Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 30
Doll Parts


Notas iniciais do capítulo

Doll Parts é uma música da banda Hole. Nunca pensei como essa música representa uma relação Amora/Fabinho até ter me pegado gritando essa música sozinha.



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Eu buscava palavras mas não conseguia pensar, minha cabeça parecia em um túnel de vento… sentia o sangue rugir em meus ouvidos e a minha língua parecia feita de areia. Tudo era um sonho e um pesadelo naquele instante, porque eu via Irene Fiori na minha frente, os olhos mais ternos que eu já vi e um sorriso tímido, como os que eu pude ver em seus trabalhos como atriz.

Minha mãe biológica se parecia exatamente com a pessoa que eu a imaginava. A delicadeza dos traços, a pose de uma princesa, os olhos brilhantes que eu sempre desejei que me encarassem com carinho… Carinho que Irene jamais possuiu por mim.

— Irene Fiori? - ela se assustou com meu tom, mas com os olhos marejados assentiu.

Eu tinha inúmeros discursos sobre como eu iria tratá-la nesta situação, como eu ia dizer o quão melhor eu vivi sem ela, como sou o que sou sem a presença nociva dela em minha vida, mas Irene Fiori parecia ser uma daquelas criaturas que partiriam ao menor sinal de pressão… E eu já tinha minha cota de destruição.

— Como me achou? - perguntei e ela desviou o olhar. A culpa aparente. “Se lembre que ela era uma atriz muito melhor do que Bárbara”, uma voz que eu nunca pensei que ouviria mais sussurrou em minha cabeça. A voz de Amora.

— Eu sabia que estava morando com a Giane na Casa Verde. - ela encolheu os ombros e se abraçou como se esperasse o abuso verbal postergado por mais de 20 anos.

— Você quer tomar um café? - perguntei sem saber se estava delirando. Talvez fosse isso. Eu estava delirando, tinha certeza. Irene me encarou surpresa antes de aceitar o convite. - Acho melhor do que ficarmos parados nos encarando.

Saí andando sem rumo com minha mãe pelas ruas. Eu não tinha certeza do que estava acontecendo, mas decidi aceitar aquilo como um prêmio do Universo ou uma punição divina.

— Você está reagindo muito bem a minha aparição. - ela me disse num quase sussurro.

— Eu ainda não tenho certeza de que você não está na minha mente. - respondi dando de ombros.

Ela pegou na minha mão e eu soube que era real. Ela estava ali e extremamente ansiosa sobre o que ia acontecer entre a gente.

— Temos mais de 20 anos de discussões para fazer, acho que o melhor é que você esteja confortável. - brinquei e Irene teve a graça de me encarar envergonhada. “De preferência em um lugar em que eu possa dizer tudo que está entalado na minha garganta sem virar notícia de site de fofoca.” completei em minha mente com todo o rancor que cozinhou em meu corpo por anos.

 - Acho melhor irmos para minha casa. - Irene ofereceu e eu assenti. Não podia trazer meus dramas para a casa de Giane, não com seu pai naquela situação e com o fato que eu sou um peso morto que eventualmente a afundará.

X

 

Douglas entrou tão angustiado na floricultura que eu mal compreendia o que ele queria me dizer, mas acabamos do lado de dentro da loja, enquanto ele bebia água e me encarava agitado.

— O que foi? - perguntei franzindo o cenho. “Vai criar rugas, minha doçura. Agora sorria.” me lembrei e controlei um arrepio. Não poderiam mais me ter, eu era livre.

Douglas me entregou seu celular e eu senti a dor de cabeça vindo pelas notícias. Inúmeras fofocas sobre Fabinho e Amora e como eu sempre soube de tudo e roubei o grande amor da minha melhor amiga e como Malu me odiava porque sabia que eu estava usando o Fabinho para voltar à mídia e/ou com meu ex-namorado.

— A gente precisa te tirar de circulação. - ele me disse com a expressão preocupada de um verdadeiro amigo. Não pude conter um sorriso e lhe entreguei o celular.

— Não sou dinheiro velho, Douglas. Eu não vou me esconder, não fiz nada. - avisei, mas me lembrei que esta brincadeira de mau gosto podia machucar gente inocente.

— Você não merece a quantidade de merdas que vão chover pro seu lado, mano. - Douglas me disse e eu ri.

— Nós nunca merecemos, mas não posso deixar que eles me transformem numa personagem de novela que, no melhor dos casos, é uma vítima das situações. - retruquei. “Na pior, eu sou uma piranha de coração negro.” pensei com amargura. Sempre presa em narrativas que não eram a minha, sempre envolvida no mundo que não queria conhecer.

Pelo menos eu pude conhecer o Fabinho neste mundo, o que seria impossível se eu tivesse me mantido afastada do que parecia uma enorme piada.

Douglas me abraçou e eu retribuí com uma expressão cansada para depois me controlar e lembrar que Fabinho iria precisar de mim, como eu precisaria dele.

Eu obviamente não ouvi o click.

 

X

 

ALTA ROTATIVIDADE: GIANE DE SOUSA TODA CARINHOSA COM RAPAZ DESCONHECIDO

A modelo foi flagrada logo depois da notícia sobre Amora e Fábio Campana terem sido namorados.

 

X

 

Malu me ligava desesperadamente, mas eu ignorei suas ligações porque cansei de tentar entender quem era essa garota no fim do dia. A pessoa honesta e doce que eu queria como amiga ou a criatura rancorosa que vivia me chamando de interesseira.

 

 

6 anos atrás…

 

Flashes pipocavam em sua direção, gritando ordens sobre como se posicionar, como valorizar aquele item – que item era? Não importava, só precisava garantir que gostassem de primeira das fotos para poder voltar para casa e fingir que podia comer de verdade, sem pressão para que o corpo fosse o mais magro possível, porque tinha que evitar qualquer inchaço.

Seu corpo era um produto, isso percebeu no último ano. Tinha que ser a melhor possível para evitar os comentários de bastidores. Não queria chamar atenção negativa… Não sabia mais quem era.

Seus olhos se adaptaram às luzes e começou a perceber uma movimentação estranha perto de uma das meninas mais novas ali… Aquele braço não parecia muito certo, a menina não parecia confortável. O corpo começou a fumegar da raiva, de todas as mãos que não tirou de seu corpo porque achava que era um comportamento normal, até que percebeu que não poderia ser, que era outra coisa.

Começou a marchar até o assistente de fotógrafo de mão boba com uma fúria no olhar, como uma amazona em um campo de batalha, irritada por ter sido a única a notar, com raiva por ter que ser a heroína quando ainda desejava ser salva.

Mal se lembra do que dissera a seu alvo, mas ele se virou e lhe sorriu de maneira condescendente, em um dia em que ser uma boa menina parecia não ser o que sua alma clamava… Seu punho disparou na direção do rosto do homem com toda a força que possuía e pôde ouvir um som desagradável que lhe lembrou vagamente da vez que quebrou o nariz do Lucindo jogando bola. Com as mãos machucadas, ela se aproximou da outra perguntando se estava tudo bem com ela.

Ao se virar na direção do fotógrafo, o flash disparou em seu rosto. O cabelo e as roupas desgrenhadas pela movimentação apressada, a maquiagem borradas e o olhar furioso era exatamente o que o fotógrafo precisava e se tornou a fotografia do anúncio que eles queriam: uma mulher de ação para quem cansou de ser a princesa do conto de fadas e passou a ser uma lutadora.

Giane riria ao ver seu rosto em um outdoor depois de socar a cara de um homem. Mas o boato correu e foi assim que ela conheceu Andrew Kirk, que quando a viu soube que era a musa que sua música tanto precisava… Mas isso é uma outra história.

Porque bater naquele homem fez com que ela se sentisse novamente dona de sua própria vida. Como sempre desejou.

 

X

 

Fabinho sorria para uma garota na balada, mal sabia onde estava, mas ela parecia curtir a atenção e ele precisava se divertir um pouco. O número de Malu aparecia em seu celular, mas não atenderia. Ele precisava curtir coisas mais fortes do que Amora, porque tudo doía para caralho.

Não ia ficar em casa, ou buscando uma namorada confortável quando ele queria explodir com a fúria que sentia dentro de si. Tudo girava, cores apareciam e sumiam de seu campo de visão, seria um bom fim. Livre, no meio de estranhos que não se importavam com quem ele era e que não se importavam que ele estava oco… Pobre menino rico no mundo de diversões, mas sem quem o ame.

Debocha de sua condição e escolhe a amiga da garota que flertava, porque a vida tinha que mostrar que rejeição ocorria, mesmo pra coisas sem importância.


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Notas finais do capítulo

Sentiram saudades?



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