I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, queridinhos!
Olha o capítulo saindo do forno.
Por favor, leiam as notas finais, tem racadinho.
Boa leitura ♥



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2º dia

 

Regina acordou sentindo o vento frio lhe arrepiar. Arrastou-se até a janela e a fechou, voltou para a cama cobrindo-se completamente e fechou os olhos desejando dormir novamente. Acordou, mais uma, vez alguns minutos depois com uma voz lhe chamando, inicialmente pensou que estava sonhando, mas o som foi ficando mais alto, até que ela reconheceu a voz do filho. Esforçou-se para abrir os olhos e encarou a porta branca a sua frente.

— Mãe? Está acordada?

— Henry? - Regina esfregou os olhos e conferiu as horas no celular que estava na mesa de cabeceira. Ainda eram 8H30.

— Posso entrar?

— Claro, querido. Entre.

Henry correu para a cama da mãe, tirando os sapatos no processo, e deitou-se ao lado dela. Ele cobriu as orelhas com o edredom e sorriu para a mulher.

— Eu usei a chave da época em que morava aqui. Você se importa?

— Claro que não. A casa é sua também. - Regina aproximou-se do filho e passou os braços por baixo de seu pescoço, trazendo para o seu ombro. - Aconteceu alguma coisa?

— Não. Apenas saudade.

— Assim tão cedo?

— Na verdade é a senhora que vem acordando tarde. Antigamente pulava da cama antes das 7h.

Regina sorriu para a verdade incontestável e usou uma mão para iniciar um cafuné nos fios curtos do garoto.

— Você está certo! Ainda assim eu acho que existe uma outra razão, além de saudade, para você estar aqui. - Ela plantou um beijo na testa do filho desejando que esse ato pudesse lhe passar a confiança necessária para a conversa que ele, claramente, desejava ter.

— Eu sinto falta de ser o seu filho.

— Você é o meu filho.

— Eu sei, mas sinto falta de quando tínhamos mais do que temos hoje. Sinto falta de morar aqui, do meu quarto, de quando a senhora me acordava brincando com as minhas orelhas e até de me obrigar a comer os legumes.

Regina apertou o abraço no filho substituindo o cafuné por carinhos mais fortes e uma única lágrima escorreu por seu rosto. Desde que Henry ganhou o livro de histórias de Snow, ele passou a rejeitá-la. Aquilo havia sido há anos, mas eles nunca mais tiveram momentos leves e felizes. Tudo que ela desejou durante muito tempo era que ele a amasse e aceitasse. Ela havia apanhado muito da vida, mas nada doeu tanto quanto ouvir, daquele que ela cuidou e amou desde as primeiras semanas de vida, que ela não era sua mãe. Aquilo havia sido como flechas venenosas atravessando seu coração. No entanto, agora ele estava ali confessando que sentia falta de tudo que ele rejeitou, confessando que sentia falta dela.

— Eu sinto sua falta em cada segundo do meu dia.

— Júlia ficou com o meu quarto. - Henry suspirou e ergueu o corpo para que fosse possível encarar a mãe.

— Eu posso fazer um quarto para ela. - Regina interrompeu o abraço para sentar-se na cama, cruzou as pernas e segurou as mãos do filho. - Que tal nós dois acordarmos Júlia e preparamos o café da manhã juntos?

Naquela manhã, Júlia estava visivelmente mal humorada. Ela não contou os sonhos que teve durante a noite, algo que sempre fazia, mesmo que a maior parte deles fossem inventados, mas Regina não recriminava, pois entendia a importância de estimular a criatividade das crianças.

— Mãe, podemos fazer brownies? - Henry pediu já pegando os ingredientes que eram necessários.

Regina respondeu positivamente e pediu que ele cortasse uma maçã para Júlia, que mantinha a carranca em seu rosto sentada na cadeirinha atrás da bancada. O garoto fez o que a mãe pediu e colocou os pedaços da fruta em um pote de plástico. Quando entregou para a menina, ela simplesmente o jogou no chão e cruzou seus bracinhos. Henry assustou-se e olhou para a mãe buscando por respostas.

— Júlia, o que foi isso? - Regina perguntou aproximando-se da filha, mas a menina manteve-se em silêncio. - Querida, o que aconteceu?

— Não gosto dele.

— Querida, ele é o Henry, você gosta dele. - A morena recolheu os pedaços de maçã do chão, devolvendo-os ao pote, e o colocou na bancada

— Não gosto mais.

O rosto de Henry se entristeceu imediatamente. Regina aproximou-se dele e lhe afagou as costas lançando-lhe um olhar de desculpas.

— Por que você não gosta mais dele?

Júlia debateu-se na cadeirinha até que Regina a tira-se de lá, mantendo-a em seu colo. A menina enlaçou o pescoço da mulher com força e colou suas bochechas.

— Minha mamãe.

Então a compreensão caiu sobre Regina como um balde de gelo. Apesar da recente reclamação de Henry de que estava sentindo-se trocado, desde que ela voltou para Storybrooke ele a chamou de mãe e a tratou como tal, além de estar com frequência na mansão e almoçarem juntos praticamente todos os dias. E dessa vez podia parecer, para Júlia, que ele havia dormido ali. Regina percebeu que aquilo poderia ter criado uma grande confusão na cabeça de sua filha e na lógica que uma criança de dois anos de idade tinha. Suspirou decepcionada consigo mesma por não prever uma situação como aquela e por não ter conversado com a filha sobre o irmão.

— Querida, eu sou sua mãe…

— Só minha.

— Jú…

— Eu já pedi uma mamãe, não vou pede a outa.

Aquela frase fez o coração da rainha comprimir. A voz embargada da filha, somada ao sentimento de rejeição que Henry transbordava, a deixou em cacos. Ela apenas queria abraçar os dois imediatamente, mas sabia que precisava resolver aquela situação, então caminhou com Júlia no colo até a sala sendo seguida por Henry, ligou a lareira para esquentar seus corpos gelados naquela manhã fria e puxou o máximo de ar que conseguiu pensando em como iniciar aquela conversa.

— Lembra quando você viu aquela foto da mamãe com uma barriga enorme e nós dissemos que você estava dentro dela? - A menina apenas balançou a cabeça positivamente. - Você nasceu da barriga dela, mas é minha filha também, não é? - Novamente, Júlia apenas acenou concordando. - Você é minha filha porque eu te amo, porque eu cuido de você e porque eu te desejei muito. - Regina alcançou a mão de Henry e a segurou. - Eu também cuidei do Henry quando ele era só um bebezinho e por muitos anos depois disso, eu também o desejei e o amei. Ele também não nasceu da minha barriga, mas assim como você, ele é meu filho. - Regina levantou-se e correu até onde sua bolsa estava, tirou da carteira uma foto que havia encontrado dentro da gaveta do escritório, onde ela segurava um Henry de apenas oito semanas. - Veja. - Mostrou para a menina. - Esse é o Henry no meu colo. Viu como ele era pequeno? Menor do que você é agora.

Menó do que eu?

— Sim, bem menor do que você. Lembra quando te disse que aquele quarto era de outra criança? Então, é o quarto dele. Aquelas coisas são dele.

— Mas então poquê ele não moava com a gente?

As razões que respondiam aquela pergunta passaram como um filme pela cabeça de Regina e também pela de Henry. A rainha pode ler no rosto do filho alguns traços semelhantes aos que ele tinha quando chorou agarrado a sua perna no dia em que ela foi expulsa da cidade, os traços de quando ele percebeu que estava perdendo a mãe.

— Assim como você, ele tem duas mães e ele mora com a outra.

— Emma.

— Isso. Emma. Querida, você é e sempre será minha filha, nada pode mudar isso. Assim como nada pode mudar que eu também sou mãe de Henry. Eu amo vocês dois, são as pessoas mais importantes da minha vida e me faria muito feliz que vocês se aceitassem como irmãos e amigos.

Aos poucos, Júlia foi suavizando a expressão e estendeu uma de suas pequenas mãozinhas para o irmão. Henry deu a mão para que Júlia repousasse a sua, e afagou seus dedinhos com o polegar. Ela arrastou-se até a mãe e sentou-se em seu colo, sem soltar a mão de Henry.

Regina sorriu aliviada quando os dois se abraçaram. Henry emocionou-se diante da mãe que recuperou e do pequeno pacote, embrulhado em um pijama cor creme, que agora ele podia chamar de irmã.

Eles voltaram para a cozinha e Regina preparou os brownies com o auxílio de Henry. Depois fizeram a refeição juntos, e, finalmente, Júlia contou os sonhos que teve e os que não teve naquela noite.

— Mãe, antes que eu me esqueça, Emma disse que vem te buscar logo após o almoço. - Henry falou com a boca ainda cheia, recebendo um olhar reprovador.

— E ela disse o que está aprontando?

— Nem uma palavra!

Fiel ao combinado, logo após o almoço Emma bateu à porta da mansão. Quando ela foi aberta por Regina, Emma estendeu a mão com um colar e um sorriso enorme.

— O que é isso? - Regina ofereceu passagem para a loira.

— Coloque.

— Não faz o meu estilo.

O colar tinha a corrente dourada e um pingente em formato de um coração que não era completo. Era pequeno e delicado.

— Claro que faz, é um coração, e é encantado. Precisamos disso para sairmos da cidade sem perder a memória. - Emma exibiu o colar idêntico em seu pescoço e colocou o outro em Regina sem esperar por permissão. - Vem, a viagem leva algumas horas.

Regina foi relutante em sair da cidade, mas depois de muitas recomendações feitas para Belle, que ficaria com Júlia – uma vez que Regina se recusou a pedir mais esse favor para Snow -, ela cedeu. Outro desafio foi convencer a rainha a fazer a viagem no carro de Emma. Para ela, era impensável que a “o caixão amarelo” conseguisse levá-las até o destino, seja ele qual fosse, mas, novamente, Emma venceu aquela discussão.

Durante o trajeto, Emma iniciou conversas triviais, atualizou Regina sobre os moradores de Storybrooke, como quem havia se casado, quem teve filhos, quem traiu quem e outros assuntos que não despertavam o mínimo interesse na morena. Regina tirou um livro da bolsa que levava, trouxe os pés para cima do banco e desligou-se do que a loira dizia.

— Regina? - Emma estalou os dedos chamando a atenção da morena. - Não é educado me deixar falando sozinha. - Regina ergueu os olhos para encontrar os da loira e deu de ombros. - Você está nessa página desde que abriu o livro. O que diz aí?

— É um poema favorito.

— O seu favorito?

— Não. - Regina soltou o livro e girou no dedo a aliança de casamento que ainda usava, lhe deu um beijo e pegou o livro novamente para recitar o poema.

 

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minha
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai, de meus únicos amigos,
Poucos– bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei… que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta destas flores
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos
Deixai a lua pratear-me a lousa!

 

Regina pensou que aquele poema perdia um pouco da sua beleza, um tanto quanto mórbida, quando traduzido, mas, ainda assim, era lindo. Já Emma parou o carro no acostamento, suspirou pensando no que aquilo poderia significar e desejou, com todas as suas forças, ser capaz de aliviar o coração daquela mulher.

— Que idioma é esse? - A loira apontou para o livro.

— Português brasileiro.

— Uau! - Emma pegou o livro e correu os olhos pelo poema não sendo capaz de compreender uma palavra sequer. - Culta!

Elas viajaram mais duas horas até chegarem ao destino. Era uma espécie de praia, bem pequena, perdida entre duas partes de um bosque. A vegetação deles era vasta, a areia estava fofa e a iluminação do início da noite proporcionava uma paisagem boreal.

— Um luau? - Regina sentou-se no capô do fusca e observou a decoração do ambiente e as pessoas que estavam ali.

— Você gosta? - Emma sentou-se ao lado dela.

— Fui em poucos, mas eu gosto sim. - Elas ficaram em silêncio, adaptando-se ao clima do local, até Regina quebrá-lo. - Hoje eu conversei com Júlia sobre Henry ser meu filho.

— E ela? - Emma percebeu os olhos distantes da morena que pouco diziam e isso a deixou receosa sobre aquilo. Ela havia aconselhado Henry a evitar chamar de Regina de mãe na frente da menina, mas ele recusou-se a ser “menos filho dela por causa de outra”.

— Ficou um pouco ciumenta, mas entendeu. Ela ainda vai levar um tempo para se acostumar com isso, mas foi melhor do que eu esperava… Ela só tem dois anos.

— Henry deve estar radiante.

— Sim, ele ficou feliz. - Regina sorriu brilhantemente pensando em como as coisas haviam mudado após o reencontro. Agora Henry fazia questão de ser seu filho e ser tratado como tal. Ele se orgulhava dela e não havia muito mais no mundo que Regina poderia querer.

— Cerveja? - Emma apontou para uma caixa de isopor do outro lado da praia e desceu do capô estendendo a mão para a rainha. - Podemos aproveitar que hoje ninguém está sob nossa responsabilidade…

— E encher a cara? - Regina completou rindo do sorriso sonhador de Emma enquanto se aproximavam da caixa.

— Você é mulher de encher a cara? - Emma adotou uma expressão falsa de choque.

— Ô. - Regina abaixou-se e pegou duas garrafas, estendeu-as para um rapaz que estava próximo, com um sorriso tímido, que era uma espécie de pedido silencioso para que ele tirasse as tampas. Com elas já abertas, entregou uma para a loira.

Sentaram-se na areia de frente para o mar e conversaram sobre os luaus dos quais já tinham participado, sobre o que elas faziam no tempo livre durante esses cinco anos e concluíram que Regina, surpreendentemente, era mais festeira que a loira. A rainha também contou sobre seu trabalho como professora de hipismo, o que não surpreendeu Emma, mas a descoberta de que a casa da Regina era o point dos amigos para jogar videogame foi a grande revelação da noite e Emma não resistiu em desafiar a morena.

— Eu simplesmente não consigo te imaginar fazendo isso.

— Nem tente mesmo, eu sou péssima. Nessas noites, nós sempre comprávamos muita comida e meu trabalho era esse: comer. - Regina levantou-se, caminhou até outro isopor e voltou com mais duas garrafas. Dessa vez deu para que Emma as abrisse.

— Finalmente. - Emma as destampou com facilidade. - Eu quase fiquei ofendida quando pediu para aquele cara abrir as outras.

— Oh! Essa não foi minha intenção. - Bebeu um longo gole e procurou o rapaz analisando-o da cabeça aos pés. - É preciso encontrar alguma utilidade para aqueles músculos.

— Isso foi cruel! - Emma gargalhou e analisou o rapaz, assim como Regina fez.

— Eu sou a Evil Queen. - Regina juntou-se à risada da loira e negou com a cabeça como quem dizia que aquilo não passava de uma piada. - Deus abençoe os homens!

— Deixe que algum deles te ouça…

— Não, não, não… Eu estou brincando. Eu os amo. - Regina fez um pequeno bico com os lábios e voltou a encarar o mar. - Dessa vez vai me dizer o que isso significa?

— O que?

— Esses passeios. Primeiro o jet-ski, agora esse luau.

— O “soldado” - Emma usou os dedos para sinalizar as aspas – disse que a realeza será presa ou assassinada quando o tal rei chegar aqui. Eu quero aproveitar ao máximo os meus dias, caso isso realmente aconteça.

— Aproveitar os seus “últimos dias” - foi a vez da morena fazer as aspas – comigo?

— Não consigo imaginar companhia melhor. - Regina corou diante das palavras de Emma e a loira temeu ter ultrapassado algum limite invisível que tivesse sido estabelecido entre elas. - Vem, vamos fazer o que você mais gosta.

Emma levantou-se e puxou Regina pela mão até onde um grupo de pessoas dançava. A música era alta e animada e elas ficaram assim por horas, até os pés implorarem para que parassem, então sentaram-se novamente do capô do fusca e aguardaram o nascer do sol, enquanto todos os outros sentaram-se na margem do rio. Lentamente o astro surgiu com toda sua graciosidade e imponência, iluminando a pele morena de Regina, levando-a um nível de beleza jamais visto por Emma. Ela lembrou-se da história que esse mundo conhecia, onde a rainha tem inveja da beleza da enteada e ela apenas sorriu para o absurdo. Regina não precisava nutrir tal sentimento por ninguém, ela era única, de beleza ímpar.

A morena percebeu que estava sendo observada, mas não demonstrou isso. Manteve-se concentrada no show de exibicionismo que o sol estava apresentando. Estar em contato com a natureza, com a sintonia que sentia, tornava inevitável pensar em Luna. A ruiva era do tipo que reverenciava os astros, os aplaudia, manifestava-se contra o desmatamento, dentre várias outras causas que frisavam o seu amor por tudo que vinha da natureza, por tudo que o universo, que a Terra, proporcionava. Ela despertou em Regina a admiração por esse tipo de confraternização entre ser e ambiente, e nesse momento a morena sentia-se calma com o vento batendo levemente contra o seu rosto, pois se a natureza estava em paz, Luna também estaria.

Apesar de toda a situação levá-la até a esposa, Regina estava apreciando a companhia de Emma. Surpreendeu-se com o quão agradável a loira poderia ser, admirou suas opiniões sobre assuntos que eram pertinentes, além da fome de vida que ela demostrava sentir. Emma queria fazer tudo ao mesmo tempo, sentir todas as emoções, tinha a energia de uma criança e empolgava-se com coisas pequenas e simples. Esse era um detalhe da personalidade de Emma que Regina guardou com carinho em seu coração.

— Você está com fome? - Emma tombou a cabeça no ombro de Regina aspirando seu cheiro e novamente a morena se esquivou, como fez no jardim noites atrás. Emma sentiu o coração se apertar um pouco, mas forçou-se a ser racional e entender que não podia simplesmente tomar a rainha para si.

— Pensei que nunca fosse perguntar isso.

Emma dirigiu até a área urbana da cidade onde aconteceu o luau. Era pequena e a maioria das pessoas que caminhavam por ela, tão cedo, pareciam ser turistas, o que as fez pensar que a cidade continha poucos habitantes. Era quase parecida com Storybrooke, exceto pela pacatez que ela tinha, ao contrário da cidade mágica.

Entraram na primeira lanchonete que encontraram, era simples, com mesas de madeira escoradas nas paredes que compunham o ambiente, e alguns bancos no balcão. Elas escolheram uma mesa e correram os olhos pelo cardápio. Emma sorriu ao encontrar nada que pudesse agradar a ex-prefeita. Regina bufou e acenou para a garçonete que as observava à distância.

— Eu vou querer um cappuccino imediatamente, bacon com ovos e um suco de abacaxi para acompanhar.

— Eu vou querer chocolate quente com um pouco de canela e o restante exatamente igual ao dela. - Emma tirou o cardápio da mão de Regina e entregou à garçonete junto do seu.

Em poucos minutos suas bebidas foram servidas e, após isso, ficaram em silêncio observando as pessoas entrarem e saírem. Emma analisando as expressões tranquilas de todos e em como pareciam viver suas vidas despreocupadamente, enquanto Regina aproveitava para inspirar um ar que fosse totalmente diferente e distante de tudo. Ela pensou que poderia morar ali tranquilamente, apesar de estar desacostumada com cidades pequenas, pelo simples fato de não ser Storybrooke nem Boston, onde sua vida tinha chegado ao fim duas vezes, embora não literalmente. O rádio, que ficava em cima do balcão, que até então anunciava as primeiras notícias do dia, fez alguns segundos de silêncio para então iniciar uma melodia conhecida pelas duas.

 

I have seen peace, I have seem pain

(Eu vejo paz, eu vejo dor)

 

Resting on the shoulders of your name

(Descansando nos ombros de seu nome)

 

Do you see the truth through all their lies?

(Você vê a verdade através das mentiras deles?)

 

Do you see the world through troubled eyes?

(Você vê o mundo através dos olhos preocupados?)

 

And if you want to talk about it anymore,

(E se você quiser falar mais sobre isso)

 

Lie here on the floor and cry on my shouder.

(Deite aqui no chão e chore no meu ombro)

 

I’m a friend.

(Eu sou um amigo)

 

Elas cantaram baixinho, apenas para elas mesmas, enquanto aguardavam pacientemente pelo café da manhã. Emma desligou-se da melodia e da voz do cantor e concentrou-se apenas na afinação perfeita de Regina ao entoar a canção. Era oficial: Regina era perfeita aos olhos de Emma. Tudo na morena era exuberante e encantador. Já Regina, abstraiu tudo que estava acontecendo a sua volta e apenas ouviu a melodia que vinha do rádio, apreciando a paz daquela manhã e a brisa que entrava pelas janelas.

Quando os pratos e os copos foram postos diante delas, despertaram do transe e atacaram a refeição. O estômago de Regina roncou alto fazendo Emma sorrir e deixando a rainha corada, mas a fome que ela sentia naquele momento era maior do que qualquer timidez, e ela voltou sua total atenção ao bacon. De repente Regina foi surpreendida por um flash.

— Não. - Ela cerrou os olhos. - Você não fez isso.

— Desculpe-me, mas isso é bom demais para não ser registrado. - A loira virou a tela do celular mostrando a foto onde Regina garfava bacon e ovos.

— Estou horrível.

— Está linda. - Emma afundou o dedo dos molhos que tinham na mesa e passou na ponta do nariz de Regina.

— Hey. - A rainha preparou-se para limpar, mas a loira a impediu segurando seus braços.

— Vamos enviar uma foto para o Henry como aquela dele com a Júlia.

Apesar do incômodo que sentia no rosto, Regina sorriu concordando e pegou uma fatia de bacon e a mordeu em uma pose para a foto. Emma passou molho pelo próprio rosto, espetou pedaços do ovo com o garfo, o aproximou da boca e as fotografou.

Após o café, elas seguiram para Storybrooke e dessa vez Regina não ignorou os assuntos de Emma e nem deixou de acompanhá-la nas canções. Algo que Emma estimulou apenas pelo prazer de ouvir, novamente, o canto doce da morena.


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Notas finais do capítulo

Gente. Gente. G-e-n-t-e. Tenho uma coisa muito séria para falar: lascou.
"Mas como assim 'lascou', mulher?"
Lascou porque isso é tudo que eu tinha preparado, prontinho para postar, precisando apenas de ajustes. Agora eu terei que começar os capítulos do zero. Claro que a fic está praticamente pronta na minha cabeça, masssss não está no papel D:
"Mas o que temos a ver com isso, homem de deus?"
Esse é o ponto... sendo assim, não sei se conseguirei atualizar diariamente, pois, como podem ver, os capítulos são grandinhos, né?! Mas eu juro juradinho, de mindinho, em nome dos meus felinos, que as atualizações não serão demoradas. Qualquer coisa podem me mandar mensagem pvd também.
Continuem comigo. Beijooos!

Ahhhh, quase me esqueci, comentários, críticas construtivas, ideias e dúvidas continuam sendo analisadas com carinho.

Ihhh, mais uma coisa. O poema do capítulo se chama "Lembrança de morrer", é o meu favorito, do meu poeta favorito, Álvares de Azevedo.

Agora sim, beijos e até o próximo ♥