Different names for the same things - Jily escrita por Bruna Prongs


Capítulo 1
I didn't know a thing about you - Lily




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Estiquei os braços acima da cabeça, me espreguiçando entre um bocejo demorado. Havia passado a noite praticamente em claro tentando finalizar a redação sobre cinquenta poções importantes criadas no último século, que o professor Slughorn havia pedido. É claro, não era algo que eu faria em momentos comuns - deixar para última hora um dever de casa particularmente complicado.

Mas Poções sempre me remetia à Severo, pois desde… Bom, desde sempre fazíamos nossos deveres juntos, já que ele tinha muita aptidão para a matéria e havia me feito gostar da mesma também. Porém, desde o incidente…

Eu odiava pensar naquilo. No jeito que ele havia me olhado enquanto gritava as palavras que mudariam tudo. A mistura de raiva e dor naquele olhar que eu conhecia tão bem. Bem até de mais, pois já sabia que o estava perdendo para algo que eu não seria páreo contra. Para ele e todos que o seguiam, envenenando cabeças que outrora poderiam ter sido salvas da escuridão. Mas Severo tinha uma história e era suscetível aos sussurros que o levaram dele mesmo, do garotinho que havia me mostrado a magia. Que o levaram de mim. Pois aquele Severo não era o que eu havia conhecido. E eu não conseguia mais inventar desculpas para o que ele pretendia fazer, para o que ele pretendia seguir.

Se não fosse isso, eu poderia perdoá-lo, poderia dizer que o entendia, que Potter e Black poderiam deixar qualquer um louco com o egocentrismo e crueldade daquelas brincadeiras que todos achavam tão engraçadas. Santo Potter, tão engraçado! Olhe só pra ele, desesperado por atenção.

Mas bem, o fato era que Severo e eu estávamos há anos por um fio e aquelas palavras só haviam verbalizado tudo o que eu já sabia que eu era para ele, no fundo. Uma… uma sangue-ruim. Não melhor do que minha irmã, Petúnia. Mas então porque durante todo aquele tempo nossa amizade tinha dado tão certo?

Era isso que se debatia em minha cabeça quando ouvi um pigarro irritado, seguido de risadinhas.

— Srta. Evans? Com licença, estou atrapalhando algo? – era McGonagall, parecia decididamente contrariada e aquilo fez com que eu encolhesse os ombros, não acostumada a causar aquele tipo de reação nos professores.

— Ah! Desculpe, professora. Acho que não estou me sentindo muito bem… Não queria atrapalhar a aula… Oh, sinto muito. – murmurei a última parte toda atrapalhada, sabendo que todos os alunos me encaravam, agora parando as risadinhas. Eu parecia estar tão mal assim?

Voltei a abaixar a cabeça, envergonhada.

— Talvez seja uma boa ideia a senhorita ir até Madame Pomfrey, realmente não estou gostando da sua cor. – emendou a professora, os lábios, antes contraídos na linha fina que era a marca registrada para “sinal de encrenca” relaxando enquanto ela franzia a testa, parecendo genuinamente preocupada. – Ande, Evans, está dispensada pelo resto do dia. Avisarei aos outros professores.

Ela encarou a turma, como se pensasse e apontou distraída para Remus.

— O Sr. Lupin vai acompanhá-la. E não, Potter, você fique onde está. – acrescentou ao que Potter murmurou algo que não prestei atenção.

Guardei o material, tentando não fazer barulho, abri um sorriso trêmulo para a professora, em agradecimento e saí da sala, com Remus logo atrás de mim.

— Aqui, deixa que eu carrego a sua mochila. Pela sua cara, parece que vai desabar a qualquer instante. – disse ele, apressando-se para segurar a mochila pesada, parecendo se aproximar mais ao andar ao meu lado, provavelmente para garantir que eu não caísse ou algo assim.

Daquele grupinho, Remus era o que eu mais gostava. Não que eu, de alguma forma, gostasse de Potter e Black, é claro. Mas Remus era diferente, mesmo que sempre parecesse estar junto quando os outros estavam metidos em confusão. Comigo ele sempre foi gentil e atencioso, assim como com a maioria das pessoas que eu o via por perto. Poderia até  dizer que éramos amigos, pois era sempre uma companhia divertida e inteligente para se ter por perto. Talvez fôssemos mais próximos se a dupla malvada não vivesse baforejando na nuca dele, dando pouco tempo para que pudessem conversar sem piadinhas de Potter.

— Vocês não vão  se livrar de mim tão fácil assim, hein. – falei em tom brincalhão, percebendo que a voz sairá quase deprimente em comparação ao que eu havia formulado em minha cabeça.

Por sorte, chegamos logo a enfermaria. Madame Pomfrey não demorou dez segundos para nos avistar e vir pavoneando para o nosso lado, a expressão gentil transformando-se em preocupação quase irritada, como sempre acontecia quando ela nos via machucados ou doentes.

— O que houve, querida? Parece que viu um espirito agourento! Venha, deite-se aqui. – apressou-se a me ajudar a deitar em uma das camas duras da enfermaria, já medindo minha temperatura e essas coisas. – Parece um resfriado, mas não tem febre e nada assim. Tem se alimentado bem, querida?

Continuou fazendo um milhão de perguntas enquanto administrava uma poção e, gentilmente, me fazia engolir.

— Você precisa de repouso, parece que não dorme há dias.

Mal acabara de decretar aquilo e já virará para Remus, o expulsando. Olhei para ele com um sorriso fraco, mas sincero, murmurando um obrigada antes que ele desaparecesse pela cortina do meu “leito”, com Madame Pomfrey em seus calcanhares.

Consegui puxar o livro de poções e escondê-lo debaixo do edredom antes que ela levasse minha mochila para longe, o tirando sem fazer barulho de lá. Olhei para a capa meio gasta, passando a ponta dos dedos levemente pelo canto inferior da lombada, aonde se via um “FF” escrito em relevo prateado.

Sorri, triste, lembrando-me do dia em que aquilo havia sido escrito.

Estávamos no terceiro ano e Severo estava muito animado com a perspectiva do quanto havíamos aprendido em tão pouco tempo naquele ano, o que o deixava com um ótimo humor. Então ele conseguiu me convencer facilmente a ficar na escola no dia da visita a Hogsmeade, afinal seus pais não haviam assinado o formulário de autorização, desleixados do jeito que eram.

Combinamos uma tarde de estudos nos jardins da escola, que eram o que considerávamos um território neutro entre alunos da Sonserina e Grifinória. Estávamos à sombra de um grande salgueiro, os livros espalhados ao nosso redor e Sev não poderia estar mais feliz.

Geralmente era taciturno e sério, mas naquele dia ria e me olhava como se não existisse outro lugar em que gostaria de estar. De alguma forma, era contagiante vê-lo assim. E tão raro.

— O que aconteceu que está tão feliz assim hoje? Ganhou cem pontos para Sonserina? – falei “sonserina” em tom de deboche, coisa que era uma mania nossa quando falávamos da casa um do outro.

— Melhor do que isso, Lil. Não está sentindo essa paz? Até o cheiro do ar parece estar melhor hoje. – dizendo isso ele inclinou a cabeça para trás, como se farejasse o ar.

Aquilo me fez gargalhar, totalmente surpresa com aquele Severo leve, que quase me fez lembrar o menino que conheci.

— É sério! - repetiu-se. – Você sabe do que estou falando, sem Potter e seus seguidores para atrapalhar e ficar na volta.

Revirei os olhos, suspirando. De fato, ele tinha razão. Ultimamente Potter parecia sempre estar por perto onde Sev e eu estivéssemos e suas brincadeiras andavam cada dia mais cruéis e irritantes. De fato, a nova ideia de Potter e Black para diversão era chamar Severo de seboso e ranhoso, coisa que sempre me deixava muito contrariada.

— Sim, o dia parece muito mais bonito hoje mesmo. – concordei, passando os olhos pelos poucos alunos – em geral calouros e segundanistas – que aproveitavam o dia de sol nos jardins. – Poderia ser sempre assim.

Os olhos de Sev quase brilharam quando falei isso. Ele desviou o olhar, como se percebesse que reparei em sua expressão, puxando o meu livro de poções e dando uma batidinha com a varinha na pena, a encantando com algo antes de começar a escrever na lombada do livro.

— Ei, o que está fazendo? – quase engatinhei para mais perto, tentando ver, mas ele tirou o livro do meu alcance e continuou a escrever com a pena encantada. – Deixe-me ver! – debati, quase fazendo birra enquanto tentava alcançar o livro.

— Espere… Calma… – argumentava entre um riso frouxo, tão atípico dele.

Bufei, vencida. Ele logo me entregou o livro, aonde se via em sua caligrafia bonita e desenhada dois F’s prateados, quase brilhosos. Franzi a testa, sem entender.

— “FF”? O que quer dizer?

— Não sei se devo te contar… – ele quase cantarolou, voltando a atenção ao pergaminho que repousava em seu colo, tentando disfarçar um sorriso.

— Conte-me, vai! É o meu livro, então tenho o direito… E ah, como sou curiosa, por favor, Sev. - eu sabia que estava quase fazendo beiço. Não que isso o amolecesse, geralmente. Mas dessa vez ele pareceu relaxar os ombros quando falei “Sev” e finalmente voltou a me encarar, os olhos se apertando, dessa vez de um jeito sério.

— Veja bem, não é nada de mais. São só as iniciais de uma poção. Felix Felicis. Você sabe, aquele que Slughorn comentou no primeiro dia letivo, lembra? Sorte líquida…

— Ah, é claro! Lembro sim. Mas… Não entendi porque marcar no meu livro. – falei, distraída. Agora que ele havia saciado minha curiosidade, já estava novamente entretida na redação em que trabalhava antes.

— Bem… – ele parecia debater-se, embaraçado, como se decidisse se deveria ou não esclarecer aquilo. – Não sei bem, acho que apenas lembrei dela e duvido que um dia você vai conseguir fazê-la e isso pode ser um, hum, lembrete ou um desafio. Para não esquecer. – ele provocou.

Apertei os olhos, em um misto de irritação e impaciência. Ele sempre fazia isso, me desafiava, como se fosse melhor do que eu na matéria. O que provavelmente era verdade, mas como eu era orgulhosa…

Relaxei os ombros imediatamente ao ver a expressão dele. Parecia dizer que ele havia dito muito menos do que pretendia dizer.

E assim como vento, a lembrança foi-se.

Acabei pegando no sono em menos de cinco minutos, agarrada ao velho livro de Poções.


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Notas finais do capítulo

O título é um trecho da música Dream Scream, da banda Death Cab for Cutie.



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