Adultos? Onde? - brinquei enquanto subíamos para o quarto dela.

 

— Nunca entendi essa mudança brusca sua. - Jonas me disse enquanto organizávamos o Cantaí para vermos um Corinthians e Palmeiras e, não, não existe clássico melhor nesse mundo que meu Derby Paulista.

— Qual delas? - estava curiosa para ver até onde ele tinha coragem de me dizer as coisas. Douglas entrava pelo salão carregando um bandeirão do timão, enquanto Seu Nestor carregava um do Palmeiras.

— A última. A primeira eu pensei que você fosse sair seduzindo geral, mas a próxima coisa que eu me lembro é de você indo embora.

— Daí eu voltei porque cansei de brincar de modelo, ué.

— Quem cansa de ganhar grana para ser chamada de bonita? - ele me perguntou e eu ri com vontade.

— Não é só a grana, cara. - suspirei. Nem eu sabia explicar minha mudança de vida. - Eu só percebi que não era mais para mim.-

— Nem por muito dinheiro? - Érico me perguntou aparecendo do nada. - Você sabe que o mercado publicitário adora o que não pode ter.

— Igual um garoto mimado. - eu comentei e Érico e Jonas riram. - Vamos fazer assim, Érico: quando você montar sua própria agência de publicidade eu volto a brincar de modelar.

— Isso vai demorar, Giane. - Érico me avisou. - Mas você sempre pode estrelar campanha de fixador de dentadura!

— Seria uma campanha inesquecível. - concordei e continuamos brincando até a hora do jogo.

 

— Agora fala. - Malu mandou se sentando na beirada da cama, enquanto eu sentava na poltrona do quarto dela.

— Estou pensando em ir embora de novo. - disse sem rodeios e minha irmã me encarou quase como se quisesse me bater. - Já passei tempo demais nessa cidade, maninha. Estou planejando permanecer no país, mas em outro estado.

— Não acredito nisso! Pensei que dessa vez você tinha voltado para ficar! - ela se levantou e se ajoelhou na minha frente pegando minhas mãos. - A vida é muito curta para viver longe de quem a gente ama!

— Se eu ficar, terei que ver o casamento do ano, o que é irritante e eu tinha esquecido como em São Paulo eu sou notícia interessante, sabe-se lá o porquê.

— Porque você foi filmado aos beijos com uma modelo internacional sumida com quem você tem um vínculo que você não entende. - Malu resumiu simplesmente.

— Malu, você é romântica demais. - revirei os olhos e ela soltou uma risadinha.

— Dá um tempo aqui, me ajuda na Toca e o pai na arte do projeto dele. - ela sugeriu. - Vai curtir São Paulo em vez de ficar enfurnado naquele apartamento pensando coisas ruins… Me arruma uma cunhadinha para eu ter esperanças de ter sobrinhos um dia!

Seu tom era leve, mas eu percebi quanto a magoava minhas atitudes de sumir. Eu era um homem adulto e não deveria fugir quando me sentisse sufocado. Eu tinha que enfrentar meus receios, mas naquele instante só mudei de assunto.

— E você e o Bento, hein? - perguntei e Malu corou se afastando de mim.

— Somos amigos com planos parecidos. Ele está me apoiando muito na Toca. É uma pena que… - ela travou e me encarou sem graça.

— É uma pena que...? - estimulei pensando em qual seria o problema de Bento. Talvez ele fosse apaixonado por Giane que não o via mais do que como amigo. Isso explicaria aquela ceninha na Acácia.

— Ele ame a Amora. - ela disse e, se eu estivesse bebendo ou comendo, teria morrido engasgado pelo choque.

— Ele é um iludido pela cocota que é a it-irmã? — estava pronto para destruir a cara do florista, que até parecia ser gente boa, mas agora tinha perdido pontos comigo. Uma quantidade absurda de pontos.  - Você tem uma tendência absurda em gostar de idiotas, hein?

— Você não pode falar nada, Fabinho. - Malu o defendeu. Eu ri seco.

— Malu, o cara tem paixão pela menina que ele conheceu na infância. A melhor amiga dele odeia a garota e você fica aí defendendo ele!

— Você também tem paixão pela Amora, Fabinho! – Malu exclamou perdendo a paciência.

— Malu, eu não tenho um pingo de amor por aquela criatura. Eu desejo a Amora porque sei que não vou ter e não fico por aí me iludindo que ela é uma pessoa inocente e digna de ser amada, não. Eu sei muito bem a boa bisca que essa cocotinha é! - explodi gesticulando e Malu arregalou os olhos assustada. - Então para de ficar achando que existe algum amor perdido entre nós dois que o que existe é ressentimento.

Abaixei a cabeça e comecei a contar lentamente respirando profundamente, antes de encarar minha irmã. Nunca tinha explodido com Malu e nunca pensei que explodiria.

— Entendeu o que eu quero dizer agora? Eu deveria ir embora daqui para o mais longe possível. - afirmei me aproximando de minha irmã, abrindo os braços para que ela pudesse me abraçar. Malu fez isso, enquanto eu beijava o topo de sua cabeça. - Me desculpa, Malu. Não deveria ter falado assim com você.

— Só não some, Fabinho. Que eu preciso de você comigo. - ela disse com a cabeça escondida em meu peito. - Por favor.

Esse por favor foi dito em um fio de voz que me quebrou em milhões de pedaços. Minha irmã não merecia ter que aturar os homens idiotas que viviam ao seu redor.

— Te abandonar? E quem vai ser o Campana responsável? - perguntei com um sorriso e ela riu fracamente. - Vamos melhorar esse humor que daqui a pouco a tua mãe chega e tudo de bom ruirá.

Comecei a fazer cócegas em Malu que ria, enquanto pensava no que ela tinha me pedido. Talvez ela tivesse razão e eu devesse ficar em São Paulo por mais um tempo. Eu tinha que amadurecer e aprender a parar de fugir.

Eu tinha que parar de ser como a minha mãe.

 

— Mano, como é que você fez carreira como uma mulher atraente falando desse jeito? – Lucindo me perguntou enquanto eu o encarava como se quisesse estripá-lo e dançar ao redor de seus órgãos.

— E homem se importa com o que uma garota fala? Se eu ficar gostosa nas lingeries está tudo certo. – respondi enquanto tomava um gole do meu suco, mesmo que eu quisesse alguma coisa mais forte.

Estava com muita vontade de vodca cachorra, mas manteria a linha.

— Eu me importo! – se defendeu Bento e eu ri, roubando um gole da cerveja de Lucindo.

— Bento, você tanto se importa que se deixa envolver por uma garota que só curte falar mesmo de sapatos. – ao me ouvir dizer isso, Jonas engasgou, Lucindo começou a fazer escândalo e Douglas sorriu apaixonado.

— Ela é mais do que isso! – ele a defendeu.

— E apesar de eu não ter dado nomes às vacas, ele sabe muito bem de quem eu falava, senhores. – debochei, dando de ombros e me levantando da mesa.

Fui até o balcão e me pedi uma dose para o tio Gilson que me encarou surpreso, mas me fez a dose. Que se danasse homens idiotas e a noção deles do que era uma boa garota que hoje eu não estava no clima de brincar.

— Bebendo, Giane? Foi isso que você aprendeu na Europa? – Bento me recriminou enquanto eu tomava alegremente minha dose com gosto de saudade.

— Aprendi várias coisas na Europa, Bento. – disse simplesmente, matando minha dose e o encarando de frente. – Uma delas é não suprimir vontades que eu sinto de verdade se não for crime.

— Interessante. Seu pai sabe disso? – ele me questionou me encarando como se quisesse pegar alguma mentira.

— Meu pai sabe que eu sou confiável. Mas, sabe, eu não estou entendendo seu problema com minha atitude? Estou bêbada? Claramente não. Vou dirigir? Não. O que você ganha me regulando, meu?

Antes que Bento pudesse retrucar, o jogo voltou e eu retornei à nossa mesa. O gosto de vodca na língua acalmou meus sentidos e o jogo me manteve focada.

Mas eu só repetia que eu não deveria associar bebida forte a uma vontade porque isso poderia me prejudicar tanto física quanto mentalmente.

Engraçado era que eu nunca fui muito uma garota de vodca antes da noite passada.

 

Eu cheguei no apartamento que dividia com meu pai e o encontrei entre papéis e uma caneca de café. Sorri para ele e roubei um pedaço do enredo, lendo enquanto ele me encarava confuso.

— Não quero dormir agora. – avisei e ele riu.

— Liga para sua amiga bonita. – ele sugeriu e eu tive que morder o lábio porque a ideia tinha passado pela minha cabeça.

Pena que eu não tinha seu número e eu avisei meu pai disso. Então ele pegou um post-it colado em seu roteiro e me entregou. Nele, tinha um número de celular anotado e eu soube na hora de quem era.

— Eu pedi o número dela para uma amiga que trabalha com moda. Disse que queria que ela me auxiliasse num novo projeto. – se explicou ao notar meu olhar chocado.

— Desde quando você arruma telefone de mulher bonita para seu filho? – perguntei me servindo de seu café.

— Desde que eu fui com a cara da garota depois de fazer uma pesquisa sobre ela.

— Está fazendo análise de antecedentes sobre uma conhecida minha, é? Isso é que é superproteção, Plínio Campana. – zombei e meu pai revirou os olhos e não me disse nada.

Brinquei com o post-it entre os dedos, me perguntando se devia ou não entrar em contato. Não queria que ela achasse que eu era mais um perseguidor maluco, mas queria ver se podíamos nos ver em breve.

Não era nada romântico, eu só gostava de quem eu era quando estava com ela e ela parecia gostar de quem eu era também.

Ela parecia gostar muito de Fabinho e pouco se importar com Fábio Campana.

— Ela pode me processar se eu ligar para ela. – lembrei e meu pai riu.

— Ou ela pode te chamar para sair. – sua opção era melhor que a minha.

Entrei no meu quarto e encarei meu celular, antes de digitar o número dela e salvar. Estive prestes a ligar por algumas vezes, antes de decidir (como um maloqueiro com ela diria?) meter o louco e ligar.

— Alô?

Ao ouvir sua voz, não tive coragem de falar e desliguei na sua cara.

 

Já era a terceira vez que o mesmo número me ligava e desligava na minha cara sem dizer nada. Perdendo a paciência, atendi.

— Olha só, irmão, se você quer alguma coisa fala agora que eu não estou com paciência, ouviu? Fala o que você quer antes que eu te bloqueie e vá na polícia te denunciar.

— Giane? – a voz do outro lado fez meu coração disparar. – Sou eu, Fabinho.

Como ele conseguiu meu número?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Like a Rolling Stone" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.