Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 31
You Really Got Me


Notas iniciais do capítulo

The Kinks ♥



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Caminhei com minha mãe pelas ruas da Casa Verde sem entender de onde tinha vindo minha suposta maturidade. Eu não me sentia maduro, adulto ou sei lá uma pessoa funcional. Eu ainda agia feito uma criança e sabia disso… Ainda era o adolescente destrutivo que meu pai e minha irmã diziam estar enterrado, porque eu tinha amadurecido.

Ha.

Ela me encarava com os olhos brilhantes das lágrimas mal-contidas e era tão bonita quanto eu supus, mesmo que fosse podre por dentro. Quem teria coragem de fazer o que ela fez comigo e parecer tão leve e pura? Irene Fiori era mesmo a maior atriz de seu tempo.

— Chegamos. - ela disse com um sorriso, me conduzindo a uma casinha no bairro mesmo. Flores por todos os lados e o brilho do sol faziam seus cabelos brilharem.

— Você mora na Casa Verde? - perguntei, tentando entender todas as informações desencontradas que tinha sobre minha própria mãe.

— Há pouco tempo. - foi sua resposta em um tom ligeiramente nervoso. Ao tentar abrir a porta da casa, suas mãos tremiam levemente e eu pus minha mão sobre a sua e a ajudei a abrir a porta.

Elas tinha as mãos frias quase cadavéricas e, por um momento, pensei que estava delirando este encontro.

— Está tudo bem? - perguntei com verdadeira preocupação, o que me surpreendeu.

— Agora está.

 

X

 

— Atende, Giane! - exclamou Malu irritada. Até mesmo ela sabia que Giane não trairia seu irmão, podia não confiar que ela fosse a pessoa certa para Fabinho; afinal, os dois eram tão parecidos nas piores partes de suas personalidades que Malu temia pelos dois.

Duvidava dos sentimentos de Giane, mas sabia que ela não destruiria suas chances com seu irmão… Malu às vezes se pegava pensando que talvez tenha errado com a modelo. Ela não era uma pessoa fácil de ler e isso a incomodava, porque ela sempre queria que todos fossem abertos sobre seus sentimentos.

Mesmo que mascarasse os seus. A hipocrisia do fato não passou despercebida a ela e soltou um riso amargo.

Madá entrou em seu quarto e a encarou confusa.

— Você acha que eu errei com a Giane? - a neta perguntou e Madá se sentou na cama com um sorriso terno.

— Sim. Você se deixou levar por ciúme, querida. Ela é a melhor amiga do Bento muito mais bonita que a Amora, e com muito mais em comum com o Bento do que a pitanguinha, não bastasse isso seu irmão se apaixonou por ela… Você se sentiu substituída, meu amor.

— Eu nunca fui essa pessoa, vó. Eu não me reconheço no espelho! - Malu disse com lágrimas brotando em seus olhos e a avó abriu os braços para aninhar a neta.

— Você sabe o que precisa fazer, não sabe? - ela murmurou nos cabelos de Malu.

— Sei.

— Então você ainda é a Malu que eu conheço. - Madá afirmou com um sorriso.

 

X

 

Amora sabia que Malu teria uma crise de consciência, mas não supôs que fosse tão cedo. Ao que parecia, Malu não tinha força o suficiente para ser uma sobrevivente.

Mas isso Amora sempre soube. Malu não duraria um dia em sua pele.

Minimizou o equipamento de escuta e foi checar quantos milhões de likes sua última selfie tinha recebido e sorriu com o que viu.

 

X

 

Arrumava um vaso de gloxínias com um sorriso contente. Nem todo mundo precisa de rosas ou lírios para representar seu amor. Wesley mexia em seu celular distraidamente, mas pelo canto do olho, vi quando ele ficou tenso.

— Aconteceu alguma coisa, Wesley? - perguntei e ele me entregou seu celular.

Vi uma maravilhosa notícia de que eu estava envolvida com o Douglas, cuja a prova “final” foi aquela selfie que tiramos juntos. Revirei os olhos, eles realmente achavam que aquilo ia me afetar. Era só uma daquelas mentiras que nem mesmo os fãs acreditam.

— Relaxa, essa história é tão sem sentido que ninguém cairia. - lhe informei e continuei meu trabalho, finalmente entendo porquê meu celular vibrava tanto em meu bolso.

 

X

 

A casa de Irene Fiori era simples. Não tinha nada do explendor que eu sempre supus que a mulher que recebia dinheiro para se manter longe de mim teria… Não parecia a casa da Bárbara Ellen. Não haviam peças de mobília caras ou qualquer coisa que justificasse os anos que meu pai passou pagando suas contas.

— Como me encontrou? - perguntei me sentando em uma poltrona em sua pequena sala. Irene se sentou na mesa de centro na minha frente, como se não quisesse se afastar de mim.

— Eu sabia que você estava morando aqui. Eu estava me preparando para finalmente te encontrar e… - lágrimas escorriam de seus olhos e ela estendeu as mãos como se quisesse me tocar.

— Você me largou. - eu disse contendo a vontade de abraçá-la. Irene era frágil e me inspirava cuidado.

— Eu sei.

— Você nunca entrou em contato! - exclamei me lembrando de tudo que senti ao saber que ela nunca me procurou, toda minha vida me sentindo abandonado, ouvindo que nem mesmo a minha mãe me quis. Todos os abusos de Amora e Bárbara. Tudo aquilo que eu alimentei com minha raiva e necessidade de amor materno.

— Eu errei, mas eu tenho uma explicação! Eu juro, meu filho… - olhando para seu rosto, a culpa estampada, o medo da rejeição… Eu entendia o medo da rejeição.

— Então me conta tudo. Desde o começo. - pedi em um fio de voz.

— Vamos até a cozinha. Eu te faço um chá e te explico tudo. - ela me prometeu me estendendo a mão.

Eu aceitei porque precisávamos disso. Tanto eu quanto ela precisávamos disso.

 

X

 

— Giane, você viu o que estão falando de você? - Renata me perguntou ao entrar na loja, ela ainda estava pálida e suas olheiras estavam profundas, mas ela e a criança estavam bem e era isso que importava.

— Que eu estou traindo o Fabinho com o Douglas? Não, com um moreno misterioso? - debochei em resposta e ela riu.

— Agora é verdade, é? Você e o Fabinho? - ela me perguntou com um sorriso enigmático.

— Você sabe o que eu quis dizer.

— Sei muito bem. E faço muito gosto.

Antes que eu comentasse qualquer coisa, Érico entrou na floricultura e se aproximou de nós duas. Vi o corpo de Renata se tensionar com sua presença, mas ela sorriu educadamente e ele retribuiu. Se o relacionamento não tinha salvação, a amizade teria.

— Você e a criança estão bem, Rê? - ele perguntou estendendo a mão como se quisesse tocar o ventre de minha amiga.

— Estamos sim, Érico. Minha próxima consulta é semana que vem, se quiser ir. - ela ofereceu e notei os olhos dele brilharem.

— Quero, sim. - afirmou e pareceu se lembrar que não tinha me cumprimentado. - Oi, Giane. Sabe do Fabinho?

— Eu lá tenho cara de secretária de Fraldinha? - perguntei e rimos. - Ele deve estar na minha casa. Estava por lá.

— Mas o que você quer com ele? - perguntou Renata, percebendo a minha curiosidade.

— Ah informações sobre nosso projeto juntos. Não sabia que vou abrir uma agência com seu namorado, Giane? - Érico nos informou.

— Nem sabia que aquele ali tinha algum interesse na vida que não fosse beber e me irritar. - comentei e Érico me encarou com um sorriso nos lábios.

— Ela acha que a gente acredita nisso? - ele perguntou para minha amiga, que riu.

— Ela ainda é a nossa menina que se recusava a gostar de meninos porque eles eram nojentos. Esqueceu?

— Pensei que tinha melhorado essas atitudes durante a estadia fora. - eles fingiam que não me notavam e que eu não estava indignada.

— Tem coisas que a gente não muda. - Renata resumiu com um dar de ombros e me deu um beijo na bochecha se despedindo.

— Cuidado para não virar minha nova namorada! - avisei e ela gargalhou.

— Eu já sou. - Renata piscou e saiu da Acácia.

Érico e eu encaramos essa Renata saindo da loja e sorrimos um para o outro. Acho que tinha me esquecido que ele a amara muito nessa vida. Acho que ele também tinha se esquecido disso.

 


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Notas finais do capítulo

Tem alguém que ainda lê essa história?